
Fabien Toulmé
Fabien Toulmé
- 2isso é amizade.
na verdade.
tradução: Fernando Scheibe e Bruno Castro cores: Miguel Felício e Fabien Toulmé
A série Inesquecíveis é composta por histórias profundamente marcantes para as pessoas que entrevistei, histórias que refletem nossa sociedade por meio dos temas, das inquietações e das transformações do nosso tempo.
As cinco narrativas que compõem este segundo volume retratam destinos de indivíduos confrontados por acontecimentos, às vezes violentos, que mudaram completamente suas vidas. Eles terão de se adaptar, reconstruir-se e, finalmente, revelar-se. De suas trajetórias acidentadas emerge sempre uma grande resiliência e uma positividade inspiradora, que nos convida a nos colocar no lugar deles, imaginando como reagiríamos em situações semelhantes e tirando importantes lições.
Tenho muito afeto e admiração por essas histórias e pelas pessoas que me confiaram suas memórias, algumas vezes bastante íntimas. Essa proximidade é fundamental para que eu consiga “entrar na pele” delas e dar vida a seus depoimentos.
A primeira história, “O medo e a cicatriz”, protagonizada por Julie, nos remete a um questionamento universal: no que pensarei na hora da minha morte? Sentirei medo, paz, raiva? Um pouco disso tudo?
A segunda história, “A mais invisível possível”, narrada diretamente do Brasil por Cyntia, aborda a violência doméstica e mostra como, mesmo anos depois, ela ainda influencia a vida das vítimas.
A terceira história, “Enquanto houver estrelas”, nos leva a acompanhar a comovente busca pessoal de Kévin. Nas entrelinhas, transparece o modo como tratamos os idosos e os benefícios que teríamos ao reconhecê-los em seu verdadeiro valor.
Em “Vencer e renascer”, Bruno nos conta como assumiu sua homossexualidade às vésperas de fazer cinquenta anos. Pode parecer que sua história pertence a outra época, mas ao que tudo indica as mentalidades não mudaram tanto assim. Nos últimos anos, aliás, houve um aumento das agressões contra pessoas LGBTQI+.
A última história é dedicada à guerra na Ucrânia. Quando o conflito eclodiu no país, levando subitamente milhares de homens e mulheres comuns para a linha de frente, perguntei-me como me sentiria no lugar deles. Como é viver no frio e na lama das trincheiras? O que se sente quando chovem bombas ao nosso redor? Como enxergar o futuro nessas condições? É essa súbita e abrupta “nova vida” que Bohdan, ex-engenheiro e fotógrafo transformado em soldado, nos conta em “Linha zero”.
Se estas histórias puderem contribuir, ainda que modestamente, para mais tolerância e aproximação, em uma época na qual a tendência é temer, rejeitar e agredir o outro, ficarei muito feliz...
Desejo-lhe uma boa leitura.
Julie, 41 anos, Lausanne, Suíça.
no meu quarto de estudante, eu tinha um pôster que me inspirava muito.
* Não deixe seus medos atrapalharem seus sonhos!
tínhamos deixado nossas filhas, zoé e matilda, na casa da minha mãe.
ele representava muito bem a forma como eu queria levar a minha vida.
esse foi o meu lema até exatamente 8 meses atrás.
vocês vão se comportar com a vovó, né?
sim, mamãe!
e eu e o meu marido saímos pra passear de ski na montanha.
partiu!
vai ser tão legal!
nunca tínhamos esquiado sem ser numa pista e escolhemos um percurso considerado acessível.
o céu estava de um azul imaculado.
o último a chegar lá embaixo lava a louça por um mês!
haha, até parece!
a gente tem uma máquina de lavar louças.
depois da primeira descida, nos enganamos de direção.
não tô vendo esse chalé no mapa...
olha, a gente tá aqui.
putz, a gente seguiu as placas da trilha de verão.
aff, não vamos subir tudo isso de novo, né?
tem rastros de esqui ali.
devem levar de volta ao lugar certo.
o primeiro que encontrar o caminho tá dispensado das tarefas domésticas por um mês.
ah, isso, nem pensar!
eita, por onde ele tá indo?
sua vez, julie!
ah não, eu não vou descer aí.
é muito íngreme.
eu contorno e te encontro mais adiante. ok.
encontrei o alejandro no topo da montanha.
tudo certinho? não tá muito cansada?
não.
passei por um lugar fácil.
olha só!
uma manada de cabras selvagens passou alguns metros abaixo de nós.
foi mágico!
ah, taí o caminho certo!
a gente contornou a montanha pelo lado errado.
ali parece ter marcas de uma avalanche.
dá medo.
se tem marcas é porque a avalanche já passou.
pra chegar até ele, a primeira opção era atravessar a comba*.
bom, vai ser o jeito... espera!
don't let your fears go in the way of your dreams!
*Uma depressão na encosta da montanha.
a segunda opção era voltar pelo mesmo caminho.
ok, vamos descer.
o alejandro desceu primeiro.
sua vez!
eu comecei a descida...
e, bem na hora em que eu tava chegando perto dele...
o chão se abriu sob os meus pés.
eu comecei a gritar. avalaaaanche!
eu consegui esquiar um pouco. go go go!!
e então a neve me engoliu.
foi surreal.
eu dizia pra mim mesma que não era possível que aquilo estivesse acontecendo comigo.
tentei sair dali, mas era impossível.
eu estava literalmente moldada pela neve.
comecei a gritar:
um pouco como quando se mergulha a cabeça na água da banheira.
não sei dizer se estava escuro ou se eu via luz.
eu me perguntei se ele também tinha sido pego pela avalanche.
o que lembro é que tava muito frio.
não me lembro mais.
eu tinha um pouco de espaço na frente do meu nariz e da minha boca pra respirar.
com a condensação, a neve começa a derreter e elas respiram água.
foi o que eu fiz.
foi uma sorte porque, muitas vezes, quando as pessoas ficam presas numa avalanche, elas morrem ''por afogamento''.
lembrei de ter ouvido dizer... quando a gente fica preso sob a neve, tem que urinar. assim dá pra saber onde está o lado de cima e pode sair. ah sim! faz sentido.
mas não adiantou nada, eu não conseguia me mexer.
Este álbum não teria visto a luz do dia sem a participação e a generosidade dos “personagens principais” das cinco histórias que compõem esta coletânea: Julie, Cyntia, Kévin, Bruno e Bohdan.
Para a história ‘‘Linha zero’’, também gostaria de agradecer a Oksana Leuta por sua ajuda na entrevista com Bohdan.
Obrigado a Frédéric Niffle, meu editor, e a todas as equipes Dupuis que trabalharam no nascimento e na divulgação deste livro.
Obrigado também a Miguel Felício por sua ajuda com as cores.
Todas as letras das músicas da história ‘‘Enquanto houver estrelas’’ são de Kévin Castagna (© Kastagna) e você pode encontrá-las (assim como todas as suas outras músicas) nas plataformas de streaming.
A letra da música ‘‘Non, je ne regrette rien é de Michel Vaucaire, 1961.
Se você também tem uma história inesquecível, conte-a em algumas linhas e envie para inoubliables@etik.com
Inoubliables – Volume 2
© DUPUIS 2024, by Fabien Toulmé www.dupuis.com All rights reserved
Todos os direitos reservados à Editora Nemo. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.
direção editorial
Arnaud Vin
editor responsável Eduardo Soares revisão
Eduardo Soares
adaptação de capa e miolo
Viviana Mara
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Toulmé, Fabien Inesquecíveis : 2 / Fabien Toulmé ; tradução Fernando Scheibe, Bruno Ferreira Castro. -- 1. ed. -- São Paulo : Nemo, 2025.
Título original: Inoubliables ISBN 978-85-8286-661-0
1. Histórias em quadrinhos I. Título.
25-287631
Índices para catálogo sistemático:
1. Histórias em quadrinhos 741.5
CDD-741.5
Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380
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