

O impacto do racismo
Panorama da Primeira Infância
O Brasil é um país de população majoritariamente negra, 55,5% das pessoas são pretas ou pardas. Mesmo sendo maioria, elas ainda têm menos acesso a programas e serviços de qualidade, bem como a oportunidades e cargos de liderança. Isso tudo se deve ao racismo estrutural, que aprofunda desigualdades: mais de 70% das pessoas que vivem em situação de pobreza são negras; odesemprego é maior para este grupo e a maioria das mães solo de baixa renda também é negra. As evidências1 e a experiência mostram que o racismo começa ao nascer. Durante o parto, mulheres negras e pobres têm maior risco de sofrer com a violência obstétrica. Bebês e crianças podem ser vítimas de racismo na creche, na pré-escola, em serviços de saúde ou na convivência social desde o início da primeira infância. Embora nem sempre a criança tenha idade para reconhecê-la ou saiba identificá-la,
Sobre a pesquisa
a discriminação racial deixa marcas que podem afetar sua saúde física e emocional na fase mais crítica e potente de seu desenvolvimento, que é a primeira infância, de 0 a 6 anos.
Às vésperas do Mês da Consciência Negra, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal apresenta dados inéditos, extraídos da pesquisa “Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida” , que revelam oolhar da população sobre o racismo na primeira infância. O Panorama, que teve a sua primeira fase lançada em agosto, é uma pesquisa de opinião pública sobre as percepções, conhecimentos e práticas dos brasileiros em relação à primeira infância.
De abrangência nacional, o Panorama da Primeira Infância: “O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida”, encomendado ao Datafolha, ouviu 2.206 pessoas, sendo 822 responsáveis pelo cuidado de bebês e crianças de 0 a 6 anos. Os dados foram coletados em abril de 2025, por meio de entrevistas presenciais, realizadas em pontos de grande fluxo populacional. A margem de erro é de 2 pontos percentuais (p.p.) para o total da amostra e de 3 p.p. para amostra de responsáveis.

O termo negro representa a soma das categorias preto e pardo presentes nos levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e tem sido adotado para afirmar a identidade deste grupo social.

O racismo pode ser definido como um sistema de discriminação, hierarquização e dominação baseado na ideia de raça.
O racismo estrutural é um conjunto de práticas, normas e instituições que, ao longo do tempo, criaram um sistema social que privilegia a população branca e desfavorece a população negra.
Em alguns gráficos os resultados não somam exatamente 100% e podem variar de 99% a 101%, devido a arredondamentos.
Glossário
Acesse aqui o estudo completo
Gráfico interativo
A primeira infância é vítima de racismo?
A maioria dos responsáveis (63%) acredita que o racismo é comum e também atinge a primeira infância. Essa percepção é mais forte entre mulheres, jovens e pessoas com maior renda e escolaridade. Já 22% reconhecem o racismo, mas o consideram quase inexistente na primeira infância.
O racismo é algo comum e mesmo crianças na primeira infância são vítimas de racismo
Embora exista racismo é raro que crianças na primeira infância sejam vítimas de racismo
A sociedade brasileira praticamente não é racista e por isso as crianças na primeira infância não são vítimas de racismo
Não sabe
A percepção de que crianças na primeira infância podem ser vítimas de racismo é maior entre cuidadores pardos e pretos (65%) do que entre brancos (57%), uma diferença de 8 p.p.
O maior contraste está na escolaridade: 53% entre os que têm o ensino fundamental e 74% entre os de nível superior, uma distância de 21 p.p.
Responsáveis pelo cuidado de crianças de 0 a 6 anos
Pergunta da pesquisa: O racismo é um tema cada vez mais discutido no Brasil. Entendendo racismo como o ato de tratar de forma diferente pessoas pretas e pardas por causa de sua cor de pele, tipo de cabelo e outras características físicas, quando pensamos nas crianças na primeira infância, do nascimento até os 6 anos, com qual frase você concorda mais?
Resposta estimulada e única
Respondentes: total da amostra (2206 entrevistas) e responsáveis pelo cuidado de crianças de 0 a 6 anos (822 entrevistas)
Nestes botões, você acessa os resultados de outros recortes da pesquisa, como raça, gênero, região e escolaridade
Gráfico interativo
A criança pela qual você é responsável já sofreu discriminação?
16% dos responsáveis por crianças relataram que elas já sofreram racismo. Os casos são mais comuns entre as de 4 e 6 anos (11 p.p. a mais que entre as de 0 a 3 anos),
possivelmente porque as menores ainda não reconhecem ou verbalizam a discriminação. A prevalência também é maior em famílias de baixa renda.
Legenda
Já foi tratada de forma diferente
Nunca foi tratada de forma diferente
Não sabe
Pergunta da pesquisa: A criança já foi tratada de forma diferente de outras crianças por causa de sua cor da pele, tipo de cabelo e outras características físicas?
Resposta estimulada e única
Respondentes: responsáveis pelo cuidado de crianças de 0 a 6 anos (822 entrevistas)
Gráfico interativo
Onde a criança já sofreu discriminação?
Creches e pré-escolas são os ambientes mais citados em que a criança já sofreu racismo, mencionados por 54% dos cuidadores. Entre crianças de 4 a 6 anos, os casos são 23 p.p. mais frequentes do que entre as de 0 a 3 anos
Como o racismo impacta odesenvolvimento infantil
Em espaços públicos (rua, praça, parquinho) Na creche/pré-escola
No bairro, na comunidade, no condomínio/vizinhança
Na família
Em espaços privados (shopping, comércio, clube)
Em serviços de saúde ou assistenciais (hospitais, posto de saúde, espaços de convivência)
Igrejas, templos e espaços de culto
Proporcionalmente, crianças de 0 a 3 anos sofrem mais racismo do que as de 4 a 6 anos em serviços assistenciais e de saúde, espaços de culto e no âmbito familiar
Pergunta da pesquisa: Em quais espaços a criança já foi tratada de forma diferente por causa de sua cor da pele, tipo de cabelo e outras características físicas?
Resposta estimulada e única
Respondentes: Responsáveis pelo cuidado de crianças de 0 a 6 anos que já foram tratadas de forma diferente (132 entrevistas)
Há um desconhecimento generalizado sobre o racismo praticado contra crianças. O racismo é um dos fatores que compõem as chamadas experiências adversas na infância, vivências que expõem a criança ao estresse tóxico, que interferem em sua saúde física e socioemocional e no seu desenvolvimento integral. Creches e pré-escolas são os espaços de maior oportunidade de prevenção e proteção contra a discriminação. Para isso, é fundamental que a educação infantil conte com profissionais preparados e materiais adequados para a educação das relações étnico-raciais. É dever de toda a sociedade reconhecer e combater o racismo e promover uma educação antirracista desde cedo, como determina a lei nº 10.639/2003, garantindo proteção às crianças na primeira infância contra qualquer forma de discriminação e violência.
Autoconfiança
Autopercepção
Socialização de saberes (aprendizado)
Acesso a direitos (condições de moradia, saneamento, alimentação, saúde, etc.)
Saúde física e mental
Oportunidades para adquirir habilidades e conhecimentos
Relações parentais
Construção da identidade
Fonte: Racismo, educação infantil e desenvolvimento na primeira infância [livro eletrônico] / Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância - São Paulo, 2021.