Economia Solidária, participação e políticas públicas Ana Mercedes Sarria Icaza1
Introdução
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Os conceitos de participação e de políticas públicas são inerentes ao processo de surgimento e ampliação da Economia Solidária no Brasil. De fato, ela emerge nos anos 1990 como resultado de um importante processo de atuação cidadã, a partir da organização de um conjunto de atores sociais diversos que se reúnem em torno de um projeto e de uma ação comum, e experimenta uma dinâmica de fortalecimento e expansão, ativada pela ação de governos que desenvolvem políticas e programas para seu fomento em diferentes níveis e espaços institucionais. Neste sentido, três elementos guiam a reflexão deste artigo. Em primeiro lugar, a constatação de que a economia solidária está inserida no processo de ampliação democrática que se vive no país nos últimos vinte anos, apresentando-se como uma rede de atores e organizações imersa dentro de um movimento mais amplo e que traz ao debate público a questão da construção de alternativas econômicas para setores excluídos da dinâmica capitalista predominante, alternativas essas intrinsecamente relacionadas com uma perspectiva em que a cidadania e a solidariedade passam a ser elementos centrais. Isto nos remete ao próprio significado da participação, entendida não apenas como “ser consultado”, mas de “fazer parte”, de se envolver e construir junto. Implica em um entendimento da cidadania em sentido amplo e remete por tanto 1 Professora da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS. Doutora em Ciências Sociais e Políticas pela Université Catholique de Louvain.