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Espaço Associação Coração Amarelo
from Resumo da Dignus mº6
by cie
Equipa Técnica
da Delegação de Lisboa
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Voluntariado a pessoas em solidão
Visitar e acompanhar na dor
Viver mais e com melhor Dign(Idade) é o desejo do ser humano! É da responsabilidade de cada um de nós e da colaboração de todos em rede, também na intervenção social com o apoio do Voluntariado, acompanhar pessoas idosas na situação de isolamento e dependência física que potenciam uma maior solidão física, emocional e psicológica, onde estão presentes os sinais do envelhecimento holístico, muitas vezes a dor crónica e o fim aproximado. O confronto com a escassez de recursos, sobretudo no espaço vivencial da pessoa, não é de fácil aceitação. Procuramos responder através da sinalização para as unidades de saúde. Procuramos apoio nas organizações que trabalham no terreno, que podem disponibilizar informação, formação e cuidados, aos utentes, cuidadores e colaboradores. Promovemos o Voluntariado como resposta social que desenvolve o princípio da solidariedade e cidadania, com a presença de gestos compassivos na relação que se desenvolve entre a pessoa idosa e o voluntário.
A solidão no envelhecimento e a diferença positiva do voluntariado
O conhecimento desenvolvido na Geriatria e Gerontologia comprovam que o envelhecimento é holístico e diferenciado, um processo individual e heterogéneo. Envelhecimento e solidão são dois processos interligados à história de vida. Laços de solidariedade, convivialidade, de afeto e de interesse potenciam conexões importantes para o bem-estar físico e psicológico.
Na Agenda Estratégica do Plano de Desenvolvimento Social 20172020, a Rede Social de Lisboa, enquadrada no eixo de intervenção das pessoas idosas propôs como finalidade de ação a promoção da qualidade de vida e autonomia, destacando respostas para prevenir e combater o isolamento social, como soluções facilitadoras da mobilidade e deslocação das pessoas, dentro do seu espaço para o exterior, como também “(…) reforçar a organização do voluntariado de apoio a idosos isolados (...)”. (Rede Social de Lisboa, 2017:9)
Utentes com doença de dor crónica e a procura de recursos
A ausência de saúde e de laços sociais são os aspetos mais evidenciados pelas pessoas na velhice. O processo cumulativo de patologias e a pluralidade de medicamentos, a procura de soluções para aliviar a dor de modo a retomarem a autonomia e independência que a doença de dor crónica instala na vida quotidiana, compõem o leque de preocupações vividas diariamente. Embora com limitações físicas não deixam de pensar no futuro e planear a vida, contudo, deparam-se com a ausência de respostas e soluções. Muitas vezes, a ausência de respostas adequadas é factor determinante para perderem também a esperança e força de lutar. A doença e a dor são a rotina dos diálogos e
o motivo de sair de casa são os atos médicos, na maioria das vezes com a apoio de transporte de doentes, porque houve um declínio físico e a dificuldade de mobilidade agravou-se. Desmotivação e descrença nos serviços. Pessoas solicitam o apoio de um voluntário para mitigar a solidão que a saúde provocou ou as barreiras físicas impedem de ultrapassar, ou a ausência de relações pessoais impedem de conviver.
A solidão é transversal a todas as classes sociais e muito notória nas pessoas portadoras de doença crónica, onde a casa é um refúgio forçado, porque se encontram impedidas de manter a qualidade de vida e bem-estar que outrora alcançaram. A falta de recursos médicos ao domicílio para alívio da dor, adequação da medicação e terapias alternativas, são queixas expressas pelas pessoas que acabam por se encontrar isoladas e sós. Procuram nas palavras e no rosto do voluntário a vida que já não podem ter, o ser escutado, ter alguém disponível para o que “resta de si” e passar mais rápido o tempo. Entusiasmam-se, ainda, pelas histórias que entram pela sua porta de casa, mesmo que já não consigam chegar perto para dizer um adeus.
“Sentir que temos valor, que somos importantes, que somos amados, mesmo quando estivermos doentes e a morrer. O desafio de quem quer estar ao lado de uma pessoa que está a morrer é saber transformar o sentimento dela em algo de valor. Transformar o sentimento de fracasso diante da doença num sentimento de orgulho pela coragem de enfrentar o sofrimento de finitude.” (Arantes, 2019:121)
O apoio aos voluntários na relação com esta temática/problemática
A Associação Coração Amarelo reúne um corpo de voluntários que apoiam pessoas idosas em situação de solidão, isolamento social e dependência física. Pessoas que acima dos 18 anos de idade, selecionadas e com formação para exercerem o voluntariado, doam o seu tempo à escuta e companhia que os mais velhos têm para contar e ensinar. Sabendo que a população que nos procura é essencialmente um grupo vulnerável e com fragilidades também ao nível da saúde, procuramos através de voluntariado devidamente acompanhado e supervisionado por uma equipa técnica, apoiar os voluntários que reúnam capacidade para visitar as pessoas, promovendo a capacidade de escuta para um discurso onde há sempre relatos de dor e falta de apoio e, cujos próprios voluntários se deparam, inclusive emocionalmente, com as fragilidades da pessoa idosa, para as quais não existem respostas na comunidade ou são economicamente difíceis de alcançar.
A ausência de soluções aparentes, promovem na equipa técnica a articulação com os parceiros sociais e de saúde, para a canalização de apoios para os que estão mais sós e doentes. A frustração e a impotência são sentimentos recorrentes na ausência ou inexistência de resposta, sobretudo para o utente que mantém as queixas da falta de apoio, mas também para o voluntário que habitualmente quer sentir-se promotor de bem-estar no acompanhamento que presta, especialmente numa situação tão delicada e complexa. Cicely Saunders(s.d.), definiu o conceito de “dor total”, expressão que tenta transmitir as diferentes dimensões do sofrimento vivido pelos doentes, com referência específica às dimensões emocionais, psicológicas, sociais
Arantes, 2019:121

Cuidados paliativos
Espiritualidade no cuidar
Rui Ribeiro Psicólogo clínico
© Freepik

“Cuidados paliativos consistem na assistência, promovida por uma equipa multidisciplinar, que tem como objetivo a melhoria da qualidade de vida do doente e dos seus familiares diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e do alivio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.”
Organização Mundial de Saúde
Talvez o sentido seja Cuidarmos paliativamente A vida uns dos outros… Isto é, até ao fim. Assegurando conforto, Impedindo de sofrer, Ajudando a viver os instantes Como cada um os quiser viver. Talvez o sentido seja Apoio, apoio e apoio…
Ana Ascensão I rei focar-me na parte espiritual dos cuidados paliativos, mas primeiro irei abordar um pouco sobre o processo da morte. Os orientais falam-nos dos quatro elementos da natureza. Como parte da Natureza, também somos feitos destes elementos: terra, água, fogo e ar. Quando morrermos, ocorrerá a dissolução dos elementos que compõem o nosso corpo.
Em primeiro lugar, temos a dissolução da terra, que é o corpo a adoecer. Quando a pessoa se apercebe que está muito doente, passa para uma introspeção, para a busca da sua essência. Essa introspeção carateriza a dissolução da água. Em termos biológicos, a pessoa tende a ficar mais desidratada e urina menos. Diminui a produção de fluidos corporais, bebe menos água, produz menos líquidos gástricos, a pele fica mais seca e o corpo emagrece. Do ponto de vista de comportamento, a pessoa torna-se mais sossegada. As visitas a essa pessoa é um privilégio da família ou da família escolhida, porque há a vontade de ter apenas os mais íntimos por perto. Quando a pessoa está a mergulhar fundo como nunca antes, em busca de si mesmo dentro da própria essência, começa a dissolução do fogo. Cada uma das células do corpo tomará consciência de que o tempo está a acabar, mas ainda é tempo de vida. Aí há uma repentina melhora do quadro clínico do paciente. É a famosa visita da saúde – a melhora antes da morte. Ao terminar a dissolução do fogo, o encontro verdadeiro