A raça no divã - de Thamy Ayouch (Prefácio)

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A raça no divã

A raça no divã Thamy Ayouch

©Thamyayouch

© Editora Devires, 2025

© n-1 edições, 2025

ISBN Devires: 978-85-93646-81-2

ISBN n-1 edições : 978-65-6119-046-6

Editora Devires

tradução Thamy Ayouch revisão Hailey Kaas

coordenação editorial Gilmaro Nogueira capa Igor Lobo Ferreira

diagramador Daniel Rebouças ilustração de capa Julie Abricot

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n-1 edições

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editores-chefe Peter Pál Pelbart e Ricardo Muniz Fernandes coordenação editorial Gabriel de Godoy assistência editorial Inês Mendonça produção editorial Isabel Lee

A reprodução parcial deste livro sem fins lucrativos, para uso privado ou coletivo, em qualquer meio impresso ou eletrônico, está autorizada, desde que citada a fonte. Se for necessária a reprodução na íntegra, solicita-se entrar em contato com os editores.

1ª edição | Março, 2025 n-1edicoes.org | editora devires

A raça no divã

Thamy Ayouch

Prefácio

Profa. Dra Isildinha B. Nogueira

Quando terminei de ler o livro de Thamy Ayouch, “A Raça No Divã”, me vi impactada pela força revolucionária do texto: pela clareza e cuidado no uso de todo arcabouço teórico, desde a filosofia, história, psicanálise e tantos outros saberes; pela diversidade e facilidade de Thamy em circular de maneira fluida e versátil por tantos conhecimentos, linguagens e línguas; um viajante atento com uma escuta atenta às diferenças e às interseccionalidades, implicandose apaixonadamente pelos mais diversos territórios, culturas e línguas; por não temer se encontrar e se confrontar com a diversidade do ser e estar num mundo que mais exclui do que acolhe.

Seu texto teve em mim a força do texto de Jean Genet, escritor e poeta francês, que usou a raiva decorrente de sua história e trajetória pessoal de violência sofrida de maneira criativa e transformadora, engajada politicamente contra as injustiças sofridas por aqueles que são excluídos da história neoliberal oficial que elegeu e criou seres perfeitos e seres imperfeitos que devem ser desumanizados, descartados e, portanto, eliminados.

O texto de Thamy me atravessou o corpo físico, psíquico, emocional e político, me convocou a continuar a recusar a história neoliberal oficial, que usou as diferenças e diversidades dos seres humanos, própria da nossa condição, nos transformando em seres melancólicos e impotentes, numa resignação que nos adoece, fragiliza e nos conduz à autodestruição e à morte.

Ousou a “Liberdade transgressora de Genet”, que falou pela voz agônica do excluído que não tem escuta; mas a indiferença de um sistema que os inviabilizou, ainda que sejamos uma presença importante, com várias faces na interseccionalidade nesse existir em sociedade.

Liberdade aqui no sentido Sartreano, “liberdade é possibilidade de fazer escolha”1 - condição existencial do ser humano.

Ainda que “fazer escolha” não seja fácil, a escolha nos define. Quem queremos ser? Condição que nem sempre é possível para sujeitos racizados, já que são aleijados de acesso e das condições básicas de cidadania, como educação, saúde, moradia e condições dignas de trabalho; e são exilados da condição de cidadão, inseridos nas relações sociais na condição de excluídos, não como sujeitos de sua própria história, agentes políticos que operam em prol de mudanças.

Thamy adverte da importância de conhecer a história e nosso lugar nela: podemos nos recusar a esse lugar imposto e desejar um outro que não esse que somos colocados e vistos pelo sistema neoliberal capitalista, que insiste em nos exilar de nossa dignidade enquanto seres humanos diversos.

1 Carlos Eduardo Ortolan Miranda, “O derstino libertário de Jean Genet”, CULT: Revista Brasileira de Cultura. São Paulo, 12 mar. 2010. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/o-destino--libertario-de-jean-genet/::::textO%20p%C3%A1ria%20escreve%20uma%20poesia,parte%20da%20alma)%20produz%20literatura.

Seu texto convoca a psicanálise e os psicanalistas, não do lugar panfletário, a se atualizarem, a se localizarem como sujeitos inseridos numa realidade social, política, em tudo o que demanda o lugar, de ser social (cidadão) e suas implicações. Ele convoca a nos atualizarmos nesses novos tempos, afinal, estamos no século XXI, muito distantes do século XIX, primórdios da psicanálise pensada e criada por Freud, distantes de outras configurações sociais e demandas psíquicas que Freud pôde naquele momento escutar.

O tempo presente demanda uma ética que dê conta de contemplar as novas questões, demandas não do lugar de uma “suposta neutralidade” do analista isento do próprio sistema do qual também é um produto, a se reconhecer parte de uma sociedade, que o moldou e o localizou, como classe e como ser político, na relação com o analisando, que ocupa um outro lugar nessa relação, que não é com certeza o mesmo.

Esse período pós-colonial nos convoca a reconhecer e a enxergar os efeitos nefastos da colonialidade, da perspectiva clínica e teórica e seus consequentes atravessamentos culturais, clínicos, políticos e econômicos para a formação das subjetividades, já situados pelos estudos pós-coloniais e decoloniais. A psicanálise não pode ignorar esse conhecimento que diz dos atravessamentos que incidem sobre o sujeito do inconsciente.

No decorrer dos tempos, a psicanálise esteve a serviço da alta burguesia, apresentada e representada por uma cultura eurocêntrica, cis, heterocêntrica e branca, que sobrevive ainda hoje às custas da fantasia de uma pureza e superioridade racial branca em detrimento das raças “impuras”, um produto do sistema colonial que inferiorizou seres para explorá-los economicamente, excluí-los, desumanizá-los e assim justificar e projetar toda sorte de violência e brutalidade, para subjugá-los e melhor controlá-los; a raça passa a justificar todo esse processo, que garante e sustenta esse regime de poder.

A raça não existe, no entanto: ela atravessa as relações entre sujeitos e grupos. Thamy se pergunta: “O que acontece com a raça no divã? O que a raça faz à psicanálise? Que efeitos psíquicos as relações sociais de raça têm sobre o sujeito do inconsciente? O que a psicanálise pode dizer sobre raça?

O que ela pode ouvir acerca dos efeitos do racismo sobre a subjetividade e sobre seu próprio dispositivo clínico e teórico?”

Questões mais do que pertinentes, mas que, sobretudo, nos orientam no decorrer das ideias desenvolvidas no livro, e nos advertem dos silenciamentos e de uma certa cumplicidade indiferente em relação à raça, herança etnocêntrica desse sistema que estruturou nossas sociedades.

Vivemos numa sociedade estruturalmente racista. O conceito de raça aqui pensado por Thamy amplia, na interseccionalidade, diferentemente como aqui no Brasil discutimos raça e racismo, como apresentando essa dicotomia entre branco e negro.

Thamy faz uma observação da diferença que existe dos termos racizado (racisé, em francês) e racializado (racialisé), explicando que racização, termo criado pela socióloga Colette Guillaumin, é um aspecto do processo de racialização que diz das pessoas não brancas, é uma racialização negativa e inferiorizadora, enquanto pessoas brancas são só racializadas. Essas diferenças são importantes para a escuta analítica, uma advertência para que não deixemos de ouvir as experiências de discriminação, fixadas numa ideia de sujeito universal do inconsciente; corremos o risco de fazer um desmentido social da raça.

A perspectiva do conceito de raça indagado por Thamy implica numa abordagem política da psique, historicizada e contextualizada. À psicanálise cabe pensar como a psique e a função analítica acontecem frente ao exercício de poder, raça, gênero, classes, sexualidade; e como o capacitismo coloca a atuação do analista numa perspectiva política, visto que são categorias cujo inconsciente está atravessado pelas relações sociais e de poder, das quais a psicanálise e os psicanalistas não estão alheios a essas estruturas; caso contrário, pode-se incorrer numa psicanálise normativa.

A visão de Thamy acerca da raça é absolutamente descentrada, procede de uma perspectiva de autores não só europeus, mas de uma gama de trabalhos de autores do sul e norte global, sul-americanos, brasileiros e americanos, que servem como base para as questões que instigou esse trabalho.

Thamy costuma dizer que nós autores e autoras brasileiros estamos à frente nessas discussões de raça e nas implicações e atravessamentos e efeitos psicossociais do racismo. Entender e descrever a raça nas diversas dinâmicas de dominação e privilégios, as minorizações e alterizações, incita no outro a violência racista; de Estados que são incapazes de garantir a seus cidadãos um modelo político que conceda a todos os mesmos direitos e deveres de forma igualitária e inclusiva. Frente a essa realidade do sistema neoliberal do qual estamos inseridos e fazemos parte, um convite a pensar: a que e a quem serve a psicanálise?

Nada justifica nos mantermos numa postura purista e tradicional de uma psicanálise que se recusa a pensar interdisciplinaridades dos saberes e conhecimentos que possa ampliar nossa visão e nos permita escapar do discurso de uma minoria que não consegue se atualizar e diz: “mas isso não é psicanálise!”. Como escapar das reflexões que são feitas das relações de poder a partir da filosofia, sociologia, ciências políticas, estudos de gêneros, dos estudos críticos de raça e da branquitude, dos estudos pós e decoloniais?

É preciso repensar nossa prática clínica e teórica. Estamos em outros tempos e Thamy nos traz novas perspectivas de uma psicanálise mais fluida e arejada, onde cabe pensar as questões não só da perspectiva do sujeito a

partir do seu núcleo familiar, mas ampliada, descentralizada, interdisciplinar e interseccional, um trabalho meticuloso, uma pesquisa muito bem feita.

Sua experiência pessoal: nascido no Marrocos, passa pela descoberta de ser um “magrebino” quando chega à França para cursar o ensino superior; lá, ele se dá conta de que não era francês, apesar de falar o idioma perfeitamente; fica clara sua condição de “híbrido”, árabe e muçulmano pela linhagem paterna, judeu pela materna e ateu pelo pessoal, como ele diz. Essa condição o colocou numa perspectiva multidisciplinar, que certamente o constituiu a ser quem ele é: aberto às possibilidades de várias formas de existir e estar no mundo. Não quero passar por cada capítulo e tirar o prazer que pude desfrutar de me encontrar, desencontrar, aprender com suas coleções, teorizações de uma nova perspectiva a partir de muito conhecimento acumulado, mas, para o final, Thamy nos brinda com o que ele chamou de racial infantil.

Ele propõe uma metapsicologia interseccional da raça que leva em consideração as relações sociais de gênero e sexualidade, diferentemente da Viena de Freud no século XIX, quando ele inventou a psicanálise. Thamy acrescentou a raça levando em conta a sexualidade infantil inscrita em múltiplas relações sociais, indo além do Édipo. Na perspectiva de Deleuze e Guattari em “L’Anti-Œdipe, o desejo individual como um agenciamento”2, o desejo aparece num contexto social e político, onde está inserido o sujeito, que engloba tudo o que o constitui sua história, a história, geografia, política, economia, os povos e os fluxos. O contexto familiar do sujeito encobre todo um contexto histórico-político, racial, cultural e econômico. Para Deleuze e Guattari, nos diz Thamy: “cabe à libido delirar as raças: a histórias coletivas, histórias subjetivas que dela resultam estão escritas, mais do que na sexualidade e no dispositivo de sexualidade, na construção da diferença, à qual a raça serve de paradigma”.3 “O inconsciente e antes de tudo racial”: citando Maël le Garrec, Thamy entende que onde parece não sê-lo, como no Édipo, “ele também está lá em virtude de um processo racial, ou precisamente antirracial de segregação e de sua negação”.4

Pensando de modo interseccional ou inconsciente, o sexual infantil que inventou Freud é apenas uma parte do que entendemos da sexualidade simplificada. O racial-infantil, aqui entendido como colonial-infantil, vai constituir o inconsciente.

Mais adiante, Thamy, citando Foucault, fala sobre a guerra de raças, onde ele muda o discurso do conflito de raças para luta de classe, isso para dizer da transformação do discurso, que pretendia manter a noção de superioridade e pureza da raça que deveria estar sobre a proteção do Estado.

Gilles Deleuze e Félix Guattari, O Anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 2010. (Original publicado em 1972).

3 Idem.

4 Mäel Le Garrec, “Deleuze et Guattari: le délire parle toujours de race”, Chimères, vol. 96, no. 1, 2020, pp. 186- 199.

O racismo é transgeracional, e determina quem deve viver e quem deve morrer; como diz Thamy, “não é uma anomalia, é intrínseco a biopolítica”.

Thamy define o racial-infantil a partir da teoria de Achille Mbembe sobre o “inconsciente racial” e o “devir-negro” do mundo. O “negro”, como foi visto anteriormente, é a figura moderna daquele “cuja carne foi transformada em coisa e mente em mercadoria”.5 Essa visão de Mbembe, que Thamy cita, se apoia em todas as humanidades subalternas, dentro da globalização do mercado, neoliberal e do trânsito diferenciado dos corpos.

O racismo estrutural sistêmico é uma realidade: não tem como a psicanálise ignorar a raça. Thamy propõe pensar o prazer-desprazer que constitui o sexual-infantil e repensar o racial-infantil que tem a ver com sobrevivência e necessidade de adaptação num mundo violento hostil de abuso e exclusão das pessoas racizadas ao longo da história. Em seguida, ao modo de Laplanche, Thamy define um racial-infantil, como um dicionário de termos, a último diz: “Proposição: o racial-infantil é o resíduo inconsciente do recalque-simbolização, mas também da forclusão da pluralidade da humanidade pela binaridade constantemente invisibilizada da raça”.6 E conclui: que, no nível do inconsciente, o efeito da história racial e racismo sistêmico é cada vez mais individual e singular, mas inscrito numa história coletiva.

E nos conclama a reagir, resistir e não sucumbir ao que ele chamou de melancolia de raça, propondo uma desmelancolização.

Como lidar com esse racial-infantil no processo de análise? E ouvir o que está em jogo para cada sujeito, na singularidade, fora do discurso hegemônico que aprisiona o negro numa identidade fabricada pelo sistema, que o desqualifica e desumaniza? Ele propõe se afastar do discurso colonial, não responder a alteração que é imposta ao sujeito racizado, se descolonizar, não negando, fazendo o desmentido de uma realidade que se impõe cotidianamente sem trégua.

Coloca como objetivo tentar redefinir a resistência na análise, como resistência política. Pós Freud, a resistência na análise é exclusivamente a do/a analisando/a; mas Lacan se contrapõe a essa versão e escreve que: “Existe apenas uma resistência é a resistência do analista”7. Thamy faz uma longa explanação do que isso implica nessa nova metapsicologia onde não existe o sexual-infantil puro, que não seja sempre determinado por um racial-infantil. Entender a resistência do analista, implica compreender como a transferência está atravessada por relações de poder, para permitir ao/à analisando/a se dessubaltenizar psiquicamente, um processo político, uma descolonização. Se trata de ser um sujeito não mais falado pelo outro, mas ser autor de sua

5 Achille Mbembe, Critique de la raison nègre. Paris: Éditions La Découverte, 2013.

6 Thamy Ayouch, La race sur le divan: Pour une psychanalyse intersectionnelle Éditions Anacaona, 2024, p. 202.

7 Idem, p. 204.

própria história. Esse trabalho implica os/as analistas darem conta de escutar as denúncias do racismo, uma fala que se repetirá até que alguma elaboração possível seja feita pelo/a analisando/a, racizado. A negação do discurso do/a analisando/a pode levar à patologização desse discurso, que o negacionismo do racismo estrutural por parte dos analistas pode perpetuar.

Ao contrario, se trata de poder acolher e tolerar o discurso de raiva que poderá vir do/a analisando/a; essa raiva como reação criadora que não tem a ver com incentivo da passagem ao ato, que em nada contribuiria para tirá-lo do lugar que a ideologia racista o colocou, como que confirmando um estereótipo criado para confirmar o lugar no qual essa ideologia o colocou.

Evidentemente, o que Thamy nos apresenta está na contramão do pensamento afropessimista, que tem uma visão de que o sofrimento e a violência sofridos pelos negros é ontologia, ontológica, essencialista e não se intersecciona com outros processos de lutas de pessoas racizadas. Esse pensamento parece se fixar na melancolização da raça, de modo insuperável. Thamy lamenta esse essencialismo, e eu também lamento essa recusa da interseccionalidade nas análises de raça e estratégias de lutas, permanecendo na solidão de um destino implacável que nos condenou a um eterno devir de dor e sofrimento.

Prefiro estar em companhia. Acredito que podemos nós os negros nos desmelancolizar. A companhia de Thamy, meu querido amigo de luta, muito tem me incentivado a seguir lutando, a transmutar a raiva e a dor numa energia criativa que nos resgate das múltiplas tentativas de exílios dessa falsa “normalidade” que não respeita nossas diferenças e nossos modos de gozar a vida. A diferença nos faz um na condição humana.

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