Dossier sobre cuidados paliativos | 33
pessoa doente e das suas famílias, que enfrentam uma doença incurável, progressiva e com prognóstico limitado. A melhoria da qualidade de vida da pessoa doente passa pelo alívio do sofrimento biopsicossocial-espiritual. Este artigo pretende refletir sobre a importância da dimensão social e comunitária na vivência da doença grave na atualidade.
A dimensão social e o planeamento holístico de cuidados O profissional de Serviço Social é membro integrante da equipa interdisciplinar dos cuidados paliativos, que fornece suporte emocional e social, nomeadamente na tomada de decisão da pessoa e da família quanto ao plano de cuidados e vivência do luto, são agentes facilitadores da comunicação dentro da família e entre o doente e a família e a equipa interdisciplinar. Os aspetos sociais nos cuidados paliativos não podem ser avaliados de forma isolada, sem considerar os contextos físico, cultural e intersecional da pessoa. É na relação entre o profissional de Serviço Social e a pessoa/ família que surge a oportunidade de compreender como os papéis sociais e o sistema familiar foram afetados pela doença, como estão a lidar com ela e com as consequentes adaptações e que desafios e fatores de stress enfrentam. É basilar traçar um plano holístico de cuidados, de acordo com a autodeterminação da pessoa, dos pontos fortes e de resiliência da família e com os recursos formais e informais, que permitam elevar a personalidade, honrar a história pessoal/ familiar e proteger contra a despersonalização (Sumser, 2019). Atualmente o cuidar é cada vez mais difícil, pela estrutura e exigência do quotidiano das famílias, por isso torna-se imperativo que cada pessoa faça planos para o fim de vida, seja através de suporte informal ou formal. O suporte informal é um termo usado para caraterizar as relações entre família, vizinhança, amigos, entre outros, que se traduzem em apoio doméstico, afetivo, relacio-
nal e financeiro, permitindo à pessoa manter a contacto/ conexão com a vida social (Guerra, 2015). Portanto, família, amigos, vizinhos, organizações religiosas, clubes e outros membros da comunidade podem ser identificados como potenciais fontes de apoio. Assim, o profissional de Serviço Social poderá mapear os ativos com base em pontos fortes, relacionamentos e recursos formais e informais, identificar como os relacionamentos da pessoa podem fornecer suporte emocional e social e em discussão com a pessoa e familiares avaliar a disponibilidade e adequação, de forma a tornar possível assegurar visitas, rituais, compras, tarefas domésticas, transporte e até ajuda no cuidar (Sumser, 2019). A prestação de cuidados quando assumida pela família, normalmente está associada ao forte compromisso afetivo construído no relacionamento familiar ao longo dos anos. Por vezes, verificam-se situações em que não há família ou que essa relação é distante ou conflituosa e que na hora de cuidar não pode ser considerada, sobrepondo-se, nestes casos, normalmente um plano com base nos recursos formais. As redes de suporte formal são muitas vezes interpretadas como substitutos da família, mas são respostas de apoio. Como recursos formais entendemos: a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI); as Estruturas Residenciais Para Idosos (ERPI); os Serviços de Apoio Domiciliário (SAD); os Serviços de Atendimento e Acompanhamento Social (SAAS); e os Centros de Dia/ Convívio. Contudo, hoje em dia verificam-se situações de saturação e insuficiência destas respostas sociais. Poderá a comunidade ser parte da solução no apoio à doença e sofrimento do outro?
“Atualmente o cuidar é cada vez mais difícil, (...)por isso torna-se imperativo que cada pessoa faça planos para o fim de vida”
Compaixão é a empatia em ação A sociedade líquida de Zygmunt Bauman tem-se tornado um arauto do enfraquecimento da nossa vontade natural para ser compassivo em relação ao Outro. Talvez por isso, sob a forma de um grito de Ipiranga da nossa própria humanidade, a compaixão tem vindo a ser tão falada e é um imperativo na prática de cuidados paliativos. Enquanto a empatia é a capacidade emocional de compreender o estado interior do Outro; ser compassivo é ser-se sensível ao sofrimento do Outro e comprometer-se em prevenir e aliviar esse mesmo sofrimento. Através da compaixão, cada qual percebe que aquele que sofre partilha de uma humanidade comum com o outro que o ajuda. A compaixão conserva, assim, a Regra de Ouro, trata os outros como gostarias de ser tratado, ou seja, cuida dos outros como gostarias de ser cuidado.
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