Primeira infância e o impacto da crise climática
A primeira infância, de 0 a 6 anos, é o período de maior desenvolvimento do ser humano. Nessa fase se formam as bases da saúde física, socioemocional e cognitiva, além da capacidade de aprender, se relacionar e interagir com o mundo.
Cada cuidado, experiência e ambiente vividos pelos bebês e pelas crianças influenciam diretamente seu desenvolvimento e as oportunidades que terão ao longo da vida.
Em um cenário em que enchentes, queimadas, secas e ondas de calor se tornam cada vez mais frequentes e intensas, a crise climática representa uma ameaça direta às crianças, desde o começo da vida. As crianças na primeira infância são as que mais sofrem seus efeitos, tanto por conta de suas características fisiológicas ainda em formação, quanto pelas desigualdades ambientais, sociais e econômicas que ampliam sua exposição aos riscos.
Enfrentar a crise climática passa, necessariamente, por proteger as crianças, desde a primeira infância
1,5 milhão
de crianças podem ser forçadas a se deslocar nos próximos 30 anos no Brasil por conta de inundações, tempestades e outros fenômenos climáticos extremos
Children displaced in a changing climate, Unicef, 2023
Desastres multiplicados
Crianças nascidas em 2020 enfrentarão muito mais eventos climáticos extremos do que aquelas que nasceram em 1960. Ao longo da vida, elas estarão expostas, em média, a:
2x mais incêndios florestais
2,8x mais perdas de safra
2,6x mais secas
6,8x mais ondas de calor
2,8x mais inundações de rios
Meninas, crianças negras, indígenas e de comunidades tradicionais, que já enfrentam desigualdades históricas e vivem em regiões com menos infraestrutura e acesso a serviços básicos, são ainda mais afetadas pela crise climática
Efeitos da crise climática na primeira infância
Na gestação
Estresse e depressão materna
Doenças crônicas como diabetes e hipertensão
Complicações no parto
Má-formação do feto
Parto prematuro e baixo peso ao nascer
Alto risco de deficiências
Mortalidade materna e neonatal
Nos bebês e crianças
Prejuízos ao desenvolvimento motor, cognitivo e socioemocional
Estresse tóxico e prejuízos à saúde mental
Aumento de doenças infecciosas e transmissíveis
Perda de moradia e deslocamento forçado
Exposição a contaminantes
Redução do acesso à educação e aos cuidados de saúde
Risco aumentado de morte precoce
The climate crisis is a child rights crisis: introducing the Children’s Climate Risk Index, Unicef, 2021
Entre as crianças pequenas, o excesso de calor pode causar efeitos imediatos, como alterações nos rins, no desenvolvimento muscular, convulsões e, em casos extremos, coma com risco de morte. A longo prazo, compromete aprendizado, sistema imunológico, saúde mental e qualidade do sono, essenciais para o crescimento saudável
O calor extremo afeta o desenvolvimento e a saúde na primeira infância – working paper n°1, Center on the Developing Child at Harvard University, 2023
Bebês e crianças respiram mais ar por quilo de peso que os adultos e, por isso, inalam mais poluição. Além disso, ficam mais próximas do chão, onde alguns poluentes se concentram
Para as crianças na primeira infância, a crise climática afeta mais do que o corpo e a saúde: rompe laços, suspende aulas, altera rotinas e fragiliza vínculos familiares
Eventos extremos, como enchentes e queimadas, danificam escolas, dificultam o acesso, aumentam a evasão e agravam riscos como trabalho infantil, exploração e violência. Muitas vezes, as escolas são transformadas em abrigos para a população, atrasando o retorno às aulas
Uma criança que enfrenta temperaturas com desvio padrão acima da média tende a ter até um ano e meio a menos de escolaridade em comparação com crianças expostas a temperaturas médias
Randell, Heather; Gray, Clark. Climate change and educational attainment in the global tropics, 2019
Depois de um desastre climático, 45% das crianças apresentam sintomas de depressão e ansiedade, segundo a Associação Americana de Psicologia