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Paye Ba'ro Daakã, Ma'akã Hiare Khĩ'oa (ma'inaka, ma'akã
from Kotiria ti bu'eare ya'u khĩ'orithu - Kotiria Pedagogical Grammar / Gramática Pedagógica Kotiria
YA'U DUHKARO
1.KOTIRIA YARE BU'E DUHKARO
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Bu'eri Wʉ'ʉ Khumuno Wʉ'ʉ mahkaina duhtiina ASEKK me'ne, duruhkuare bu'erikoro Kristine Stenzel 2002 pʉ 2010 hia khʉmari hichʉ da'rare kotiria ya duruhkuare, mahkanakãre bu'eina me'ne, bu'eina me'ne, hiphitina kotiria mahsã me'ne da'rare. Tiphare kotiria ti hoati mahkã wihare. Ã hiro tire a'ri thu ya'ura, hiphiti mahsã ti ñʉ õ se'e thiharo ti ni da'rari hira. Ti da'rari me'ne wãhku tuaro ñona mari duruhkuare hoa bu'eto se'e.
Introdução Entre os anos 2002 e 2010, a linguista Kristine Stenzel e a Associação da Escola Indígena Kumuno Wʉ'ʉ Kotiria (ASEKK) promoveu uma série de oficinas linguístico-pedagógicos com professores, alunos e outros membros das comunidades kotiria do alto rio Uaupés. Nestas oficinas foram realizadas análises que resultaram em uma proposta de ortografia prática da língua kotiria. Trazemos nesta introdução à Gramática Pedagógica um resumo das análises e atividades realizadas, das decisões originais tomadas e das reformulações propostas ao longo do caminho. Este relato serve como instrumento de apoio aos estudos da língua e demonstra o processo, ainda em curso, de consolidação da ortografia e de fortalecimento da prática da escrita.
1.1. Do'se yoana mari duruhkuare bu'ekari?
Mari duruhkuare, hoare bu'echʉre soro se'e hia hira. Ã hiro me'ne mari yare duruhkukʉ, mari dahpupʉ hiphitia do'se wãmoare, duruhkuare mahsĩ thusʉriro hika ti mari duruhkuare mari thʉotuapʉ duhtika. Ã hina ne hoari thure ñʉno mariano duruhku no'oka. Ã hiro muturo utu mi'niriro yoaro se'e hika, no'oi to wa'arore mahsika ne wihsiaro baro mariano. Yo'o meheta mari duruhkuare bu'echʉre, mari duruhku mi'niare du'ukuno se'e wa'aka ã hina kʉiro muturo khanoriro yoaro se'e bu'e behsewero khamaka, a'ri mari duruhkua kʉriã muturo yoaro se'e da'raka, tire behse wekʉ mahsino'ka no'oi ti duruhkua hirore mari thʉ'oñato se'e. Hiphitia duruhkua payʉ thururi bu'ea khʉaka ã hiro mihõani hika. Tire yoakʉ phayʉ dʉhseri me'ne bu'echʉ noaka, bihsi wihare, duruhkuare, sʉ'ʉduare, paye dʉhseri me'ne wamoa, thusʉ wa'ma dʉhseri me'ne wamoa.
à hiro me'ne mari yare duruhkukʉ ne khuiro mariano duruhkunoka, muturo utu mi'niriro yoaro se'e, ã hikʉ no'oi wa'ai wa'a mahsinoka hoaro me'ne. To ã hiro me'ne duruhkuare bu'ekʉ se'e noano mahsĩriro behse weriro, do'se ti duruhkua hiatirore mahsinoka.
Algumas Noções Gerais
1.1 Para que estudar a própria língua? Existe uma diferença importante entre falar uma língua e estudar uma língua. Quando aprendemos e falamos uma língua, temos guardados na cabeça todas as suas estruturas, suas regras internas e seu vocabulário. Não precisamos olhar em um dicionário para escolher as palavras ou consultar um livro de gramática para formar uma frase — como falante de uma língua, fazemos isso automaticamente. Comparamos o falante e sua língua ao bom prático que conduz uma voadeira. O prático opera o motor de sua voadeira para navegar por onde quiser e fazer o que precisa fazer, seja em situações de águas calmas, turbulentas, fundos ou rasas. Da mesma forma, o falante usa o vocabulário e as estruturas gramaticais língua naturalmente no dia-a-dia para “navegar” na comunicação em situações diferentes — o falante usa a língua sem precisar pensar sobre a língua. Mas quando estudamos uma língua, deixamos de ser somente “bom prático” e começamos a agir como um mecânico, que desmonta aquele mesmo motor, procurando saber para o que serve cada peça e entender como é que juntas, as peças fazem o motor funcionar. Como o mecânico, quando estudamos uma língua, procuramos entender para o que serve cada pedaço que forma a palavra e como as palavras se juntam nas frases. Podemos fazer um exercício de desmontar as palavras e as frases e para identificar as “peças” da língua e entender como se juntam para criar o sentido que queremos expressar. Todas as línguas têm estruturas, são complexas e podem ser objeto de muitos tipos de estudo. Entre outras coisas, podemos estudar os sons da língua, a formação das palavras e das frases, a relação da língua com outras línguas da mesma família, a história das palavras e as mudanças e inovações da língua que acontecem com o passar do tempo, bem como as diferenças entre as formas de falar a mesma língua — em lugares e situações diversas e por pessoas de gerações diferentes. É verdade que podemos perfeitamente passar a vida inteira falando a nossa língua sem parar para analisá-la. Da mesma forma, podemos viajar de voadeira centenas de vezes sem pensar em como funciona aquele motor que nos leva pela água. Mas, quando viajamos por rios desconhecidos, ou pegamos num novo tipo de motor, certamente ficamos mais seguras se entendermos um pouco sobre como o motor funciona. Do mesmo jeito, quando usamos a língua de uma nova forma, por exemplo, quando começamos a escrevê-la, ficamos mais seguras se entendermos mais sobre como a língua funciona.
1.2. Duruhkuro, hoaro soro bu'ea hika
Duruhkuri Dʉhsero
Mahsa me'ne sʉ'ʉdu duruhkuro. Hoari Dʉhsero
hoari me'ne duruhkuro, yoaropʉ hina me'ne.
1.2 Algumas diferenças entre a língua falada e língua escrita
A Língua Falada...
é uma forma de comunicação entre pessoas que estão presentes no mesmo lugar ao mesmo tempo,
permite reduções de palavras e um ritmo mais rápido, pois qualquer dúvida de entendimento pode ser resolvida na hora entre o falante e o ouvinte;
é onde as inovações e mudanças naturais ocorrem primeiro;
sempre apresenta variações que mostram que as pessoas são de lugares diferentes, de grupos diferentes, ou que se encontram em situações que precisam, por exemplo, de uma fala mais ou menos “formal”. A Lingua Escrita...
é uma forma de comunicação entre pessoas que podem estar em lugares e tempos diferentes;
precisa de formas mais completas e de símbolos especiais (por exemplo, espaços entre palavras e marcas de pontuação nas frases) para que as ideias e a intenção do escritor fiquem claro e para ajudar o leitor a não ter dúvidas no entendimento;
tende a refletir formas mais estabelecidas e muda mais devagar;
pode ter variações que representam diferenças entre grupos de pessoas que falam a mesma língua, principalmente na fase inicial da prática da escrita;
pode ser unificada (ou não) como resultado de um processo de prática (depois das pessoas escreverem muito), de análise (pensando juntos sobre as variações e o que representam), e de discussão política.
1.3. Kotiria ti duruhkua, dahsea ya me'ne dʉhkaa
Mari duruhkuape koayea khʉaka paye dʉhseri me'ne. Ã hiro me'ne ti duruhkua kʉno se'e hia hika, kʉ̃iro phona yoaro se'e. To se'e hiro ti duruhkua kʉno photori bihsi wiha, duruhku wioa khʉaka, ti yoaripha duruhku mʉhatari hika ti. Kotiria duruhkua dahsea ya kʉnophotori hika. Phanopʉre kʉ̃ dʉhsero yoaro se'e duruhkuatia, ti ñʉhchʉsʉmʉa me'ne paina yoaropʉ hia wa'atia ti duruhkua me'ne. Ã hiro ti duruhkua yoaripha ba'aro soro se'e hia wa'atia. Ã wa'aro me'ne phayʉ kuruari mahsa thuwa tia ti ya duruhkua me'ne. Mipʉre phʉa kurua hira dahsea ya me'ne phonati wãkaa: Dahsea Ocidental hika ti Koreguaje (KO), Sekoya (SK), Siona (SI) e Máíhɨ̃ki (Orejón, MA), Colômbiapu tire duruhkuka, Equador e Peru. Dahsea Oriental se'e hika, Kotiria (KT), Bará (BR), Barasana (BS), Desano (DS), Eduria (Taiwano, ED), Karapana (KA), Kubeo (KB), Makuna (MK), Pisamira (PS), Retuarã (RT), Siriano (SR), Tatuyo (TT), Tukano (TK), Tuyuka (TY), Wa'ikhana (Piratapuyo, WA) thusʉ Yuruti (YR). Ã hiro kotiria ya thusʉ wa'ikhana ya me'ne kʉno se'e duruhkua yoaro se'e thua.
1.3 A língua kotiria e a família linguística tukano Cada língua pertence a uma família linguística, ou seja, a um grupo de línguas que apresentam traços semelhantes. Da mesma forma em que muitas vezes podemos ver que duas pessoas são da mesma família — porque têm o mesmo formato de rosto, o mesmo nariz do pai, ou o mesmo sorriso que lembra o da avó — as línguas de uma mesma família também apresentam aspectos em comum: sons, palavras, e estruturas gramaticais. Essas semelhanças mostram que um grupo de línguas evoluiu de uma só língua ancestral no passado. A língua kotiria faz parte da família linguística tukano. No passado muito distante, as pessoas que falavam uma mesma língua ancestral (uma espécie de “tataravô linguístico”) se dividiram e foram morar em regiões diferentes. Com o passar do tempo, o jeito de cada grupo falar a língua foi mudando porque com cada geração, ocorriam naturalmente pequenas diferenças de pronúncia ou de gramática. Aos poucos, essas mudanças se estabeleceram e se espalharam sistematicamente nas gerações que nasciam em cada grupo. Com isso, cada subgrupo desenvolveu um jeito próprio de falar — jeitos ainda parecidos, mas não iguais. Além desse tipo de mudança gradual, que é um processo natural e interno a cada subgrupo, na medida em que as famílias se espalhavam em territórios novos, eles encontraram falantes de outras línguas. Em todas as situações de contato entre pessoas que falam línguas diferentes, também é natural encontrar “empréstimos” de palavras e influências de uma língua sobre a outra. O resultado de todos esses processos de mudança, entre gerações e por contato, é a formação de grupos falando línguas parecidas em alguns aspectos, mas ao mesmo tempo bastante