Teatro experimental do negro: testemunhos e ressonâncias

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T EATRO N EGRO E XPERIMENTAL TESTEMUNHOS E

RESSONÂNCIAS DO

ABDIAS NASCIMENTO

ELISA LARKIN NASCIMENTO

JESSÉ OLIVEIRA (orgs.)

Uma vez Abdias Nascimento, que é negro, quis ser negro com o corpo e com a alma. E mostrar corpo e alma negros. O teatro foi o meio, e Abdias encontrou, entre outros, Aguinaldo de Oliveira Camargo, Arinda Sera m, Ironides Rodrigues, Ruth de Souza, Claudiano Filho, Léa Garcia – negros –, que no palco desvelaram dramaticamente a alma para dar corpo ao mais transparente, mais preciso, mais autêntico movimento: o movimento da negritude brasileira.

O que signi ca essa negritude, tão rme hoje na África, Europa e América, negritude que nem tinha o nome de negritude nos primeiros dias do Teatro Experimental do Negro? Os testemunhos a viram nascer, tomar corpo, a rmar-se em sua abstrata textura e dizer simples e profundamente: o negro, negro que é, tem olhos e ouvidos e consciência para perceber o mundo e quali cá-lo, trans gurá-lo e enriquecê-lo, reinterpretando-o com seus calejados olhos e ouvidos negros de hoje.

Efrain Tomás Bó Prefácio

Imagem da capa: Antônio Barbosa em cena de O Imperador Jones, de Eugene O’Neill. Theatro Municipal do Rio de Janeiro, 1945. Foto de José Medeiros.

TESTEMUNHOS

A. Accioly Netto

Abdias Nascimento

Adonias Filho Aldo Calvet Ascendino

Leite Augusto Boal Cavalheiro Lima

Claude Vincent Clóvis Garcia Cristiano

Soares Décio de Almeida Prado

Edmundo Moniz Efrain Tomás Bó

Eneida Florestan Fernandes Franklin de Oliveira Gerardo Mello Mourão

Guerreiro Ramos Guiomar Ferreira de Mattos Gustavo Dória Henrique

Pongetti Joaquim Ribeiro José Paulo

Moreira da Fonseca Napoleão Lopes

Filho Nelson Rodrigues Paschoal

Carlos Magno Quirino Campo orito

R. Vieira de Mello Roberto Brandão

Roger Bastide Rosário Fusco Tasso da Silveira Tomás Santa Rosa Vera

Pacheco Jordão

ENSAIO FOTOGRÁFICO

José Medeiros

RESSONÂNCIAS

Aldri Anunciação Bárbara Santos

Clayton Nascimento Cristiane

Sobral Denilson Tourinho Elisa Larkin

Nascimento Eugênio Lima Geo Britto

Hilton Cobra Jeruse Romão Jessé

Oliveira Maria Célia Malaquias

Onisajé Rudinei Borges dos Santos

Rui Moreira Soraya Martins Patrocínio

Vera Lopes

TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO

T EATRO

TESTEMUNHOS E RESSONÂNCIAS DO

N EGRO E XPERIMENTAL

abdias nascimento elisa larkin nascimento jessé oliveira ( organização )

edição comemorativa dos 80 anos do ten

apoio cultural e pesquisa

coleção perspectivas

Esta edição inclui os textos da edição original comemorativa dos vinte anos do ten: Abdias Nascimento (org.). Teatro Experimental do Negro: Testemunhos. Rio de Janeiro: grd, 1966

As Edições Sesc São Paulo e a editora Perspectiva salientam que todos os esforços foram feitos para localizar os detentores de direitos das imagens e dos textos aqui reproduzidos, mas nem sempre isso foi possível. Creditaremos prontamente as fontes, caso estas se manifestem.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

T248

Teatro experimental do negro : testemunhos e ressonâncias / organização da edição original Abdias Nascimento ; organização Elisa Larkin Nascimento, Jessé Oliveira. – 1. ed. – São Paulo : Perspectiva : Edições Sesc São Paulo, 2025. 328 p. : il. ; 23 cm. (Perspectivas)

Inclui bibliografia

“Edição comemorativa dos 80 anos”

ISBN 978-65-5505-270-1 (Editora Perspectiva)

ISBN 978-85-9493-356-0 (Edições Sesc São Paulo)

1.Teatro negro brasileiro – História. 2. Teatro experimental – Negros – Brasil. 3. Negros nas artes cênicas – Brasil. I. Nascimento, Abdias. II. Nascimento, Elisa Larkin. III. Oliveira, Jessé. IV. Série.

CDD: 792.08996081 25-100492.1

CDU: 792(599.23)(09)(81)

Carla Rosa Martins Gonçalves – Bibliotecária – CRB-7/4782 10/09/2025 12/09/2025

equipe de realização

Coordenação de texto

Elen Durando

Luiz Henrique Soares

Edição de texto

Rita Durando

Revisão

Ana Carolina Salinas

Maria Victoria Vanazzi Abdalla

Projeto gráfico e capa

Sergio Kon

Produção

Ricardo W. Neves

Sergio Kon

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida de nenhuma forma sem a autorização expressa da editora Perspectiva e das Edições Sesc São Paulo.

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IMAGEM DA ABERTURA: Elenco da peça O Filho Pródigo, de Lúcio Cardoso. Em primeiro plano: Roney da Silva (Moab) e Marina Gonçalves (Selene).

Sentados em segundo plano: Abdias Nascimento (Pai) e Aguinaldo Camargo (Manassés). Em pé: Ruth de Souza (Aíla) e José Maria Monteiro (Assur).

Direção: Abdias Nascimento. Cenário: Tomás Santa Rosa. Teatro Ginástico, Rio de Janeiro, 1947.

SUMÁRIO

53 O Teatro Experimental do Negro

Tomás Santa Rosa

56 “O Filho Pródigo”, a Maior Peça de [19]47

Roberto Brandão

60 “O Filho Pródigo”, no Teatro Negro

Rosário Fusco

65 Argumentos do Teatro Negro

Efrain Tomás Bó

69 Um Pouco da História do Teatro Experimental do Negro

A. Accioly Netto

74 “Aruanda”

Paschoal Carlos Magno

76 “Aruanda”

Edmundo Moniz

80 “Aruanda”

Tasso da Silveira

82 Objetivos do Museu do Negro

Joaquim Ribeiro

86 “Filhos de Santo”

Paschoal Carlos Magno

90 Espírito e Fisionomia do Teatro Experimental do Negro

Abdias Nascimento

94 O Negro no Brasil e um Exame de Consciência

Guerreiro Ramos

105 O Teatro do Negro no Brasil

Revista Américas – OEA

108 “Aruanda”

Gustavo Dória

110 A Propósito do Teatro Experimental do Negro

Roger Bastide

116 Um Herói da Negritude

Guerreiro Ramos

119 Metafísica Negra

Napoleão Lopes Filho

123 Ao Som de Atabaques e Tambores Eneida

127 “O Imperador Jones”

Cavalheiro Lima

129 “O Imperador Jones”

Clóvis Garcia

131 “O Filho Pródigo”

Décio de Almeida Prado

135 Uma Experiência Social e Estética

Abdias Nascimento

139 O’Neill e o TEN

Claude Vincent

141 O Negro Desde Dentro

Guerreiro Ramos

149 O Preconceito nos Livros Infantis

Guiomar Ferreira de Mattos

153 Semana do Negro de 1955

Guerreiro Ramos

156 Cristo de Cor

Quirino Campofiorito

159 Cristo Negro

Abdias Nascimento

163 Notas de um Diretor de “Sortilégio”

Augusto Boal

168 “Sortilégio”

Gerardo Mello Mourão

170 Abdias: O Negro Autêntico

Nelson Rodrigues

172 Nota Sobre “Sortilégio” e Alguns dos Problemas Que Envolveu

José Paulo Moreira da Fonseca

176 A Peça “Sortilégio”

Adonias Filho

178 O Teatro Negro

Florestan Fernandes

ENSAIO FOTOGRÁFICO JOSÉ MEDEIROS

185 José Medeiros e o Teatro Experimental do Negro

Elisa Larkin Nascimento e Jessé Oliveira

RESSONÂNCIAS

219 Breve Apresentação

221 A Raiz e o Horizonte: O Teatro Experimental do Negro e a Cena Brasileira Contemporânea

Rudinei Borges dos Santos

227 Hilton Cobra, Entrevista

Elisa Larkin Nascimento e Jessé Oliveira

240 Abdias, Eterno Sol em Plena Jornada

Onisajé

246 Sobre Articulações Poético-Políticas: O Teatro Experimental do Negro em Movimento

Soraya Martins Patrocínio

250 Espelhos Negros

Cristiane Sobral

257 Depoimento

Eugênio Lima

265 Experimentando o Teatro Negro de Antes… E de Depois!

Aldri Anunciação

269 Teatro Experimental do Negro: Palco do Nascedouro do Psicodrama no Brasil

Maria Célia Malaquias

275 Seu Abdias, A Coisa Tá Preta!

Bárbara Santos

281 Algumas Reflexões Sobre o TEN e o Futuro

Geo Britto

290 O Caráter Educativo do Teatro Experimental do Negro

Jeruse Romão

296 As Confluências Éticas, Estéticas e Políticas

Entre Dois Projetos Políticos Negros

Rui Moreira

301 Teatro Experimental do Negro: Inspiração Atemporal

Vera Lopes

307 O Ano em Que Levei Abdias Nascimento

Para Viajar Comigo

Clayton Nascimento

313 Tem TEN Aqui! Transitando Por Territórios, Tempos e Movimentos

Denilson Tourinho

321 Referências Gerais

322 Os Organizadores

APRESENTAÇÃO

Há oitenta anos, no dia 8 de maio de 1945, o Teatro Experimental do Negro estreava no Theatro Municipal do Rio de Janeiro como parte e partícipe do nascimento do Teatro Moderno Brasileiro. Para celebrar esse aniversário, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro) convidou a editora Perspectiva e as Edições Sesc a reeditar o livro em que Abdias Nascimento, fundador do TEN, reuniu críticas, crônicas, matérias jornalísticas, depoimentos e ensaios sobre diversos aspectos de sua atuação. Publicado em 1966, Teatro Experimental do Negro: Testemunhos foi um marco de resistência contra o que Abdias bem sabia ser o destino de uma iniciativa de artistas e intelectuais negros na sociedade brasileira: o apagamento e o esquecimento. Junto com a antologia de peças teatrais do TEN, Dramas Para Negros e Prólogo Para Brancos (1961), TEN-Testemunhos compõe o registro silenciado da existência e da atuação dessa companhia de teatro ao lado d’Os Comediantes, do Teatro Brasileiro de Comédia e de outros grupos creditados com a inauguração do Teatro Moderno. O TEN contou com a colaboração e a parceria de personalidades como Nelson Rodrigues, Ziembinski, Bibi Ferreira, Cacilda Becker, Enrico Bianco, Tomás Santa Rosa, entre outros, mas se manteve firme no seu propósito de ser uma iniciativa conceituada e dirigida por artistas e intelectuais negros, e por isso pagou

o preço caro do apagamento histórico. A narrativa hegemônica do Teatro Moderno o ignorou e, apesar das publicações que Abdias fez questão de lançar, o TEN continuou à margem da historiografia do teatro brasileiro, como se não houvesse deixado registro de sua significativa contribuição cultural e estética.

Reeditar este livro, portanto, tem um significado profundo, análogo àquele que as pessoas negras e seus coletivos experimentam diariamente ao conseguir superar, com pequenas ou grandes conquistas e vitórias, o fato de viverem invisibilizadas, silenciadas e colocadas à margem das inúmeras riquezas e vantagens que a sociedade moderna oferece aos seus cidadãos. O Teatro Experimental do Negro espelha, em sua trajetória, essa capacidade do povo negro de seguir criando caminhos de construção de sua vida em liberdade, apesar das intermináveis amarras que lhe são impostas.

Nesse particular, o  TEN incorpora o princípio do tempo espiralar, proposto e erigido de forma magistral pela teórica, realizadora e rainha do pensamento e da ação performática de tradição negra africana no Brasil, Leda Maria Martins, no seu livro Performances do Tempo Espiralar, publicado em 2021. Ao levar essa tradição, sua história e seu povo ao palco do teatro brasileiro, no meio cultural efervescente de um país que vivia a encruzilhada entre autoritarismo e democracia, tentando traçar seu caminho rumo à segunda opção, o TEN personificava as lutas dos ancestrais que enfrentavam a escravização e a abolição da escravatura, vivendo a colônia, o império e a República no lugar de não pessoas ou de semicidadãos. Desumanizados pelo racismo, eles construíam e afirmavam a sua humanidade em incontáveis feitos e iniciativas caladas e desaparecidas do registro histórico dominante.

Por isso propusemos trazer à nova edição do livro o testemunho da continuação dessa construção criativa no teatro negro: o legado do TEN em sua expressão atual. Agregamos aos “velhos testemunhos”, por assim dizer, um conjunto de “novos testemunhos”. Convidamos a participar do livro realizadores de teatro negro – ou realizadores negros de teatro – atuantes hoje, numa espécie de mosaico de colaboradores de diversas gerações, formações, locais do país e pontos de vista.

“Ainda existe um pensamento dominante de que grupos oprimidos não possuem capacidade de produzir conhecimento e arte”, afirma Geo Britto em seu ensaio. Tal pensamento contribui para que

as iniciativas de cultura negra sejam vistas com ceticismo, salvo as conhecidas exceções promovidas pelo mercado do turismo e a mídia corporativa. Ações sérias da cultura negra ficam à margem, pouco assistidas ou avaliadas. São julgadas à revelia por quem não se dispõe a frequentá-las – ou mesmo conhecê-las – por achar que serão repetitivas e pouco estimulantes intelectual ou esteticamente.

Os “velhos testemunhos” deste livro dão conta do quanto essa ideia é equivocada, ao registrar a repercussão da estreia do TEN, que sacudiu os alicerces dessa linha de pensamento. Os textos mostram como, depois de sua estreia, as produções e atuações do grupo continuaram impactantes.

Nada supera a força do testemunho visual contido no ensaio fotográfico de José Medeiros. Um dos grandes nomes da fotografia brasileira, ele era amigo e companheiro do TEN e de Abdias Nascimento, a quem ele entregou, conforme registrado no início da edição original, um conjunto de negativos que hoje integra o acervo do Ipeafro. Das dezenas de imagens contidas nesse acervo, selecionamos as que constituem o ensaio fotográfico que compõe a segunda parte do livro. Os novos testemunhos publicados na terceira parte do livro desmentem em dobro a ideia equivocada de uma suposta repetitividade ou relativa pobreza das múltiplos expressões de ou sobre teatro negro, trazendo ao volume a riqueza multifacetada do legado do TEN em seus diversos desdobramentos contemporâneos e atuais.

Convocamos para abrir essa parte um dos mais novos entre nossos autores. Muito jovem para ter convivido com eles, Rudinei Borges oferece, a partir de sua pesquisa e experiência própria, uma visão abrangente do papel e da influência que Abdias Nascimento e o TEN exerceram, e ainda exercem, no teatro brasileiro. Considerá-los no contexto do teatro nacional significa pensar o teatro em si, e Rudinei situa o TEN no cerne dessa questão, trazendo seu próprio fazer teatral como parte e partícipe dessa continuidade. Em sequência, temos o depoimento, na forma de entrevista, de um decano nosso: Hilton Cobra, fundador da Companhia dos Comuns e idealizador dos Fóruns Nacionais de Performance Negra, dos seminários Olonadé – a Cena Negra Brasileira e do movimento Akoben. Seu testemunho introduz o leitor ao universo do teatro negro contemporâneo, em uma visão panorâmica que se desdobra a

REFERÊNCIAS GERAIS

BOAL, Augusto. Teatro Reunido. Apresentação de Iná Camargo Costa. São Paulo: Editora 34, 2023.

BRITTO, Geo. Augusto Boal e a Formação do Teatro do Oprimido. Rio de Janeiro/São Paulo: Mórula/Expressão Popular, 2024.

FREIRE, Paulo. Conscientização: Teoria e Prática da Libertação: Uma Introdução ao Pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.

HUGHES, Langston. The Political Plays of Langston Hughes. Carbondale: Southern Illinois University, 2000.

MALAQUIAS, Maria Célia (org.). Psicodrama e Relações Étnico-Raciais: Diálogos e Reflexões. São Paulo: Ágora, 2020.

MARTINS, Leda Maria. Performances do Tempo Espiralar, Poéticas do Corpo-Tela. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.

Martins, Leda Maria. A Cena em Sombras. 2. ed. revista. São Paulo: Perspectiva, 2024

MORENO, Jacob Levy. O Teatro da Espontaneidade. São Paulo: Ágora, 2012

NASCIMENTO, Abdias (org.). Dramas Para Negros e Prólogo Para Brancos. 2. ed. São Paulo: Temporal, 2024.

____. Teatro Experimental do Negro: Testemunhos. Rio de Janeiro: GRD, 1966.

NASCIMENTO, Elisa Larkin; GÁ, Luiz Carlos (orgs.). Adinkra: Sabedoria em Símbolos Africanos. 2. ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2022.

NASCIMENTO, Elisa Larkin. Abdias Nascimento. Brasília: Senado Federal, 2014. Coleção Grandes Vultos Que Honraram o Senado.

____. O Sortilégio da Cor: Identidade, Raça e Gênero no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2003.

OLIVEIRA, Jessé; LOPES, Vera (orgs.). Hamlet Sincrético em Busca de um Teatro Negro. Porto Alegre: Caixa Preta, 2019.

ROMÃO, Jeruse. Educação, Instrução e Alfabetização no Teatro Experimental do Negro.

História da Educação do Negro e Outras Histórias. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

Periódicos

Senado Federal. Thoth: Escriba dos Deuses, Pensamentos dos Povos Africanos e Afrodescendentes. Brasília: Gabinete do Senador Abdias Nascimento, 1997-1999. (Quadrimestral, sete números.) Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/ handle/id/502815>. Acesso em: jul. 2025.

OS ORGANIZADORES

ABDIAS NASCIMENTO

Professor emérito da Universidade do Estado de Nova York, teve uma longa folha de serviços à causa do negro no Brasil. Nascido em 1914, em Franca, São Paulo, faleceu no Rio de Janeiro, em maio de 2011

Na década de 1930, participou da Frente Negra Brasileira e, em 1942, criou o Teatro do Sentenciado na Penitenciária do Carandiru, onde cumpria pena em decorrência de sua resistência contra o racismo. No Rio de Janeiro, fundou, em 1944, o Teatro Experimental do Negro – ten, entidade que rompeu a barreira racial no teatro brasileiro, e publicou o jornal Quilombo, além de organizar eventos seminais como o i Congresso do Negro Brasileiro (1950), o concurso de arte sobre o tema do Cristo Negro (1955), e a Convenção Nacional do Negro (1945-1946), que propôs à Assembleia Nacional Constituinte de 1946 um elenco de políticas públicas voltadas às necessidades dos afrodescendentes.

Após inaugurar, em 1968, o Museu de Arte Negra, lecionou nas universidades Yale, Wesleyan, Temple e do Estado de Nova York (eua) e na Universidade de Ifé (Nigéria). Participou de importantes congressos e encontros do mundo africano, levando ao âmbito internacional a, então inédita, denúncia do racismo no Brasil. Desenvolveu extensa obra artística sobre temas da cultura de tradição africana no Brasil e no mundo e realizou exposições em museus, galerias e universidades estadunidenses. De volta ao Brasil, criou, com Elisa Larkin Nascimento, em 1981, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), que realizou o III Congresso de Cultura Negra das Américas (1982). Participou da fundação do Movimento Negro Unificado (1978) e do Memorial Zumbi (1980).

Como deputado federal (pdt-rj,1983-1986), apresentou os primeiros projetos de lei propondo políticas públicas de ação antirracista voltadas para a população afrodescendente. Foi senador da República (pdt-rj, 1991, 1997-1999) e titular fundador de duas secretarias de governo do Estado do Rio de Janeiro: a Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações AfroBrasileiras (Seafro; 1991-1994) e a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania (1999).

Artista visual de destaque, realizou exposições individuais de sua obra no Palácio de Cultura Gustavo Capanema (1988), no Salão Negro do Congresso Nacional (1997) e na Galeria Debret (Paris, 1998), Itaú Cultural (2016), Museu de Arte Contemporânea de Niterói (2019), Museu de Arte de São Paulo – Masp (2022), Instituto Inhotim (2021-2024).

Escreveu, entre outros títulos, Sortilégio (1959/1979; reedição Perspectiva, 2022), Dramas Para Negros e Prólogo Para Brancos (1961), O Negro Revoltado (1968/1982), O Genocídio do Negro Brasileiro (1978; reedição Perspectiva, 2016), Sitiado em Lagos (1981, reedição Perspectiva, 2024), Axés do Sangue e da Esperança (1983), Orixás: Os Deuses Vivos da África (1995), O Brasil na Mira do Pan-Africanismo (2002) e O Quilombismo: Documentos de Uma Militância PanAfricanista (2002, reedição Perspectiva, 2019).

ELISA LARKIN NASCIMENTO

Possui graduação, mestrado e juris doctor cum laude pela Universidade do Estado de Nova York (1976, 1978 e 1981) e doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (2000). Atualmente dirige o Ipeafro – Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros. Como diretora do Ipeafro ela idealizou e organizou os fóruns

Educação Afirmativa Sankofa de 1991, 1993, 2007, 2010, 2011 e 2012, bem como o curso

Sankofa: Conscientização da Cultura Afro-Brasileira, realizado na Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo (PUC-SP) e na Universidade do Estado do Rio de Janeiro no período de 1984 a 1995. Entre suas publicações, destacam-se Pan-Africanismo na América do Sul (Vozes, 1981; Perspectiva, 2025) e Abdias Nascimento: A Luta na Política (Perspectiva, 2021). Realizou a curadoria da megaexposição Abdias Nascimento Memória Viva (Rio de Janeiro; Brasília; Salvador, 2004-2006) e da exposição África-Brasil: Ancestralidade e Expressões Contemporâneas (Rio de Janeiro, 2011). Participou da curadoria do projeto Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra (Instituto Inhotim, 2021-2024).

JESSÉ OLIVEIRA

Mestre em Artes Cênicas, especialista em Teoria do Teatro Contemporâneo e formado em Direção Teatral pelo Departamento de Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ufrgs). Foi coordenador de Artes Cênicas da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, diretor do Instituto Estadual de Artes Cênicas do Rio Grande do Sul (Ieacen; 2020-2021), do Teatro de Arena de Porto Alegre (2020-2021) e da Casa de Cultura Mario Quintana (20162020). Recebeu em 2007 o prêmio Florêncio de Melhor Espetáculo Estrangeiro, pela Associação de Críticos do Uruguai, com Hamlet Sincrético. É professor e foi coordenador do Curso de Tecnologia em Produção Cênica, na Faculdade Monteiro Lobato (Fato) e ministrou a disciplina de Técnica Teatral, na Pós-Graduação da Universidade de Caxias do Sul (ucs). À frente do grupo Caixa-Preta desde sua criação, dirigiu, entre outros, os espetáculos Transegun (2003), Hamlet Sincrético (2005), Madrugada, me Proteja (2006), Antígona br (2008), O Osso de Mor Lam (2009) e Ori Orestéia (2015). É o idealizador e curador do Encontro de Arte de Matriz Africana e editor geral da revista Matriz

Este livro foi impresso na cidade de São Bernardo do Campo, nas oficinas da Paym Gráfica e Editora, em outubro de 2025, para a Editora Perspectiva e as Edições Sesc São Paulo.

O TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO (TEN), criado por Abdias Nascimento, foi um projeto revolucionário que utilizou o teatro como arma política e pedagógica para combater o racismo, promover a valorização da cultura negra e inserir a população afro-brasileira no panorama artístico e intelectual do país.

Muito mais do que um grupo de teatro, foi um movimento que articulou cultura, educação e militância para contestar o mito da democracia racial e abrir caminho para a luta por direitos e representatividade negra no Brasil.

Teatro Experimental do Negro: Testemunhos e Ressonâncias, organizado por Elisa Larkin Nascimento e Jessé Oliveira, vai além da simples reedição da obra original – editada por Abdias Nascimento para celebrar o 20o aniversário do grupo e reunindo a recepção crítica de grandes mestres do teatro brasileiro do século passado. Além de um ensaio com imagens do fotógrafo José Medeiros, esta nova edição apresenta re exões contemporâneas sobre a trajetória, a relevância e o legado vivo do Teatro Experimental do Negro, assinadas por importantes nomes das artes e da cultura brasileira atual.

Mais que uma homenagem aos oitenta anos da estreia do grupo, o que se busca com esta obra é destacar a contínua luta dos artistas negros brasileiros, no palco e na sociedade, por um país em que todos tenham o direito de brilhar e de ser protagonistas de sua própria história.

EDIÇÃO

COMEMORATIVA DOS 80 ANOS DO TEN

EDIÇÕES SESC SÃO PAULO

EDITORA PERSPECTIVA

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