56 minute read

Apêndice B Entrevistas transcritas

APÊNDICE B – ENTREVISTAS TRANSCRITAS

Transcrição: Bancada Vegana

Advertisement

1 – Nome, idade, cidade.

Meu nome é Danielle, tenho 35 anos, sou da cidade de São Paulo.

2 – É vegana (ou vegetariana) há quanto tempo?

Sou vegana há 10 anos.

3 - Quando começou seu contato com a causa animal? E como foi?

O meu contato com a causa animal começou quando eu conheci a Adriana Pierin, que a candidata agora por São Paulo. Conheci ela 10 anos atrás e ela me apresentou o veganismo. Até então, nunca tinha ouvido falar a respeito e na época não se tinha muita informação a respeito do veganismo. E aí Adriana me mostrou como os animais eram tratados pela indústria. Em uma semana me tornei vegana, nem cheguei a passar por um período de adaptação.

4 - Como a adoção do vegetarianismo/veganismo pode mudar o ser humano e a natureza?

(Aguardando resposta)

5 – Como surgiu a Bancada Vegana?

A ideia da Bancada Vegana surgiu a partir de uma organização sem fins lucrativos que eu fundei, inclusive a Adriana Pierin também fundadora e trabalha lá. Há 10 anos atuamos na causa animal e trabalhamos especialmente com educação e conscientização. Já desenvolvemos uma série de propostas de políticas públicas próanimais. Sempre tivemos mais dificuldade de dialogar com os agentes públicos que estão ocupando os espaços na câmara, ou na ALESP, exatamente porque eles não têm entendimento da causa animal como algo mais amplo. Os representantes da causa animal são muito focados em cães e gatos, desenvolvem políticas que são assistencialistas e especistas. Então são extremamente paliativas e não resolvem de fato a raiz do problema, porque para se fazer uma transformação de base, leva tempo

e o que me parece é que essas pessoas não estão comprometidas com a causa e com resolver de fato o problema, mas sim em sair na foto e parecer que está fazendo algo.

Então depois de muito tempo batendo em Gabinetes, entendemos que para promover mais ações, com uma velocidade maior e mais urgência, teríamos que ter pessoas que têm o entendimento da causa animal. E hoje percebemos que ativistas que são do terceiro setor e desenvolvem projetos para resolver problemas da causa, são pessoas que teriam essa capacidade.

6 – Por que é necessário existir uma movimentação como esta sugerida pela Bancada na política?

A Bancada Vegana é muito necessária por vários motivos. Primeiro que acreditamos que seja necessário a alternância de poder. Hoje encontramos como representantes públicos sempre um ctrl+c, ctrl+v de homens brancos, cis e carnistas. É impossível que uma pessoa carnista tenha entendimento da complexidade da causa animal. Então temos que ocupar esses espaços e dar voz aos chamados urgentes dos ativistas pelos animais. Além disso, hoje, a Bancada Vegana seria a chave para oposição à Bancada Ruralista que está envenenando nossos alimentos e tem organizado diversos retrocessos em relação à causa animal e ambiental.

7 – Recentemente foi aprovado pelo Senado o PL 1095/19, que aumenta a pena para quem praticar maus-tratos a cães e gatos. A seu ver, por que não existem Projetos de Leis voltados à defesa dos outros animais, incluindo os que são usados em testes?

Há dificuldade de existir Projetos de Leis voltados aos outros animais, porque vivemos em uma sociedade extremamente especista e os agentes públicos que representam os animais, hoje, são carnistas. Enfim, eles não têm a coragem suficiente de propor mudanças mais efetivas. Então as iniciativas que a gente vê que acontecem pelos animais têm sempre o perfil de ou serem sempre voltadas para cães e gatos ou serem muito superficiais. Acho que quando tem veganos representando os animais, há um entendimento maior da urgência da causa e de que outros animais têm que ser contemplados tanto quanto animais domésticos.

Em relação aos testes em animais, depois do estouro do Instituto Royal, que foi até uma das nossas ativistas que trabalha com a bancada daqui coordenou, algumas iniciativas foram redigidas. Exatamente porque foi um assunto que entrou na grande mídia. Então sempre que um tema consegue popularidade, os oportunistas da causa tendem a fazer algum tipo projeto. Existe o projeto que prevê que animais não sejam usados em testes de cosméticos, mas para além disso, não existem outras iniciativas. Atualmente, tem uma lei federal em tramitação, de rotulagem, mas que também o agente público que redigiu não fala muito a respeito. Mesmo porque é um assunto que não tá mais em pauta e não é um assunto que está na mídia. Então ele perde a relevância.

8 – Existe algum proposta de Lei voltada aos animais usados em experimentação?

Na aba “propostas” do site Bancadavegana.org, tem uma guia chamada “testes em animais”. Lá apresentamos as nossas propostas para esse tema que, inclusive, é uma de nossas bandeiras. Estas propostas foram desenvolvidas e apresentadas ao grupo de pesquisadoras de chamado “1R”.

9 – A Bancada Vegana é bem ativa no Instagram e Facebook. Você acredita que os conteúdos sobre veganismo e vegetarianismo, nas redes sociais, possuem poder de conscientizar os internautas? Por quê?

As redes sociais têm o poder de difusão de informação assustador. Depois que as redes sociais surgiram, a causa animal alcançou outro patamar, porque pessoas tiveram acesso a conteúdos que não eram vinculados nas grandes mídias. É fundamental que existam as redes sociais e essa autonomia de postagens e desse espaço para chegar até as pessoas e não depender das mídias que são associadas ao agronegócio e afins.

10 – Quais são as propostas da Bancada?

Temos mais de 40 ou 50 propostas. Peço que você acesse a Bancadavegana.org, na aba “Propostas São Paulo” e navegue pelos temas. De repente, você pode até selecionar as que você acha mais relevantes.

Transcrição: Carlos Naconecy

1 – O que é ética da vida? E como ela deve ser aplicada em nosso cotidiano?

Ética da Vida é uma corrente de pensamento filosófico cujo foco da atenção moral reside no indivíduo vivo. É a propriedade de estar vivo que confere o status moral a uma entidade; em outras palavras, é o que define o que deve ser minimamente levado em conta em termos éticos. O que caracteriza todo ser vivo é o esforço em continuar existindo. Eu pratico violência sempre que eu contrario essa tendência, e isso é – em princípio - antiético. Ou seja, eu devo justificar moralmente por que frustrar tal esforço.

Outras características, como senciência, racionalidade abstrata, afetividade ou sociabilidade, acrescentam valor moral a um ser vivo. Essas outras características consistem em vias adicionais pelas quais uma criatura pode ser violentada. Vejamos: eu violento uma criatura viva quando eu a mato. Mas você pode praticar violência verbal só contra quem tem uma habilidade verbal. Você também pratica violência sempre quando frustra o projeto de vida daquelas criaturas capazes de buscar um propósito ou sentido de vida. Mas, até onde sabemos, você não pode frustrar o projeto de vida de uma minhoca. Isso significa que um ser humano vale mais que uma minhoca, e, portanto, podemos fazer qualquer coisa com ela, sem qualquer freio ético? Não: na perspectiva da Ética do Respeito pela Vida - pelo menos tal como eu a interpreto - isso significa que há maior perda de valor moral na morte humana do que na morte desse animal. Assim, se eu não puder salvar uma pessoa e uma minhoca ao mesmo tempo, eu tenho razões morais para optar por salvar o humano.

Dito de outro modo, o assoalho de valor moral é a vida, e propriedade adicionais acrescem possibilidades adicionais de violência, requerendo, portanto, mais barreiras éticas. Nessa questão, não se deve suspeitar que qualquer tipo de hierarquia moral é opressiva, especista ou condenável, bastando apenas que não se interprete tal hierarquia como autorização automática para prejudicar aqueles que estão abaixo nessa escala hierárquica. De qualquer maneira, um sistema de ética que afirmasse que a morte de um peixe é tão moralmente grave quanto a morte de ser humano seria altamente contraintuitivo, e assim não teria aderência pragmática, ou seja, não seria adotado pela maioria das pessoas.

Como aplicar essa Ética do Respeito pela Vida no cotidiano? Como estamos falando de uma ética de atitudes (em vez de regras ou direitos), trata-se de integrar esse olhar respeitoso no modo de vida de uma pessoa, e isso pode se manifestar de diferentes formas no cotidiano de alguém. Quem respeita a verdade geralmente não mente. Quem respeita a vida geralmente não esbanja vida (por exemplo, tentando não matar descuidadamente uma outra criatura ao caminhar pela calçada), não violenta vida sem uma boa razão moral (por exemplo, usando um mosquiteiro em vez de um inseticida em casa), evita entrar em cenários de conflito em que se é obrigado a escolher entre matar ou morrer (por exemplo, não adentrando locais em que é altamente provável a presença de um ataque letal de um animal), etc. De qualquer forma, em todos esses casos, a regra básica é dar uma justificativa a si mesmo sobre o porquê de matar um ser vivo (se desnecessariamente) ou ser cúmplice de uma morte (se evitável). Essa inversão do ônus da justificação é essencial na Ética da Vida.

2 – Quais são as diferenças entre antropocentrismo e especismo?

Especismo é definido como a atitude de discriminar (preconceituosamente) com base na noção da espécie biológica, quando essa noção não for moralmente relevante. Pensar que pescar é um esporte ético porque peixes são apenas peixes é um pensamento especista. Ou que o meu direito a me divertir na pescaria sobrepuja qualquer eventual interesse dos peixes em não morrer ou não sofrer ... simplesmente porque peixes não são humanos ou porque valem infinitamente menos que as pessoas. Ou que cães e gatos merecem minha atenção moral, mas não boi, porcos e galinhas, porque “se tratam de animais diferentes”.

Ao falar em antropocentrismo nesse debate, estamos falando de antropocentrismo moral. Antropocentrismo moral se manifesta quando se dá prioridade máxima a tudo que é humano, independentemente dos custos disso para o restante da Natureza. A rigor, não podemos escapar do antropocentrismo, porque não podemos “pensar como um não humano”. Não posso pensar “felinocentricamente” por exemplo. Mas não devemos confundir antropocentrismo epistêmico com antropocentrismo moral. O fato de que pensar como um humano é inevitável não implica que "tudo que tem valor moral é um valor humano". O pressuposto de que o ponto de vista humano é inescapável não implica que “só humanos têm valor moral no Universo” ou que “animais só têm valor porque humanos valorizam animais”.

3 – Na sua opinião, podemos relacionar comportamento machista e racista com o especismo? Por quê?

Machismo, racismo e especismo são semelhantes na medida em que tomam determinada característica como importante para definir padrões e atitudes morais quando, de fato, essa característica não é relevante para o caso em questão. Um machista não quer que uma mulher conserte seu automóvel (porque mulheres não compreendem mecânica). Um racista acha estranho uma pessoa de pele de cor preta ganhar o prêmio Nobel (porque pessoas negras são menos inteligentes que pessoas de pela branca). Um especista acha ético pescar, mesmo que ele veja um peixe se debatendo por asfixia (porque peixes são fisicamente muito diferentes dos seres humanos).

Por outro lado, machismo e racismo são diferentes do especismo porque, entre outras coisas, é mais fácil para mim ver a semelhança (moralmente relevante) entre pessoas de gênero e etnia diferentes do que ver a semelhança (moralmente relevante) entre humanos e peixes. Devido à proximidade ontológica, parece moralmente mais grave dizer “detesto negros” do que dizer “detesto gatos”. Essa questão tem lá suas complexidades e eu as desenvolvo em um artigo intitulado “As (Des)analogias entre Racismo e Especismo”, cuja leitura em recomendo aos interessados nesse ponto.

4 – No I Seminário de Bioética do Rio Grande do Sul, em 2008, o senhor dá a opinião incisiva de que as experimentações em animais são antiéticas e anticientíficas. Ainda mantém esse posicionamento, ou foi modificado? Por quê?

Eu diria que grande parte da experimentação animal é antiética e anticientífica. Tal constatação já atende os propósitos da Causa Animal. Devo dizer isso com certa prudência porque eu não tenho formação em ciência biomédica, mas sei que essa posição já está consolidada no interior da comunidade de cientistas preocupados com o tratamento dos animais na nossa sociedade.

Há alguns anos estive palestrando no Instituto Butantã, em SP. Naquela ocasião, meu anfitrião (genuinamente preocupado com os abusos da experimentação animal) comentou que as reações alérgicas de vacinas só poderiam ser antecipadas através da experimentação com animais, i.e., in vivo. Acredito que haja outros casos

semelhantes a esse, e que possivelmente estejam acontecendo neste momento em que se busca uma solução para o COVID-19. De qualquer maneira, levando em conta toda a casuística da pesquisa com animais, esses casos constituem uma raridade estatística. Da infinidade dos animais que morrem e sofrem nas bancadas de pesquisa, a imensa maioria deles morre e sofre desnecessariamente. E dizer isso já é dizer muito sobre esse inferno na Terra.

Importa notar que a questão da ética da experimentação animal tem dois componentes, cada qual de uma natureza distinta, a saber, uma empírica, factual, e outra ética, moral. A crítica ao uso de animais na pesquisa evoca as seguintes razões não morais: inaplicabilidade ou limitada aplicabilidade dos dados à realidade humana (devido a diferenças interespécies); fragilidade metodológica (não cientificidade do modelo); resultados perigosamente enganosos ou danosos; desperdício, ineficiência e custos envolvidos; trivialidade dos resultados; redundância dos resultados; dentre outros. A respeito dessas razões, permito-me citar um trecho de uma comunicação minha sobre essa questão:

"(...) mais de 50% dos medicamentos que recebem aprovação no teste com animais são considerados mais tarde inadequados para o uso humano"; "devido ao fato de que muito da pesquisa com animais é repetitiva ou trivial, estima-se que 75% desse trabalho nunca é publicado nos periódicos de medicina"; e "quase 2/3 dos experimentos realizados envolvendo animais têm pouco ou nada a ver com a saúde humana ou com a medicina" (Grant, C. The No-Nonsense Guide to Animal Rights. New Internationalist, 2006, p.72-88). Além disso, apenas 1,16% de todas as doenças humanas já foram encontradas em animais (câncer de pulmão e doenças cardíacas, por exemplo, não podem ser reproduzidas nessas criaturas) (Vivisection Information Network. Animal Testing and Science–The Facts. Disponível em: < http://www.vivisectioninformation.com/index.php?p=1_8_All-you-need-toknow-in-33-facts> Acesso em: 17 ago.2013).

Uma motivação a retalhar animais por mera curiosidade, disponibilidade de alternativas e a dessensibilização moral dos pesquisadores também entram em jogo. A partir disso tudo, podemos perguntar: se testar uma nova substância química em um olho de uma pessoa amarrada é considerado imoral, o que justifica usar um coelho para isso? Se infectar alguém à força para descobrir a cura da malária é proibido segundo os princípios da Bioética (médica), por que é permitido fazer isso com um primata? A resposta, como sabemos, é que a vida/bem-estar do coelho e do primata valem bem menos do que nossa vida/bem-estar. Podemos formalizar essa crítica por apelo à analogia. Vejamos: quando é moralmente justificado fazer pesquisa com um ser humano?

(1) Entre humanos, nem tudo é permitido para obtenção de conhecimento. Pensamos que valores morais não podem ser atropelados por valores científicos. Nesses casos, adota-se o princípio moral de não tratar uma pessoa como um simples meio para obtenção de um fim. Essa é a base da regra do consentimento informado na pesquisa.

(2) A pesquisa científica só é considerada como moralmente justificada se houver consentimento do paciente. O objetivo desse requisito é não obrigar uma pessoa a sacrificar sua vida ou sua saúde para beneficiar outras pessoas. É por isso que se julgaria como antiético infectar alguém saudável à força para descobrir a cura da malária, por exemplo. E é por essa razão também que é proibida, em princípio, a pesquisa com pessoas inconscientes, deficientes mentais ou crianças: elas não podem exercer sua autonomia racional dando seu consentimento ao pesquisador.

(3) Mas um animal também não pode dar seu consentimento à pesquisa. Nenhum pesquisador é capaz de explicar ao animal o que será feito ou qual o objetivo do procedimento. Isso tampouco é necessário, na medida em que há evidência comportamental da recusa animal em participar de qualquer experiência: em condições normais, um rato tentará escapar da contenção; ele não oferecerá seu corpo para ser cortado.

Conclui-se que a transposição de princípios e critérios morais do domínio humanohumano para o cenário humano-animal apresenta sérias inconsistências. É claro que, ainda que se trate de uma pesquisa biomédica essencial, é possível que os resultados sejam obtidos por uma via antiética. A experimentação nazista com prisioneiros na 2ª Guerra Mundial, por exemplo, também acrescentou conhecimento médico significativo em relação às consequências do fumo. Não obstante, o Tribunal Internacional de Nuremberg condenou cerca da metade dos cientistas julgados, que alegaram em sua defesa exatamente o que outros cientistas alegam: os resultados médicos obtidos.

5 – Existe algum método de testagem em animais que pode ser considerado como ético e necessário?

A resposta para essa pergunta conduziria à seguinte questão: em quais casos e sob quais condições um determinado teste científico (digamos, com um bebê órfão) poderia ser considerado ético e necessário? A partir daí, devemos perguntar se critérios análogos se aplicam na experimentação com animais.

6 – Durante o Seminário, houve um apontamento da sua parte em relação à linguagem adotada pela comunidade científica ao abordar a vivissecção, que foi considerada pelo senhor como eufemista. Essa tática de comunicação pode ser considerada como uma tentativa de aliviar a agressividade dos experimentos e ser aceita popularmente?

Sim, o jargão biomédico lança mão de eufemismos ao tratar da experimentação com animais porque há necessidade dessa linguagem eufemística para driblar o mal-estar moral que pode brotar na consciência do cientista – ou do público, se ele vier a tomar conhecimento do que está acontecendo de fato. Isso nos mostra que o próprio pesquisador sabe, intuitivamente, que está fazendo algo moralmente grave. Ele está matando e fazendo sofrer outra criatura, e é necessário abafar o desconforto moral que essa violência envolve.

Usamos eufemismo ao suavizar a manifestação de uma ideia, substituindo a palavra ou expressão própria por outra mais agradável. O objetivo é minimizar ou neutralizar o impacto emocional e o peso psicológico que a terminologia carrega. O intuito dessa suavização semântica é impedir que a culpa e conflitos internos se instalem na mente do pesquisador ou do público.

Assim, quando é dito que "os ratos foram eutanasiados", está-se dizendo que “alguém matou ratos - que seriam saudáveis caso ninguém provocasse um ferimento/doença nele". Quando é dito que “alguém sacrificará ratos", está se dizendo que “alguém matará ratos - fora de um contexto ritual de uma prática religiosa". O pesquisador não provoca fome no rato, mas, em vez disso, "ele submete o rato a uma dieta restritiva/jejum". Quanto a esse tópico, sugiro a leitura da obra de Joan Dunayer, “Animal Equality: language and liberation”, na qual é tratada a relação entre linguagem e opressão de modo eloquente.

7 – Por que os testes devem ser abolidos?

Ver resposta 4.

8 – Mesmo sabendo que a vivissecção é dispensável, por que os cientistas insistem nela?

Ensina-se nas universidades o mito de que a ciência é moralmente neutra. Um segundo mito é o de que os próprios cientistas, ao praticarem ciência, também são obrigados a serem moralmente neutros. É óbvia a hipocrisia ou, no mínimo, a ingenuidade dessa ideia. Ao criticar a pesquisa com animais, estamos falando de um eventual impacto gigantesco nas carreiras profissionais, nos salários e nos currículos. Estamos falando da possibilidade de interrupção do fluxo, muitas vezes inútil, de artigos publicados em periódicos especializados. Estamos falando também da desvalorização e desprestígio do trabalho do pesquisador. Todos esses impactos não são de forma alguma desprezíveis.

Por fim, quero chamar a atenção para o fato de que 99% dos animais que são retalhados não o são para mostrar a circulação sanguínea nas escolas, nem para observar o efeito de uma nova droga - 99% dos animais sobre o nosso planeta são cortados nos açougues, não nos laboratórios. Por outro lado, sabemos que o uso de animais no ensino está em um franco processo de substituição internacional. Mas se a vivissecção didática está sendo paulatinamente banida por existirem alternativas, com mais razão ainda deve ser banido o uso de animais na alimentação, porque existe um leque muito maior de alternativas alimentares disponíveis, proporcionalmente falando.

Note-se que a justificação ética a favor da experimentação com um animal, com todas as suas fragilidades mencionadas anteriormente, ainda é mais forte do que a justificação em se alimentar desse mesmo animal. Afinal, se eu posso matar para comer, por que eu não poderia matar para testar, ensinar e conhecer? A obtenção de conhecimento biomédico é supostamente mais importante, em termos morais, que a obtenção de um prazer culinário ou degustativo. Isso significa que aquele que realmente se preocupa com os animais de laboratório também deve se preocupar –se preocupar antes e se preocupar mais - com o destino dos animais de panela.

Transcrição: Mariana Lienemann Ramires

1 - Nome, idade, profissão.

Mariana Lienemann Ramires, 29 anos, Jornalista e analista de mídias sociais.

2 - Já teve algum contato com a causa vegetariana e vegana?

Sim! O meu primeiro contato foi logo na infância com minha mãe. Minha mãe não consome determinados tipos de carne por conta da crueldade no abate animal, então desde cedo ela conscientizou tanto eu quanto meu irmão a respeito disso. Sempre que consumimos algo de origem animal temos o cuidado de pesquisar sobre a marca pra pelo menos saber se o tratamento é humanizado ao animal. (Isso não é o ideal, mas já ameniza um pouco o sofrimento deles e evita de financiar a parte mais cruel e carniceira dessa indústria). Fora isso, eu pesquisei um pouco sobre a cultura vegetariana, vegana e straightedge.

3 - Você consome produtos que foram testados em animais?

Hoje em dia não mais. Eu tenho cuidado de buscar marcas que são cruelty free ou até mesmo que produzem produtos veganos. Isso é um bônus pra mim na hora de escolher tanto cosméticos quanto outros produtos de consumo. Particularmente a maior dificuldade é no quesito medicinal, infelizmente ainda não temos como escapar da testagem animal nesse ponto.

4 - Por que evita/não consome produtos testados em animais?

Eu acho uma crueldade desnecessária. A ciência avançou tanto e em tantos pontos que hoje em dia é possível produzir a pele artificial em laboratórios bem como realizar a análise dermatológica e de alguns efeitos adversos de outras formas menos invasivas. Fora que também temos como resgatar os ensinamentos dos mais antigos e até mesmo produzir nossos cosméticos de forma vegana e sem crueldade.

5 - Você enfrenta dificuldade para encontrar produtos Cruelty-Free?

Hoje em dia não mais. Já tive muita dificuldade no passado mas com a divulgação cada vez mais intensa da causa animal as marcas precisaram se reinventar então o acesso está mais facilitado.

6 - Estes produtos tendem a ser mais caros ou mais baratos?

Depende muito do tipo de produto. Em termos de maquiagem a diferença é um pouco maior sim, mas em produtos para cabelo aí eu tenho até economia!

7 - Em relação as marcas, você confia nos rótulos ou busca informações extras em sites e/ou perfis em redes sociais?

Eu tento sempre olhar site, redes sociais, reclame aqui e principalmente grupos de face voltados pro veganismo e pra Cruelty-Free! Tem até alguns apps pra celular que checam o rótulo, principalmente pra produtos de cabelo e pra quem faz No e Low-poo.

8 - Deixaria de consumir carne algum dia? Por quê?

Sim! Eu quero muito deixar de consumir carne! Mas por ter problemas com anemia e deficiência vitamínica eu não consigo sozinha, já tentei e sempre agravei meus problemas por não saber realizar as substituições corretamente. Eu estou inclusive procurando auxílio nutricional pra passar pela transição para o vegetariano. Acho que é uma forma de contribuir com o mundo e, de certa maneira, mostrar que o que tá sendo feito de forma desenfreada e numa corrida por nada mais é do que uma carnificina.

9 - Caso queira acrescentar algo, utilize esse espaço.

Além de você ser maravilhosa? Esse tema é algo que deveria ser debatido desde a primeira educação com as crianças. É algo de grande importância e relevância pois somos ensinados a amar e respeitar os animais mas ao mesmo tempo a consumir produtos e alimentos que vem de atos de crueldade com eles. Não digo que todos devem ser vegetarianos ou veganos, cada um tem a sua escolha, mas que ela seja consciente e não enfiada goela abaixo por marcas que estão no fundo brigando somente pelo nosso.

Transcrição: Dra. Patrícia Santos Lopes

1 – Qual é o cenário atual do Brasil em relação aos testes in vivo?

2:00/2:44 - Hoje em dia, o Brasil começou a implantar as normas... na verdade, ele vem a algum tempo implantando os testes alternativos e deixando isso como testes oficiais. Até então, as empresas escolhiam se iam fazer, mas quando iam registrar o produto, elas eram obrigadas a fazer. Então o Brasil hoje, está deixando isso ser oficial. Então existem leis que regulamentam o uso dos métodos alternativos ao uso de animais, mas ainda existem leis estaduais, não uma lei geral federal.

02:44/03:05 - Então em alguns estados eu posso usar animais, principalmente para cosméticos. Então a gente tem que... Desculpa se estou sendo um pouco prolixa, mas a gente precisa lembrar que existe produção de cosméticos, existe produção de

medicamentos, existe produção de medicamentos veterinários. E aí são vários cenários.

03:06/03:36 - O que hoje o mundo discute como sendo proibido é a produção de... é o uso de animais para cosméticos. Enquanto que, para medicamentos ainda é permitido, mas que vem sendo muito discutido. As empresas estão se reunindo junto com as agências regulatórias, inclusive para medicamentos, ser permitido apresentar apenas ensaios in vitro.

03:37/04:08 - E o que vem ganhando força atualmente é a empresa veterinária. A empresa veterinária também não quer usar testes em animais, tá? Então eles estão trabalhando com produtos para animais que, até então é exigido pelo MAPA, que é o Ministério da Agricultura, que exige alguns testes in vivo ainda e as empresas estão brigando para que isso não aconteça mais.

04:09/04:53 - Então são cenários que estão surgindo hoje... 2020, tá? Para você conseguir substituir. No caso dos cosméticos, essa substituição é bem antiga. Em 2013, a gente teve uma banição dos métodos na Europa. Aqui em São Paulo, talvez Rio de Janeiro... não vou lembrar todos estados de cor. Alguns estados também já baniram esse método para cosméticos, tá? E não ainda para medicamentos, nem medicamentos veterinários. Então a gente tem um monte de viés ali, né? Mas o Brasil está começando... Ele começou a se movimentar, sim.

2 – Quais são as diferenças entre os testes in vitro e in silico?

05:35/06:00 - O in vitro trabalha com células isoladas, sejam elas de animais ou seres humanos. Então quando você fala sobre in vitro é que você está trabalhando em um recipiente de plástico, vamos dizer assim, ou como a gente chamava anteriormente, porque antes era feito em vidro mesmo, né? Mas hoje, todo material que vai para o laboratório é feito de plástico.

06:00/06:24 - Então a gente trabalha com placas, com garrafas, com tudo isso que é in vitro. Então a gente está trabalhando com células. Em alguns casos, podem ser células em conjunto, pode remontar órgãos in vitro. A gente faz tudo isso a partir de células humanas, ou de animais.

06:25/07:09 - O in silico, ele é no computador. Então são programas específicos que vão te dar respostas com relação a, por exemplo, ele tem uma base de dados... Existem vários tipos de programas. Alguns se baseiam em bases de dados. Ou seja, lá em 1900 e bolinha pesquisadores publicaram testes com aquela substância ativa e fizeram isso em animais. Eu já tenho os dados do que aconteceu com aqueles animais, eu já tenho dados sobre o que aconteceu com os seres humanos. Então o que vou fazendo? Aquela molécula eu coloco no computador e digo: ‘olha, ela se comporta dessa forma’.

07:10/07:43 - Aí eu vou tendo cada vez mais... Então moléculas semelhantes àquelas vão ter comportamentos semelhantes. Se eu fizer modificações nessa molécula, os programas vão conseguindo determinar se modificar algum radical daquela molécula. ‘Será que vai aumentar a toxicidade?’ ‘Ah, ele aumenta a toxicidade, porque aumenta, por exemplo, a solubilidade’. Ou ele diminui a solubilidade, então diminui a toxicidade.

07:44/07:54 - Assim, são exemplos. Então eles vão, a partir do momento em que você pega tudo que tem na literatura, alimenta o programa de computador, você tem o que a gente chama de in silico.

07:55/08:24 - São programas específicos para ver toxicidade, para ver, por exemplo, ação farmacológica, probabilidade de ação. Então a gente vai ter uma série de programas, que hoje são comercializados. São caríssimos alguns. Para você ter a licença para usar um, que são muito sofisticados, chega a ser 1 milhão de reais, tá?

08:25/08:57 - Mas as empresas farmacêuticas e as grandes empresas cosméticas, já implantaram esses sistemas. Então hoje, parece que é uma coisa muito longe, mas está pertinho. As empresas cosméticas já têm todos esses programas instalados e, grande parte dos resultados que eles obtêm, eles fazem in silico. Aí você só tem que ir comprovando no in vitro e não tem mais o in vivo em cosméticos.

3 – Então eles já auxiliam na abolição dos testes in vivo?

09:06/09:46 - Olha, para cosméticos, sim. Hoje em dia, não se pode, na Europa, não se pode comercializar produtos testados in vivo. Então você não pode comercializar. O consumidor não compra. Então isso foi um levante do consumidor. Porque para as empresas, vou falar para você, não é todo mundo que... É um trabalho. Não é uma

coisa simples. Você é responsável pelo seu produto. A partir do momento em que você é responsável pelo seu produto, você tem que garantir que ele não cause danos ao seu consumidor.

09:47/10:08 - Então você tinha todos os testes em animais. ‘Ai, em animais eu sei

como responde’. A partir do momento que foi banido isso, você tem que garantir que com os seus testes in vitro, ou in silico, a gente tenha certeza que não vai causar danos ao consumidor.

10:10/10:21 - Então para as pessoas que trabalham na indústria não foi uma coisa fácil. Não foi uma transição fácil. Tanto é que demorou mais do que havia sido previsto anteriormente.

10:22/10:50 - Existem hoje alguns testes que ainda é permitido fazer in vivo. Por quê? Porque ainda não existe uma alternativa confiável. Então é isso que a gente tem que lembrar, que estamos trabalhando também com as pessoas. Eu tenho que garantir que não vou passar um cosmético que vai causar um dano irreversível àquele consumidor.

10:51/10:58 - Então existem testes que ainda são permitidos. Para tudo aquilo que tem alternativa, não é mais permitido usar animais.

4 – Como é o processo de produção de peles equivalentes às humanas?

11:26/12:08 - O Brasil é um dos campeões de cirurgias plásticas no mundo. Então o que a gente faz? ‘Ah, eu quero reduzir mama’, ‘quero reduzir estômago. Então vou fazer uma cirurgia de abdômen’. O que acontece? Sobram esses retalhos de pele. Esses retalhos de pele são jogados fora... descartados. Então o que a gente faz? A gente faz um acordo com o cirurgião, passa por um comitê de ética e essa pele é doada pelos pacientes. Aí a gente leva para o laboratório e o que a gente faz? Separa tudo!

12:09/12:28 - Então a pele é formada por várias camadas. Então eu tenho uma camada que é essa mais externa, que é o que a gente chama de epiderme. A mais externa de todas é o extrato cormico, que é formado por corneostos que já são queratinócitos mortos. Aí eu tenho a epiderme virável e mais abaixo eu tenho a derme.

12:29/12:41 - E tem a parte que não faz parte da pele em si, que é a hipoderme, onde tem os adipócitos, que são as camadas de gordura. O que que vem para gente? Geralmente vem a epiderme e a derme.

12:42/12:58 - Então o que a gente faz? A gente separa tudo. Separa os queratinócitos, que são as células de epiderme. Separa os fibroblastos, que são as células da derme. Cultivo eles separadamente. Depois eu junto tudo.

12:59/13:29 - Aí a gente tem uma forma de fazer isso e aí eu tenho uma pelezinha que a gente cultiva in vitro. Então eu tenho várias peles, do mesmo doador. E eu consigo aumentar meu número de fragmentos, porque a gente não tem um monte de peles quando se faz cirurgia plástica. Então, para a gente conseguir testar todas substâncias que a gente quer, a gente vai fazendo isso in vitro.

13:31/13:49 - Então a gente vai testar se tem sensibilização, como é o caso da Gabi, dá para fazer. A toxicidade, fototoxicidade, genotoxicidade. Então são testes que dá para você fazer com esses equivalentes de pele.

14:01/14:47 - Sabe aqueles adipócitos que ninguém quer ter adipócitos? A gente pode pegar aquela gordura, quando vai fazer lipoaspirado, levar para o laboratório e separar o que a gente chama de mesenquimais. Ou seja, células que a gente chama de “células tronco” adultas. Essas células tronco adultas podem virar outras células, não sei se você sabe disso. Dá para virar células de condrócitos, ou seja, tudo que faz cartilagem... nariz, orelha. Dá para virar osteócitos, tudo aquilo faz osso. E dá para virar até os adipócitos, que daí dá para a gente testar todos os produtos para celulite.

5 – E vocês fazem isso no laboratório da UNIFESP?

14:54/15:19 - Sim. Meu último projeto foi disso: pegar o lipoaspirado, transformar ele em adipócito e aí a gente fez como se fosse um esferoide, juntando células que formam as veinhas, que são endoteliais, junto com adipócitos. E aí a gente testou substâncias para celulite, para ver se elas melhoravam ou não.

15:20/15:28 - Então a gente fez uma prova de conceito. Porque daí, quando vier uma nova substância, a gente sabe que o sistema responde.

6 – Qual é o futuro da ciência, em relação aos testes, na sua opinião?

15:53/16:24 - O futuro tá mais próximo do que nós acreditamos. Por quê? A partir do momento em que a gente tem as pessoas se mobilizando para fazer testes novos, você tem mais conhecimento sendo adquirido. A partir do momento em que a gente consegue adquirir esse conhecimento e, principalmente, disponibilizá-lo para o mundo inteiro. Porque hoje a gente tem o Google (risos). Você acha qualquer coisa no Google.

16:25/16:36 - Então, a partir do momento em que você pesquisa e publica, o mundo inteiro tem acesso a essa publicação. Então, com a globalização a gente vai tendo acesso à informação.

16:38/17:14 - As empresas já perceberam que os testes in vitro e in silico são mais baratos que os testes in vivo. Eles conseguem ter, ainda por cima, uma propaganda. Porque as pessoas estão cada vez mais se mobilizando contra os testes in vivo. E, mais do que isso, que é o mais importante. Quando você trabalha com testes in vitro, você consegue informações que você nem sempre conseguia com os in vivo. Você consegue ter informações refinadas.

17:15/17:38 - De como as células está se comportando em termos de interleucina. Como ela se comporta em termos de genômica, proteômica, transcriptômica. Ou seja, você vai tendo uma série de outras informações que, até então, quem só trabalhava in vivo não conseguia.

17:40/18:11 - Então, vai ser o futuro. Então a gente tem hoje os organs on a chip, que é um monte de órgãos e células dos órgãos montados em como se fosse uma lâmina. Aí vai passando todas as partes dos medicamentos, como eles se comportam. Os cosméticos como eles se comportam. E a gente vai, cada vez mais, acessando informações. E as pessoas vão se convencendo de que isso é possível.

18:12/18:27 - Então com as bioimpressoras, é um outro mundo. Hoje em dia a gente consegue fazer essa pele que eu falei para você, fazendo reposição de melanócitos, para você ter colorações diferentes na pele.

18:28/18:50 - Você consegue ter peles construídas que são perfeitas, com as bioimpressoras. As bioimpressoras você tem dois tipos: as bioimpressoras que vão te

imprimir esse arcabouço, ou seja, uma estrutura. E as biotintas, que são as células que você vai colocando como você quiser e onde você quiser.

18:51/19:00 - Ou seja, a gente não tem limites para o que o ser humano é capaz de fazer. Então o futuro está muito mais próximo mesmo.

19:00/19:31 - Mas a gente já caminhou bastante. A gente tem uma redução do uso de animais muito grande, principalmente, a gente tem uma conscientização do uso de animais, Carol. Isso é muito importante. Antigamente, os pesquisadores falavam: ‘preciso de 150 animais’... ‘Ah, não vou usar’. Todos eles eram mortos, porque você perdeu o dia de uso daquele animal, porque os camundongos, os ratos, têm idade para serem usados.

19:32/20:01 - Hoje em dia isso não é permitido. Por quê? Os comitês de ética de uso de animais são muito mais conscientes e estão pegando pesado em relação a isso. Então hoje, para se fazer testes em animais, é muito, muito controlado. Então cada vez mais as pessoas estão indo para o in vitro e isso vai gerando cada vez mais conhecimento.

7 – A pressão popular está ligada também a esses avanços?

20:12/20:44 - Muito. A pressão popular foi fundamental, porque a partir do momento em que eles começaram a falar: ‘eu não quero mais consumir esse cosmético que é testado em animais’. Aí o que acontece? As empresas têm que começar a se mobilizar. As que se mobilizaram, começaram a colocar no rótulo: ‘eu não testo em animais’. E aí o que acontece? Aumentou as vendas daquele produto. As outras, por

Brand Marketing, começaram a correr atrás disso.

20:45/21:17 - Então, é uma pressão popular. O que as pessoas têm que entender é ainda existem necessidades de testar algumas coisas em animais. E aí, eu sou totalmente contra, e eu tenho que falar isso, quando você vai lá e destrói um instituto. Como o que aconteceu com aquele Instituto Royal e soltar os cachorros na rua. Isso é contra tudo o que eu conheço de... quem gosta de animais não faz isso.

21:18/21:32 - Entendeu? Aqueles cachorros estavam acostumados a estarem ali. De repente, eles se viram soltos na Raposo Tavares. Então destruir as coisas porque você é contra o uso de animais não é certo.

21:33/22:05 - O que você tem que fazer? O que eu acho que é o certo, é você procurar as alternativas. É você fomentar as pesquisas dos métodos in vitro, métodos in silico. É você formar as pessoas que trabalham com testes in vitro e in silico. Porque dessa forma, você vai conseguir substituir os testes em animais. E não ir lá e destruir. Eu sou contra qualquer tipo de violência e de destruição. Não tem como eu achar que isso é normal.

22:06/22:26 - Quem gosta de métodos alternativos, tem que trabalhar pela substituição e isso quer dizer estudo. Só com estudo, fazendo muito trabalho de bancada é que a gente chega na substituição.

8 – Gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

22:33/22:54 - Eu acredito na ciência. Acredito que têm pessoas que trabalham com animais muito certo. Elas têm respeito por aqueles animais, porque elas têm que obter ainda informações e são só com aqueles animais. Existem pessoas que sabem trabalhar com aqueles animais corretamente, mas têm pessoas que não sabem.

22:55/23:36 - Então, mais uma vez, só a educação leva a uma diminuição do uso de animais e, quando for necessário trabalhar com esses animais, você precisa trabalhar com pessoas treinadas e que tenham consciência de como isso deve ser feito. Então isso é muito importante. Educação, trabalho de bancada, saber procurar. Hoje a internet tem muita coisa, ninguém precisa repetir ensaios em animais. Então eu acho que a pesquisa é a chave, tenho que chamar isso para o meu lado.

Transcrição: Rodrigo Marques Foresto

1 – Quais são os direitos que os “animais de laboratório” têm? E quais deveriam ter?

Eles não têm nenhum direito. Nem mesmo o “direito” de não sofrer crueldade explícita, já que o uso de procedimentos violentos e que causam sofrimento é, na prática, indispensável para a grande maioria dos experimentos que envolvem animais. Por exemplo, pesquisas que envolvem teste de medicamentos têm uma probabilidade significativa de causar efeitos dolorosos, ou seja, um sofrimento enorme e possivelmente letal, nos animais explorados no experimento. Quanto aos direitos que esses animais deveriam ter, são o direito de não ser tratado como propriedade, que viabiliza os demais direitos, entre eles à vida, à liberdade e à

vida social. Na prática esses direitos fariam os animais ditos “de laboratório” deixarem de ser “de laboratório”, assim como os animais “de consumo” deixariam de ser “de

consumo”. Todo animal que hoje é “de alguma coisa” deixaria de ser esse “de…” e passaria a ser simplesmente animal, vivendo para seus próprios propósitos individuais.

2 – Houve mudanças significativas nos direitos dos animais nestes últimos anos. Elas estão ligadas à crescente do ativismo vegano e vegetariano?

Eu não diria necessariamente que houve mudanças nos Direitos Animais em si, já que ainda hoje nenhum animal não humano tem o direito de não ser propriedade, de viver até o máximo que sua natureza permitir e de ter liberdade. O que aconteceu foi o banimento parcial, a diminuição ou pelo menos o desprestígio sociocultural de muitas atividades de exploração animal antes exaltadas, como rodeios, fabricação e uso de roupas de peles (exceto couro), venda de filhotes em pet-shops e exploração de animais em circos. Nesse caso, eu não chamo de ativismo vegano/vegetariano, mas sim ativismo de Direitos Animais - não devemos confundir Direitos Animais com veganismo, que são codependentes mas não sinônimos. Quanto ao ativismo vegano em si, ele teve como maior conquista a disseminação do veganismo - que eu defino como um modo de vida ético, politizado e antiespecista, que vai muito além do mero vegetarianismo e consumo seletivo - de modo a fazê-lo deixar de ser underground. Mas é preciso ficar atento nas tentativas, até o momento infelizmente bem-sucedidas, de cooptação da causa vegana por grandes empresas que não querem parar de lucrar com exploração animal. Elas estão lançando produtos com falsos selos veganos mesmo sem terem parado de testar em animais e/ou lucrar com pecuária e abate de animais.

3 – Neste aspecto, estamos em vantagem em relação aos outros países? Ou há necessidade de evolução nas Leis?

A primeira pergunta infelizmente não sei responder. Quanto à segunda, é preciso evoluir nas leis no mundo inteiro, não apenas no Brasil, pois o mundo inteiro se envolve com atividades especistas.

4 – Atualmente, quais são os principais apontamentos debatidos dentro da pauta de direito dos animais?

O embate entre o veganismo popular, também conhecido como veganismo político ou interseccional, e o “veganismo” liberal; a discussão sobre a necessidade de interseccionar a defesa dos Direitos Animais com outras lutas sociopolíticas; os retrocessos impostos nas causas animal e ambiental pelo atual governo federal; entre outros.

5 – Recentemente foi sancionado o PL 1095/19, que aumenta a pena para quem praticar maus-tratos a cães e gatos. A seu ver, por que não existem Projetos de Leis voltados à defesa dos outros animais, incluindo os que são usados em testes?

Esse PL infelizmente é “para inglês ver”, pois estabelece uma falsa proteção a um conjunto reduzidíssimo de espécies animais e fomenta a ilusão de que a exploração e violência contra animais pode ser combatida e reduzida, enquanto fenômeno sociocultural, por meio do punitivismo - o qual na grande maioria das vezes pune seletivamente pessoas pobres e negras. Ele retrata um paradigma mais amplo de especismo institucional, de uso dos defensores de animais domésticos como massa de manobra política, de seletividade de quem vai ser preso ou mantido impune perante crimes contra os animais e de negação deliberada de direitos fundamentais para os animais não humanos. Tanto é que hoje se diz que vai prender quem maltrata cães e gatos, mas não se fala nada sobre punir com o mesmo suposto rigor donos de granjas industriais e fazendas de gado que adotam práticas muito violentas de “manejo” de animais ou multar laboratórios que aprisionam, causam sofrimento e abatem cobaias em seus experimentos.

6 – O especismo atrapalha a evolução das leis em prol dos animais?

O especismo é a grande e mais fundamental razão pela qual os animais não humanos não têm leis que lhes assegurem direitos.

Transcrição: Robson Fernando de Souza

1 – Nome, idade, profissão e cidade.

Meu nome é Rodrigo Marques Foresto. Tenho 40 anos atuo como treiner e, quando a vida voltar ao normal, voltarei a produzir eventos culturais. Atualmente, moro na cidade de Indaiatuba, interior de São Paulo.

2 – É vegetariano ou vegano?

Sou vegano há cerca de sete anos e, antes, passei algum tempo sendo apenas vegetariano.

3 – Quando começou seu contato com a causa animal? E como foi?

Meu primeiro contato com a causa animal foi em 2006. A convite de uma amiga, participei de protestos contra o rodeio de Osasco. Luta que acontece até hoje, mesmo com o rodeio sendo prática ilegal na cidade desde 2009. Inclusive, isso foi uma conquista do coletivo “Odeio Rodeio”, que nasceu nessa militância. O primeiro ato que participei, foi em frente a estação de trem da cidade, distribuindo panfletos e conversando com as pessoas sobre a violência a qual os animais são submetidos em rodeios, vaquejadas, farras do boi, rinhas de galos, corridas de cavalos e outras que exploram os animais para o entretenimento sádico das pessoas. E, já naquela experiência, percebi que motivar as pessoas a se conscientizar é muito gratificante.

4 – O que é veganismo para você?

Para mim, o veganismo é um estágio de consciência, no qual todas as suas escolhas e atitudes consideram respeito à Vida e dignidade a todos os seres deste planeta, humanos e não humanos. É uma forma de vida baseada na não-violência e na consciência de que nós humanos não são superiores aos demais seres, nem donos do meio ambiente.

5 – Conte sua história com o grupo Veganismo Pleno.

Por um tempo, eu era apenas um membro que participaram ativamente das discussões do grupo. Naquela época, o grupo tinha um pouco mais de 10 mil membros e somente a Lu dos Santos para administrar. Ela precisava de alguém para ajudá-la e se identificava bastante com os meus pontos de vista. Então, ela me chamou para dividir essa função com ela. Desde então, aproveitando excelentes sugestões de membros do grupo, conseguimos melhorar muitas coisas. Alteramos o nome do grupo, consolidamos nossa identidade associada ao Veganismo Libertário, que muitas pessoas chamam de Veganismo Abolicionista. Organizamos melhor as postagens, criamos regras mais claras para propiciar um convívio mais harmônico e orientado a

nossa postura filosófica. E, como resultado, o grupo cresceu bastante chegando, atualmente, a pouco mais de 31 mil integrantes e uma média de 50 postagens diárias.

6 – Com o grupo, pretende alcançar mais pessoas além dos veganos?

Sem dúvida alguma, o objetivo do grupo é alcançar o maior número de pessoas que ainda não são veganas. Afinal a revolução vegana virá com a força e a motivação destas pessoas. Veja só, as mudanças inspiradas por pessoas que são veganas já aconteceram e, para que mudanças maiores e necessárias aconteçam, precisamos muito motivar cada pessoa a considerar o Veganismo o quanto antes.

7 – Rodrigo, a seu ver, os conteúdos sobre veganismo nas redes sociais possuem poder de conscientizar os internautas? Por quê?

Com certeza, o poder que as redes sociais constituiu nos últimos anos é surreal e pode ser usado para o bem e para o mal. Se há quem financie e faça o uso de redes de notícias falsas com objetivos eleitoreiros e com fins mercadológicos, há também muita gente consciente usando os holofotes virtuais com boas intenções. A começar pelos digitais influencers, chegando até os coletivos, sem desprezar a voz dos ativistas independentes, existem muitas pessoas bacanas propagando mensagens em prol de um mundo melhor, valorizando militância em prol das mulheres, da diversidade sexual e de gênero, dos negros e de vários outros grupos sociais. Além das pessoas preocupadas com a conservação e recuperação do meio ambiente e, claro, a militância em prol dos direitos dos animais. A grande prova de que a cada ano as pessoas estão motivadas pela causa animal, é a crescente oferta e demanda de produtos e serviços orientados aos públicos vegetariano e vegano. Além de políticos que usam a bandeira animal com seu mote, alguns de forma genuína, outros não, mas isso é papo para outra conversa.

8 – Você acredita que o ciberativismo vegano e vegetariano apresenta razões suficientes para instigar e “converter” o internauta que ainda não é adepto à causa, ou há necessidade de mais assertividade?

Embora os argumentos para uma pessoa se tornar vegetariana e vegana sejam fortes, é preciso que, tanto na militância de rua, quanto no ciberativismo, sejamos assertivos por um motivo fundamental: nossa mensagem prega uma desconstrução de valores

que foram passados para as pessoas por veículos de mídia, tradições familiares e até em suas escolas e grupos religiosos. Todo esse arcabouço cultural desconstrói aquela consciência que está muito mais presente nas crianças, de que os animais são seres dignos de viver em liberdade e que nós precisamos deixá-los em paz. Costumo dizer que toda criança nasce vegana e a sociedade que a corrompe. É por isso que, em média, quanto maior for a idade da pessoa mais difícil tende ser convencê-la a mudar seus hábitos de consumo.

9 – Como o ativismo nas redes sociais pode fortalecer os movimentos CrueltyFree, Vegano e Vegetariano?

Embora o ativismo virtual seja mais impessoal, ele tem muitas vantagens. Temos à nossa disposição, uma enorme oferta de documentários, gráficos, pesquisas, imagens, receitas e dicas que podemos transmitir às pessoas imediatamente, para corroborar nossos argumentos de que viver sem consumir produtos de origem animal, ou testados em animais, é possível, agradável, saudável, viável financeiramente e ecológico. Podemos estar disponíveis para que as pessoas nos consultem a cada dúvida que tiverem e em cada momento fundamental para consolidar sua transição. Além disso, podemos conscientizar as pessoas que moram muito longe de nós, então as redes sociais ajudam bastante.

10 – Por que o veganismo/vegetarianismo é introduzido como uma necessidade e não estilo de vida?

Deixar de explorar os animais é muito mais do que uma decisão pessoal. A própria ONU reconhece que a indústria da carne é um dos maiores vilões responsáveis pelo aquecimento global e por emissão de poluentes, dois problemas que ameaçam a sustentabilidade do planeta. Isso sem falar nas bilhões de vidas que são ceifadas cruelmente nos abatedouros. Só de frango, para se ter ideia, são 66.6 bilhões de animais abatidos por ano, também segundo a ONU. Gente, isso é surreal! Sem falar que, para produzir cada quilo de carne, são utilizados 7kg de grãos e 15 mil litros de água. A conta é fácil: se estes grãos fossem destinados a alimentar humanos, isso acabaria com a fome no mundo e, não, não mataríamos animais de fome, pois estes animais não nascem naturalmente. Eles são frutos de inseminações artificiais

oriundos de verdadeiros estupros em fêmeas, que chamamos de matrizes, e animais que nascem, simplesmente, para morrer e virar carne.

11 – Como a adoção ao veganismo pode mudar o ser humano e a natureza?

Embora a motivação do Veganismo seja a defesa da vida e da liberdade dos animais, deixar de consumir produtos de origem animal traz diversos benefícios para o corpo e para a mente. Desde que minha alimentação se tornou vegetariana, sinto melhoras significativas na minha saúde. É muito raro eu ficar doente, sinto mais vigor e energia. Além disso, a maior mudança nesse sentido foi psicológica. É como se a dor e o medo que os animais sentiram antes de serem abatidos e torturados, fossem para a carne, leite e os ovos e eu tivesse finalmente libertado disso. Nesses anos, me sinto mais paciente, resiliente, motivado, solidário e feliz. Quanto à natureza, eu até afirmo que o Veganismo e o ambientalismo andam lado a lado. Não consigo nem entender uma militância desconectada da outra. Ao nos tornarmos veganos, nos preocupamos com os peixes e por isso reduzimos o uso de plásticos. Só para dar um exemplo, dentre os veganos e vegetarianos, é comum encontrar pessoas que consomem produtos orgânicos ou mesmo os plantam em suas casas, aumentando o verde nas cidades. Sempre nos envolvemos em protestos e denúncias contra agressões ao meio ambiente. Afinal de contas, quando se corta uma árvore, destrói o habitat de um animal. Quando se queima uma floresta, inúmeros animais morrem. Veganismo e Ambientalismo são irmãos siameses.

12 – Nessa militância, há pontos positivos e negativos? Quais?

A militância Vegana nos traz muitas realizações. Percebemos pessoas mudando suas vidas para melhor, contando sobre seus avanços e deixando de ser responsáveis pela crueldade contra os animais. Convencer uma única pessoa a deixar de consumir produtos de origem animal, pode salvar até 582 vidas, segundo um estudo divulgado pelo site County Animals. Isso não é incrível? Sem contar nos avanços em termos de leis, mudanças de atitudes em empresas, do cancelamento de eventos que explorariam animais, no resgate de animais que tinham sentença de morte decretada e são encaminhados para santuários, tudo em decorrência da militância virtual e de rua. Por outro lado, entristece perceber que há muitas pessoas que se preocupam mais com o próprio ego, do que com a causa animal em si. Que não estão

genuinamente na nossa luta. Me incomodo muito também, com os influenciadores que dão as costas ao Veganismo autêntico, usando seus holofotes para desenformar e transmitir ideias bem estaristas, ou que chamam por aí de Veganismo estratégico, que é quando gigantes da exploração animal decidem criar produtos supostamente Veganos e Cruelty-Free, e olha que às vezes nem isso são, sem promover a transformação radical de suas atividades e canibalizando pequenos produtores cujos trabalhos são obras de ativismo.

13 – Caso queira acrescentar algo, utilize esse espaço.

Agradeço em nome do grupo Veganismo Pleno por este espaço para falar sobre o Veganismo e uma sociedade mais justa e digna para todas as formas de vida. E deixo um convite para você, que está lendo esta entrevista, para conhecer nosso grupo no Facebook e interagir com a gente. Go Vegan.

Transcrição: Thayssa Conti

1 - Nome, idade, profissão e cidade.

Thayssa Conti de Almeida Conca. Empresária. Cuiabá

2 - Quando começou o contato com a causa animal? E como foi?

Comecei o contato aos 15 anos de idade, quando através de uma pesquisa na internet, cai em uma página com vídeos que mostravam como era feito a retirada da pele da raposa para produção de casacos. Fiquei em choque porque não imaginava que era feito daquela forma. Muitas vezes a retirada da pele tem que ser feita com o animal vivo para que ele não solte odores e impregne a pele. Após ver esse vídeo comecei a buscar mais sobre o assunto e assim conheci o veganismo. Tentei dos 15 aos 27 me tornar vegetariana, foram inúmeras tentativas, mas só aos 27 consegui de fato mudar a minha vida.

3 - O que é o veganismo e/ou vegetarianismo para você?

Para mim é exatamente como na definição, excluir na medida do possível e praticável todo tipo de exploração e sofrimento animal.

4 - Conte sua história com a página Vegana Explana.

Comecei a página quando me tornei vegana para salvar conteúdos que eu achava interessante. Comecei a cursar nutrição e falava um pouco sobre isso na página. A página cresceu sozinha e aos poucos senti a necessidade de criar meu próprio material ao invés de replicar somente materiais de outros. Com isso surgiu o “antes e depois” conteúdo criado pra mostrar as substituições que fiz na minha transição para uma vida mais minimalista e zero lixo e esse tipo de conteúdo fez a página crescer muito.

5 – Como a Vegana Explana pretende alcançar mais grupos de pessoas além dos veganos e vegetarianos?

Na verdade, já fiz algumas enquetes na página e meu maior público é ovolacto, seguido de vegetarianos, simpatizantes e veganos por último. Na página tento abordar um veganismo leve e valorizar as pequenas atitudes das pessoas. Isso faz com que muitas pessoas que comem carne, mas tem interesse pelo estilo de vida, não se sintam excluídas como geralmente são em outros perfis. As pessoas se sentem acolhidas e apoiadas em suas transições e escolhas.

6 - Thayssa, a seu ver, os conteúdos sobre veganismo e vegetarianismo, nas redes sociais, possuem poder de conscientizar os internautas? Por quê?

Sim. Acho que atualmente qualquer conteúdo de rede social pode influenciar as pessoas, porque estamos todos sempre conectados e mais acessíveis. A rede social serve como aliada na hora de transmitir conteúdos rápidos e de fácil entendimento. Antes a pessoa precisava buscar por ela mesma sobre o tema e hoje, através de diversas contas ela já consome esse material mastigado e de forma rápida, assim acelerando o processo de digerir e refletir sobre.

7 - Você acredita que o ciberativismo vegano e vegetariano apresenta razões suficientes para instigar e "converter" o internauta que ainda não é adepto à causa, ou há necessidade de mais assertividade?

Ser assertivo é sempre bem vindo, mas de forma geral pelo meu Instagram e outros de conteúdos veganos que eu acompanho, acredito que o conteúdo está sendo passado de forma bem clara e resumida. O que falta ainda é um pouco de reflexão e conexão das pessoas, ligar a carne aos prejuízos ambientais e animais.

8 - Como o ativismo nas redes sociais pode fortalecer os movimentos CrueltyFree, Vegetariano e Vegano?

Acredito que quanto mais falado um assunto, mas probabilidade de reflexão. Falar sobre é colocar sempre em pauta. Então, é de extrema importância que mais pessoas falem sobre, mostrem o estilo de vida, porque assim deixa de ser algo de outro mundo para as pessoas.

9 – Para você é correto o uso de linhas de produtos Cruelty-Free e Veganos produzidas por marcas que não tem responsabilidade ambiental? Por quê?

Acredito que as marcas estão tomando maior consciência sobre os impactos gerados por elas e sobre as novas escolhas dos clientes, que também estão se preocupando em consumir melhor. E acho válido, porque pra se tornar uma marca sustentável e de menor impacto, tem que começar por algum ponto. As vezes começa por uma linha de produtos, e vai aumentando a oferta como várias marcas fizeram a transição.

10 – Você apoia movimentos como Segunda sem Carne, Terça sem Leite, Quarta sem Queijo e afins. Por que é importante apoiar estas retiradas seletivas?

Apoio sem dúvida. Levei mais de 10 anos para me tornar vegana, e hoje muitas pessoas me tomam como referência. Trilhei uma longa jornada por acreditar por muito tempo que se eu cortasse apenas uma coisa, não faria diferença. E isso não é verdade. O Instagram da segunda sem carne já fez várias relações e levantamentos sobre os números de vidas poupadas, menor emissão de co2, economia de água, com apenas o corte da carne na segunda feira. Eu acho que essas mudanças não devem ser lugares de permanência, mas pontos de partida. Primeiro um passo e quando está firme, outro passo.

11 - Como a adoção do vegetarianismo/veganismo pode mudar o ser humano e a natureza?

Muda tudo. Primeiramente o respeito pelos animais, pela vida, outros seres que são tão importantes quanto nós. Pela fauna e flora, tão prejudicada pelas queimadas para pasto e monoculturas de milho e soja que são em sua maior porcentagem destinadas a alimentação do gado. É uma relação de respeito, equilíbrio e menor impacto

negativo no planeta. Gasto de água, terras, contribuição pra destruição da camada de ozônio, agrotóxicos, tudo ligado a produção da carne.

12 – Você acredita que as causas Cruelty-Free e Vegana têm visibilidade nas mídias tradicionais? Explique sua resposta.

Não, mas acredito que por estar um pouco em alta, esse tema tem se tornando um pouco mais explorado por jornais, programas de televisão. Mas é algo que não é interessante para as grandes marcas que faturam com a venda da carne animal. Grandes redes, que pagam por comerciais, marketing e afins.

Transcrição: Wil Lemansch

1 - Nome, idade, profissão e cidade.

Wil Lemansch, 40, artista plástico.

2 - É vegetariano ou vegano?

Vegano.

3 - Quando começou o contato com a causa animal? E como foi?

Começou com uma proposta de reativar e escrever em um determinado site brasileiro que abordava o vegetarianismo. Sequencialmente criei um grupo no Facebook, também chamado Vegetarianos Online para oferecer apoio à comunicação digital do site. Assim também nasceu a conta do Instagram. Minha participação no site foi descontinuada. Como tinha criado as contas nas mídias sociais, apenas dei continuidade. No caso do IG, alinhei uma proposta efetiva para o fim da exploração animal que é o veganismo abolicionista e interseccional.

4 - O que é o veganismo e/ou vegetarianismo para você?

Veganismo nem vegetarianismo podem ser visto como algo idiossincrático que parte de um pressuposto pessoal. Não é uma questão de opinião. São porções específicas de um comportamento que visa, um eliminar a exploração animal de forma amplificada e no “possível praticável”, e o outro apenas do prato. Veganismo é um posicionamento ético frente a objetificação, exploração e mortes de animais. Vegetarianismo é uma corrente dietética. No entanto, historicamente, o vegetarianismo sempre esteve direta

ou indiretamente ligado à causa animal. A definição de veganismo surgiu apenas no meio do século passado a fim de ser mais objetivo, de aplicar defesa prática aos animais, de ações que incluem evitar certos tipos de consumo que até então não tinham tanta importância em função provavelmente da falta de informação.

5 - Conte sua história com a página Vegetarianos Online.

Após o período de auxílio na comunicação digital [ao site] citado acima. Uma amiga sugeriu uma abordagem que pudesse ir ao cerne de questões importantes que é o consumo. Os meios de produção [nas indústrias] são hoje a maior forma de exploração animal, de humanos e do meio ambiente. O Vegetarianos Online teve rápida absorção por veganos e vegetarianos que utilizam o IG e desde então crio conteúdo que ajudam pessoas a fazer escolhas mais conscientes.

6 – Por que falar sobre produtos Cruelty-Free?

Porque há fetiche por marcas, há fetiche por consumo, mas ninguém busca compreender quais são as consequências desse consumo, e as consequências são enormes, impactam vidas, seja vida animal ou vegetal, seja animais humanos, seja animais não humanos, o lucro visado por multinacionais está acima de qualquer coisa existente. O capital quer apenas lucro e a causa animal vem como um freio porque animais possuem sentimentos e nós nos sensibilizamos com eles, além do que, não estamos alheios a natureza, afinal, somos parte dela.

7 - Com Vegetarianos Online pretende alcançar mais grupos de pessoas além dos veganos e vegetarianos?

O nome é Vegetarianos Online exatamente para poder amplificar o alcance. Vegetarianismo soa mais simpático que o Veganismo, mas certamente na outra ponta tem pessoas com alguma inclinação aos direitos animais pelo conteúdo que é aplicado. Se alcançar outros grupos será interessante.

8 - Wil, a seu ver, os conteúdos sobre veganismo e vegetarianismo, nas redes sociais, possuem poder de conscientizar os internautas? Por quê?

Creio que sim. De forma modesta, mas algumas pessoas são influenciadas. Vegano é carente de informações sobre produtos, por exemplo, já que são pessoas que levam

a sério o objetivo de findar a exploração animal, então quando recebem um conteúdo que explica as consequências da cadeia produtiva para a vida dos animais, esse conteúdo é absorvido. Mas também há quem refute tudo o que é explicitado em nome do que disse: fetiche por marcas. Essas pessoas talvez não tenham entendido razões práticas, econômica e comercial por trás dos produtos.

9 - Você acredita que o ciberativismo vegano e vegetariano apresenta razões suficientes para instigar e "converter" o internauta que ainda não é adepto à causa Cruelty-Free, ou há necessidade de mais assertividade?

Converter é algo meio dogmático, creio que não e tomara que não. Acredito que a comunicação é a chave para alguém entender uma informação do jeito que ela se manifesta na vida real. A informação precisa ser comprovada, a partir daí quem tem empatia ou de alguma forma mais inclinação para compreender o que foi passado, pode se tornar adepto. Recebo diversas mensagens de pessoas dizendo que ainda nem começaram a ser vegetarianas, mas agradecem o conteúdo porque se sentem mais seguras para iniciar esse movimento em prol aos animais. Esse é um sinal que a adesão pode existir.

10 – Como o ativismo nas redes sociais pode fortalecer os movimentos CrueltyFree, Vegetariano e Vegano?

A comunicação um para todos não existe mais como plataforma única. Essa maneira unilateral restringe muito os diversos desejos de comunicação por parte de usuários de internet. A informação nos meios de comunicação digital pode se espalhar, viralizar organicamente sem a necessidade de aplicar dinheiro. Como desdobramento, atingese pessoas interessadas. O lado negativo é o desmembramento de partes importantes como o abolicionismo e a interseccionalidade do veganismo enquanto movimento. É prejudicial exclusivamente dentro do veganismo porque há especismo fora do abolicionismo, mas de modo geral, fortalece o debate.

11 – Para você é correto o uso de linhas de produtos Cruelty-Free e Veganos produzidas por marcas que não tem responsabilidade ambiental? Por quê?

Consciência seletiva não resolve o problema ambiental. Nada está separado. Não adianta falar em ser cruelty free ou vegano sem olhar para onde os detritos dos meios

de produção estão escoando, mesmo porque isso afetaria e afeta outras espécies não humanas e humanas. O veganismo em sua interseccionalidade olha para o todo e não para uma espécie apenas, isso seria especismo. Quando uma empresa tem apelo vegano, mas não tem responsabilidade ambiental, isso é marketing vegano e não veganismo. Não conheço empresas assim, mas deve existir. Infelizmente.

12 – Como a adoção do vegetarianismo/veganismo pode mudar o ser humano e a natureza?

O veganismo não é perfeito porque são pessoas que estão envolvidas neste preceito ético, e pessoas falham, têm características diferentes etc. Mas de modo geral permite que as pessoas tenham mais chances de ter empatia pelos animais, pessoas e meio ambiente. A dieta do Vegano que é a Vegetariana, é uma dieta compassiva, sem mortes, e com uma enorme redução na exploração de animais, isso é uma transformação prática.

13 – Você acredita que a causa Cruelty-Free tem visibilidade nas mídias tradicionais? Explique sua resposta.

Tem e muito, aliás o marketing vegano está a todo vapor. Isso é péssimo porque o pragmatismo/bem estarismo que não resolve a questão de mortes e exploração animal toma conta. O capitalismo está cooptando tudo como sempre e não é diferente do veganismo, tanto que o termo cruelty free foi empregado por uma ONG totalmente cooptada voltada a oferecer este selo para alguns produtos e não para empresas, e não existe produtos livres de crueldade se a empresa continua a ser cruel. É falsa simetria imposta por quem tem poder econômico e pode mudar as regras do jogo como quiser. Não quer dizer que o veganismo não deva crescer ou ser nichado, mas significa que como tudo que cresce massivamente, pode crescer desordenado e sua causa essencial ser "sacrificada" - mas há diversos trabalhos online de base que buscam conscientizar pessoas.

14 – Caso queira acrescentar algo, utilize esse espaço

Veganismo não é dieta, é um posicionamento ético. Veganismo é essencialmente abolicionista e interseccional também, trata de animais não humanos e humanos e está completamente ligado aos meios de produção em decorrência de suas

consequências ambientais e de exploração com todas as espécies (inclusive a nossa). É importante levar em consideração o ecossocialismo que está se entrelaçando ao veganismo tradicional em função do que foi citado. A revolução para um mundo justo começa no prato e caminha com a empatia.

This article is from: