Manual de desinstrução para tempos de incerteza

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Manual de desinstrução para tempos de incertezas

Prefácio de Alexandre Coimbra Amaral

Manual de desinstrução para tempos de incertezas

Prefácio de Alexandre Coimbra Amaral

Copyright © 2025 Alessandro Marimpietri

Copyright desta edição © 2025 Editora Vestígio

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edição e preparação de texto

Bia Nunes de Sousa

revisão

Claudia Vilas Gomes

capa

Diogo Droschi

diagramação

Waldênia Alvarenga

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Marimpietri, Alessandro

Manual de desinstrução para tempos de incertezas / Alessandro Marimpietri ; prefácio de Alexandre Coimbra Amaral. -- 1. ed. -- São Paulo : Vestígio, 2025.

ISBN 978-65-6002-123-5

1. Autoajuda 2. Autoconhecimento 3. Cultura 4. Desenvolvimento pessoal 5. Espiritualidade 6. Saúde mental 7. Subjetividade 8. Transformação I. Amaral, Alexandre Coimbra. II. Título.

25-287764

CDD-158.1

Índices para catálogo sistemático: 1. Crescimento pessoal : Conduta de vida 158.1

Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380

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Para Alexandre Coimbra Amaral, artífice desta aventura.
Para Fernanda Burgos, pé do meu samba.

Ô tira teima à queima roupa

Tire a venda e não dê sopa, acorde

A vida não é um jogo que tem volta

“Oxe, como era doce”, de Roberto Barreto e Russo Passapusso

11 Prefácio, por Alexandre Coimbra Amaral

15 Introdução

Viver o tempo

21 Passado, presente e futuro: tudo ao mesmo tempo agora!

29 Retrotopia, saudosismo, nostalgia e outras mumunhas mais

36 A vida no loop da montanha-russa

42 A impermanência de uma bolha de sabão

55 Outro jeito possível de estar no mundo

Cultivar o espanto

63 O espanto diante da vida ordinária

71 Qual o destino de sua viagem?

82 Da rotina ao ritual

91 Encantar o mundo

Elogiar a imperfeição

107 O imperativo do êxito: performar é viver?

114 As armadilhas da mesmice

119 O mito da independência

131 Um lugar para as nossas dores

139 A vulnerabilidade como caminho para a humanidade

Amar como verbo

151 O trabalho do amor

160 Amar é dar as mãos

172 A crise da palavra: narrar é fazer o amor

188 Por fim e apesar de tudo, o amor é esperança

199 Agradecimentos

200 Notas

Prefácio

Conheci o Alessandro no início de 2003, quando começamos a trabalhar na mesma universidade, em Salvador. Éramos talvez os mais jovens professores do corpo docente e tínhamos quase a mesma idade da maioria dos nossos estudantes. Aos 20 e alguns anos, éramos aquela mistura de entusiasmo com medo, de ternura com um pouco de rigidez para sustentar o lugar de quem deveria ter o que dizer. Eu tateava lugares, provava comidas, escutava histórias com a curiosidade de um migrante recém-chegado à Bahia, essa terra que, em muito pouco tempo, se tornaria um dos meus lugares no mundo.

Alessandro Marimpietri sempre foi uma das vozes que mais me mobilizaram a escuta. As rodas de conversa o chamavam como ímã, a curiosidade em cada um se fazia alerta quando ele ia dizer algo. Era lindo de ver o que mais se repetia: professores decanos escutando aquele jovem, atentos, com os olhos entre a surpresa e a admiração. Sábios podem sê-lo desde tenra idade e naturalmente se fazem sentir pela capacidade que têm de promover a atenção para o que dizem, sentem e fazem. E os sábios costumam ter uma característica essencial: a autenticidade na forma de enunciar suas ideias.

Você vai sentir ao longo deste livro todo que Alessandro é a erudição que gosta de sambar, é a música que canta a poesia da teoria aplicada às cenas mais palpáveis. Ele não teme misturar elegantemente a arte com a teoria, a psicologia com as demais ciências humanas, e sua velocidade de pensamento com um poema contemporâneo. É um alquimista da vida, juntando aquilo que o mundo binário decidiu por “ou isto ou aquilo”. O tempero da palavra de Alessandro é coisa de chef, mesclando ideias de texturas nada óbvias. (E eu, que sou amigo, posso assumir: o cara ainda cozinha tão bem quanto escreve livros.)

Desde aqueles tempos de juventude docente – que hoje parecem tão distantes, mas ao mesmo tempo ainda se fazem sentir em mim –, eu invejava nossos alunos em comum. Afinal, eles podiam aprender com o Alê toda semana, e a prova inconteste de que eles aplaudiam a aula era a presença acachapante da sala lotada no último horário da turma de sexta à tarde. Mas o real e sem viés algum é que eu invejava de verdade aquela galera. Eles estavam tendo a oportunidade de escutar, desde jovens, um dos maiores intelectuais da nossa profissão. Eu sentia que ele se transformaria, em muito pouco tempo, numa voz proeminente naquilo que ele se dispusesse a falar. Não deu outra: pergunte a qualquer pessoa das comunidades escolares que ele já visitou com suas palestras Brasil afora. Não há quem não se impressione com a capacidade que ele tem de destravar a complexidade quase incompreensível da vida neste século. E ele fala sorrindo, coisa que não podemos ver durante a leitura; ainda assim, te convido a imaginá-lo lendo para você com um sorriso que emoldura a palavra. Gosto particularmente de gente que sorri para produzir conexão com quem escuta, e o Alessandro faz isso, trazendo uma certa timidez para passear por entre as frestas que se revelam entre a palavra e o silêncio.

Este primeiro livro de Alessandro Marimpietri é um banquete de boas palavras, que merecem ser sorvidas com calma, jamais com a pressa que marca nossos dias acelerados. Elas se dispõem em capítulos cadenciados, e sugiro que a leitura seja feita com um caderninho ao lado. Você vai querer anotar algumas frases geniais, que misturam poesia, música, cinema, artes plásticas, psicanálise, sociologia, filosofia e cultura pop. Algumas destas referências estão explicitadas; outras aparecem de soslaio, como um delicioso jogo simbólico de se revelar e ao mesmo tempo esconder. O texto de Alessandro acredita que há lacunas de sentido que só podem ser preenchidas pelo leitor, deixando respiros implícitos que conferem ainda mais força à narrativa.

Você que está lendo este livro será respeitado durante toda a sua travessia pelas páginas aqui impressas. Vai se sentir amparado por um professor brilhante, escutado por um psicólogo que respeita o seu direito de ser único e, por isso mesmo, de fazer uma leitura que caiba somente à sua forma escolhida para viver. Mas inegavelmente você sairá de cada jorro de palavras lidas com perguntas, poesia e inquietude, elementos que fazem parte daquilo que ele mesmo elenca como parte do desafio de reencantar a vida neste século.

As ideias vão chegar a você aos poucos, até porque um dos pontos centrais que Alessandro nos traz à reflexão é: temos tempo para uma vida que valha a pena, coerente com quem somos? Ou a vida está sendo atropelada por um tempo voraz e hiperexigente, que nos transforma em máquinas de produzir? Como fica a alma do tempo? Como resgatar a beleza de uma vida absolutamente ordinária? O tempo é o eixo principal do livro, é o carro abre-alas do enredo mágico que Alessandro desfila harmoniosamente com as palavras que falam do contrário. O enredo que nos importa assumir é o compasso que nos devolve a humanidade: somos imperfeitos,

imprecisos, nos assustamos com a avalanche de possibilidades e exigências que nos chegam sem aviso prévio, como uma bateria que ensurdece antes da primeira alegoria. No final, o livro fala sobre o amor, essa atitude redentora para os desesperos de existir, norte da bússola que nunca desiste de nós, náufragos sem nome e cheios de desejos sublimes e ao mesmo tempo afogados no tempo que tudo devora. O amor se revela, ao final do livro, como a poesia que esteve o tempo todo conduzindo a narrativa. É um amor que está na disposição impressionante que Alessandro Marimpietri tem ao dizer que, sim, temos saídas para os desvarios, e, sim, a urgência do encantamento não é incompatível com nenhuma emoção que queira se mostrar. Podemos chorar, querer voltar no tempo da delicadeza, querer inventar a vida que está prestes a ser sonhada. Tudo está em nossas mãos, basta que tenhamos a coragem de desafiar os adoecimentos culturais de nosso tempo. Este livro é uma cartografia, um mapa que deixa perguntas e rastros de beleza, que desenha dores e assinala cicatrizes que todos já trazemos. Mapas não são o território, nós somos a terra fértil onde podem brotar esperanças coletivas que forjam um mundo que acolha melhor nosso direito de sonhar.

Eu te convido a passear pelas páginas deste livro de estreia de Alessandro Marimpietri, que já se transformou em um livro de cabeceira e para o qual retornarei sempre que me sentir angustiado com alguma questão que me desampare por ser sujeito contemporâneo. Além de tudo, o Alê fez uma coisa maravilhosa por mim: com este livro, não preciso mais sentir inveja dos nossos ex-alunos. Através destas páginas, realizei o sonho de tê-lo como meu professor.

Alexandre Coimbra Amaral Psicólogo, escritor e podcaster

Introdução

Vou mostrando como sou

E vou sendo como posso

Jogando meu corpo no mundo

Andando por todos os cantos

E pela lei natural dos encontros

Eu deixo e recebo um tanto

E passo aos olhos nus

Ou vestidos de lunetas

Passado, presente

Participo sendo o mistério do planeta

“Mistério do planeta”, de Moraes Moreira, Luiz Galvão e Paulinho Boca de Cantor

O texto novo-baiano parece mais atual que nunca: somos um tanto malabaristas do nosso tempo. Somos a beleza e a exaustão, a crise ambiental e o imperativo de bem-estar, a hiperconexão e o desamparo, o crescimento da intolerância e o elogio à diversidade. Vivemos um tempo de paradoxos. Conjugando a esquina de casa com o outro lado do mundo, estamos tateando nossa existência de forma ineditamente planetária por entre nuances de incerteza e semblantes de insegurança. É assim que vamos vivendo como dá e nem sempre como queremos. Inventando e reinventando nosso existir, jogamos nosso corpo num mundo que se dissolve bem diante dos nossos olhos que piscam, atentos e por vezes anestesiados. Há nisso tudo desesperos e deslumbramentos, mas sempre o que fica é o encontro. Esse jeito nosso de cerzir a humanidade, afinal o sentido da vida é o outro, como nos alerta o poeta Ferreira Gullar. Aí está o mistério: como vamos

juntos atravessar e sermos todos atravessados pelo nosso tempo presente, reverenciando o passado e abandonando suas vestes emboloradas, para quem sabe acender em ato, gesto e coragem uma faísca de futuro? Reinventar o hoje é o nosso modo mais nu e cru de vislumbrarmos um novo tempo e outras formas de existirmos nesse tempo.

Este livro é um conjunto impreciso de reflexões sobre a vida da gente neste agora que envolve nossos dias. Mais que isso, é um abrir de braços ao abraço do “um mais um é sempre mais que dois”. Um jeito de se fazer convite ao dar as mãos, fazendo da travessia que é a vida uma peripécia linda e mágica, cansativa e técnica, como aquela que faz os malabares darem suas piruetas no ar, diante dos olhos incrédulos e fascinados das crianças diante dos encantos do picadeiro de um circo.

Toda escrita é uma deliciosa e intrépida aventura rumo à incompletude da compreensão. Jamais o que está escrito aqui neste livro chegará a cada pessoa que o lê do mesmo modo como foi pensado ou escrito. Isso seria algo realmente impossível, ainda bem! Aquilo que nos parece, à primeira vista, um desvio é na verdade o lugar onde habitam as nossas melhores possibilidades.

Graças a esse inescapável desencontro, cada palavra deste livro e especialmente suas cirandas em forma de frases, parágrafos e capítulos serão sempre novas diante dos muitos olhos que passearem por suas veredas de ideias. Nenhum livro é definitivo. Tudo aqui será, para todo o sempre, reinventado pela leitura de quem folhear suas páginas. Essa reinvenção constante é justamente aquilo que o torna incompleto, não definitivo e, de alguma forma, infinito, uma vez que se faz a muitas mãos.

O livro se debruça sobre caminhos e descaminhos de vivermos nossa atualidade. Quatro grandes ações foram escolhidas por, talvez, se fazerem úteis ao esboço de uma

nova perspectiva. Assim, quiçá possamos inaugurar outras atitudes diante de alguns dos muitos desafios deste nosso tempo contemporâneo.

Viver o tempo, cultivar o espanto, elogiar a imperfeição e amar como verbo. Cada uma dessas ações é composta por pequenos textos que se encerram em si e, ao mesmo tempo, constroem ligações com os textos seguintes. Por isso, há muitas formas de ler este livro. Nada de ordem, regras ou roteiros rígidos: aqui haverá tantos itinerários de surpresas e descobertas quantas forem as pessoas que com ele se envolverem.

No corre-corre da vida contemporânea, cada pessoa pode bebê-lo de um só fôlego ou degustá-lo vagarosamente, revolucionando a lógica da celeridade sem pausa, inventando um tempo para sentir e pensar a vida. Da mesma forma, na brecha de um pequeno intervalo da rotina, desde onde às vezes podemos ver o enaltecimento da vida, ele pode se abrir tal qual uma flor à primavera; basta que se escolha uma de suas partes aleatoriamente. São pequenas porções de reflexão que podem ser sorvidas na ordem aqui proposta, compondo assim um caminho, ou em qualquer ordem que melhor convier a quem as lê, tal qual um suspiro próprio, capaz de abrir janelas em nós.

Que estas páginas façam as vezes de um mergulho, daqueles de cabeça e coração abertos, por parte de quem as tiver à mão. Nada aqui é verdade definitiva ou certeza perfeita. Não há conclusões hermeticamente fechadas. São lampejos despretensiosos de reflexão sobre a nossa vida e sobre o nosso tempo. Cada pessoa que o ler reescreverá suas histórias. Desse modo, esse livro poderá, encarnando seu destino encantado, jamais chegar ao fim.

Boa viagem!

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