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Nutrição
from Resumo da Dignus mº6
by cie
nal e financeiro, permitindo à pessoa manter a contacto/ conexão com a vida social (Guerra, 2015). Portanto, família, amigos, vizinhos, organizações religiosas, clubes e outros membros da comunidade podem ser identificados como potenciais fontes de apoio. Assim, o profissional de Serviço Social poderá mapear os ativos com base em pontos fortes, relacionamentos e recursos formais e informais, identificar como os relacionamentos da pessoa podem fornecer suporte emocional e social e em discussão com a pessoa e familiares avaliar a disponibilidade e adequação, de forma a tornar possível assegurar visitas, rituais, compras, tarefas domésticas, transporte e até ajuda no cuidar (Sumser, 2019).
A prestação de cuidados quando assumida pela família, normalmente está associada ao forte compromisso afetivo construído no relacionamento familiar ao longo dos anos. Por vezes, verificam-se situações em que não há família ou que essa relação é distante ou conflituosa e que na hora de cuidar não pode ser considerada, sobrepondo-se, nestes casos, normalmente um plano com base nos recursos formais.
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As redes de suporte formal são muitas vezes interpretadas como substitutos da família, mas são respostas de apoio. Como recursos formais entendemos: a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI); as Estruturas Residenciais Para Idosos (ERPI); os Serviços de Apoio Domiciliário (SAD); os Serviços de Atendimento e Acompanhamento Social (SAAS); e os Centros de Dia/ Convívio. Contudo, hoje em dia verificam-se situações de saturação e insuficiência destas respostas sociais. Poderá a comunidade ser parte da solução no apoio à doença e sofrimento do outro?

pessoa doente e das suas famílias, que enfrentam uma doença incurável, progressiva e com prognóstico limitado. A melhoria da qualidade de vida da pessoa doente passa pelo alívio do sofrimento biopsicossocial-espiritual. Este artigo pretende refletir sobre a importância da dimensão social e comunitária na vivência da doença grave na atualidade.
A dimensão social e o planeamento holístico de cuidados
O profissional de Serviço Social é membro integrante da equipa interdisciplinar dos cuidados paliativos, que fornece suporte emocional e social, nomeadamente na tomada de decisão da pessoa e da família quanto ao plano de cuidados e vivência do luto, são agentes facilitadores da comunicação dentro da família e entre o doente e a família e a equipa interdisciplinar.
Os aspetos sociais nos cuidados paliativos não podem ser avaliados de forma isolada, sem considerar os contextos físico, cultural e intersecional da pessoa. É na relação entre o profissional de Serviço Social e a pessoa/ família que surge a oportunidade de compreender como os papéis sociais e o sistema familiar foram afetados pela doença, como estão a lidar com ela e com as consequentes adaptações e que desafios e fatores de stress enfrentam. É basilar traçar um plano holístico de cuidados, de acordo com a autodeterminação da pessoa, dos pontos fortes e de resiliência da família e com os recursos formais e informais, que permitam elevar a personalidade, honrar a história pessoal/ familiar e proteger contra a despersonalização (Sumser, 2019).
Atualmente o cuidar é cada vez mais difícil, pela estrutura e exigência do quotidiano das famílias, por isso torna-se imperativo que cada pessoa faça planos para o fim de vida, seja através de suporte informal ou formal.
O suporte informal é um termo usado para caraterizar as relações entre família, vizinhança, amigos, entre outros, que se traduzem em apoio doméstico, afetivo, relacio-
Compaixão é a empatia em ação
A sociedade líquida de Zygmunt Bauman tem-se tornado um arauto do enfraquecimento da nossa vontade natural para ser compassivo em relação ao Outro. Talvez por isso, sob a forma de um grito de Ipiranga da nossa própria humanidade, a compaixão tem vindo a ser tão falada e é um imperativo na prática de cuidados paliativos. Enquanto a empatia é a capacidade emocional de compreender o estado interior do Outro; ser compassivo é ser-se sensível ao sofrimento do Outro e comprometer-se em prevenir e aliviar esse mesmo sofrimento. Através da compaixão, cada qual percebe que aquele que sofre partilha de uma humanidade comum com o outro que o ajuda. A compaixão conserva, assim, a Regra de Ouro, trata os outros como gostarias de ser tratado, ou seja, cuida dos outros como gostarias de ser cuidado.
Inovar no cuidado da pessoa com demência Serious Games for Dementia (SG4D)

Marlene Rosa1, Ricardo Pocinho2
1PhD Fundadora AGILidades. 2 PhD CEO AGILidades.
Onúmero de pessoas diagnosticadas com demência tem vindo a duplicar a cada 20 anos, prevendo-se cerca de 81 milhões de pessoas no mundo com este diagnóstico até 2040. A institucionalização neste caso é, muitas vezes, inevitável, mas a sua gestão é bastante difícil e exigente (Ferri et al., 2005). Para acontecer uma adaptação positiva destes casos ao processo de institucionalização, é necessário o seu envolvimento em atividades com significado para as próprias pessoas, preferencialmente em atividades divertidas e de socialização (Drageset et al., 2009), mas também que permitam a sua participação em atividades da vida diária, permitindo estimular o seu bem-estar e o seu sentido de utilidade (Funaki et al., 2005). A institucionalização apresenta um conjunto de desafios e limitações à promoção de um envelhecimento ativo e de qualidade (Edvardsson et al., 2013). De 1300
“O conceito de Serious Games (SG) pessoas idosas institucionalizadas, tornou-se popular nos últimos anos, apenas 18% participam ativamente em parte porque facilmente estimulam na realização das atividades da vida o cuidado personalizado, colocando o diária, 27% participam em rotinas indivíduo no centro das ações” com jogos e 14% envolvem-se em
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atividades de socialização e participação cívica (Edvardsson et al., 2014). Numa revisão sistemática da literatura sobre as atividades frequentemente implementadas com este subgrupo, Abraha et al. (2017) identificam sete tipologias de intervenções não farmacológicas para estimulação de pessoas idosas com declínio cognitivo ou demência: estimulação sensorial (shiatsu, aromaterapia, massagem, terapia com luz e cor, atividades hortícolas e jardins sensoriais, terapia pela dança, snoezelen), intervenções de orientação cognitivo-emocional (estimulação cognitiva, terapia de reminiscência, terapia de validação e de simulação), técnicas de gestão emocional (estratégias de reforço comportamental e de comunicação), estratégias multidimensionais (combinam a prestação de cuidados de enfermagem e psiquiatria; combinações de estimulação sensorial ambiental; combinação de música e massagem), prescrição de exercício e, por fim, a terapia assistida por animais.
A implementação de Serious Games for Dementia (SG4D) tem vindo a delimitar o seu próprio território, único e com significado terapêutico nos jogos para a saúde (McCallum S., 2013). O conceito de Serious Games (SG) tornou-se popular nos últimos anos, em parte porque facilmente estimulam o cuidado personalizado, colocando o indivíduo no
Precisamos de falar de privacidade e consentimento
Vânia Beliz Psicóloga Clínica e da Saúde e Sexóloga

Durante o envelhecimento - e principalmente durante o processo de institucionalização - é importante falar e refletir sobre a privacidade e sobre o consentimento, porque existem falhas que podem comprometer a saúde e o bem-estar de quem cuidamos.
Urge falar deste tema porque, não tê-los em conta, constitui uma situação de abuso e de violação dos direitos também destas pessoas.
O nosso corpo, mesmo quando perde autonomia, continua a ser nosso e não deve, por isso, ser manipulado de forma mecânica como tantas vezes assistimos.
Qualquer manipulação do corpo deve ser precedida de informação e, em caso de haver capacidade de consentimento, devemos esperar uma resposta que nos permita avançar.
Temos o direito de decidir sobre quem nos toca e, em nenhum momento, a dependência de terceiros deve ser motivo para tal não ser considerado.
A higiene, por exemplo, deve ser cuidada de forma a causar o menor desconforto, embaraço, ou mesmo vergonha. Termos a capacidade de imaginar como nos sentiríamos se estivéssemos naquele lugar é um exercício que devemos praticar. Uma fralda não é - e nem nunca será - motivo para não se levar uma pessoa a uma casa de banho, ou para a fazer esperar pela muda. Existem condições clínicas que podem influenciar o nosso consentimento e aí caberá ao cuidador garantir a nossa dignidade.
Se a falta de consentimento é um problema comum, a ausência de privacidade é outro igualmente preocupante. A falta de privacidade é “gritante” no meio Institucional. Se para muitas pessoas estar próximo de outras pode ser agradável e uma mais-valia, para muitos a falta de privacidade é um problema.
De quando estive numa unidade de longa duração recordo reuniões de equipa, em que colegas referiam encontrar alguns utentes de pénis na mão. Se mais jovens já é difícil esconder e passar despercebido, tal será para uma pessoa mais velha em que os sentidos estão tantas vezes mais comprometidos. Um leve toque na porta pode não ser suficiente para evitar uma situação flagrante e constrangedora para todos. Apesar de tantas vezes serem consideradas assexuadas, as nossas pessoas mais velhas têm sexualidade e res-
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posta sexual, desejo, excitação e prazer, e procurarão satisfazer-se como - naturalmente - qualquer pessoa, pelo que a privacidade é extremamente importante.
Cansa-me, dececiona-me e entristeceme que se continue a ver o envelhecimento como o fim da linha e que se desautorizem as pessoas como se fossem indivíduos incapazes de tomar decisões. Enquanto tivermos capacidade para decidir, ninguém o deve fazer por nós. Por isso, se o Sr. António quer dormir com a Sra. Maria façam-me o enorme favor de não se meter no assunto e, muito menos, de irem a correr ligar à família como se fosse uma coisa do outro mundo, alguém querer estar com outrem.
Parem, por favor, de invadir os quartos e permitam - sempre que possível - o acesso ao corpo, permitindo que uma pessoa que precise de utilizar fralda, se o quiser, tenha oportunidade de se tocar. Combine deixá-la durante algum tempo aberta, se for caso disso, e deixe espaço para que a pessoa se sinta completamente à vontade. Além de ajudar toda a região do corpo respirar, permite que o acesso esteja livre para o toque.
Quando penso na falta de privacidade e de consentimento imagino o que será da nossa geração numa instituição. Imagino o quanto tudo terá de mudar para podermos ter a dignidade que reivindicamos e a que temos direito.
Precisamos de encontrar estratégias em meio institucional que respeitem o direito ao prazer de todos e de todas, mantendo presente que sexualidade não é apenas sexo e a privacidade e o consentimento são variáveis que não podemos ignorar, claro, se queremos garantir e promover os direitos das pessoas de quem cuidamos.
