

O impacto da crise climática
Panorama da Primeira Infância
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima que quase todas as crianças do mundo — cerca de 99% — estão expostas a pelo menos um tipo de ameaça relacionada à emergência climática1. Dentre elas, aproximadamente um bilhão vive em condições de risco extremo, seja pela alta exposição a eventos climáticos adversos, seja pela ausência de serviços essenciais como água potável e saneamento básico. As crianças na primeira infância são mais impactadas pelos eventos climáticos adversos. Essa vulnerabilidade tem explicação biológica. Na primeira infância, os tecidos do corpo ainda são imaturos, as células do trato respiratório apresentam maior permeabilidade, o sistema imunológico está em formação e os pulmões só atingem plena maturidade por volta dos seis anos de idade. Proporcionalmente ao peso corporal, as crianças na primeira infância inalam 50% mais ar do que os adultos, o que as torna ainda mais vulneráveis em ambientes poluídos. Sua baixa estatura também agrava a situação, pois as coloca mais próximas dos escapamentos de veículos e da camada do ar onde os poluentes se concentram. Deslocamentos e migrações
temporárias causadas por emergências
climáticas aumentam a ocorrência de doenças diarreicas em 34% em crianças e o risco de desnutrição é 2,5 vezes maior devido à interrupção de acesso à saúde e alimentação adequada2. Bebês e crianças de famílias que vivem na pobreza e de grupos historicamente marginalizados são os mais afetados pelos riscos climáticos, vítimas de racismo climático.
No ano em que o Brasil sedia a COP30, o maior encontro global sobre clima, a Fundação
Maria Cecilia Souto Vidigal apresenta dados inéditos, extraídos da pesquisa ”Panorama
Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida que revelam o olhar da população sobre o impacto da emergência climática na primeira infância. O Panorama, que teve a sua primeira fase lançada em agosto, é uma pesquisa de opinião pública sobre as percepções, conhecimentos e práticas dos brasileiros e relação à primeira infância.
Acesse aqui o estudo completo

1.Unicef. The climate crisis is a child rights crisis: introducing the Children’s Climate Risk Index [Internet]. Nova York: UNICEF; 2021 [citação em 13 de maio de 2025].
Disponível em: https://www.unicef.org/reports/climate-crisis-child-rights-crisis
2.Fiocruz. Fiocruz lança painel que acompanha a evolução de eventos climáticos extremos [Internet]. 2024 [citação em 8 de maio de 2025].
Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/2024/10/fiocruz-lanca-painel-que-acompanha-evolucao-de-eventos-climaticos-extremos

Sobre a pesquisa De abrangência nacional, o ” Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida“, encomendado ao Datafolha, ouviu 2.206 pessoas, sendo 822 responsáveis pelo cuidado de bebês e crianças de 0 a 6 anos. Os dados foram coletados em abril de 2025, por meio de entrevistas presenciais, realizadas em pontos de grande fluxo populacional. A margem de erro é de 2 pontos percentuais (p.p.) para o total da amostra e de 3 p.p. para amostra de responsáveis.
Glossário3
Crise climática ou emergência climática é o conjunto de eventos naturais cujos efeitos e frequência são intensificados pela ação humana, afetando a biodiversidade e prejudicando em especial pessoas em situação de vulnerabilidade.
Eventos climáticos extremos dizem respeito a fenômenos como erosão do solo, secas prolongadas, incêndios florestais, deslizamento de terra, chuvas intensas e inundações, que são agravados pela queima excessiva de combustíveis fósseis. Essa ação intensifica o efeito estufa, aquece o planeta, altera o ciclo da água e o derretimento das calotas polares.
Nestes botões, você acessa os resultados de outros recortes da pesquisa, como raça, gênero, região e escolaridade
O quanto você se preocupa com os efeitos da crise climática em bebês e crianças?
Tanto no total da população quanto no grupo de cuidadores de crianças na primeira infância, mais de 80% dos respondentes se dizem preocupados ou muito preocupados com esses efeitos nas crianças
Muito preocupada(o)
Racismo climático ocorre quando os impactos negativos de decisões políticas, econômicas e urbanas — como falta de saneamento, exposição à poluição ou riscos climáticos — recaem desproporcionalmente sobre populações negras, indígenas e periféricas, mesmo que não haja intenção discriminatória nessas ações.
Um pouco preocupada(o)
Pouco preocupada(o) Nada preocupada(o)
Pergunta da pesquisa: O quanto você se preocupa com os efeitos das mudanças do clima para todas as crianças na primeira infância?
Resposta estimulada e única
Responsáveis pelo cuidado de crianças de 0 a 6 anos
Respondentes: responsáveis pelo cuidado de crianças de 0 a 6 anos (822 entrevistas) e total da amostra (2206 entrevistas)
Gráfico interativo
Gráfico
Como as mudanças do clima podem afetar as crianças?
Embora a maioria dos entrevistados relate efeitos negativos, 15% acreditam que as mudanças do clima farão com que as crianças de hoje tenham maior consciência ambiental e 6% confiam que a sociedade encontrará formas de reduzir os impactos
interativo Pergunta da pesquisa: Como você acredita que as mudanças do clima podem impactar as crianças na primeira infância? Resposta estimulada e múltipla
Respondentes: responsáveis pelo cuidado
Impactos da crise climática na criança
As mudanças climáticas já não pertencem ao campo das projeções: fazem parte do nosso dia a dia. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria4, doenças relacionadas à poluição do ar provocam cerca de 465 mortes diárias de crianças menores de 5 anos. No ritmo atual de aquecimento, 83% dos nascidos em 2020 enfrentarão ondas de calor em níveis inéditos.
Em qualquer desastre climático — enchentes, queimadas, secas, ondas de calor —, a primeira infância é o grupo mais vulnerável, com danos imediatos à saúde física e socioemocional e riscos para seu desenvolvimento futuro. Por isso, as políticas climáticas precisam incluir a proteção dos direitos de bebês e crianças, com foco na equidade, em medidas de prevenção e em respostas rápidas às suas necessidades específicas, garantindo prioridade absoluta ao cuidado e à promoção do bem-estar das múltiplas infâncias do país.
Estresse tóxico e prejuízos à saúde mental
Perdas agrícolas e insegurança alimentar
Aumento de doenças infecciosas e transmissíveis ?
Acesso menor a educação de qualidade e cuidados com a saúde
Morte precoce
Perda de moradia e deslocamento forçado Exposição a contaminantes
Fonte: A primeira infância no centro do enfrentamento da crise climática [livro eletrônico] / Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância. — São Paulo Núcleo Ciência Pela Infância, 2025.