Dossier sobre cuidados paliativos | 23
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motivação, as metas, a alimentação, o sono e outros. A memória é muito sensível como emoções e sentimentos. Quando estamos tensos ou stressados, se precisarmos de memorizar informações faremos uma seleção descartando todas as não principais prioridades no momento e memorizamos apenas o que consideramos mais importante (ABREU, 2017). Aos poucos vamo-nos embrutecendo, até que acontece um blackout. A esse blackout, podemos chamá-lo de “demência” que, de acordo com o Manual do Cuidador (2006), refere-se a uma série de sintomas que são habitualmente observados em pessoas com doença cerebral resultante de dano ou perda de células cerebrais. Num live realizada em 30 de maio de 2020 com a professora Vilma de Oliveira Lopes, procuramos abordar um estudo de caso que retrata esta temática: o estado de demência profundo. Trata-se de um processo natural, entretanto quando surgem doenças que conduzem à demência, isto acontece de uma forma muito mais rápida e faz com que o cérebro da pessoa deixe de funcionar da maneira habitual, como citado acima: um apagão dos sentidos e afetos que pode manifestar-se de várias formas, até interferir na rotina, e ainda nas palavras de Abreu, podemos perceber que: “Não e só no sistema nervoso central que ficam armazenadas as memórias das experiências passadas. Os músculos também têm essa tarefa. De alguma forma eles memorizam emoções. Através de massagens, posturas e exercícios, podemos reviver registos emocionais dos quais não tínhamos consciência e esse é o primeiro passo para superá-los” (ABREU, 2017).
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O facto de reviver os registos emocionais através de massagens e exercícios específicos propõe-nos uma nova forma de refletir a velhice; desconstrói a visão pesada que até há pouco tempo tínhamos desta fase da vida. Quando vemos a vida como uma viagem, supomos que no percurso poderemos encontrar não só alguns obstáculos, mas também novas paisagens, e que precisamos de reunir energia, curiosidade e paixão para nos conduzirmos nesta fase. Trata-se de sermos flexíveis para nos adaptarmos às mudanças de cada etapa do viver. A psicoterapia corporal promove às pessoas, através do toque, exercícios, fala e respiração, livrar-se dos entraves emocionais inconscientes facilitando a neuroplasticidade através do acesso ao amor primordial. Tratase de uma sensação de plenitude e bem-estar, reconexão que nos permite uma forma mais saudável de lidar com o presente. Segundo Borella e Sacchelli (2008), “a neuroplasticidade, entre as suas muitas definições, pode ser a capacidade de adap-
tação do sistema nervoso, especialmente a dos neurónios, às mudanças nas condições do ambiente que ocorrem diariamente na vida dos indivíduos. Esta reorganização neural é um objetivo preliminar da recuperação neural para facilitar a recuperação da função e pode ser influenciada pela experiência, comportamento, prática de tarefas e em resposta a lesões cerebrais” (BORELLA, MP.; SACCHELLI, T., 2008). David Boadella, nascido na Inglaterra em 1931, é o fundador da Biossíntese. Construiu mais de 50 anos de prática psicoterapêutica e ensino. Estudou Educação, Literatura e Psicologia nas Universidades de Londres e Nottingham. Esta escola de psicoterapia somática valoriza o contacto humano na relação terapêutica. A palavra Biossíntese significa “integração da vida e refere-se a processos específicos de autoformação que orientam o crescimento orgânico e o desenvolvimento pessoal e espiritual” (BOADELLA, 1974). O relacionamento terapêutico através do contacto afetivo pode proporcionar a rehar-
“O relacionamento terapêutico através do contacto afetivo pode proporcionar a reharmonização entre os pensamentos, sentimentos e ações.”