Edição 1183

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Diário da Cuesta

TV CULTURA FUNDAÇÃO PADRE ANCHIETA: 55 ANOS!

É Registro Histórico. A ousada e revolucionária decisão governamental, em 1969, de fundar uma Televisão Educativa, resguardada dos “apetites governamentais”, eis que teve sua concepção jurídica instituída como uma entidade de direito privado, para que tivesse seu destino desvinculado das vontades políticas dos sucessivos governos estaduais.

Hoje, 55 anos passados, a TV CULTURA da Fundação Padre Anchieta ocupa lugar de destaque entre as emissoras televisivas brasileiras. Sucesso. Avante! Leia histórico na página 3

Foto: Jair Bertolucci | Acervo TV

55 anos: TV Cultura reapresentou programas com Elis Regina, Ney Matogrosso e Sócrates

Como parte da celebração dos 55 anos da TV Cultura, a emissora exibiu entre os dias 8 e 12 de julho, com início à meia-noite, programas icônicos com grandes nomes da cultura brasileira. Confira abaixo:

Na segunda-feira (8), no Sr. Brasil, Rolando Boldrin recita poemas e canta músicas ao lado de seus convidados: João Matias e Tião Goiano, Zé Geraldo, Jaime Alem, Nair de Cândia, Dominguinhos, Lucina, Ney Matogrosso e Luhli. O programa foi exibido pela primeira vez em 19 de julho de 2005. Já na terça (9), o MPB Especial vai ao ar com dois grandes nomes da música brasileira: Vinicius de Moraes e Toquinho. Os artistas cantam “Samba de Volta”, “Fogo Sobre a Terra”, “Carta ao Tom 75”, “Como é duro trabalhar”, “Sem Medo”, “Juvenialidades Auri-verdes” e “As Cores de Abril”. O programa é de 1973.

O Provocações, com Antonio Abujamra, na quarta-feira (10), apresenta dois momentos marcantes. O primeiro é a entrevista com Raí, Sócrates e Yezo, em julho de 2001; entre diversos assun-

tos Raí fala sobre sua experiência de vida na França, onde jogou por cinco anos; Sócrates faz críticas aos dirigentes esportivos do Brasil da época e Yezo conta como comandou uma greve nacional no futebol argentino, nos anos 40, e de lá foi expulso pelo general Peron.

O segundo programa traz conversa com o ator Paulo Autran, em maio de 2004, que discute muito da história teatral e relembra grandes montagens que marcaram a personalidade do teatro no Brasil.

O Vox Populi vai ao ar na quinta (11), com o programa que recebeu Elis Regina em 1978, que entre diversos assuntos falou sobre o início de sua carreira, composições como “Querelas do Brasil” e ouviu depoimentos de fãs.

Completando a programação, na sexta-feira (12), o Enigma, atração em formato de game show que promovia desafios a estudantes com perguntas sobre história do Egito e arqueologia, exibe edição de junho de 1989. (Divulgação)

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

REVOLUÇÃO NA TELEVISÃO: TV CULTURA

A fundação de uma emissora de televisão voltada à cultura e à educação representou, na segunda metade da década de 1960, uma verdadeira Revolução Cultural! Em pleno Regime Militar, o Governo de São Paulo tomava a iniciativa pioneira, de levar a cultura e a educação pela televisão. Inédita no Brasil, mas já fartamente usada nos países do chamado primeiro mundo.

Em 1965, a TV Cultura dos Diários Associados, sofre um incêndio onde era o seu estúdio. Pouco se salvou deste incêndio onde foi perdida, também, a primeira câmera de TV do Brasil, da Rede Tupi. Esse o principal motivo que levou Assis Chateaubriand a vender a emissora para o Governo Paulista, sendo que o Grupo dos Diários Associados já enfrentava a crise financeira que o inviabilizaria para o futuro.

O governador Roberto Costa de Abreu Sodré, em setembro de 1967, cria a Fundação Padre Anchieta (Centro Paulista de Rádio e TV Educativa). Esta Fundação foi composta por diversos profissionais, faculdades ( USP, Unicamp, PUC, Mackenzie, entre outras), sociedades privadas e públicas (ABI, UBE, etc.) e com 70 centavos de cada paulista. A Fundação Padre Anchieta adquire então dos Diários Associados a TV Cultura Canal 2 e as Rádios Cultura AM e FM.

A TV Cultura seria, então, a segunda emissora de TV educativa do Brasil (a primeira é a TV Universitária (TVU), da Universidade Federal de Pernambuco). Na verdade, a TV Cultura tinha uma abrangência muito maior já alcançando, de início, todo o Estado de São Paulo O verde sempre foi a cor oficial da instituição Em 1968, o canal foi entregue à Fundação Padre Anchieta, que inaugurou a emissora em 15 de junho de 1969, tendo como seu primeiro presidente, José Bonifácio Coutinho Nogueira, com a apresentação dos discursos do governador, Roberto Costa de

Abreu Sodré e do presidente da Fundação Padre Anchieta, José Bonifácio Coutinho Nogueira. Em seguida, foi exibido um vídeo mostrando o surgimento da emissora, os planos para o futuro e uma descrição dos programas que passariam a ser apresentados a partir do dia seguinte. Além disso, exibiram uma fita com o Papa Paulo VI, dando benção à TV Cultura

É importante destacar a criatividade governamental (cujo principal articulador foi o Dr Nelson Marcondes do Amaral, Secretário do Governador e, posteriormente, Presidente do Tribunal de Contas do Estado) ao criar a Fundação Padre Anchieta como uma entidade de direito privado, para que tivesse seu destino desvinculado das vontades políticas dos sucessivos governos estaduais (seu Conselho de Administração era composto por Conselheiros Vitalícios representando órgãos da sociedade civil (FIESP, UBE, SENAC, APL, Associação Comercial ,etc) e desvinculados do Governo do Estado).

E isso funcionou. Já no governo seguinte, de Laudo Natel, buscou-se “alterar o relacionamento que o Estado mantinha com a emissora”. Ao esbarrar nos estatutos que garantiam a independência da Fundação, passou a reduzir as verbas destinadas à manutenção da TV Cultura. Isso levou à saída de José Bonifácio Coutinho Nogueira da presidência Toda a Diretoria, em solidariedade, pediu demissão”. O novo presidente, Rafael Noschese, ex-presidente da FIESP, manteve a emissora dentro das perspectivas culturais iniciais. Graças à sua natureza jurídica, a Fundação Padre Anchieta/TV CULTURA manteve, até os nossos dias, a sua independência administrativa.

É Registro Histórico! (AMD)

Governador Abreu Sodré descerra a placa
Discurso do Presidente da Fundação Padre Anchieta, José Bonifácio Coutinho Nogueira

Diário da Cuesta

“Desvestindo o supérfluo”

“Não mais difícil (temo) seja descorar, que fazê-la — a esta roupa — que não posso tirar do corpo. Nem mesmo a confissão consegue desvesti-la para me mandar de volta para casa — aliviada e nua.

E (tudo isso perante a tarde formal e inofensiva debaixo da minha brilhante e aérea cabeleira forrando o vestido sutil…

Não se vê — mas está lá.

Maria Lúcia DalFarra

“Livro de Erros”

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, Que já têm a forma do nosso corpo, E esquecer os nossos caminhos, Que nos levam sempre aos mesmos lugares.

É o tempo da travessia: E, se não ousarmos fazê-la, Teremos ficado, para sempre, À margem de nós mesmos.»

Fernando Pessoa

“Tempo de Travessia”

Olhando meu guarda-roupa, entre aquelas roupas que tanto gosto e pouco deixo de usar, vejo que estão surradas, descoloridas, perderam o viço, mas são super confortáveis, já se adaptaram ao meu corpo, o tecido ficou tão macio e adaptável ao tacto que a mão se detém nele por segundos a mais apreciando.

Paro e penso que preciso me desfazer de algumas roupas para abrir espaço, o olhar vai exatamente para elas.

A reação é justamente a negativa, pois são aquelas mais agradáveis de se vestir. Na vida chega o momento em que temos mesmo que deixar de hábitos, pensamentos, maneiras de encarar a vida.

Há que trocar caminhos mais longos pelos mais curtos, ou mesmo de ares, de cidade, ou quem sabe de país?

Nesse pensamento percebo, que talvez tenha que olhar as circunstâncias por outro ângulo.

Depois de tantos eclipses, luas azuis, laranja: a busca acabou.

Tropecei em mim e uma luz surgiu.

O cavalo da oportunidade passou e correndo, saltei agarrando ágil em suas crinas.

Alterações se tornaram óbvias.

Nada de longas conversa, terapias ou viagens extraordinárias a países longínquos e trocas mirabolantes.

Um simples e fácil caminho se abriu, era a meditação.

O caminho de retorno á casa era interno e solitário.

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