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1. Introdução

1. Introdução

Os hábitos de consumo mudaram e estão cada vez mais conscientes e sustentáveis. As empresas, em busca de agradar seus consumidores, inovam e avançam em relação aos produtos veganos, livres de crueldade e eco friendly. Tais mudanças podem ser acompanhadas tanto nas indústrias de moda e beleza, quanto no ramo alimentício.

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Percebe-se que, conforme o debate sobre os direitos dos animais foi ampliado, novas vertentes dentro de movimentos como o Vegano e o Vegetariano surgiram. A exemplo disso, destaca-se a filosofia Cruelty-Free (Livre de Crueldade). Este movimento discute a libertação animal dos laboratórios e opõe-se aos testes in vivo. Unido ao Vegano, cobra da indústria o fim da exploração de espécies não-humanas.

Esta causa é diretamente atrelada à vegetariana e possui fundamentos do veganismo. Por tal ligação, defendem o mesmo ponto de vista em relação ao trato do ser humano com as demais espécies e almejam a quebra do paradigma antropocêntrico e especista socialmente arraigado.

É notável que as mídias tradicionais, sobretudo a televisiva, raramente veiculam informações sobre os ideais Cruelty-Free, ou em relação à vivissecção1 , e, quando o fazem, apenas o lado benéfico dos experimentos ganha visibilidade, consequentemente, o sofrimento em que os animais são submetidos não recebem menção. Tal atitude pode ser compreendida como uma tentativa de inibir o conhecimento do público sobre a causa. Desta forma, patrocinadores, que ainda não baniram este tipo de teste, são preservados de possíveis perdas de consumidores.

Todavia, com a popularização de conteúdos no âmbito digital, o ativismo próvida animal fortaleceu-se e ganhou mais adeptos. Atualmente, sites e blogs independentes e as redes sociais, tornaram-se principais veículos de fomento para quem busca este tipo de informação. O Facebook, por exemplo, aumenta a possibilidade de interação direta entre usuários por meio da ferramenta dos grupos de afinidades. Assim, facilita a comunicação dos internautas que possuem ideias similares. O Instagram, por sua vez, é tão expressivo quanto o Facebook e, por ser

1 Termo dado à prática de utilizar animais vivos como cobaias em experimentos laboratoriais, psicológicos, medicinais, entre outros.

altamente visual, capta a atenção do público jovem. Ambas as redes sociais são utilizadas por ativistas que atuam como conscientizadores dos direitos animais.

Portanto, esta pesquisa investigou o papel das mídias sociais citadas acima na maior adesão ao ativismo Livre de Crueldade, bem como compreendeu a interação dos usuários com os conteúdos vinculados aos perfis. Para tal, fizemos um estudo de caso das páginas Nicole Make e Vegetarianos Online, no Instagram, e do grupo Veganismo Pleno, no Facebook. Também utilizamos o método de análise de conteúdo, aplicado às postagens vinculadas neles. Além disso, tornou-se fundamental analisar, sob o ponto de vista científico, a necessidade de utilizar animais como cobaias. Por isso, a fim de obter pluralidade de opiniões, entrevistamos cientistas com expertise na área da vivissecção.

Com este trabalho, buscamos contribuir para ampliação do debate sobre a importância das redes sociais no ativismo contemporâneo, com ênfase na causa animal.

2. Objetivos

2.1 Geral

Esta pesquisa teve como princípio investigar e discutir o papel das redes sociais na ampliação de adeptos ao movimento Cruelty-Free. Com isso, buscamos compreender se tais recursos virtuais de fato favorecem e fomentam o debate sobre a causa.

2.2 Específicos

Observamos a interação dos usuários com os conteúdos vinculados aos perfis Vegetarianos Online e Nicole Make, no Instagram, e ao grupo Veganismo Pleno, no Facebook.

Outro objetivo deste estudo foi conhecer as áreas abarcadas por esta forma de ativismo, enfatizando a discussão em torno da indústria cosmética. Também tornouse fundamental compreender, sob o ponto de vista científico, a necessidade de utilizar animais como cobaias. Desta forma, obtivemos pluralidade de ideias e conhecimentos.

Além disso, ouvimos especialista em ética a fim de compreender o impacto das ideias especistas e antropocêntricas na nossa construção social. A partir dos resultados obtidos, simulamos uma reportagem extensa para a plataforma multimídia TAB, do grupo Universo Online (UOL).

3. Problematização e hipóteses

A internet possui papel fundamental para disseminação de diversas ideologias, incluindo, as relacionadas aos direitos dos animais. Tendo isso em vista, levantamos o questionamento sobre a influência do ciberativismo vegano e vegetariano para o aumento da conscientização pública em relação ao movimento Cruelty-Free.

Como hipóteses, esta pesquisa trabalhou dois argumentos:

H1 – As mídias tradicionais, sobretudo a televisiva, não veiculam informações sobre este movimento, a fim de inibir o conhecimento em relação à causa. Desta forma, preservam os patrocinadores, que ainda não aboliram os testes em animais, de perderem consumidores. Sem visibilidade nos principais meios tradicionais, os perfis ativistas nas redes sociais são usados como fomento para quem busca informações sobre o movimento Cruelty-Free.

H2 – Os testes em animais são mais baratos de que os outros métodos de ensaio. As empresas, portanto, investem neste tipo de experimento visando obter mais lucros financeiros.

Com isso em vista, partimos para uma análise criteriosa e objetiva, visando obter confirmação ou invalidação dos pontos abordados acima.

4. Justificativa

Manter os animais livres da crueldade é a máxima da causa Cruelty-Free. Este pensamento é conhecido por se opor à experimentação in vivo nas espécies tidas como irracionais. Além deste posicionamento, unido ao veganismo, também é contrário à exploração dos animais nas indústrias da moda, alimentícia, cosmética etc.

O movimento ganhou notoriedade conforme o debate sobre os hábitos de consumo consciente foi ampliado. As mídias sociais, bem como os outros meios digitais alternativos, são usadas como disseminadoras de informações sobre esta filosofia e as demais reflexões sobre a vida das diversas espécies animálias. Inclusive, as redes sociais são populares no Brasil. De acordo com o estudo realizado pelas empresas We Are Social e a Hootsuite2, apenas em 2019, o país totalizou 140 milhões de usuários ativos, sendo destes, 10 milhões recentes.

Em dezembro de 2019, ativistas brasileiros circularam online uma petição para o fim da experimentação em cobaias nas marcas Avon, Mary Kay, Esteé Lauder e L’Oreal. Após o ocorrido, a Avon anunciou o banimento desta modalidade de ensaio. Isso, certamente, viria a ser noticiado futuramente, uma vez que a Avon Brasil está sob o domínio da Natura, empresa que não realiza tais experimentos. É compreensível que este anúncio fora antecipado a fim de corresponder às expectativas dos consumidores da marca, ou seja, a petição surtiu efeito e teve um avanço conquistado.

É curioso mencionar que esta causa sensibiliza e conquista adeptos que podem ser, ou não, necessariamente, apenas veganos ou vegetarianos. As resenhas de produtos de beleza, por exemplo, usam como diferencial positivo o selo Cruelty-Free. Desta forma, fica claro que a causa atinge novos públicos devido ao apelo empático pleiteado nela.

Podemos classificar o apoio de influenciadores e figuras públicas como um reflexo desta conscientização que transcende o meio vegano ou vegetariano. Um caso é o perfil no Instagram da tatuadora, apresentadora, cantora e ex-dona da linha de cosméticos KVD Vegan Beauty, Kat Von D. Kat possui números expressivos nesta

2 Disponível em: <https://wearesocial.com-global-digital-report-2019>. Acesso em: 15 de abr. 2020.

rede, tanto em seu perfil, quanto no de sua antiga marca, e usa esta visibilidade para também informar seus seguidores sobre o veganismo e o Cruelty-Free.

Exemplificaremos com uma postagem3 , de 2017, em que a tatuadora apresentava explicitamente o sofrimento dos coelhos usados como cobaias para experimentações cosmetológicas. Dentre as imagens, a mais impactante era de um saco preto com diversos coelhos mortos e ensanguentados, ou seja, uma clara alusão ao fato deles serem descartados como objetos inanimados. As fotos vieram acompanhadas de um texto criticando a marca Nars Cosmetics, após ela anunciar que passaria comercializar seus produtos na China, país que, até então, tinha um regimento que tornava obrigatório os testes em cobaias para cosméticos e produtos que entrassem em contato com a pele humana. A cantora sempre levantou e apoiou o debate sobre os direitos dos animais e necessidade de produtos livre de crueldade.

Portanto, conforme mencionado, este tema é grandioso e inovador. E, através dele, almejamos contribuir para o debate científico, ético e social.

3 Disponível em: <https://www.instagram.com/p/BV-KDC8gSql/?igshid=av84rbmmspln>. Acesso em: 15 de abr. de 2020.

5. Plano Estratégico 5.1. Descrição do produto

O jornalismo no ciberespaço foge dos moldes estáticos e capta atenção dos leitores com os recursos multimídias. Através dos infográficos, por exemplo, a informação é transmitida com clareza, objetividade e atratividade. Os vídeos, por sua vez, passam a dimensão real da mensagem, ou acontecimento, difundido.

Com isso em mente, simulamos a veiculação da reportagem extensa, sugerida neste trabalho, no portal de notícias TAB, do grupo Universo Online (UOL). O site foi lançado em 2014, propondo tratar temas inéditos de forma profunda e provocadora. A princípio, somente reportagens especiais eram veiculadas e semanalmente, às segundas-feiras. Posteriormente, em 2018, os conteúdos tornaram-se diários, porém, mantiveram o formato inicial com textos aprofundados.

Segundo Pereira (2017), como o nome sugere, TAB provém de tablet, e foi desenvolvido para o aparelho móvel. Contudo, o desempenho da plataforma é mantido nos demais dispositivos, como smartphones, desktops, notebooks.

As interfaces dos dispositivos tablets tornam-se eficientes nesse contexto de convergência midiática e da publicação, cada vez mais intensificada de conteúdos multimídias, por integrar características essenciais para a execução do jornalismo para dispositivo móvel como touchscreen, leitura multimídia, mobilidade, interatividade e linguagem híbrida. (PEREIRA, 2017, p. 71)

Por priorizar o design que favorece o campo de interação multimídia, o portal possibilita a veiculação de tais conteúdos, inclusive, é pautado neles. Pereira (2017) explica que o TAB utiliza de esquemas corriqueiros, obrigatórios e enriquecedores para Grande Reportagem Multimídia (GRM): o texto longform e a leitura verticalizada.

Com relação ao texto longform, pode-se confirmar tal estrutura textual no produto observado. Ao considerarmos que a definição do termo ultrapassa a questão relacionada ao número de palavras, não há hesitação em defini-lo desse modo. O UOL Tab caracteriza-se por abordar distintos pontos de vistas, embasado em fontes referenciadas nos assuntos expostos, o que é essencial no jornalismo. Por essa imensa apuração, a narrativa consegue atingir um grau de contextualização significativo, que propicia um aprofundamento sobre o tema. Com isso, observa-se que o produto jornalístico possui as características fundamentais do formato longform. [...] Como já exposto, o formato multimídia exige uma leitura verticalizada. No UOL Tab é possível percorrer a plataforma apenas no sentido vertical. Cada seção da narrativa, sejam textos, vídeos, fotos, poadcasts, ou infográficos, é exibida a partir da movimentação da barra de rolagem. O usuário não tem

acesso simultâneo às seções e, para acessar os demais conteúdos, é obrigado a realizar a leitura verticalizada. (PEREIRA, 2017, p. 84-85)

O site possui layout minimalista e interativo. Além disso, torna-se mais atrativo pela escrita utilizada, que é simples, objetiva e instigante. De acordo com o teor apresentado, pode conter atributos da coloquialidade, tal como memes e expressões populares.

5.1.1. Linha editorial e missão, visão e valores

O grupo UOL não tornou público este material. Entretanto, o grupo Folha, empresa a qual tem participação no UOL, destaca que “estabelece como premissa de sua linha editorial a busca por um jornalismo crítico, apartidário e pluralista”4 . Bem como o dado anterior, a missão, visão e valores do Tab e UOL não foram divulgadas, novamente utilizarei as informações divulgadas pela Folha5. Possuem como missão:

Produzir informação e análise jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e agilidade, baseadas nos princípios editoriais do Grupo Folha (independência, espírito crítico, pluralismo e apartidarismo), por meio de um moderno e rentável conglomerado de empresas de comunicação, que contribua para o aprimoramento da democracia e para a conscientização da cidadania. A companhia tem a visão de “consolidar-se como o mais influente grupo de mídia do país”.

E, por fim, os valores são sinalizados como “independência econômica e editorial, compromisso com o leitor, ética, defesa da liberdade de expressão, defesa da livre iniciativa, pioneirismo e respeito à diversidade. ”

5.2. Estratégias para definição

Portanto, conforme apresentado, seguimos o estilo original do TAB. Isto é, conduzimos a reportagem com leveza e profundidade, visando despertar o interesse do receptor em continuar a busca por informações relacionadas ao movimento tratado por esta pesquisa, sobretudo, aos que ainda não tinham consciência sobre a causa.

4 Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/institucional/linha_editorial.shtml?fill=2>. Acesso em: 08 de jun. de 2020. 5 Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/institucional/o_grupo.shtml?fill=1>. Acesso em: 08 de jun. de 2020.

O texto extenso6 conteve 29.991 caracteres com espaço (25.352 sem espaço), ou seja, dentro dos limites pré-estabelecidos no Manual de TCC, fornecido por este curso. Para tal, dissertamos sobre seis tópicos, divididos por cinco intertítulos: A primeira parte foi designada à contextualização do tema. Em linhas gerais, explicamos quais eram os debates propostos pela causa Cruelty-Free e a comoção gerada pelo teor dos experimentos in vivo, que transcende a bolha do ativismo próvida animal. O primeiro intertítulo, “Redes sociais e a libertação animal”, trata sobre o ciberativismo vegano. Aqui, apresentamos a importância e relevância conquistada pelas mídias sociais nos últimos anos. Além de mencionar o papel delas no tempo vago da quarentena, causada pela pandemia do novo Coronavírus. Neste tópico, contamos com os depoimentos de Thayssa Conti (criadora e administradora da página Vegana Explana) e Rodrigo Marques Foresto (administrador do grupo Veganismo Pleno). Ambos contribuíram para o debate sobre influência das redes sociais na ascensão dos movimentos pelos animais. “Fato ou fake?” foi designado à discussão em torno da indústria dos cosméticos Cruelty-Free e a função de perfis veganos/vegetarianos na fiscalização e disseminação de informações sobre os produtos livres dos testes em animais. Através da entrevista com Wil Lemansch (criador e administrador do grupo e da página Vegetarianos Online), fomentamos a argumentação proposta inicialmente. Também explicamos como as marcas obtém os selos veganos e cruelty-free. “Raízes socioculturais do especismo” traz o ponto de vista filosófico sobre a origem da desigualdade entre a espécie humana e as não-humanas. Os livros “Manifesto pelos direitos dos animais”, de Rafaella Chuahy, e “A política sexual da carne: uma teoria feminista vegetariana”, de Carol J. Adams, colaboraram para a discussão sugerida neste tópico. Além disso, conversamos com o filósofo de Ética da Vida e Animal, Carlos Naconecy, que contribuiu grandiosamente nesta questão. Em “Vivissecção, quem és tu?” apresentamos os experimentos in vivo de forma mais aprofundada e exemplificamos com dois métodos. Como apoio para o debate ético, utilizamos trechos da fala de Carlos Naconecy. A entrevista com o Grupo

6 Em consequência da pandemia causada pelo Covid-19, todos as entrevistas, incluindo as que originaram os conteúdos multimídias, transcorreram virtualmente. Como forma de respeito e preservação à vida e para corroborar o isolamento social.

1R fomentou a discussão sob ponto de vista científico, visto que o coletivo é formado majoritariamente por acadêmicas da área de Bioquímica e Farmacologia. O último intertítulo, “Direito dos animais”, tem o panorama das reivindicações dos ativistas pelos animais. A mais recente lei sancionada, voltada aos maus tratos a cães e gatos, foi usada como base para contestações dos entrevistados Robson Fernando de Souza (criador e administrador do blog/perfil Veganagente) e Danielle Simões Albuquerque (uma das idealizadoras da Bancada Vegana). Para acompanhar a parte escrita, elaboramos infográfico, vídeo e podcast: O infográfico foi desenvolvido com dados extraídos de um trecho da live sobre experimentações em animais, da empresa Baims Natural Makeup com a participação da Profa. Dra. Patrícia Santos Lopes. Para o design, os elementos foram retirados e vetorizados dos sites Flat Icon e Freepik. Após isso, houve a estruturação através do Adobe Illustrator. O podcast, esquematizado com formato de mesa redonda, teve cinco participantes: duas veganas, duas ovolactovegetarianas e a mediadora. O encontro ocorreu através da plataforma Discord, gravado com o auxílio do bot Craig. O áudio foi editado pelo programa Adobe Audition, com duração total de 8:10. Tivemos como tema para ele “A confiança dos consumidores veganos e vegetarianos nas marcas Cruelty-Free". O utilizamos como um suplemento ao debate proposto no intertítulo “Fato ou fake?”.

A reunião, que originou o vídeo apresentado neste trabalho, ambientou-se no Google Meet. A gravação foi realizada pelo programa OBS Studio e editada pelos softwares Kdenlive e Adobe Premiere Pro, com o total de 14:27. A conversa, com a Profa. Dra. Patricia Santos Lopes, teve como foco os experimentos alternativos aos in vivo. Com isso, complementamos a parte “Vivissecção, quem és tu?”. Fizemos upload

do vídeo no YouTube. Desenvolvemos a página através da plataforma Wix e está disponibilizada tanto na versão Desktop, quanto na Mobile. Conforme citado anteriormente, o layout do TAB é minimalista e interativo. Para aproximar-se ao máximo deste design, definimos como padrão o background branco e fonte preta (exceto para o título, visto que utilizamos a cor branca). Além disso, a imagem de abertura da reportagem possui o efeito de rolagem “surgir”, para equiparar-se ao estilo original do TAB. A tipografia escolhida para o corpo do texto foi Avenir Light (tamanho 21 e espaçamento na entrelinha 1.5)

e Raleway para o título (tam. 70), linha fina (tam. 21) e intertítulos (tam. 35), sendo o título e os intertítulos apresentados em caixa alta. Devido ao grande volume de texto e para trazer mais “respiro” à página, optamos por acrescentar imagens paralelas à escrita. Ou seja, diferindo do TAB, que, normalmente, utiliza este recurso apenas no início de cada intertítulo. A maioria das fotos foram extraídas dos bancos de imagens Unsplash e Pixabay, devidamente creditadas. Visamos com este trabalho alcançar o maior número de pessoas, sobretudo, as que ainda não conhecem as movimentações pelos direitos e vida dos animais. Portanto, temos como público-alvo, internautas na faixa-etária de 16 a 66, que ainda consomem carne, porém se solidarizam com o sofrimento animal.

6. Referencial teórico

A crença de que os seres humanos são superiores às outras espécies é permeada socialmente há milênios. Chuahy (2009, p. 11) afirma que historiadores, ativistas e filósofos defendem a ideia de que este conceito parte de uma construção religiosa ocidental, provinda de interpretação dominante da bíblia em que, supostamente, Deus autoriza os seres humanos a dominá-las.

Esta e outras concepções em relação à racionalidade dos animais são compartilhadas, inclusive, por pensadores.

Aristóteles, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino acreditavam que os animais não tinham alma e que por isso seria impossível para os humanos cometer qualquer pecado contra eles. De acordo com Aristóteles, os animais desfrutavam da função sensitiva, mas não da racionalidade, sendo inferiores aos seres humanos na hierarquia natural. Santo Tomás de Aquino, que baseou parte de sua teoria nas conclusões de Aristóteles, teve grande influência no desenvolvimento do cristianismo e solidificou a ideia de que os seres humanos têm um valor espiritual maior do que os outros animais, já que foram criados com base na imagem de Deus. [...] Mais tarde, no século XVIII, iluministas como Descartes concluíram que os animais não tinham consciência e assim eram incapazes de sentir dor ou de pensar, reforçando a ideia cristã de que os animais são mental e espiritualmente vazios. Outros filósofos, como Thomas Hobbes, John Locke e Immanuel Kant, acreditavam que eram capazes de sentir, mas não de racionalizar, o que era considerado necessário para ter um estado moral e adquirir direitos. (CHUAHY, 2009, p.11-12)

Tais reflexões colaboraram para a criação da ideologia especista. Este termo está ligado ao pensamento de que os seres humanos estão no topo da cadeia, dada sua posição racional, portanto, podem agir como bem entenderem com as demais espécies, que não desfrutam da mesma capacidade intelectual. Singer (1993, p. 41) correlaciona esta ideia ao racismo7 e afirma que

O facto de algumas pessoas não pertencerem a nossa raça não nos dá o direito de as explorar, tal como o facto de algumas pessoas serem menos inteligentes que as outras não significa que seus interesses podem ser ignorados. Mas o princípio também implica que o facto de certos seres não pertencerem à nossa espécie não nos dá o direito de os explorar e, do mesmo modo, o facto de outros animais serem menos inteligentes que nós, não significa que os seus interesses possam ser ignorados.(SINGER, 1993, p. 41)

O autor sugere que as experimentações com cobaias, talvez, seja a área de estudo com maior clareza sobre o especismo. “Neste caso, a questão surge com toda

7 Inclusive, atualmente, a discussão sobre o especismo, além do racismo, abarca também a questão do sexismo e misoginia.

a crueza, porque os cientistas procuram muitas vezes justificar as experiências com os animais defendendo que nos levam a descobertas sobre a humanidade” (SINGER, 1993, p.48-49). Tal argumento científico traz ambiguidade, uma vez que, para haver tais elucidações, os animais humanos e não humanos seriam semelhantes em aspectos cruciais (SINGER, 1993, p. 49). Isto é, poderia até ser usado para refutar este conceito.

A vivissecção, ou vivisseção, é a expressão usada para denominar os ensaios in vivo, ou seja, em animais. A crueldade, nesta etapa, fica destinada aos animais tidos como irracionais. Chuahy (2009, p. 63) denomina esta modalidade experimental como “pesadelo dos laboratórios”, remetendo às espécies utilizadas como cobaias. Os testes são realizados em diversos âmbitos, desde as indústrias cosmetológicas, de armamentos, da moda e alimentícia, à medicina, psicologia e desenvolvedores de medicamentos etc. A autora ressalta que para a fabricação de cosméticos, por exemplo, são utilizados “principalmente coelhos, ratos, porquinhos-da-índia e hamsters, enquanto os de medicamentos empregam animais de maior porte, como macacos e cães” (CHUAHY, 2009, p. 65).

Os exemplos de testes são impactantes. Para testagem de cosméticos e de produtos de limpeza, é utilizado o método Draize, criado em 1944, pelo cientista estadunidense, John Draize. Esta técnica consiste em colocar substâncias concentradas do produto que está em desenvolvimento na pele, ou nos olhos, dos animais e, com o passar dos dias, as reações são observadas (CHUAHY, 2009, p.65).

Um dos animais mais utilizados é o coelho, por ser um animal barato, manso, e ter olhos grandes. Quando as substâncias químicas são colocadas em seus olhos, eles pulam, choram, se contorcem de dor e tentam sair da jaula. Para evitar que consigam esfregar os olhos e retirar as substâncias, eles são presos em compartimentos onde não podem se mexer, exceto a cabeça, única parte do corpo visível. Às vezes é necessário o uso de clipes de metal para que as pálpebras sejam forçadas a ficar abertas permanentemente. Durante esse processo, nenhuma anestesia é usada, e os coelhos, muitas vezes, acabam cegos. Depois desse período de observação e sofrimento, os animais são mortos, para que sejam também estudados os efeitos internos das substâncias testadas ou porque não vale a pena mantê-los vivos. (CHUAHY, 2009, p. 65-66)

Este é apenas um dos exemplos retratados pela autora, que cita, inclusive, as metodologias empregadas na psicologia, armamentos etc. Atualmente, a vivissecção está em processo de diminuição. Novas formas de ensaio surgiram e favoreceram esta mudança no cenário. Uma exemplificação para isso são os testes in vitro. Esta

modalidade emprega células primárias humanas e “tem sido adotada em irritação e corrosão cutânea em substituição aos testes em animais”, conforme apresenta Freire (2015)8 . O desenvolvimento científico e tecnológico da toxicologia, área de estudo sobre substâncias químicas em organismos, e a opinião pública são apontados por Freire como principais pontos de mudanças para um futuro livre dos testes in vivo.

A opinião pública, citada acima, é incitada pelo ativismo em prol dos animais. A filosofia vegana e vegetariana cresceu consideravelmente nos últimos anos. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), citada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB)9 , aponta que, em 2018, 14% da população brasileira declara-se vegetariana, isso representa um aumento de 75% em relação a 2012. Nota-se que, a partir destes movimentos, surgiram novas vertentes. A exemplo disso, temos Cruelty-Free (livre de crueldade). Esta ideologia é oposta aos testes e demais formas de explorações dos animais não humanos.

Percebe-se que as mídias tradicionais, principalmente a televisiva, raramente veiculam informações sobre estes movimentos, ou em relação à vivissecção. E, quando publicam, apenas o lado benéfico da experimentação é apresentado, logo, o sofrimento das espécies submetidas a tais métodos é omitido. Esta atitude pode ser compreendida como uma tentativa de inibir o conhecimento público sobre esta ideologia. Dessa maneira, os patrocinadores, que ainda não baniram a modalidade de ensaio in vivo, são preservados de possíveis perdas de consumidores e, consequentemente, mantém seus contratos em vigência. Fonseca (2011) afirma que “os órgãos da mídia são empresas capitalistas de comunicação que, dessa forma objetivam o lucro”.

Seu papel mercantil é, contudo, distinto das empresas de outros segmentos empresariais, pois, não bastasse o poder de modelar opinião, sua mercadoria – a notícia – está sujeita a variáveis mais complexas e sutis do que as existentes nos bens e serviços comuns. Isso porque sua atuação implica um equilíbrio estável entre: formar opinião; receber influências de seus

8 Disponível em: <https://agencia.fapesp.br/testes-em-animais-sao-reduzidos-com-novos-ensaios-invitro-e-simulacoes/20928/>. Acesso em: 12 de mai. 2020. 9 Disponível em: <https://www.svb.org.br/2469-pesquisa-do-ibope-aponta-crescimento-historico-nonumero-de-vegetarianos-nobrasil#:~:text=Pesquisa%20do%20IBOPE%20aponta%20crescimento%20hist%C3%B3rico%20no%2 0n%C3%BAmero%20de%20vegetarianos%20no%20Brasil,Publicado%3A%2020%20Mai&text=No%20Brasil%2C%2014%25%20da%20popula%C3%A7%C3%A 3o,este%20percentual%20sobe%20para%2016%25>. Acesso em: 12 de mai. 2020.

consumidores e sobretudo de toda a gama de anunciantes [...]. (FONSECA, 2011)

Entretanto, com o advento da internet a militância pela causa animal transcendeu às mídias tradicionais. Jenkins (2015, p. 300) explica que “as poucas barreiras existentes para se entrar na web facilitam o acesso a ideias inovadoras e até revolucionárias”. O autor ainda sinaliza:

O que são silenciados pelas mídias corporativas têm sido os primeiros a transformar os computadores em uma gráfica. Essa oportunidade tem beneficiado outros, sejam revolucionários, reacionários ou racistas. Também tem provocado medo nos corações dos velhos intermediários e seus aliados. A diversidade de uma pessoa é, sem dúvida, a anarquia de outra. (JENKINS, 2015, p. 300-301)

Atualmente, blogs, sites independentes e as redes sociais, facilitam o compartilhamento da filosofia Cruelty-Free, bem como das demais ideologias. Lévy (2003) afirma que os novos meios de comunicação no ciberespaço, facilitam e ampliam o intercâmbio de conhecimentos entre grupos com ideais em comum. Ou seja, desta forma, cria-se uma rede de compartilhamento de conceitos, onde cada indivíduo pode somar para chamada inteligência coletiva.

Desta forma, podemos associar este conceito aos grupos de afinidade mantidos no Facebook. Esta ferramenta possibilita a interação entre os usuários com gostos em comum. Assim, criam-se nichos de compartilhamentos para assuntos específicos.

Outro conceito debatido por Lévy é a “cibercultura”. Lévy (1999) considera tais avanços no âmbito digital como uma possibilidade para os internautas, que até então eram apenas receptores, produzir seus próprios conteúdos. Além disso, o pensador destaca que

A cibercultura é a expressão de aspiração de construção de um laço social, que não seria fundado nem sobre links territoriais, nem sobre relações institucionais, nem sobre poder, mas sobre a reunião em torno de centros de interesse comuns sobre o jogo, sobre o compartilhamento do saber, sobre a aprendizagem cooperativa, sobre processos abertos de colaboração. O apetite para com as comunidades virtuais são os motores, os atores, a vida diversa e surpreendente do universal por contato. (LÉVY, 1999, p. 130)

Portanto, elaboramos um estudo das redes sociais e sua ligação com a maior visibilidade sobre movimentos pró vida animal, com ênfase no Cruelty-Free. Com base nos resultados, realizamos uma grande reportagem multimídia.

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