FRENTE E VERSO

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FRENTE E

E R S O

Glauco Mattoso

FRENTE E VERSO

São Paulo

Casa de Ferreiro

Frente e verso

© Glauco Mattoso, 2025

Editoração, Diagramação e Revisão

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

Fotografia: Akira Nishimura

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Mattoso, Glauco

FRENTE E VERSO / Glauco Mattoso. –– Brasil : Casa de Ferreiro, 2025. 194 Páginas

1.Poesia Brasileira I. Título.

25-1293 CDD B869.1

Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia brasileira

NOTA INTRODUCTORIA

Adepto que sou da antithese e do paradoxo, reflicto taes contradicções e controversias em sonnettos que costumo rotular de “especulativos”, ja que se espelham em duettos, frequentemente sequenciaes na numeração catalographica. Tal procedimento, digamos, experimental, occorreu ja desde o inicio da primeira safra, em 1999, nos duettos “Optimista” / “Pessimista” ou “Revoltado” / “Conformista”, por exemplo, affora algum caso trilogico, como “Mettido” / “Pesado” / “Borrado”. Ja na nova safra, iniciada no undecimo milhar da catalogação, a occorrencia de duettos especulativos se concentra no decimo quarto milhar, objecto desta collectanea, com excepção de um unico caso trilogico: “Dobravel” / “Indobravel” / “Desdobravel”. Frequentemente a estructura formal/thematica é quasi identica nos dois lados da proposição, differindo appenas nos detalhes essenciaes. Outras considerações analyticas ficam a cargo da critica e dos leitores, a quem dedico minha incorrecção e minha incoherencia desde sempre.

SONNETTO DO LADO MAU DA RUA [13.148]

Eu, quando vou à rua, mais me traz tristeza, mais me dóe no coração a bosta que, em logar de vir ao chão, me pega na cabeça! Ah, pombas más!

Si estou accompanhado, o outro rapaz jamais será attingido. Por que não? Por causa dum azar. “Aos cegos são taes zicas naturaes!”, falla, mordaz.

Diz isso o rapazinho que me guia, pois acha até gozado quando um cego foi alvo das titicas pela via…

Nem mesmo si eu pisasse nalgum prego o guia de mim pena sentiria… Sim, esse é mais um fardo que carrego.

SONNETTO DO LADO BOM DA RUA [13.149]

Eu, quando vou à rua, mais me traz comforto, num soffrido coração, a voz dum basset hound. É que esse cão me faz sempre exquescer das coisas más.

Si estou accompanhado, o outro rapaz ja sabe: é p’ra parar. Faço questão de nelles dar ammassos. Taes cães são tão meigos! De beijal-o sou capaz…

Notou o rapazinho que me guia que eu gosto de bassês. Isso não nego. Não é que elle de todos ja desvia?

Fallou que foi mordido: “Só de cego aquelles salsichões gostam!” Não ia dar para accreditar… Que cruz carrego!

SONNETTO PERFUNCTORIO [13.333]

Por honra foi, da firma, que esse pau chupei, só como parte da roptina dum servo cujo trampo não termina tão cedo. Meu destino é mesmo mau.

Estou accostumado com o grau dos rispidos commandos, pois me ensigna a vida a aguentar essa dura signa de escravo que sustenta algum vagau.

O gajo não trabalha nem estuda. Appenas faz papel do gigolô que irruma a minha bocca, sempre muda.

Faz parte do serviço o mais pornô scenario. O gajo fode e diz: “Caluda!” E engulo, no papel de seu robô.

SONNETTO PEREMPTORIO [13.334]

Na marra foi -- Bem feito! -- que meu pau chupou elle. Faz parte da roptina, mas, ‘inda assim, alguem que determina preciso ser. Então eu banco o mau.

Ficou accostumado com o grau dos rispidos commandos, pois lhe ensigna a vida a aguentar essa dura signa de escravo que sustenta algum vagau.

Exacto: não trabalho nem estudo. Só faço o meu papel de gigolô que irruma aquella bocca. Sou marrudo.

Faz parte do serviço o mais pornô scenario. No boquette, empurro tudo. Exijo que elle seja meu robô.

SONNETTO SATISFACTORIO [13.336]

Agora, sim! Paresce que componho um optimo sonnetto, com eschema rhymatico perfeito, pondo o thema formal em scena. Nada de enfadonho…

Será que, emfim, verei meu velho sonho poetico ultimar-se? Esse problema maior ja superei, e com extrema pericia, até! Pois é, não me envergonho…

Será que meus leitores saberão que estive superando uma barreira difficil de transpor? Acho que não…

Que importa? Alguem que tente, caso queira, meus passos seguir! Tudo foi questão de exforço: um lenitivo na cegueira.

SONNETTO INSATISFACTORIO [13.337]

Será que deu? Será que, emfim, componho um optimo sonnetto, com eschema rhymatico perfeito, pondo o thema formal em scena? Nada de enfadonho?

Será que, emfim, verei meu velho sonho poetico ultimar-se? Esse problema maior nunca supero, nem que exprema ao maximo os miolos! Me envergonho…

Será que meus leitores saberão que sempre desejei essa barreira transpor? Alguem se importa? Acho que não…

Talvez nenhum poeta ainda queira meus passos seguir! Tudo foi questão de exforço, sempre inutil, na cegueira.

SONNETTO VOLUNTARIO [13.350]

Fiz tudo de proposito, Glaucão! Eu sempre me disponho, com total fervor, a promover a nacional cultura! Mais leitores surgirão!

Não quero que elles leiam o calão que escreves! Entendeste? Dou aval appenas aos auctores de moral mais alta, mais sem macula! A ti, não!

Farei o que puder para que, em breve, tenhamos a censura aqui de volta! A gente melhorar os livros deve!

Pedir aos direitistas vou que excolta me façam, menestrel! Sim, quem escreve que escreva coisas bellas! Sem revolta!

SONNETTO INVOLUNTARIO [13.351]

Fiz tudo de proposito, Glaucão! Eu sempre me disponho, com total fervor, a promover a nacional cultura! Mas não houve solução…

Não, elles ler só querem o calão que escreves! Entendeste? Dão aval appenas aos auctores sem moral nem ethica! Te seguem! A mim, não!

Fiz tudo o que podia, mas, em breve, censura nem teremos mais! Que pena! Emfim, o que é que a gente fazer deve?

A adjuda da direita foi pequena, ninguem se convenceu… Ja quem escreve só para assumptos chulos tem antenna!

SONNETTO REVOLUCIONARIO [13.383]

À noite, no local allojamento, pappeiam os recrutas sobre como jogar a culpa toda no mordomo no caso de gorar o movimento.

Mas, caso o golpe vingue, que tormento irão elles impor! Gommo por gommo, farão alguem que coma, como como, a merda que cagarem! Eu aguento?

Ah, como creativos elles são! Que sonhos! Os communas comerão cocô todos os dias, como rancho…

Tambem eu sonho, claro. Meu tesão consiste em lhes lamber, desd’o dedão até no calcanhar! Ah, me excarrancho!

SONNETTO REACCIONARIO [13.384]

Os jovens, no local allojamento, à noite só cochicham sobre sua idéa de governo. Não recua ninguem do mais careta movimento.

No pappo dos recrutas, tudo lento e tudo devagar muda, na rua, nos paços, nos quarteis. Quem substitua um lider tem que estar, à tropa, attento.

Não devem os governos concessão fazer aos progressistas de plantão, sinão a nação toda degringola…

Nas horas de lazer, quando o pezão puzerem para cyma, algum peão terá que lhes lamber a grossa sola…

SONNETTO SOLITARIO [13.385]

Não, Caio. Fico honrado, mas convite nenhum para taes pappos mais acceito. Só querem perguntar que tenho feito por tantas causas, querem que eu as cite…

Que eu falle de politica, palpite dê sobre militancia, sobre pleito local e nacional, sobre prefeito, governo, quem é povo ou é de elite…

Sou torpe e masochista. De incorrecto me chamam quando fallo sobre mim. Poeta sou. Assim eu me interpreto…

Não quero mais fallar de quem eu vim citando no passado. Fico quieto. Nos versos é que exbanjo o meu latim.

SONNETTO SOLIDARIO [13.386]

Não, Glauco! Não me eximo si convite me fazem e, qualquer que venha, acceito! Me querem perguntar que tenho feito por tantas causas? Querem que eu as cite?

Que eu falle de politica? Palpite dê sobre militancia, sobre pleito local e nacional, sobre prefeito, governo, quem é povo ou é de elite?

Sim, quero me expressar! Não fico quieto! Me chamem, e direi por que é que vim a tantos adjudando com affecto…

Sei como todo o clima ja ruim ficou, porem ao poncto vou directo: Masoca sempre fui. Simples assim…

SONNETTO DOBRAVEL [13.401]

Sonnetto, quando o faço, será obra que possa se dobrar ao meu desejo de impor experimentos. Neste ensejo, meu estro reaffirmo, pois, de sobra.

À dupla affirmação elle se dobra, agora que, na pagina, não vejo mais sua cara: chulo, usa, sem pejo, a lingua, mas, formal, um preço cobra.

Propuz desconstruir, em quantidade, o genero, porem a qualidade mantendo: um paradoxo ouso propor.

Mantive, em poezine, esta amizade possivel entre luxo ou chulo. Um ha de render-me immortal nome, é de suppor.

SONNETTO INDOBRAVEL [13.402]

Sonnetto, quando o fiz, sempre foi obra que nunca se dobrou ao meu desejo de impor experimentos. Neste ensejo, jamais confirmarei qualquer manobra.

À dupla affirmação nunca se dobra: Nem como obscenidade eu, cego, o vejo, nem como “ouro nativo” meu traquejo impede que se empregue, ‘inda, de sobra.

Propuz desconstruir, em quantidade, o genero, porem a qualidade mantendo: um paradoxo ousei propor.

Mantive, em tantos livros, a amizade possivel entre elite e povo? Um ha de render-me immortal nome? Hem? Que suppor?

SONNETTO DESDOBRAVEL [13.403]

Sonnetto será sempre infeliz obra. Excappa, vez por outra, ao meu desejo de impor certas verdades. Neste ensejo, observo que em vertentes se desdobra.

Versões e variantes tem de sobra. Nem sempre é pornographico, nem vejo que sempre se disponha ao malfazejo desejo de ser massa de manobra.

Propuz desconstruir, em quantidade, o genero, porem a qualidade mantendo: um paradoxo ousei propor.

Não tenho, sobre nada, a auctoridade em tantas releituras. Ninguem ha de negar que sou, porem, ainda auctor.

SONNETTO DEVASSAVEL [13.465]

Mulher sou, perdidissima, poeta. Só vivo debruçada na janella e evito perder tempo na panella. Vaidosa sendo, nunca paro quieta.

Devota de Satan sou. Nada veta desejos de exhibir-me. Mais revela as minhas bellezuras uma tela, alem do meu espelho, o mais estheta.

Por sexo jamais falta quem me venha pagar, pois virgindade não mantive e sempre precisei prostituir-me…

Roubaram ja, da minha compta, a senha, mas grana sobra a alguem que livre vive! Emquanto houver freguez, eu fico firme!

SONNETTO INDEVASSAVEL [13.466]

Mulher sou, discretissima, poeta. Não fico debruçada na janella nem passo o tempo todo na panella. Emfim, sou, sim, vaidosa, mas bem quieta.

Devota sou dos sanctos, o que veta desejos de exhibir-me. Só revela as minhas bellezuras uma tela, alem do meu espelho, o mais estheta.

De sexo nem por sombra alguem me venha fallar, poeta! Virgem me mantive e nunca precisei prostituir-me…

Jamais darei, da minha compta, a senha! Virtudes collecciona quem, só, vive! Somente minha fé me mantem firme…

SONNETTO DISCUTIVEL [13.477]

Glaucão, ha controversias! Ja fallei que pautas desse typo vão causar polemica! Teu franco linguajar accirra, Glauco, os animos, bem sei!

Um thema, si for lesbico, si gay, costuma piccuinhas suscitar!

Tu queres à celeuma dar um ar de esthetico debatte? Hem? Que direi?

Puzeste, dia desses, num poema palavras de sentido duvidoso, capazes de levar a algum dilemma…

De impasses taes não gosto, não, Mattoso, pois causam discussões dubias, de extrema discordia, sem espaço para gozo…

SONNETTO INDISCUTIVEL [13.478]

Glaucão, nem se discute! Ja fallei que pautas desse typo vão causar polemica! Teu franco linguajar accirra, Glauco, os animos, bem sei!

Um thema, si for lesbico, si gay, costuma piccuinhas suscitar!

Tu queres à cizania dar um ar de esthetico debatte? Hem? Que direi?

Não ponhas, não, poeta, num sonnetto taes themas controversos, pois teu verso suscita batteboccas nesse ghetto!

Um caso, quando sadico ou perverso, não passa no meu crivo! Não prometto teus livros commentar! Ja desconverso!

SONNETTO SENSIVEL [13.488]

Me toca, menestrel, qualquer dorzinha alheia! Accreditar tu não irias? Me tocam as alheias agonias, até mesmo uma dor mais comezinha!

Ainda mais a practica damninha de todos os politicos, dos guias e lideres de seitas, as vazias promessas, essa absurda ladainha!

Me tocam as agruras do povão, as victimas da guerra, alem de tanta doença que se expalha… Como não?

Tambem tu não te tocas? Não te expanta a falta de empathia dos que estão por cyma, nos pisando na garganta?

SONNETTO INSENSIVEL [13.489]

Não sinto, menestrel, qualquer dorzinha alheia! Accreditar tu não irias?

Desdenho das alheias agonias, até mesmo da dor mais comezinha!

Nem ligo para a practica damninha de todos os politicos, dos guias e lideres de seitas, as vazias promessas, essa antiga ladainha!

Desdenho das agruras do povão, das victimas da guerra, alem de tanta doença que se expalha… À merda vão!

Tambem tu não desdenhas? Ah, te expanta a falta de empathia dos que estão por cyma, te pisando na garganta?

SONNETTO INACCEITAVEL [13.491]

Não posso conceber, Glauco, que meu mais perfido rival tenha pensado em ver-me de cocô todo borrado por elle, que meus troços ja comeu!

O cara andou fallando que lhe deu vontade de cagar e que, veado eu sendo, minha bocca, para aggrado seu, facil eu abria? Ah, não! Não eu!

Dum typo desse naipe eu não acceito siquer o commentario que elle fez accerca do que trago no meu peito!

Magina, Glauco! O cara foi, talvez, aquelle que mais odio, sem proveito, guardou! Cocô não como dum burguez!

SONNETTO INCONCEBIVEL [13.496]

Não posso conceber, Glauco, que teu mais perfido rival tenha pensado em ver-te de cocô todo borrado por elle, que meus troços ja comeu!

O cara andou fallando que lhe deu vontade de cagar e que, veado tu sendo, tua bocca, para aggrado seu, facil abririas? Quem cedeu?

Dum typo dessa laia acceitas tu o sujo commentario que elle fez accerca do que engoles do seu cu?

Magina, Glauco! O cara foi, talvez, aquelle que mais merda, sem tabu, pappou! Cocô não comas dum burguez!

SONNETTO DA ALIMENTAÇÃO SAUDAVEL [13.535]

Um mantra faço disto, Glauco: sou adepto só de fructas, hortaliças e grãos de cereaes! Tu não me attiças com tua gula! Bolla não te dou!

Dos ultraprocessados eu estou bem longe! Mas não basta das linguiças fugir: prohibir quero, nas justiças e foros, qualquer venda, qualquer show!

Não quero que ninguem ache gostoso comer coisas gostosas, ter prazer comendo, ter tal ecstase, tal gozo!

Confesso: sou do contra! Algum poder almejo, si impotente sou, Mattoso! Somente no nazismo quero crer!

SONNETTO DA ACTIVIDADE PHYSICA [13.536]

Um mantra faço disto, Glauco: sou adepto de exercicios, de corridas, de esportes, de suor em nossas vidas! Preguiça allegas! Bolla não te dou!

Poltronas e sofás? Delles estou bem longe! Mas não basta de exhibidas acções fallar! Da minha fé duvidas? Almejo leis, alem de mero show!

Não quero que ninguem ache gostoso ficar se expreguiçando, ter prazer morgando, ter tal ecstase, tal gozo!

Confesso: sou do contra! Algum poder almejo, si impotente sou, Mattoso! Somente no nazismo quero crer!

SONNETTO DO BALLÃO [13.539]

Ouvi fallar da queda dum ballão. Appenas mais um. Disso, só, se falla. Fallei ja muitas vezes dessa valla commum, desse turismo de estação.

Hem? Querem adventura? De emoção estão necessitados? Quem escala, quem voa, quem se joga, quem inhala, quem, joven, se mutila… À merda vão!

Quem gosta de perigo, quem procura só sarna para achar coceira, a mim, é tudo gente egual: cabeça dura.

Si ir querem ao encontro de seu fim, problema delles. Basta-me em escura jornada caminhar. Simples assim.

SONNETTO DO BALLONISMO [13.958]

Ouvi fallar. Cahiu mais um ballão. Appenas mais um. Isso se commenta. Fallei ja muitas vezes da azarenta mania, do turismo de estação.

Hem? Querem adventura? De emoção precisam? La nos ares muito venta? Quem voa, quem escala, quem aguenta perigo similar? À merda vão!

Quem curte ballonismo, quem procura só sarna para achar coceira, a mim, é tudo gente egual: cabeça dura.

Si ir querem ao encontro de seu fim, problema delles. Basta-me em escura jornada caminhar. Simples assim.

SONNETTO DA ENGENHARIA [13.551]

O predio tem que estar bem construido, sob calculos exactos, pois, sinão, visiveis os defeitos estarão e, em pouco, o casarão terá ruido.

No ouvido um verso mau terá ruido extranho si, dysrhythmicos, estão visiveis os seus pés quebrados: tão inutil quanto um quadro sem sentido.

Serei constructivista sempre, mas espaço deixarei ao fluxo duma palavra que me saia assim: zaz traz!

Sonnettos, um por um a penna appruma e, junctos, erguerão obra que faz, alem de effeitos solidos, espuma.

SONNETTO DA ARCHITECTURA [13.552]

O predio tem que estar bem projectado, em typicos estylos, pois, sinão, aquelle patrimonio, com razão, ja perde seu historico legado.

Compor sonnettos causa resultado analogo, pois todos estarão notando si, de facto, o casarão faz jus ao tombamento desejado.

Serei constructivista sempre, mas espaço deixarei ao traço dum desenho ornamental, sacana assaz.

Apprumam-se sonnettos, um por um, e, junctos, erguerão obra que faz historia pelo porte, eis que incommum.

SONNETTO DA EXHORTAÇÃO (1)

[13.553]

Vos peço, vos imploro, vos supplico, agora que estaes quasi que vos indo, que, emfim, tenhaes destino leve e lindo, ou seja, aquelle bom e velho mico.

À merda podeis ir, que feliz fico. Comtudo, tambem acho mui bemvindo que em vosso rabo va se introduzindo um penis cuja pelle faça bicco.

Sim, antes de tomardes no cu, vós podeis chupar, do bicco de chaleira, aquillo que sabemos todos nós.

Gostaes de queijo? Caso o gajo queira, que tal beberdes mijo? Vossa voz poetica, assim, soa, fede e cheira…

SONNETTO DA EXHORTAÇÃO (2) [13.554]

Te peço, sim, te imploro, te supplico, agora que estás tu te foder indo, que, emfim, esse destino leve e lindo tu cumpras sem que faças nenhum bicco.

À merda podes ir, que feliz fico. Comtudo, tambem acho mui bemvindo que nesse rabo va se introduzindo um penis que de esmegma seja rico.

Sim, antes de tomares no cu, tu chupar irás, do bicco de chaleira, alem do queijo, um jacto de sagu.

Urina curtes? Caso o gajo queira, uns goles tomarás. Nenhum tabu impede essa assertiva bebedeira.

SONNETTO DA FUNILARIA [13.601]

Alguem, num diccionario contrastivo, achou “funilaria”, que seria egual à “lanternagem” e teria, em terras paulistanas, bom motivo.

Meu carro, quando o batto, não me exquivo de entrar em officina que, na via, conserte poesia. Se annuncia que tudo tem remedio ou curativo.

Aqui, quando um poema ammassadinho ficou, a gente logo o desammassa, repincta, arrhuma tudo com carinho.

Não ha bom motorista que não faça alguma barbeiragem. Rapidinho, comtudo, o meu carrinho volta à praça.

SONNETTO DA LANTERNAGEM [13.602]

Alguem, num diccionario contrastivo, achou que é “lanternagem”, mas seria o mesmo que dizer “funilaria” em terras paulistanas. Bom motivo.

Meu carro, quando o batto, não me exquivo de entrar em officina que, na via, conserte poesia. Se annuncia que tudo tem remedio ou curativo.

Aqui, quando um poema ammassadinho ficou, a gente logo o desammassa, repincta, arrhuma tudo com carinho.

Não ha bom motorista que não faça alguma barbeiragem. Rapidinho, comtudo, o meu carrinho volta à praça.

SONNETTO DO MACHISMO [13.676]

Não, Glauco, pé pequeno num rapaz eu acho uma vergonha! Só veado deseja numerar o seu calçado tal como uma mulher! Papellão faz!

Um homem pés precisa ter assaz compridos, largos, que eu jamais me enfado de, em versos, exaltar! Por outro lado, precisa ter chulé, gastar o gaz!

Concordas, Glau, commigo? Uma mulher acceito que pezinho tenha, ao jeito dalguma Cinderella, si quizer!

Um macho, não! Só machos eu acceito dotados de pezões, ja que mester eu tenho de podolatra no leito!

SONNETTO DO FEMINISMO [13.677]

Mulher de pés enormes eu jamais acceito, menestrel! A mulher bella precisa apparentar que é Cinderella, não pode ter uns pés descommunaes!

Ainda que chorando muitos ais, usar irá sapatos de fivella finissima, famosos na favella, com saltos agulhados, sensuaes!

Não quero nem saber si essa menina um numero maior necessitava!

Exijo della a forma pequenina!

Machona sou e irei buscar escrava que nunca a mim egual, pois, se imagina! Sinão, nas tamanconas subo, brava!

SONNETTO DO OPTIMISMO [13.697]

Ah, porra, menestrel! O teu astral está mesmo baixissimo! Precisas tu, Glauco, de influencias mais precisas das boas vibrações, longe do Mal!

Precisas crer no Bem, cara! Affinal, não somos optimistas? Si tu visas ainda apparescer nessas pesquisas da midia, mostra a cara no jornal!

De visibilidade todo bardo moderno necessita, Glauco, porra! Ainda tu serás um felizardo!

Hem? Vamos! Pensa grande! Quem concorra comtigo não surgiu! Nenhum bastardo sahido de Sodoma, nem Gomorrha!

SONNETTO DO PESSIMISMO [13.698]

Ah, porra, menestrel! O teu astral está mesmo baixissimo! Não vejo sahida! Approveitando o breve ensejo, notei que tu te sentes muito mal…

Estavas ‘inda bem, mas, affinal, és, claro, um pessimista! Ah, te desejo mais sorte, embora saiba que festejo nenhum celebrarás no carnaval…

De visibilidade todo bardo moderno necessita, Glauco, porra! Mas não te considero um felizardo…

És mesmo um invisivel! Quem concorra comtigo tem mais chances que um bastardo incelebre e invidente, nesta zorra!

SONNETTO DO PERTURBACIONISMO [13.701]

Armamos bafafás e rififis appenas porque somos, nós, poetas e estamos a gozar, ja que te affectas, da tua seriedade, pois não ris.

Armamos bafafás, como se diz, ou seja, confusões, pois nossas metas satyricas, que mesmo tu não vetas, attingem qualquer um nestes Brazis.

Ninguem excappará do humor ferino que sabem os poetas explorar no campo do sonnetto fescennino.

Aqui qualquer humor terá logar, correcto ou incorrecto, pois previno que irei, nos meus sonnettos, excrachar.

SONNETTO DO RIFIFISMO [13.702]

Armamos rififis e bafafás por sermos nós, poetas, humoristas e, como dos caretas tu não distas, serás motte das nossas linguas más.

De tantos papellões foste capaz, que temos em mãos varias dessas listas de escandalos e gaffes. Quaes sarristas não querem compor glosas? Razões dás!

Que importa si censura propuzeste a todos os artisticos scenarios? Nós somos mais maleficos que a peste…

Dás sempre esses fiascos mais hilarios e queres que ninguem teus shows conteste de tantos golpes baixos arbitrarios?

SONNETTO DO SAPPHISMO [13.706]

Glaucão, eu, quando vejo gente juncta ja fico ouriçadão! Si for mulher, mais ‘inda me interessa algum affair com ellas! Hem, Glaucão? Por que pergunta?

Si forem poetizas? Ora, assumpta alguem que possam ter certo mester de lesbicas? Ah, pense quem quizer! Me importa aquella practica conjuncta!

Si estão appenas lendo poesia, nem tanto me estimulam, mas si estão brincando de bacchantes, eu queria…

Um dia me junctei com ellas… Não foi facil! Me enrabaram -- Quem diria? -com dildos gigantescos! Que tesão!

SONNETTO DO LESBIANISMO [13.880]

Glaucão, eu, quando vejo mulher juncta ja fico ouriçadão! Si mais mulher chegar, mais me interessa algum affair com ellas! Hem, Glaucão? Por que pergunta?

Si forem meio brutas? Ora, assumpta alguem que possam ter certo mester de lesbicas? Ah, pense quem quizer! Me importa aquella practica conjuncta!

Si estão appenas lendo putaria, nem tanto me estimulam, mas si estão brincando de bacchantes, eu queria…

Um dia me junctei com ellas… Não foi facil! Me enrabaram -- Quem diria? -com dildos gigantescos! Que tesão!

SONNETTO DO MISONEISMO [13.742]

Odeio novidades, Glauco! Não tolero orthographia nova, nem reformas na grammatica! Ninguem me impõe taes coisas! Fora de questão!

Meus discos de vinyl e meu rockão jamais irão cahir de moda! Alguem crê nisso? Minha compta ainda tem um saldo de vintem ou de tostão!

À machina battendo vou a minha rhymada poesia! Manuscripta é sempre minha charta, linha a linha!

Não gosto de republica! Accredita? Prefiro monarchia! A chochotinha ainda, ao meu tesão, é favorita!

SONNETTO DO PHILONEISMO [13.764]

Adoro novidades, trovador! Fan sou de innovações, não só nas artes! Nas technicas tambem, sim! Tu não partes do mesmo poncto? Não és a favor?

Vanguardas são beneficas! Quem for de historicas pesquisas fan, por partes irá notar que, caso tu deschartes antigas tradições, és ganhador!

Poeta, as velharias para nada nos servem! O sonnetto, por exemplo: Insistes nessa formula antiquada!

Eu, sempre que em teus versos me contemplo, constato que estou certo! Velharada só mesmo entre fanaticos dum templo!

SONNETTO DO MONOTHEISMO [13.743]

Vontades monocraticas, Glaucão, não levam a bom termo coisa alguma! Hem? Veja, no Supremo, quem arrhuma tamanhas controversias! Hem? Então!

Tambem os autocratas confusão arrhumam a valer, e quem assuma, depois, não apparesce! Quem na bruma se esconde mais governa tudo! Ou não?

Por isso sou satanico devoto! Um unico Senhor, que em tudo manda, accaba se excedendo! Fé não boto!

Ainda que Satan demais expanda seus sadicos poderes, o que eu noto é mesmo uma augmentada propaganda!

SONNETTO DO POLYTHEISMO [13.878]

Vontades monocraticas, meu caro, não levam a bom termo coisa alguma! Hem? Veja, no Supremo, quem arrhuma tamanhas controversias! Ficou claro?

Tambem os autocratas, não é raro, arrhumam confusão, e quem assuma, depois, não apparesce! Quem na bruma se esconde mais governa, mais tem faro!

Por isso sou, de innumeros, devoto! Um unico Senhor, que em tudo manda, accaba se excedendo! Fé não boto!

Ainda que Satan demais expanda seus sadicos poderes, o que eu noto é mesmo uma augmentada propaganda!

SONNETTO DO BOMMOCISMO [13.751]

Sou mesmo um bom actor, Glaucão! Por isso eu posso parescer bem comportado, gentil, cavalheiresco… Mas cuidado! É tudo fingimento! Sou postiço!

Na practica, jamais eu desperdiço as chances de zoar dum alleijado, dum cego ou dum otario retardado! Ahi que eu, sem reservas, me encarniço!

Em publico si estou, bem escoteiro me faço, dou adjuda a quem precisa… Mas, quando um refem tenho em captiveiro…

Nem queira ser submisso meu, à guisa de escravo, sequestrado ou prisioneiro! Pergunte para aquella poetiza!

SONNETTO DO MAUMENINISMO [13.752]

Sou mesmo um mau menino, trovador! Por isso, sem reserva, assumo tudo que faço! O bommocismo, como escudo, jamais usei! Cruel sou? Só si for!

Nymphetas descabaço, é de suppor! Às thias poso mesmo de marrudo! Veados escravizo! Outros, illudo, fingindo ser carente e soffredor!

No caso dos ceguinhos gays, não tenho escrupulo nenhum! Os faço, sem perdão, beber urina! Ahi, me venho!

Depois de ser mijado, o cego tem de engasgos supportar! Sim, sou ferrenho nas artes de irrumar! Hem? Quer tambem?

SONNETTO DO CATACLYSMO [13.755]

Catastrophes normaes, agora, são, poeta! A toda hora algum evento extremo nos assola! Quando o vento augmenta, ja prevejo um furacão!

Cyclones e tornados não estão rollando com frequencia? Ah, ja nem tento taes pragas entender, e só lamento que morra tanta gente, de roldão!

Um dia, noticiam terremoto! Num outro, que será calamidade o proximo verão, é o que eu ja noto…

A cada cheia, a lama tudo invade! Por toda parte incendios vi na photo! Assim não ha Satan que não se enfade!

SONNETTO DO CATASTROPHISMO [13.885]

Catastrophes normaes, agora, são, poeta! A toda hora alguma guerra abballa algum paiz! A nossa Terra paresce não ter, mesmo, salvação!

Humanos seres, Glauco, não estão mais aptos a viver aqui! Não erra quem disse que, na proxima, se encerra a vida no planeta! Ah, meu irmão!

Um dia, só barattas vão, talvez, aqui sobreviver, depois que exploda a bomba de hydrogenio, ou coisa assim…

Ja vimos o desastre japonez, mas coisa peor temo! Que se foda o ratto, o fungo, o virus, o cupim!

SONNETTO DO ETHYLISMO [13.761]

Sou bebado, Glaucão, sou beberrão! O mundo me condemna, mas, no fundo, me inveja, pois vantagem levo! Fundo meu proprio clube! E então? Me dás razão?

Quem bebe é franco! Vem do coração aquillo que diz, mesmo si iracundo! Meu Clube dos Bebuns, nisso redundo, congrega quem não finge! Pão é pão!

E queijo sempre é queijo! Ja dizia o Loudon que é mais facil ser sincero si estou de porre! Mas ninguem confia…

Um dia, alguem justiça fará, quero crer nisso! Si me encontram, pela via cahido, hoje ninguem crê no meu lero…

SONNETTO DO ALCOHOLISMO [13.873]

Sou bebado, Mattoso, sou bebum! O mundo me condemna, mas, no fundo, me inveja, pois vantagem levo! Fundo meu proprio clube! E então? Problema algum?

Quem bebe é franco, um facto mui commum! Sem pappas falla, mesmo si iracundo! Meu Clube dos Bebuns, nisso redundo, congrega quem não finge! Pum é pum!

E peido sempre é peido! Ja dizia o Loudon que é mais facil ser sincero si estou de porre! Mas ninguem confia…

Um dia, alguem justiça fará, quero crer nisso! Si me encontram, pela via cahido, hoje ninguem crê no meu lero…

SONNETTO DO BUDDHISMO [13.765]

Na monada me inspiro, Glauco! Tudo na vida seu contrario, colladinho, terá, que bem se encaixa! No caminho, eu olho para os lados! Não me illudo!

Às vezes sou loquaz, às vezes mudo!

Nem sempre generoso, nem mesquinho!

Uns tracto mal, mas outros com carinho! Si der, mantenho o rhumo; si não, mudo!

Exsiste esse equilibrio, Glauco! Cada ceguinho serve para que quem vê se sinta compensado na jornada…

Disseram que buddhista sou: você dirá si me engannei, mas não ha nada melhor que indefinir-me, caso dê…

SONNETTO DO DUALISMO [13.992]

Na monada me inspiro, Glauco! Nada na vida, tendo o opposto, colladinho, me falta accreditar que, no caminho, bifurque, de surpresa, a caminhada!

Um bardo ora se cala, às vezes brada!

Nem sempre é generoso, nem mesquinho! Uns tracta mal, mas outros com carinho! Das mãos, egual porção não cabe em cada!

Exsiste esse equilibrio, Glauco! Todo ceguinho serve para que quem vê se sinta mais feliz! Eu não me fodo!

Disseram que buddhista sou: você dirá si foi errado o meu appodo! Será? De dualista tenho um quê…

SONNETTO DO GARANTISMO [13.769]

Não, Glauco! Nós, aqui no tribunal, julgamos com o codigo na mão! Ninguem é condemnado de antemão! Direitos todos temos, affinal!

Appenas si exgottado um arsenal de embargos e recursos é que, então, alguem sentenciamos, porem não a penas muito longas, por signal!

Politico nenhum, Mattoso, tem a culpa tão provada que não possa livrar-se da cadeia, veja bem!

De minha parte, evito que, na nossa suprema corte possa haver alguem querendo castigar quem tem voz grossa!

SONNETTO DO PUNITIVISMO [13.770]

Não, Glauco! Nós, aqui no tribunal, julgamos com o codigo na mão!

Cannetas duras temos que ter! Não podemos de fraqueza dar signal!

Ainda que empregado um arsenal de embargos e recursos, punição darei, firme e severa, meu irmão! Ser justos precisamos, affinal!

Politico nenhum, Mattoso, tem tal cara de innocente que não possa cumprir pesada pena, veja bem!

De minha parte, evito que, na nossa suprema corte possa haver alguem querendo se livrar por ter voz grossa!

SONNETTO DO PROXENETISMO [13.789]

Glaucão, nos lupanares sou a tal! Disseram que serei eu proxeneta! Magina! Appenas faço da boceta alheia meu negocio official!

Controlo toda a zona aqui, por mal ou mesmo por consenso! Quem se metta commigo vae parar numa gaveta, num sacco ou num baldio mattagal!

Mas vamos combinar! Você não quer commigo trabalhar? Os cegos são perfeitos chupadores! Si quizer…

Lhe pago uma abbonada commissão! Assim você effectiva seu mester! De quebra, satisfaz o seu tesão!

SONNETTO DO RUFFIANISMO [13.790]

Glaucão, nos lupanares sou o tal! Disseram que serei um ruffião!

Magina! Appenas faço do tesão alheio meu negocio official!

Controlo toda a zona aqui, por mal ou mesmo por consenso! Ninguem tão valente é que me encare, pois, sinão, presuncto vae virar num mattagal!

Mas vamos combinar! Você não topa commigo trabalhar? Os cegos são perfeitos chupadores para a tropa!

Lhe pago uma abbonada commissão! Assim você não mofa, nem se dopa com tantos analgesicos, Glaucão!

SONNETTO DO ARRIVISMO [13.793]

Cahiu de paraquedas, esse filho da puta, mas ja chega aqui chegando, pensando que se empossa no commando de tudo, sem pudor nem empecilho!

Ah, perto desse encosto, si eu me pilho, não sei si me controlo, não, e quando ninguem espera, vae que estou mactando o gajo, que só pensa no seu brilho!

Não posso tolerar que quem não era ninguem ja se pretenda ter logar, não mais que de repente, na gallera!

Aqui, quem quer ser lider tem que estar sciente de que alcança quem espera, e não quem se elegeu parlamentar!

SONNETTO DO PARAQUEDISMO [13.867]

Cahiu de paraquedas, esse escroto da porra, mas ja chega aqui chegando, pensando que se empossa no commando de tudo, no papel do bom garoto!

Ah, perto desse filho do Canhoto, não sei si me controlo, não, e quando ninguem espera, vae que estou mactando aquelle verme, especime de exgotto!

Não posso tolerar que quem não é ninguem logo pretenda desfructar, não mais que de repente, do filé!

Aqui, quem quer ser lider tem que estar sciente de que reza quem tem fé, e não quem tem patente militar!

SONNETTO DO PACIFISMO [13.797]

Nobel da paz? Pretendo, sim, ganhar o premio, mas preciso fingir bem! Primeiro, eu bombardeio! De refem o povo todo faço do logar!

De fome irei fazel-o, sim, penar, até que, emfim, se renda! Que ninguem me venha contestar! Irei, tambem, posar de bemfeitor do bemestar!

É simples! Eu prometto que melhoro a vida de quem venha, no final, a ser sobrevivente, e commemoro!

Me faço um pacifista sem egual e posso receber, de cada foro, o reconhescimento! Ouviu? Que tal?

SONNETTO DO BELLICISMO [13.798]

Nobel da paz? Não quero, não, ganhar o premio, Nem pretendo fingir, hem? Eu cerco, eu bombardeio! De refem o povo todo faço do logar!

De fome irei fazel-o, sim, penar, até que, emfim, se renda! Que ninguem me venha contestar! Irei, tambem, gozar ao ver que venham rastejar!

É simples! Eu prometto que peoro a vida de quem venha, no final, a ser sobrevivente, e commemoro!

Me faço um bellicista sem egual e posso recusar, de cada foro, qualquer appello! Ouviu, Glaucão? Que tal?

SONNETTO DO RECLAMACIONISMO

[13.801]

Si eu choro, vão dizer que é mimimi! Me queixo, ja dirão que é nhenhenhem! Assim não é possivel! Mais ninguem me entende, menestrel! E quanto a ti?

Me entendes tu, Glaucão? Sim, sou, aqui, aquelle que mais chia, que mais tem noção de que estão sendo todos, sem pudor, uns phariseus! Ja percebi!

Sim, cada qual affunda no peccado, mas, quando o dedo apponcto, dizem que eu attiro pedras para todo lado!

Virei um reclamão, Glaucão! Venceu quem acha que é tractado como gado que irei me envaidescer de ser plebeu!

SONNETTO DO COMPLICACIONISMO

[13.901]

Si eu choro, vão dizer que é chororô! Si eu grito, ja dirão que é sururu! Assim não é possivel! É tabu a gente protestar, agora, pô?

Me entendes tu, Glaucão? Não sou robô! Sou desses que reclamam, pois no cu estou sempre tomando! Mas e tu? Teu ecstase ‘inda accusam de pornô?

Sim, cada qual affunda no peccado, mas, quando o dedo apponcto, dizem que eu attiro pedras para todo lado!

Virei um reclamão, Glaucão! Venceu quem acha que eu complico o resultado até de dominó num bar plebeu!

SONNETTO DO CONSERVADORISMO [13.807]

Serei conservador? Orthographia antiga adopto, mas… sou transgressor das normas moralistas em vigor. Saudoso sou… da velha putaria.

Censura até tolero… Quem diria?

Comtudo, uma resalva faço, por dever do officio: quero ser auctor pornô com toda a altiva rebeldia.

Defendo monarchias, mas sem ar daquella absolutista. Me interessa appenas a versão parlamentar.

Rechaço correcções do typo dessa politica actual, mas vou luctar, sim, pela liberdade que se expressa.

SONNETTO DO LIBERALISMO [13.893]

Serei um liberal? Orthographia antiga adopto, mas… sou transgressor das normas moralistas em vigor. Saudoso sou… da velha putaria.

Censura até tolero… Quem diria?

Comtudo, uma resalva faço, por dever do officio: quero ser auctor pornô com toda a altiva rebeldia.

Defendo uma republica, Glaucão, sem ranços puritanos. Me interessa appenas que tenhamos eleição.

Rechaço correcções do typo dessa politica actual, mas darei mão a toda liberdade que se expressa.

SONNETTO DO PATERNALISMO [13.814]

Preciso defender, como si filho meu fosse, esse menino do povão, que está desempregado! Ouviu, Glaucão? Não ache, no meu gesto, um empecilho!

Com elle si estiver, me desvencilho de todos os pudores! Vou, então, deixar, bem espontaneo, o meu tesão fluir, si elle engattilha seu gattilho!

Sim, poso de papae, quando me vem vontade de entregar o meu trazeiro àquelle que deixou de ser nenen…

Na mente dum rapaz bem brazileiro, quem tenha algum tostão, algum vintem, será pae adoptivo no puteiro…

SONNETTO DO MATERNALISMO [13.815]

Preciso defender, como si filha me fosse, essa menina do povão, que está desempregada! Viu, Glaucão? Não ache, no meu gesto, uma armadilha!

Com ella si estiver, meu olho brilha, ja livre dos pudores! Vou, então, deixar, toda, fluir minha paixão materna, que borbulha, que fervilha!

Sim, poso de mamãe, quando sou quem vê chance de entregar o seu amor àquella que nympheta a ser ja vem…

Na mente da menina, si ella for carente dum tostão e dum vintem, serei mãe social! É meu pendor…

SONNETTO DO SADISMO [13.817]

Eu, sendo um masochista, que é que espero dum sadico? Que evite ter carinho por mim e, em summa, tracte-me, excarninho, com toda a crueldade, sem mais lero.

Mas medo vem-me e, para ser sincero, espero que me poupe, e me encaminho ao acto desejando um servicinho prestar que seja leve, eis o que quero.

Na practica, ninguem quer dominar alguem que ja deseje escravizar-se. Bom mesmo será vel-o se inquietar…

De minha parte, immerso na catharse de, em scena, collocar-me em seu logar, desejo que elle queira, até, trocar-se…

SONNETTO DO MASOCHISMO [13.818]

Eu, tendo-me por sadico, que espero dum reles masochista? Que não possa meus actos supportar e que voz grossa não tenha, que não tente impor seu lero.

Vontade vem-me e, para ser sincero, espero ser sarcastico na troça que irei fazer, emquanto o pau me coça na sanha de fazer tudo o que quero.

Na practica, ninguem quer dominar alguem que ja deseje escravizar-se. Bom mesmo será vel-o se inquietar…

De minha parte, immerso na catharse de, em scena, collocar-me em seu logar, desejo que elle queira, até, trocar-se…

SONNETTO DO FATALISMO [13.823]

Não, Glauco! O meu azar está previsto ja desde que nasci! Não addeanta dizerem que livrar minha garganta eu posso duma foda! Longe disto!

Nem Buddha, nem Satan, nem Jesus Christo me salvam desse azar! Até me expanta que digam: si eu orasse para a Sancta, podia me salvar! Jamais! Desisto!

Orei -- Você bem sabe, Glauco! -- para meu proprio padroeiro, mas ouvi só risos e chacotas pela cara!

Ouvi que beberia até chichi, depois de, na garganta, levar vara! Bem fundo fui fodido por aqui…

SONNETTO DO CAYPORISMO [13.879]

Não, Glauco! O meu azar foi decidido ja desde que nasci! Não addeanta dizerem que livrar minha garganta eu posso duma foda! Não decido!

Nem mesmo Jesus Christo, compungido, me salva desse azar! Até me expanta que digam: si eu orasse para a Sancta, podia me salvar! Jamais! Duvido!

Orei -- Você bem sabe, Glauco! -- para meu proprio padroeiro, mas ouvi só risos e chacotas pela cara!

Ouvi que beberia até chichi, depois de, na garganta, levar vara até do mais franzino travesti!

SONNETTO DO GOVERNISMO [13.839]

Não faço opposição! Sou, si preciso, capacho do governo, menestrel!

Achou muito humilhante esse papel?

Mas pense: é bem saudavel meu juizo!

A todos os collegas dei adviso:

Quem queira ao governismo ser fiel precisa fazer calculo! O quartel tambem entra naquillo que analyso!

Alem dos trez poderes, a nação depende dum appoio militar, sinão os communistas ganharão!

Por isso, uma missão parlamentar eu tenho: legislar com attenção a cada fatacaz desse manjar!

SONNETTO DO OPPOSICIONISMO [13.840]

Só faço opposição! Sou, si preciso, carrasco do governo, menestrel!

Achou muito arrogante esse papel?

Mas pense: é bem saudavel meu juizo!

A todos os collegas dei adviso:

Quem queira ao governismo ser fiel precisa fazer calculo! O quartel tambem entra naquillo que analyso!

Alem dos trez poderes, a nação não pode dum appoio militar mostrar-se dependente! É submissão!

Por isso, uma missão parlamentar eu tenho: legislar com maior mão da Casa ao fatiar esse manjar!

SONNETTO DO IMMASTURBACIONISMO [13.859]

Não gosto de punhetas, Glauco! Quero taes vicios evitar! Quero ser casto!

Com biblicas leituras eu me basto!

Livrar-me dos peccados é o que espero!

Duvida de mim, Glauco? Sou sincero!

Jamais o pau chupei do meu padrasto!

Com putas minha grana jamais gasto! Não sente, então, firmeza no meu lero?

Digamos que eu cedi, certa vez, ao peccado, que enrabado fui alguma vez pelo meu irmão, que chupei pau…

Mas nunca admittirei que elle me irruma, que está sendo, commigo, muito mau, que, em sonho, seu escravo sou, em summa…

SONNETTO DO IMMETTECIONISMO [13.860]

Não gosto de irrumar ninguem, Glau! Quero taes vicios evitar! Quero ser casto!

Com biblicas leituras eu me basto!

Livrar-me dos peccados é o que espero!

Duvida de mim, Glauco? Sou sincero! Jamais eu irrumei o meu padrasto! Foder boccas é vicio mui nefasto! Não sente, então, firmeza no meu lero?

Digamos que eu pedi, certa vez, ao meu primo, que me fosse escravo, numa sessão de chupação, que fui bem mau…

Bah, posso confessar: sou quem irruma meus primos, meus irmãos! Sim, metto o pau garganta addentro delles, Glau, em summa!

SONNETTO DO PRESIDENCIALISMO [13.863]

Então um presidente eleito tem poderes sem limites? Por decreto augmenta algum imposto? Um desaffecto seu pode entrar em canna, Glaucão? Hem?

Não barra seus delirios mais ninguem nas casas do Congresso? Ja de veto ninguem mais tem poder nesse selecto e illustre Parlamento? Chance sem?

Mas isso nem governo mais será que tenha democratica feição!

Paresce mais imperio, camará!

Ainda bem que está nossa nação distante de entrar nesse bafafá politico! Outros povos é que estão!

SONNETTO DO PARLAMENTARISMO [13.864]

Então um presidente eleito não terá poder nenhum? Nem por decreto augmenta algum imposto? Um desaffecto seu pode chanceller ser? Hem, Glaucão?

Não pode ter delirios, ser mandão? As casas do Congresso teem, de veto, poderes sem limites? É completo refem o presidente dum centrão?

Mas isso nem governo mais será que tenha democratica feição!

Paresce syndicato, camará!

Ainda bem que está nossa nação distante de entrar nesse bafafá politico! Outros povos é que estão!

SONNETTO DO VANGUARDISMO [13.886]

Estar à frente, sempre, trovador, é quasi que impossivel, pois a nossa linguagem não permitte que alguem possa palavras mesmo novas nos propor!

“Poema”, por exemplo… Um gozador dirá, talvez, “porrema”, mas tal bossa orgastica não colla! Mais engrossa quem quer ser, duns “texticulos”, auctor!

Poemas pornographicos até permittem certa dose de innovada escripta, mas nem dignos são de fé…

Na cama não se inventa, mesmo, nada! Alem de pau na chota, às vezes pé na bocca, ao vate, é thema de exporrada…

SONNETTO DO RETAGUARDISMO [13.967]

Estar à frente, sempre, trovador, é quasi que impossivel, pois a nossa linguagem não permitte que alguem possa palavras mesmo novas nos propor!

Agora, por exemplo, um gozador me disse que inventara nova bossa pornô nos seus poemas, mas faz troça accerca dos que sentem, no cu, dor!

Poemas pornographicos até permittem certa dose de innovada escripta, mas nem dignos são de fé…

Na cama não se inventa, mesmo, nada! Quem leva no trazeiro, sem dor, é appenas mentiroso, camarada!

SONNETTO DO ESQUEERDISMO [13.888]

Não pode fazer arte dirigida aquelle que “esqueerdista” se rotula! É claro que inexsiste qualquer bulla artistica na sua adulta vida!

Licção de casa faça quem duvida das proprias aptidões, pois fará nulla versão, de chapa branca! Capitula aos donos do poder! Se suicida!

Um vate exquisitão sou! Sem conflicto, mixturo um incorrecto thema com a lucta libertaria! Me permitto!

Nenhuma chartilhinha de bom tom politico me impede de “maldicto” ter rotulo ou “nariz” ter bem “marron”!

SONNETTO DO DIRIGISMO [13.889]

Só pode fazer arte dirigida aquelle que “engajado” se rotula! É claro que elle engole qualquer bulla artistica na sua aptada vida!

Licção de casa faça quem duvida das proprias aptidões, pois fará nulla versão, de chapa branca! Capitula aos donos do poder! Se suicida!

Sou vate independente! Não permitto que venham me dictar o que é que irei dizer, pois portavoz não sou dum “mytho”!

Talvez bobo da corte dalgum rei um dia me tornar eu possa! Cito Abu Nowás, que, livre, diz ser gay!

SONNETTO DO AUCTORITARISMO [13.899]

Nasci para mandar! Eu nada peço, ordeno que se faça do meu jeito! Não sendo do meu jeito, não acceito que digam termos ordem e progresso!

Glaucão, as consequencias eu não meço si chega a me tractar com desrespeito alguem que de encarar-me tenha peito! Mandão sou, com franqueza lhe confesso!

Si eleito for, garanto que imporei a todos os rivaes uma desforra jamais auctorizada, aqui, por lei!

Por isso todo mundo ja se borra de medo que eu me eleja, ja que rei pretendo ser, e eu sendo, o sangue jorra!

SONNETTO DO DESAUCTORITARISMO [13.900]

Nasci para mandar! Eu nada peço, ordeno que se faça do meu jeito!

Não sendo do meu jeito, não acceito que digam termos ordem e progresso!

Glaucão, as consequencias eu não meço si chega a me tractar com desrespeito alguem que de encarar-me tenha peito! Mandão sou, com franqueza lhe confesso!

Mas sabe qual problema mais affecta a minha auctoridade? É que ninguem mais quer obedescer-me, meu poeta!

Dou ordens, batto o pé, fallo que nem aquelle expertalhão que tinha a meta de entrar na grana, agora sem vintem!

SONNETTO DO ANTAGONISMO [13.902]

Preciso de inimigos! Si não faço, depressa, alguns rivaes novos, eu não sossego, menestrel! Tenho razão ou não? Eu a torcer não dou o braço!

Meu grande inimigão ganhou espaço na midia só porque reputação às minhas custas fez, ja que na mão do cara accabei feito de palhaço!

Na frente do povão aqui da rua, o gajo me batteu, jogou no chão, pisou na minha cara, sentou pua!

Depois de performar humilhação tamanha, quem é forte não recua! Terei que me vingar! Certo, Glaucão?

SONNETTO DO PROTAGONISMO [13.903]

Preciso de inimigos! Um ja fiz aqui na minha rua, pois ao chão joguei aquelle irado folgadão, pisei na cara delle, e estou feliz!

Meu grande inimigão luctar nem quiz! Deixou-se, então, pisar! Reputação ganhou de molleirão! Agora não terei mais com ninguem modos gentis!

Na frente do povão aqui da rua, o gajo se jogou aos meus pés, fez carinha de coitado! Sentei pua!

Fiz que elle rastejasse e que freguez ficasse desta sola, que na sua linguinha passeou! Não fui cortez!

SONNETTO DO ORALISMO [13.904]

Eu, quando ordens repito, dizer quero que estou, sim, no commando desta acção e exijo que esse estulto veadão engula a minha rolla! Sou severo!

Não gosto de gastar muito o meu lero, pois sei como os masocas todos são! Precisam de incentivo! Mas eu não dou trella aos meus escravos! Chance zero!

Não basta appenas ordens dar! Não peço favores de quem chupa! Na garganta do gajo fazer quero mais progresso!

Meu pau mais enduresce e mais levanta si entrar-lhe pela bocca, pois não meço centimetros! Que meça quem se expanta!

SONNETTO DO POSITIVISMO [13.905]

Eu, quando ordens repito, dizer quero que estou, sim, no commando desta acção e exijo desse estulto cidadão que lamba as minhas botas! Sou severo!

Não gosto de gastar muito o meu lero, pois sei como os communas todos são! Precisam de incentivo! Mas eu não dou trella aos meus escravos! Chance zero!

Não basta appenas ordens dar! Não peço favores de quem lambe! Na carinha do gajo fazer quero mais progresso!

Mais piso, meu pezão mais expezinha si em sua lingua passa, pois não meço o peso do pisão, si elle engattinha!

SONNETTO DO MILITARISMO [13.906]

Onde é que a gente apprende a rastejar melhor, a lamber botas? Hem, Glaucão? É claro: no serviço militar! Alli disciplinados todos são!

Eu proprio respondi por meu quinhão de heroica lambeção naquelle par enorme de cothurnos! Que licção de vida! Que emoção! Foi exemplar!

Ainda me recordo do sargento que fora, no quartel, meu instructor! Me lembro do cothurno poeirento!

Ah, como o lambi! Como seu sabor senti quando o lustrei! Ah, que momento! Ah, sobre isso uns sonnettos vou compor!

SONNETTO DO MOTOCYCLISMO [13.907]

Como é que a gente apprende a rastejar melhor, a lamber botas? Hem, Glaucão? Só mesmo um motoboy sabe ensignar a gente a bem usar nosso linguão!

Eu proprio respondi por meu quinhão de estoica lambeção naquelle par enorme de botinas! Que licção de vida! Que emoção! Foi exemplar!

Me lembro muito desse motoqueiro que fora meu cruel dominador! Me lembro dessas botas, do seu cheiro!

Ah, como as lambi! Como seu sabor senti quando as limpei! Pago o dinheiro que for noutra sessão! Pago o que for!

SONNETTO DO HALTEROPHILISMO [13.908]

Glaucão, me escravizei a um marombeiro! Era halterophilista, mas agora appenas exhibir a forma adora do corpo musculoso o tempo inteiro!

Alem de me estuprar pelo trazeiro, o gajo quer que eu lucte, noite affora, com elle! Estou todinho torto, fora as varias cicatrizes! Que encrenqueiro!

Levei cada certeiro ponctapé na cara, cada murro pelo queixo! Cheguei a me internar, Glaucão, até!

Por vezes, desmaiar no chão me deixo, mas elle, como muito cruel é, nem liga si, depois, disso me queixo!

SONNETTO DO PUGILLISMO [13.909]

Glaucão, me escravizei a um luctador de boxe! Era mais leve, mas agora appenas exhibir a forma adora do corpo musculoso! Faz furor!

Alem de ser meu firme estuprador, o gajo quer que eu lucte, noite affora, com elle! Estou todinho torto, fora as varias cicatrizes! Um horror!

Levei cada aggressiva saraivada de golpes, cada murro pelo queixo! Cheguei a me engessar, de mão quebrada!

Por vezes, desmaiar no chão me deixo, mas elle, impiedoso, dá risada, nem liga si, depois, disso me queixo!

SONNETTO DO MALABARISMO [13.914]

Glaucão, eu me desdobro, faço um puta exforço, um sacrificio do caralho a fim de basear o meu trabalho nas obras de quem pauta a nossa lucta!

Versateis nos tornamos e permuta fazemos com macacos que teem galho diverso deste nosso! Orra, me valho até da ferramenta mais fajuta!

Usavamos só verso branco, mas agora até rhymamos e empregamos algum preciosismo… Orra, rapaz!

Será que irei fazer jus aos reclamos do nosso guru, Glauco? Um bardo faz de tudo para aggrado dos seus amos!

SONNETTO DO MIMETISMO [13.915]

Glaucão, eu me desdobro, faço um puta exforço, um sacrificio do caralho a fim de basear o meu trabalho nas obras de quem pauta a nossa lucta!

Versateis nos tornamos e permuta fazemos com macacos cujo galho se entrosa com o nosso! Orra, me valho até da ferramenta mais fajuta!

Usavamos só verso livre, mas agora até rhymamos e incensamos aquelles que imitavam Frei Thomaz!

Será que irei fazer jus aos reclamos do nosso guru, Glauco? Um bardo faz de tudo para aggrado dos seus amos!

SONNETTO DO ANTIFASCISMO [13.916]

Odeio Mussolini, Glauco! O cara erguia aquelle queixo, feição brava fazia, como “Duce” se portava, mas era assaz cruel! Quem não repara?

Mandava assassinar quem ave rara quizesse ser e impunha firme trava às boccas bem fallantes! Não deixava ninguem, como o Caetano, ser odara!

Caetano, coitadinho, si italiano tivesse sido, um puta risco, claro, iria correr… Manga para panno…

Voltemos ao que importa: aqui declaro que nosso manifesto maior damno prevê si elles livrarem Bolsonaro!

SONNETTO DO ANTINAZISMO [13.917]

Odeio Hitler, mestre! Esse subjeito coçava seu bigode, feição brava fazia, como “Führer” se portava, mas era assaz cruel! Eu não acceito!

Mandava assassinar quem fosse eleito até noutras nações! Impunha trava às boccas bem fallantes! Não deixava ninguem, tal como o Dylan, ter proveito!

Bob Dylan, coitadinho, um allemão si fosse, se livrava do perigo? Magina! Soffreria algum castigo!

Voltemos ao que importa: aqui ja digo que nosso manifesto damnação prevê si derem trella ao Capitão!

SONNETTO DO CATHOLICISMO [13.919]

No tempo das Cruzadas, era cada convicto mussulmano um inimigo! Pessoas innocentes, que perigo passaram, menestrel! Hem? Que enrascada!

Catholico sou! Hoje, não ha nada que impeça qualquer “mouro”, como digo, de em sua crença achar algum abrigo e em paz viver, mas livre de intifada!

Agora até catholicos, em Gaza, estão ammeaçados, pois naquella egreja mais ninguem se sente em casa…

O Papa, sem successo, pois, appella! Inutil esperar que quem arrasa aquillo tudo para a paz dê trella!

SONNETTO DO ISLAMISMO [13.920]

No tempo das Cruzadas, era cada catholico um possivel inimigo! Pessoas innocentes, que perigo passaram, menestrel! Hem? Que enrascada!

Islamico sou! Hoje, não ha nada que impeça qualquer “mouro”, como digo, de em sua crença achar algum abrigo e em paz viver, mas livre de intifada!

Agora nós, islamicos, em Gaza, soffremos ammeaças, pois naquella mesquita mais ninguem se sente em casa…

Christão ou islamita, alguem appella, mas perde si esperar que quem arrasa aquillo tudo para a paz dê trella!

SONNETTO DO EROTISMO [13.928]

Erotico o que pode ser, Glaucão?

Mulher peituda aggrada mais alli?

Bunduda aggrada ainda mais aqui?

Pé masculo provoca algum tesão?

Alguns por traz metter excolherão?

Alguem, si dor nos outros causar, ri?

Alguem preferirá beber chichi?

Alguns exigirão a fellação?

Eu acho que erotismo, Glaucão, é tal como um popular supermercado: de tudo se verá para a ralé!

Ao gosto mais selecto ou refinado, o sadomasochismo bom filé será, de procedencia sendo o gado…

SONNETTO DO EXOTISMO [13.929]

Exotico o que pode ser, Glaucão?

A carne crua aggrada mais alli?

Cozida aggrada ainda mais aqui?

Alguns só vegetaes preferirão?

Alguns comem arroz com maccarrão?

No frango põe alguem catupiry?

Alguem preferirá beber refri?

Alguns só pão de forma comerão?

Eu acho que exotismo, Glaucão, é tal como um popular supermercado: de tudo se verá para a ralé!

Ao gosto mais selecto ou refinado, mamminha não daria bom filé nem lingua a melhor parte é, Glau, do gado…

SONNETTO DO NANNISMO [13.947]

Mas essa aranha, Glauco, tão pequena, lhe causa tanto medo? Ora, ninguem de bichos tão nannicos medo tem, poeta! Acho ridicula tal scena!

Ocê vive empregando sua penna nos themas arachnideos e refem tornou-se da bichana, dessas bem pelludas… Não, ninguem, nisso, o condemna!

Mas, quando uma aranhinha dessas faz ‘ocê tremer de panico, Mattoso, vontade dá de ser assaz mordaz!

É medo de boceta? Não tem gozo um cego com mulheres? Com rapaz pelludo ‘ocê não fica tão medroso?

SONNETTO DO GIGANTISMO [13.948]

Mas essa aranha, Glauco, tão gigante, lhe causa tanto medo? Ora, ninguem de insectos, mesmo os grandes, medo tem, poeta! Até me extranha que se expante!

Ocê vive exbanjando, ja, bastante suor com arachnideos e refem tornou-se da bichana, dessas bem pelludas… Si quizer, taes themas cante!

Mas, quando uma aranhona dessas faz ‘ocê tremer de panico, Mattoso, vontade dá de ser assaz mordaz!

É medo de boceta? Não tem gozo um cego com mulheres? Com rapaz pelludo ‘ocê não fica tão medroso?

SONNETTO DO DISCORDANTISMO [13.959]

Não posso concordar comtigo, não!

Tu pensas que me encantas com a tua versão das occorrencias que, na rua, soffreste tantas vezes? Hem, Glaucão?

Um cego ser currado pode, então, tão facil desse jeito? Não recua a tempo de excappar? Ninguem actua de heroe, Glau, em soccorro desse irmão?

Paresce que tu torces mesmo para que cegos sejam victimas de cada turminha de ladrões, está na cara!

Não basta que elles sejam, na calada da noite, victimados pela tara dos jovens? Inda disso dás risada?

SONNETTO DO CONCORDANTISMO [13.960]

Só posso crer na tua narração!

Tu sabes que me encantas com a tua versão das occorrencias que, na rua, soffreste tantas vezes! Né, Glaucão?

Um cego ser currado pode, então, tão facil desse jeito? Não recua a tempo de excappar? Ninguem actua de heroe, Glau, em soccorro desse irmão?

Paresce que tu torces mesmo para que cegos sejam victimas de cada turminha de ladrões, está na cara!

Não basta que elles sejam, na calada da noite, victimados pela tara dos jovens! Inda disso dás risada!

SONNETTO

DO IMPRODUCTIVISMO [13.962]

Estou impressionada com a tua intensa producção, Glauco, pois eu produzo muito pouco. Quem ja leu meus livros vê que estive mais de lua.

Me cobram mais sonnettos, que eu inclua os que eram engraçados, mas morreu a minha antiga satyra ao plebeu estylo, que eu colhia alli na rua.

Agora, melancholica, não sinto vontade de compor como compunha, sem medo de mentir. Hoje não minto…

Ja tive, de “petista”, minha alcunha, por causa dessas petas, mas absintho não tomo mais. O padre é testemunha…

SONNETTO DO DESCONSTRUCTIVISMO [13.963]

Estou impressionada com a tua intensa producção, Glauco, pois eu só rasgo originaes, e quem ja leu alguns sabe: nem sempre estou de lua.

Me cobram mais sonnettos, que eu inclua os que eram engraçados, mas morreu a minha antiga satyra ao plebeu estylo, que eu colhia alli na rua.

Anarchica que estou, tenho vontade somente de rasgar tudo que estive compondo ultimamente e desaggrade…

Em mim a poesia ja não vive. Me sinto prisioneira attraz de grade, com medo dos reaças, inclusive…

SONNETTO DO INSPIRACIONISMO [13.977]

Glaucão, a poesia ja nos vem promptinha na cabeça, pois a gente recebe inspiração e, de repente, o verso sae composto muito bem!

Não creio que inspirar-se possa alguem, porem, caso ser bardo bom ja tente de cara, menestrel! Naturalmente, talento para a coisa alguem ja tem…

Eu mesmo, por exemplo, ja digito directo um sonnettão inteiro quando me chega aquelle estallo! Sou perito!

Você, ja que está cego, vae creando seu verso mais por causa do conflicto que vive, entre o tesão e o breu nefando…

SONNETTO DO TRANSSPIRACIONISMO [13.980]

Glaucão, a poesia não nos vem promptinha na cabeça, pois a gente não sente inspiração tão de repente! Um verso não nos desce, pois, do Alem!

Não creio que inspirar-se possa alguem, Glaucão, caso ser bardo bom ja tente de cara, assim, do nada! Certamente, quem muito practicou appuro tem!

Eu mesmo, por exemplo, ja digito directo um sonnettão inteiro quando ja tenho um thema armado! Sou perito!

Você, ja que está cego, vae creando seu verso mais por causa do conflicto que vive, entre o tesão e o breu nefando…

SONNETTO DO CORRECCIONISMO [13.982]

Defendo uma cultura “woke” e estou propondo que imponhamos a censura total aos incorrectos, uma dura e firme punição! De esquerda sou!

Notaste, menestrel, como virou baderna a scena artistica? A figura do negro, do judeu, do cego, pura piada de estandape se tornou!

Estão os humoristas, sem pudor, zombando dos invalidos, das putas, dos gordos, dos edosos, dos de cor!

Teremos que editar o que hoje escutas, Glaucão, e lês nas midias! Vou propor fazermos, nas palavras, mil permutas!

SONNETTO DO INCORRECCIONISMO [13.983]

Condemno uma cultura “woke” e estou propondo que não haja mais censura total aos incorrectos, essa dura e injusta pena, Glauco! Livre sou!

Notaste, menestrel, como ficou tolhida a scena artistica? A figura do negro, do judeu, do cego, pura piada foi! Tabu ja se tornou!

Então os humoristas, sem pudor, zombavam dos invalidos, das putas, dos gordos, dos edosos, dos de cor!

Não curtes, menestrel, o que hoje escutas nas midias? Precisamos é propor mais sarro, mais sarcasticas conductas!

SONNETTO DO MURMURIO [14.001]

Emquanto, por amor, alguem murmura na cama, alguem, por odio, só sussurra comsigo mesmo, em pose mais casmurra: “Maldicto! Desgraçado!” Que tortura!

Quem sempre é penetrado vida dura terá. No captiveiro, leva a surra, ainda que seu mestre, em sua burra leitura, ache que amor ella assegura.

Quem ama, bem castiga, assim dizia aquelle velho dicto popular, mas isso não implica a sodomia.

Um dia, alguem decide que logar de falla tem e inverte tudo. Um dia papeis algum amante irá trocar.

SONNETTO DO SUSSURRO [14.002]

Emquanto leva a surra, alguem sussurra comsigo contra aquelle que murmura de gozo, appós metter a picca dura bem fundo no seu rabo. Crua curra!

Um dia a coisa muda. Quem só surra levou, agora a applica. Com tortura, castiga seu ex-mestre, que então jura vingança. Assim, o par logo se exmurra.

Quem ama, bem castiga, ja dizia aquelle velho dicto popular, mas isso não implica a sodomia.

Um dia, alguem decide que logar de falla tem e inverte tudo. Um dia quem poses trocou pode destrocar.

Casa de Ferreiro

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FRENTE E VERSO by ed.casadeferreiro - Issuu