

ENGENHARIA E ARCHITECTURA
Glauco Mattoso
ENGENHARIA E ARCHITECTURA
São Paulo
Casa de Ferreiro
Engenharia e architectura
© Glauco Mattoso, 2025
Editoração, Diagramação e Revisão
Lucio Medeiros
Capa
Concepção: Glauco Mattoso
Execução: Lucio Medeiros
Fotografia: Akira Nishimura
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Mattoso, Glauco
ENGENHARIA E ARCHITECTURA / Glauco Mattoso. –– Brasil: Casa de Ferreiro, 2025. 114 Páginas 1.Poesia Brasileira I. Título.
25-1293
CDD B869.1
Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia brasileira
NOTA INTRODUCTORIA [10.100-F]
A cada novo livro, me questiono accerca do que posso compor como prefacio si, na practica, só sommo sonnettos e sonnettos collecciono.
Digamos que eu não diga que num throno sentei do sonnettismo, mas que eu domo o verso decasyllabo, pois tomo logar de quem nariz tem, sendo dono.
Em tempo de editar anthologia me vejo, quando somma meu trabalho, talvez, onze milhares. Quem diria?
Tem tudo o que compuz um vario talho thematico, mas tudo, todavia, demonstra que, na verve, eu jamais falho.
SONNETTO
Camões da architectura do seu deca cuidou. Fallou em arte, mas engenho tambem citado fora. Aqui me empenho, com arte, em sonnettar. Me exgotto? Neca!
É certo que Camões jamais defeca na classica linguagem, mas eu venho, faz tempo, demonstrando que ferrenho sou como defensor da pornotheca.
Digamos que eu serei um architecto formal, um engenheiro na armação, alem de estructurar o hotel sem veto…
Meus hospedes serão, como ja são, obscenos em seus commodos com tecto de vidro, sem deshonra à tradição.
SONNETTO
DO ACCABAMENTO [13.502]
O khoro do barroco corrobora as cores que decoram o sonnetto. Correndo, decoral-o não prometto. Appenas gravo um verso ou dois, por ora.
Concorre para a dor de quem decora um echo recorrente. Eis por que espeto eu acho compor quando só commetto, dos nós do portuguez, uma plethora.
Nem sempre predomina na factura o frio de palavras jogo, numa anastrophe que, em si, nada assegura.
Em summa, caso ser battuta assuma um bardo constructivo, só perdura seu verso si no thema não estruma.
SONNETTO DO CONVENCIMENTO [13.503]
Dum bom sonnetto o thema só si for tocante e verosimil nos convence. Um toque dou: Ninguem que escreva pense que empolgue seus leitores um amor.
Amores dão bons themas, mas suppor que seja amor, qualquer paixão, suspense não causa, nem siquer humor circense provoca. Só chateia algum leitor.
Termina algum amor de forma abrupta? Começa algum amor de forma amena? Ah, faça mais mingau dessa araruta!
Colloque mais pigmenta nessa scena! Dê chances a um accordo sem disputa! Dirá tudo quem tenha boa penna.
SONNETTO DO EXPERIMENTO [13.504]
Esthetico não é separar syllabas, Glauco! O verso fica assaz ridiculo! Não sou poeta nem sou critico, mas meu ouvido não vacilla!
Si ja nos paroxytonos tranquilla não fica a phrase metrica, mais vicio vejo nas esdruxulas, mais nitida a separação! Quem sabe, estrilla!
Não podes, menestrel, ficar fazendo no verso radicaes experiencias, sinão ninguem, em breve, estará lendo!
Não bastam as fataes maledicencias que expões nos teus sonnettos? Não entendo manias taes! Leitor ha que dispense-as!
SONNETTO DA AUSENCIA [13.505]
Um cego muito pena? Até que não! Fallaram que elle soffre, mas é peta! Foi Deus quem castigou-o, de veneta, à perda, de nascença, da visão!
Aos poucos, elle chega à adaptação completa! Nem mergulha na sargeta, nem erra para achar uma gaveta, nem foge dos lattidos dalgum cão!
Em summa, com seu fardo se accostuma e sabe que, depois que, cedo, morra, no Céu ja não verá nenhuma bruma!
Conversa molle, irmãos! Quem o soccorra não falta, appós a morte? É? Mas se estruma emquanto vivo, nesta atroz gangorra!
SONNETTO DA PERDA REPENTINA [13.506]
Sim, hoje ja se sabe, viu, Glaucão? Quem usa aquella medica canneta um risco corre: vae que ella accommetta a perda repentina da visão!
Ouvi disso fallar e sei que não é falsa propaganda! Minha treta é velha contra tudo que prometta a formula mais facil ao gordão!
Qual magica canneta, pô, qual nada! Saudavel é comer tudo que aggrada ao nosso paladar! Simples assim!
Melhor que se drogar, maccarronada effeito faz e nunca nos enfada! Cannetas? Estou fora! Não p’ra mim!
SONNETTO DA PERDA GRADUAL [13.507]
Cegueira alguma alguem supporta? Não! Por mais que qualquer medico prometta allivio, nada adjuda! Augmenta a peta da perda progressiva da visão!
Ninguem, jamais, agguarda a escuridão com calma! Ninguem ha que se submetta, achando que não foi uma vendetta divina tal castigo! Nem christão!
Commigo foi assim: primeiro, cri que estava algum peccado ca pagando, mas logo vi quem manda, por aqui…
Exacto: quem assume esse commando terreno, nada ao nosso mimimi ligando, sinão Elle, eis que nefando?
SONNETTO DA SYNESTHESIA [13.508]
Sentido por sentido, sinto um só ser esse forte estimulo que, em nós, mixtura ao som nasal da aguda voz um toque de velludo ou grosso nó.
As cores se confundem e chodó nem temos pelo verde, logo appós notarmos ser azul algum atroz appello, que do rosa não tem dó.
Sabores nem sabemos mais quaes são. Ficou mais salgadoce o salamargo que torna azedo o drama do povão.
Estreito se tornou o que era largo. Eu mesmo, que perdi minha visão, dum resto de esperança jamais largo.
SONNETTO DA CENESTHESIA [13.509]
Normal seria, mesmo, um bem estar? Será que não sentimos nós, agora, o minimo signal duma peora naquelles maus symptomas? Hem? Vae dar?
Hem? Para algum incommodo logar nenhum mais haverá? Ja ninguem chora por causa dos remedios que, por hora, se exquesce de tomar? Seria azar?
No caso deste cego, nunca fora tranquillo nenhum dia, pois meu olho doeu sem uma adjuda promissora.
De nada addeantou ficar de molho, pingar qualquer collyrio: gozadora, ouvi a voz divina: “Azar, pimpolho!”
SONNETTO
DA PROHIBIÇÃO [13.510]
Comer carne de porco, para quem crê numa versão biblica, seria motivo de tabu. Por isso, um dia, um rei quiz dum hebreu fazer refem.
Da pelle da cabeça ficou sem, alem da lingua, aquelle que dizia que nunca comeria, na judia lei, nada que, de porco, coma alguem.
Magina, menestrel! Respeitarei um povo que isso tenha como lei, mas nunca abrirei mão do meu torresmo!
Sim, caso me mandasse esse tal rei comer um baconzinho, bem eu sei aquillo que diria: “Ah, como mesmo!”
SONNETTO TUPYNISKIN [13.511]
Alguns dos meus fanzines foram tão satyricos, que encarno esse skinhead sarrista, cuja bota não arrede pé duma até nazista gozação.
Si Chaplin ou Cazuza livres são na satyra ao fascismo, o que é que impede um bardo de ironias fazer? É de suppor que fanzineiros as farão.
Humor e poesia de mãos dadas estão, mas a serviço da severa e livre posição contra as más fadas.
Porem, si polariza a actual era até nas artes, soam antiquadas as criticas subtis. Que é que se espera?
SONNETTO TABAJARAPONGA [13.512]
Glaucão, espiões russos por aqui andaram radicando-se! Sabia? Estão acculturados, hoje em dia, a poncto de encarnarem um sacy…
Um indio, um orixá… Mestre, eu ja vi um russo que, no meio da follia, usava de europeu a phantasia, mas tendo, ja, jeitão de travesti!
Me indago o que quiz elle espionar…
Será que viu alguem, no carnaval, com cara de quem coma caviar?
Queria sapear si agente egual estava aqui na caça do seu par? Passar despercebido quiz? Fez mal!
SONNETTO IRRECENSEAVEL [13.513]
Qual bairro de São Paulo que tem mais bassês? E la no Rio? Quem irá contar-me? Pelas redes, alguem ja contou onde encontrar mais animaes?
Gattinhos na Tijuca? Aonde vaes achar mais papagayos para la das praias, hem? Em Jacarepaguá? E micos? E tucanos? E pardaes?
Bassês em Curityba abundam, mas são poucos no sertão ou em Goyaz. Excedem em Floripa, até em Londrina…
Por causa da linguiça, tambem faz questão de ser Bragança a terra das maiores “basseatas”, hem? Magina!
SONNETTO DA DESINFORMAÇÃO [13.514]
Mentira tem mais nomes? Quaes serão? Politicos accusam de “inverdade” fallar um opponente qualquer. Grade meresce quem mentiu assim, Glaucão?
Dizer “meias verdades” dá razão àquelle que imputou tal falsidade a nós? Mas de “fake news” a rede invade quem queira algo fraudar! Hem? Não é, não?
Agora que, nas redes sociaes, quaesquer informações podem ser falsas, ninguem, pois, em ninguem confia mais…
Hem? Esses figurões, “malas sem alças”, ser vistos poderão ja, nos jornaes, vestindo saias justas e não calças…
SONNETTO DO DESMAMME
[13.515]
Si, para ammammentar sua ninhada, aquella mamãe sempre estava prompta, agora não aguenta mais e, tonta, ja foge dos filhotes, não quer nada.
Estão para doal-os, pois é cada bassê bem brincalhão: por sua compta algumas armadilhas ja desmonta, taes como, do bercinho, uma beirada.
Emfim, se livra delles a mamãe, coitada, cujas tetas machucadas estão pelas mordidas dos bebês…
Até que novos filhos ella ganhe, quietona ficará, nas almofadas deitada: solidão sente, talvez…
SONNETTO DO LADO DE CA (1) [13.516]
Eu batto o pé! Ninguem ammeaçar me vae! Uma ammeaça representa attaque! Para a vista mais attenta, direito de defesa vae me dar!
Em summa: attaccarei! Si, por azar, civis morrerem, ganham uma benta mensagem pontificia! A violenta acção, sim, traz perigo nuclear!
A atomica resposta se dará no caso de insistir essa nação nas suas ammeaças, fallei ja!
Alguem me perguntou: “Mas você não tem medo duma guerra total?” Bah! Satan me immortaliza, meu irmão!
SONNETTO DO LADO DE LA (1) [13.517]
Jamais! Eu não me rendo! O que você está pensando? Tome iniciativa! Darei exmagadora, affirmativa resposta! Alguem duvida? Alguem descrê?
Farei do mundo um grande fuzuê! Civis podem morrer! Uma alma viva talvez nem restará! Ninguem se exquiva da minha força! Toda a Terra vê!
Qualquer hostil potencia sempre tomba perante meu poder! Si necessario, explodo minha atomica, atroz bomba!
Está pensando o quê? No meu armario eu guardo um monte dellas! Ninguem zomba de mim, pois de Satan sou emissario!
SONNETTO DO LADO DE CA (2) [13.518]
Milhões irão morrer, caso um pedido não faça de desculpas! Questão faço de inteira rendição e sem espaço nenhum para rhetoricas, bandido!
Sei muito bem eu onde se escondido você tem, seu bandido folgadaço! É facil, sim, mactal-o, pois eu traço seu rastro no radar! Eu que decido!
Lhe faço um ultimato: ou, para ja, você se rende e deixa que eu invada a sua nação, mano, ou morrerá!
Ouviu o que eu fallei? Não pede nada? Disposto para a phase, então, está das bombas mais potentes, camarada?
SONNETTO DO LADO DE LA (2) [13.519]
Pedido de perdão? Hem? Rendição? Está você maluco, camará! Então não percebeu que estou eu ja promptinho para a guerra? Peço não!
Irei eu rastejar ante mandão algum? Nada! Sem chance! Bafafá farei! Um sururu tambem! Não dá mais para aguentar tanta fallação!
Cansado o mundo todo ja ficou dos blefes e bravatas que essa sua nação vive fazendo! Bolla dou?
Magina! Cara, a treta continua! Não pode terminar, jamais, o show! Sinão rirão da gente em plena rua!
SONNETTO DO RESTO DO MUNDO [13.520]
Não, gente, pelamor! Não façam isso! Não troquem ammeaças! Ha perigo de guerra nuclear! Esse castigo ninguem meresce! É muito desserviço!
As pazes façam! Façam compromisso de nunca mais brigarem! Um amigo é cada qual da gente! Eu mesmo sigo as duas lideranças, sem enguiço!
Façamos o seguinte: cada qual engancha seu mindinho no do seu rival, e de bem ficam! Hem? Que tal?
Que importa si judeu ou philisteu alguem ainda seja! Mais rival da gente é Satanaz, que trella deu!
SONNETTO DO CARONA [13.521]
Bandido que é bandido nunca chora. Aguenta, na garuppa da motoca, o risco da veloz fuga, na troca de tiros com os tiras, toda hora.
Depois de ter roubado outro boboca que estava na calçada, sem demora excappa até das cameras e fora está da lei, no rhumo da malloca.
Por vezes, na arriscada curva, cae da moto, se rallando todo, mas, ainda assim, não chora nenhum ai.
Cahida a moto, ja de compta faz que é mero transeunte e, livre, sae de scena, alheio ao corpo que alli jaz.
SONNETTO DO PUNGADO [13.522]
Glaucão, ja me batteram a charteira no meio da appinhada multidão! Que perda! Foi horrivel, meu irmão! Fiquei, alli, sem nada! Ah, ninguem queira!
Perdi chartão de credito, que beira altissimos attrazos, um chartão do plano de sahude, para não fallar dum erregê que achei na feira!
Nem uso o meu convenio, que não cobre exames nem consultas… Inda assim, me sinto, sem charteira, até mais pobre…
Só tinha alli trocado, mas dindim faz falta, porra! Ainda que nos sobre, gastamos no balcão do botequim…
SONNETTO DO ASSALTADO [13.523]
À noite, eu dois levava no meu carro. A rir, annunciaram que era assalto e, como de recursos estou falto, o taxi lhes deixei. Tiravam sarro…
O gosto delles, mestre, era bizarro! Quizeram que eu chupasse e, em pleno asphalto, foderam minha bocca! Quando ao alto olhei, riam bastante! É como narro!
Appós gozarem, iam me mactar e tive que implorar no chão, lambendo seus tennis poeirentos, para azar…
Mas sorte tive eu: esse intento horrendo frustrou-se… Vinha gente e, logo, o par fugiu! A pé fiquei, mas graças rendo…
SONNETTO DOS ASSALTANTES [13.524]
Eu mais um mano, Glauco, um motorista de taxi, noite dessas, assaltamos. Ficamos com o carro. Tambem amos quizemos ser. Eu sempre fui sarrista…
Fizemos que chupasse e minha lista de victimas fataes, sem mais reclamos, iria augmentar. Sempre que gozamos, pensamos em mactar: isso me enrista!
Mas elle teve sorte. Inda lambia meus tennis, quando veiu gente. Então fugimos, e ficou alli na via…
Sim, cara, acho mactar o mor tesão, ainda mais si está quem me sacia chupando-me e implorando… Por que não?
SONNETTO
DA ESTUPRADA [13.525]
Ai, Glauco, foi horrivel! Eu em casa chegava, quando os dois entraram juncto! Roubaram-me e ‘inda tive que esse assumpto guardar! Um trauma desses não dephasa…
Sim, Glauco, me estupraram! Sei que rasa é delles a instrucção, mas lhe pergunto: P’ra que tanto sadismo? Ora, ao bestunto dou tractos, mas a mente não me embasa…
Sim, tive que chupal-os! Uns caralhos nojentos, fedidissimos, querido! Nem queira se excitar com taes trabalhos!
Depois que fiz gozar cada bandido, quizeram me mactar, mas foram falhos, pois vinha gente e logo tinham ido…
SONNETTO DOS ESTUPRADORES [13.526]
Verdade que estupramos a senhora que em casa ja chegava, cara! A gente entrou com ella. Fomos totalmente crueis. Curtimos isso, Glaucão, ora!
Porrada demos muita. Nossa tora chupou e, nesse gozo, minha mente curtia a morte della, appós a quente sessão. Porem tivemos que ir embora…
Soccorro vinha. Ahi, tempo não deu de vel-a agonizando. Ja morreu na minha mão um monte de estuprado…
Até dum motorista ja fiz eu um bello chupador, mas o plebeu livrou-se: chega gente e, então, me evado…
SONNETTO
DO PÉ DE CHINELLO [13.527]
Eu ia assaltar, só, mas o subjeito pediu, quiz implorar por sua vida! Fallou que chuparia! Ah, me convida? É claro que curti, Glaucão! Bem feito!
Fiz que elle me lambesse, com perfeito cuidado, toda a crosta alli mantida de queijo parmezão! Alguem duvida que para degustar tem que ter peito?
O cara degustou, Glauco! Senti vontade de mactal-o, pois assim augmenta meu tesão, meu phrenesi!
Mas só levei a grana. Para mim bastou que se borrasse, pois, aqui p’ra nós, como bandido sou chinfrim…
SONNETTO DO POUPADOR [13.528]
O que é que eu faço, Glauco? Me levaram tudinho duma compta de poupança! A gente sacrificio faz, se cansa de tanto trabalhar, e elles azaram!
Roubaram minha senha! Digitaram passando-se por mim, na confiança do banco! O que meresce quem advança na grana alheia? Nunca que elles param?
Por que será, poeta, que ninguem consegue entrar na compta dum ricaço? Blindado sempre está quem muito tem!
As fraudes, quando occorrem, teem espaço somente em quem tiver pouco vintem! Me queixo, ora, com quem? O que é que eu faço?
SONNETTO DO FRAUDADOR [13.529]
Ah, mano! Levei tudo duma compta! Sim, dessas de poupança! Aquelle cara de bunda se fodeu! Deu até para fazer algum emprestimo de monta!
Bobeira deu! Ninguem jamais desmonta eschemas como o nosso! Se compara a nossa astucia àquella, nada rara, dos manos da politica! Ammedronta?
Sim, claro que mettemos medo nessa babaca classe media, attormentada por tanta carestia, que não cessa!
Não quero nem saber, mano, de nada! Poupanças estão mesmo para, à bessa, roubarmos e ‘inda darmos gargalhada!
SONNETTO DO DELEGADO [13.530]
Vocês, gente de imprensa, sempre dão noticia falsa accerca do trabalho das forças policiaes! Ainda attalho: Prendemos, por minuto, um bandidão!
Não posso fazer nada si elles são, depois, pela Justiça -- Azar, caralho! -à rua devolvidos! Eu não falho, mas falha algum juiz, eis a questão!
O caso se conhesce: cada vez que em canna vae alguem, algum juiz liberta aquelle impune que mal fez!
Quem foi que isso creou? Quem foi que quiz leis dessas inventar? Algum freguez honesto? Ou é só coisa de imbecis?
SONNETTO DO MOVIMENTO DE ARTE PORNÔ [13.531]
Ja disse Kac: o MAP está no mappa de todo bom museu que em arte investe. É hora de fazermos esse teste com meu JORNAL DOBRABIL, fora a cappa.
Do canone nenhum auctor excappa si for esse pornographo inconteste na lyra, alem da prosa. Que me reste ha nada, sinão dar a cara a tapa.
Dos meus dactylographicos papeis accabo de ceder originaes dobrabeis ao Edu, por uns merreis.
Sei que elle é competente por demais e, em breve, dos museus eu nota dez ganhar vou pelos crivos actuaes.
SONNETTO DO SOPRO [13.532]
O sopro della, a vida, se refaz na gente, eternamente, do primeiro, que é choro, ao derradeiro, por inteiro cumprindo o desenlace, e scenas traz.
Das boas horas para as horas más, nas bolhas de sabão, no costumeiro festejo com vellinhas e no cheiro de incenso, fora as chicaras dos chas.
No sim mais sussurrado, ao pé do altar, nos beijos telephonicos a alguem que, em terras extrangeiras, quer voltar.
O sopro, como o vento, vae e vem, até que, devagar, irá pausar. Mas sempre esse suspiro vem do Alem.
SONNETTO DO DEUTERONOMIO [13.533]
De todas as palavras que eu ordeno jamais desviarás. Si desviares, irei me deleitar, nos meus olhares, com esse teu azar, jamais pequeno.
Punir-te com cegueira acharei pleno castigo. Soffrerás, entre teus pares, os mais baixos insultos. Si tentares fugir, te pegarão, eis meu veneno.
Será tua mulher sempre estuprada emquanto, sob a planta de inimigos, irás de pó lamber, um dos grãos, cada.
Terás, emfim, innumeros castigos, a menos que tu cumpras, sem que nada reclames, meus paragraphos e artigos.
SONNETTO APOCRYPHO APOCALYPTICO [13.534]
Tu, que esta lei descumpres, irás, em questão de poucos annos, te foder. A praga sobre ti farei descer até que me respeites, ca no Alem.
Passaste todo o tempo, como quem desdenha, te exbaldando no prazer. Agora sentirás o meu poder, a menos que prefiras mais alguem.
No caso de entregares a Satan as pregas do teu anus, não te queixes, depois, de teres sido delle fan.
Por labias satanistas não te deixes levar, ou sentirás, pela manhan, um cheiro que supera podres peixes.
SONNETTO DA ALIMENTAÇÃO SAUDAVEL [13.535]
Um mantra faço disto, Glauco: sou adepto só de fructas, hortaliças e grãos de cereaes! Tu não me attiças com tua gula! Bolla não te dou!
Dos ultraprocessados eu estou bem longe! Mas não basta das linguiças fugir: prohibir quero, nas justiças e foros, qualquer venda, qualquer show!
Não quero que ninguem ache gostoso comer coisas gostosas, ter prazer comendo, ter tal ecstase, tal gozo!
Confesso: sou do contra! Algum poder almejo, si impotente sou, Mattoso! Somente no nazismo quero crer!
SONNETTO
DA ACTIVIDADE PHYSICA [13.536]
Um mantra faço disto, Glauco: sou adepto de exercicios, de corridas, de esportes, de suor em nossas vidas! Preguiça allegas! Bolla não te dou!
Poltronas e sofás? Delles estou bem longe! Mas não basta de exhibidas acções fallar! Da minha fé duvidas? Almejo leis, alem de mero show!
Não quero que ninguem ache gostoso ficar se expreguiçando, ter prazer morgando, ter tal ecstase, tal gozo!
Confesso: sou do contra! Algum poder almejo, si impotente sou, Mattoso! Somente no nazismo quero crer!
SONNETTO DO “CARE KILLING” (1) [13.537]
Milhões de velhos, Glauco, morrerão mais tarde, cada vez mais tarde, cada vez mais! Seus cuidadores ja advançada edade teem, tambem! Hem? Que farão?
Sim, Glauco, de euthanasia ja noção nós temos, mas se tracta da camada maior, que sempre cresce, em accamada e injusta condição, nesse povão!
Ninguem aguenta mais, nem viver tão vegetativamente, nem cuidar daquelles que signaes nem siquer dão!
Ja chega de cynismo! Tal azar ninguem meresce! Vamos da questão fallar com realista, agudo olhar!
SONNETTO DO “CARE KILLING” (2) [13.538]
Não quero nenhum velho, ja demente, soffrendo desse jeito, nem a sua doente cuidadora, que extenua a vida nisso, orando, ja descrente!
Quem pode imaginar o que é que sente alguem que nesse limbo se situa? Ja falla todo mundo, pela rua, na morte que, emfim, venha de repente!
Prefiro me mactar a viver numa especie de infernal paralysia! Mactar-me si não posso, que eu assuma!
Alguem, por mim, será que isso faria? Espero que sim! Como se costuma dizer, a fé christan nos allivia…
SONNETTO DO BALLÃO [13.539]
Ouvi fallar da queda dum ballão. Appenas mais um. Disso, só, se falla. Fallei ja muitas vezes dessa valla commum, desse turismo de estação.
Hem? Querem adventura? De emoção estão necessitados? Quem escala, quem voa, quem se joga, quem inhala, quem, joven, se mutila… À merda vão!
Quem gosta de perigo, quem procura só sarna para achar coceira, a mim, é tudo gente egual: cabeça dura.
Si ir querem ao encontro de seu fim, problema delles. Basta-me em escura jornada caminhar. Simples assim.
SONNETTO DOS MENTORES INFRACTORES [13.540]
Prenderam quem, nas redes, incitava a morte de bichinhos, com cruel deleite, sem fallar em quem, ao bel prazer desses malucos, se mactava.
Alguem fazer da lingua doce escrava dum penis, duma sola, acho um fiel exemplo masochista, mas quartel jamais dei a quem manda a vida à fava.
Si querem ser mandados ou mandões, adultos sejam! Ajam de commum accordo! Brinquem, raios e trovões!
Practiquem tudo: cheirem um bodum, engulam um cocô, lambam colhões! Mas crime commettendo? Não, nenhum!
SONNETTO DO COITADISMO [13.541]
Coitado do moleque! Elle não fez nadinha de mais, para aquella edade! Appenas infringiu a lei! Quem ha de querer que se condemne, desta vez?
Só pode ser a mente dum burguez que nunca comprehende que é maldade punir um infractor que nos invade a casa de maneira descortez!
É culpa delle si essa desegual e injusta sociedade lhe prohibe prazeres dum consumo tão banal?
Fallando nos prazeres, si elle exhibe tesão e estuprar acha tão normal, rendamo-nos às ordens desse pibe!
SONNETTO
DO VIRALATTISMO [13.542]
Complexo? Que complexo? Viralattas nós somos, mesmo, porra! Sem problema admitto que, em materia de cinema, estamos bem abbaixo dos magnatas!
Tambem no futebol, ora! Si empattas ou perdes de europeus, que chore e gema a gente, porra! Ha time que não tema os grandes, que concentram tantas prattas?
Os tennis que fabricam la na America jamais encontrarás aqui, meu caro! La toda luz é sempre mais feerica!
Aqui qualquer hamburger é mais caro! A nossa tradição, carente, iberica, tornou-nos inferiores, eu reparo!
SONNETTO DO FAVORITISMO [13.543]
Meu time é favorito sempre, porra! Jamais eu reconhesço o meu rival! Torcida assim tão grande é sem egual! Não vejo, não, comnosco quem concorra!
Vencer, vencer, vencer! Alguem que morra, si for dos outros times, si fatal o clima for às rixas, e infernal! Não ha quem contra a gente se soccorra!
Acharam arrogante essa postura? Ah, fodam-se! Quem manda não ser tão marrento, tão bairrista? Ah, vida dura!
Mas, quando nós perdemos, ahi não admitto! Quem supporta? Quem attura? Faltou molhar, dos arbitros, a mão!
SONNETTO
DO ESTRELLISMO [13.544]
Sim, astro sou! Eu brilho, sim, sozinho! Os outros são actores de segunda! A gente se repete, se redunda, mas tenho que ser, porra, até excarninho!
A critica ja disse: me encaminho ja para a maior gloria! Si iracunda ficou a fofoqueira, que na bunda enfie seu despeito, que é damninho!
Nos palcos, nas telonas e telinhas, eu brilho! Logo um Oscar ganharei! Virtudes quem reune como as minhas?
A menos que me accusem de ser gay ou mesmo estuprador, minhas vizinhas que fallem, que fofoquem, pois sou rei!
SONNETTO DO MODISMO [13.545]
Me lembro, menestrel! Quando menino as calças nem tão justas eram, não! Ja tive, cara, até meu macacão com barra bem legal, bocca de sino!
Agora a gente nota que esse ensigno primario deseduca, até, o povão! Permittem que se falle palavrão, que seja alguem, ja, trans, que falle fino!
Meu tempo differente foi! Moleque que fosse gay levava até cacete do pae! Ja não prohibem que se peque!
Ninguem punha mostarda no sorvete! Ninguem que fosse macho usava leque! Ninguem achava lindo um alcaguete!
SONNETTO DO ESNOBISMO [13.546]
Agora quem tiver algum talento, ainda mais si for deficiente, vae ser ostracizado. Toda a gente evita que elle seja, ao menos, bento.
Siquer canonizado será. Lento e duro, seu progresso ninguem tente trilhar, pois esnobado fatalmente será. Mas, ‘inda assim, vencer eu tento.
Diversos protegidos da alta classe disputam seu espaço nessa feira vaidosa. Deixarão que um cego os passe?
“Magina, menestrel! Jamais! Nem queira a tantos holophotes dar a face! Dirão que reclamar será besteira!”
SONNETTO DO CABOTINISMO [13.547]
Não sabe nem fingir! É mau actor, Glaucão! Elle é, de facto, um canastrão! Galan nem chega a ser, mas attenção total ja quer chamar! Que irei suppor?
Apposto que chamado será por aquella que é global e tem na mão a natta das novellas, pois la são forçados os papeis e falso o humor!
Comtudo, bem peor será a figura dos cynicos politicos, com ar pomposo, porem comico, sem cura…
Aquelles não irão, nunca, posar nas photos com a cara de quem jura ser corno, ser ladrão, ser vil sem par…
SONNETTO DO NARCISISMO [13.548]
Acharam que sou, mesmo, um narcisista? Não posso negar, Glauco. Ora, affinal, ninguem tem um corpão esculptural do typo do meu. Elle não despista.
Carinha de galan, que da revista foi cappa, não exsiste alguma egual. Em summa, sou, de facto, o maioral, o Degas, o gostoso, o que conquista.
Ninguem resiste ao charme do meu pé, tambem. Você, Glaucão, ia adorar… Tem cheiro de perfume chique, até…
Hem? Como? Ocê não curte nenhum ar cheiroso? Só chulé? Meu pé não é charmoso procê? Porra, vou chorar…
SONNETTO
DO ALLARMISMO [13.549]
Não quero, menestrel, allarmar quem ja tenha algum pavor dessa bichana gigante, cabelluda, que se irmana aos monstros da ficção! Mas veja bem!
A aranha prolifera! Ja, tambem, foi vista aqui, nos altos de Sanctanna! Paresce que chegou da serra… Ah, gana tem muita! Vem com tudo, ora si vem!
Melhor não mexer nella… Quando ganha alguma cama, logo faz um ninho… Melhor não se metter com essa aranha!
Estamos infestados! A caminho estão, sim, muitas outras! É tamanha a fauna, que eu ja morro de medinho…
SONNETTO DO ENTREGUISMO [13.550]
Melhor nos entregarmos, Glauco! Um dia, iriamos, de facto, pertencer à America, que emprega mais poder de guerra, alem da grana, que é judia…
Nem fallo da chamada “guerra fria”, mas sim duma nação que vae fazer da nossa algum quintal! Terá prazer aquelle presidente! Hem? Que euphoria!
Iremos ser estado dos Estados Unidos! Ja pensou? Até que pode ser optimo p’ra gente, nestes lados…
Não acha, Glaucão? Acha que se fode quem fica à mercê delles? Ja ferrados estamos, sem que alguem nem se incommode?
SONNETTO
DA ENGENHARIA [13.551]
O predio tem que estar bem construido, sob calculos exactos, pois, sinão, visiveis os defeitos estarão e, em pouco, o casarão terá ruido.
No ouvido um verso mau terá ruido extranho si, dysrhythmicos, estão visiveis os seus pés quebrados: tão inutil quanto um quadro sem sentido.
Serei constructivista sempre, mas espaço deixarei ao fluxo duma palavra que me saia assim: zaz traz!
Sonnettos, um por um a penna appruma e, junctos, erguerão obra que faz, alem de effeitos solidos, espuma.
SONNETTO DA ARCHITECTURA [13.552]
O predio tem que estar bem projectado, em typicos estylos, pois, sinão, aquelle patrimonio, com razão, ja perde seu historico legado.
Compor sonnettos causa resultado analogo, pois todos estarão notando si, de facto, o casarão faz jus ao tombamento desejado.
Serei constructivista sempre, mas espaço deixarei ao traço dum desenho ornamental, sacana assaz.
Apprumam-se sonnettos, um por um, e, junctos, erguerão obra que faz historia pelo porte, eis que incommum.
SONNETTO
DA EXHORTAÇÃO (1) [13.553]
Vos peço, vos imploro, vos supplico, agora que estaes quasi que vos indo, que, emfim, tenhaes destino leve e lindo, ou seja, aquelle bom e velho mico.
À merda podeis ir, que feliz fico. Comtudo, tambem acho mui bemvindo que em vosso rabo va se introduzindo um penis cuja pelle faça bicco.
Sim, antes de tomardes no cu, vós podeis chupar, do bicco de chaleira, aquillo que sabemos todos nós.
Gostaes de queijo? Caso o gajo queira, que tal beberdes mijo? Vossa voz poetica, assim, soa, fede e cheira…
SONNETTO
DA EXHORTAÇÃO (2) [13.554]
Te peço, sim, te imploro, te supplico, agora que estás tu te foder indo, que, emfim, esse destino leve e lindo tu cumpras sem que faças nenhum bicco.
À merda podes ir, que feliz fico. Comtudo, tambem acho mui bemvindo que nesse rabo va se introduzindo um penis que de esmegma seja rico.
Sim, antes de tomares no cu, tu chupar irás, do bicco de chaleira, alem do queijo, um jacto de sagu.
Urina curtes? Caso o gajo queira, uns goles tomarás. Nenhum tabu impede essa assertiva bebedeira.
SONNETTO DA PANELLA QUEIMADA [13.555]
Cahi na asneira, Glauco, de compor sonnetto collectivo, do qual fiz appenas um quartetto. Que infeliz idéa! Não devia, assim, me expor!
Disseram que pronome, só si for postposto! Um modernista de juiz servira, ja! Comtudo, ninguem quiz seguir Mario de Andrade em meu favor!
Compuz “Nos consolar…”, mas corrigido fui para “Consolar-nos…”, em total desdem aos modernistas! Faz sentido?
Emfim, me foi bem feito! Jamais tal proposta acceitarei de novo, ungido que estou pela linguistica actual!
SONNETTO DO JOGO FEIO [13.556]
O jogo do Palmeiras, um horror de bolla, ainda assim ganhar consegue! Incrivel, Glauco! Porra, agora pegue os outros grandes times, por favor!
Flamengo, Botafogo… Todos, por opção, jogam bonito, com moleque estylo, o brazileiro! Caso um peque, será por excepção, si infeliz for!
No caso palmeirense, exsiste, creio, alguma covardia de enfrentar os grandes, um fatidico receio…
Paresce que, prevendo o seu azar de sempre, esses athletas fazem feio só por temor de, em summa, amarellar…
SONNETTO DA ACCAREAÇÃO [13.557]
Mandei meu advogado pedir para aquelle magistrado que me dê a chance de encarar esse michê que disse ter, commigo, sua tara!
Sim, quero que elle prove, bem na cara olhando-me e fallando que me vê com jeito de quem curte esse buquê, fedido de chulé, que elle declara!
Magina! Aquelle joven tinha dicto, em pleno tribunal, ao tal juiz, que eu, pelo seu chulé, muito me excito!
Até verdade pode ser, mas fiz questão de lhe exigir um irrestricto silencio, nunca tantos mimimis!
SONNETTO DO MEDICAMENTO LIBERADO [13.558]
Com taes “inhibidores”, ha appetite que possa resistir, Glaucão? A gente tem nojo da comida, nauseas sente, depois que se medica! Ah, quer que eu cite?
Então eu citarei alguem que evite vermelhas carnes, dessas que teem, rente, muchibas e pellancas que, no dente, se enroscam, com sabor de gengivite!
Agora lhe pergunto: Quem precisa, poeta, de remedio, si nojenta tal carne sempre fora, de isca à guisa?
Si, numa refeição, ninguem aguenta comer podres carniças, essa ANVISA seu tempo perde, emquanto regrar tenta!
SONNETTO DO CAPTIVEIRO [13.559]
Glaucão, me sequestraram quando, ja sahindo da pharmacia, ao meu carrão eu ia me chegando! Os manos não tiveram compaixão, meu camará!
Em pleno captiveiro, ora, quem ha de delles discordar? Fora a questão da grana, alli quizeram seu tesão em mim satisfazer! Quem negará?
Não, Glauco, não neguei, é claro! Um mano usou a minha bocca qual si fora boceta, ammeaçando com seu cano!
Ao menos uma falla animadora ouvi: “Chupa na boa! Maior damno seria no seu rabo sentir dor, ah!”
SONNETTO DA RENDIÇÃO [13.560]
Não quero um cessar fogo! Rendição eu, incondicional, exigir vou!
Não quero nem saber! Nem chances dou aos meios diplomaticos, Glaucão!
Não basta que rastejem elles, não! Exijo que se exhibam, dando um show de enfoque degradante! Sim, estou querendo que elles lambam, Glauco, o chão!
Aqui nestas quebradas não ha nada de exforços estrategicos, de estylo rhetorico ou de pappos de embaixada!
Si posso meu estylo definil-o, direi que exigirei, depois que invada seus ponctos, que se entreguem sem vacillo!
SONNETTO DO AMADORISMO [13.561]
Me faço um analysta, Glauco, para dizer o que é que eu acho dum veado que goste de chupar, mesmo forçado: É claro que elle nunca desmammara!
Na falta dessa teta, que é tão rara na vida dum bebê, de cujo lado a mãe tenha fugido, um bom achado seria chupar rolla doutro cara!
É claro que, entre paus e tetas, ha enorme differença, mas mammar um homem sempre sabe, camará!
Embora algum chupado nem seu par se diga, mas appenas quem terá mandado, o gay consegue prazer dar…
SONNETTO
DO PARALLELISMO [13.562]
Um cego chupador nem se compara commigo! Prostituta sou, polaca! Nenhum nojo terei, siquer de inhaca anal, prepucial, na minha cara!
Com minha lingua, lavo o que está para lavado ser: algum resto de caca, mycose de virilha, sebo paca na pelle dum caralho que mijara…
O cego, si chupar, nem cobrar pode! Appenas obedesce seu algoz, na marra, a cara a tapa! Só se fode!
Nós, putas, pelo menos temos voz activa! Alto gritamos quando um bode nos sangra anus e chota, a rir de nós!
SONNETTO DO PAROXYSMO [13.563]
Ah, quando tenho um surto, mestre, eu miro quem quer que esteja à minha frente, entende? Ainda que meus olhos alguem vende, meus alvos eu vislumbro quando piro!
Lhes grudo no cangote, Glauco, firo com faca, canivete… Quem me rende? Ninguem! Posso parar, mas só depende dum certo remedinho, um certo tiro!
Não sendo o comprimido que eu costumo tomar, nada addeanta! Num accesso mais forte, mactar posso! Sim, assumo!
Fecharam os hospicios, sem successo! Agora cada doido vae, sem rhumo, vagar, e consequencias ja não meço!
SONNETTO DO OSTRACISMO
[13.564]
Não posso me queixar de exquescimento, Glaucão! De mim se lembra toda a gente! Leitor não ha que, soffrego, não tente pegar o meu autographo, que é bento!
Me sinto charismatico, um portento das lettras nacionaes, actualmente! Ganhei tantos trophéus, mas, de repente, premiam-me de novo, no momento!
Espero não ficar cego, jamais!
Sinão, me exquescerão e nenhum tomo siquer eu venderei nos festivaes!
É boa a minha vista! Não ha como viver, como você, soltando uns ais queixosos, sem visão! No cu não tomo!
SONNETTO DO EXORCISMO [13.565]
Eu, cego ficar? Nunca! Te exconjuro! Paresces um demonio, tu, Glaucão! Tu ficas praguejando por ja não estares enxergando, nesse escuro!
Hem? Vira a tua bocca! Não atturo ouvir as tuas queixas, que me são eguaes às dum eunucho, dum capão! Eu tenho o meu caralho sempre duro!
De tanto praguejares, és capaz de sobre mim lançares teu feitiço! As tuas intenções são muito más!
Si insistes, me livrar vou logo disso! Practico um exorcismo, meu rapaz! Comtigo findará meu compromisso!
SONNETTO DO MONTANHISMO [13.566]
Turismos perigosos? Estou fora! Commigo não tem disso, não, poeta! Tamanha propaganda não affecta as minhas decisões! Sagaz sou, ora!
Cratera de vulcão? Uma senhora escala aquillo tudo, se projecta no fundo dum abysmo, e ninguem veta esportes desse typo, sem demora?
Escuto todo dia alguma nota accerca dum otario que em montanha subiu e, num piscar, batteu a bota!
Nenhuma attenção essa nota ganha, banal como ficou! Mas quem fé bota no ramo que se foda! Ah, quanta manha!
SONNETTO DO PHYSICULTURISMO [13.567]
Glaucão, não me conformo! O gajo malha pesado, sacrificios faz e ganha um baita corpanzil! Porem tamanha imagem só me frustra, não me calha!
E sabe, Glauco, onde é que fica a falha? Nos pés do rapagão! É tanta manha por causa desses musculos! Me extranha que tenha pés minusculos quem valha!
Vantagem eu não vejo! Ora, valeu um corpo tão malhado si pé grande lhe falta, menestrel? Azar o seu!
Podolatra sou, pô! Si não expande aquelle pé de moça, ja perdeu o moço qualquer força que em mim mande!
SONNETTO DO BAIRRISMO [13.568]
No Rio de Janeiro cada rua cantada foi. Algum compositor ja canta alguma praça, mesmo por motivo o mais banal, si está de lua.
Tremenda concorrencia se situa em cada morro, cada praia. A cor de cada time está todo o furor fazendo. Um territorio não recua.
Mas, quando se compara aquella bella cidade com as outras, ahi não exsiste nem asphalto, nem favella.
É tudo uma belleza só, chartão postal que, brazileiro, se revela turistico. Quem canta tem razão.
SONNETTO DO SEDENTARISMO [13.569]
Fui sempre preguicista. Não consigo siquer me imaginar numa corrida ou numa malhação. Jamais na vida pensei em supportar um tal castigo.
Não só pela cegueira algum perigo detecto si exercicio me convida alguem a practicar. É suicida andar por qualquer rua, meu amigo!
Alem de indifferente ser aos taes “saudaveis” alimentos, na poltrona adoro, sentadão, curtir meus ais.
Commigo tenho um gatto que ronrona e, quando o meu cachorro chega mais, percebo que estou certo. Quem abbona?
É facil convencer um editor dos mais commerciaes a publicar meu livro, menestrel! Um exemplar lhe dei! Você curtiu? Pode depor!
Tá certo. Nem precisa criticar. Nem quero lhe causar um dissabor pedindo que commente, pois, si for sincero, vae usar termo vulgar…
Ahi que está, Glaucão! De seguidor estou, nas redes, cheio! São milhões! Terei sempre editor ao meu dispor!
Que importa si não sou nenhum Camões? Que importa si me sinto um impostor? Melhor monetizar, ora, trovões!
SONNETTO DO CHARLATANISMO [13.570]
SONNETTO RELENDO O GABRIEL LIMÃO MACCHABEU [13.571]
A minha poesia publicada não quer ser, nem ser lida: quer lambida ser, ja que está, passando de ida em ida, mettida num Adidas, dia a cada.
A minha poesia desaggrada narizes mais sensiveis, mas convida um cego olfactizado que decida proval-a, appós a longa caminhada.
A minha poesia quer incenso ser para a postmoderna advaliação de tudo o que, rebelde, fedo ou penso.
Não quer ser entendida, appenas, não. Precisa ser cheirada, como o lenço que, em vez de perfumado, dá tesão.
SONNETTO DO EFFEITO INHIBIDOR [13.572]
Sabendo que se pode censurar postagens pelas redes, o subjeito se inhibe e, de repente, não tem peito nem para alguns colloquios no seu lar…
Aquelle que, em familia, quer fallar dum odio ou preconceito, ja sem jeito na certa ficará, mas eu suspeito que, em breve, dribblarão esse radar.
Responsabilidade não terão as redes por aquillo que se posta, jamais! É pretensão demais, Glaucão!
Juiz ha, sei bem disso, que não gosta de gente engraçadinha, com tesão de sempre responder a quem apposta…
SONNETTO DA COMMOÇÃO (1) [13.573]
Ja compta me dei: fora alguns dons mais, as vozes que me tocam são aquellas que fazem com que eu chore. Vozes bellas são essas, mais pungentes, mais vitaes.
São poucas que me fazem chorar ais sentidos: Stevie Wonder, por quem vellas accendo; Loudon Wainwright, nas singellas lembranças mais saudosas e finaes.
Sim, curto uma pauleira, mas é quando estou commigo mesmo que me toco e escuto quem commigo vae chorando.
A angustia, a solidão, estão no foco, pois, sempre que preciso do tom brando, encontro o que, por nada, jamais troco.
SONNETTO
DA COMMOÇÃO (2) [13.574]
Alem de Stevie Wonder, tambem são Ray Charles e José Feliciano as vozes pelas quaes tanto me irmano às dores mais pungentes na canção.
Não basta a lettra para a commoção causar: é necessario que esse panno de fundo na garganta dum meu mano de magoas eu escute, e estou chorão.
Sim, sempre identifico noutro cego aquelle tom choroso que me invade nas horas em que, em trevas, eu me entrego.
Mais fundo que, dos idos, a saudade, na falta dum porvir é que navego, emquanto outro chorão me persuade.
SONNETTO DO ORGASMO [13.575]
Intenso por ser breve e breve por intenso ser, o orgasmo deveria mais longo ser, tal como uma agonia, ou como, sempre intensa, alguma dor?
Si intenso for e longo o orgasmo for, será que gozaremos? Hem? Seria o gozo desejavel, ou phobia teriamos do sexo? Que suppor?
O orgasmo, caso fosse menos brando que intenso, terminando não sei quando, acaso não seria agonizante?
Si fosse, era Satan quem, no commando, dictava a duração desse nefando excesso de prazer, de nós distante…
SONNETTO DA ACCEPÇÃO [13.576]
Caralho significa muito, ou seja, si digo que este é verso p’ra caralho, affirmo que expressou o quanto valho no officio que, de bardo, não me peja.
Caralho tambem nada, de bandeja, expressa, si eu contesto um acto falho: Fallei bem? O caralho! Ou seja, malho terei descido: “Nunca! Só gagueja!”
Caralho ser bem pode interjeição, dizendo si gostar irei ou não, signal de exclamação addicionado.
Depende do que entono, uma questão si estou emphatizando, mas tesão somente significa appós meu brado.
SONNETTO
DA COMICHÃO [13.577]
Coceiras começar podem do nada, sem termos sido, pela pulga, bem piccados, nem por outro bicho, nem por causa da allergia agudizada.
Diziam ser “do sangue” essa ponctada aguda de prurido, que ninguem espera, mas, de subito, que vem por dentro da cueca, a desgraçada…
Na vista das visitas, você enfia a mão cinctura abbaixo, sem jamais chegar àquelle poncto… Uma agonia!
Olhares sobre si serão geraes, mas, ‘inda assim, você não se sacia e coça, sem parar, os genitaes…
SONNETTO DAS DORES
[13.578]
As dores são de muitos typos. Ha aquella de cabeça, que começa de leve e, progressiva, jamais cessa, até que insupportavel ficará.
Tambem a dor de dente inflamma à bessa as carnes da gengiva, até que dá vontade de gritar. Outra haverá que irrita: até passar, nunca tem pressa…
Seria a dor de corno, que dóe mais no pau que na cabeça, alem do cu, que sente esses ponctaços de punhaes?
O corno se imagina, todo nu, pisado por alguem que de seus ais debocha. Algum supplicio foi mais cru?
SONNETTO DO OLHO DOLORIDO [13.579]
As dores do glaucoma, para quem é medico, ora, quasi que inexsistem. Os medicos, crueis, jamais desistem daquelle indefectivel nhenhenhem.
“É mal silencioso, que ninguem nem nota, até que eclode!” Elles insistem em ponctos que, eu direi, ja não subsistem, com base no que sinto. Quem dó tem?
Nos olhos que, dos outros, a dor dóe, glaucoma nenhum pode definido ser como uma agonia que corroe…
Appenas é refresco… Quem ouvido deu para a medicina, nem de heroe irá chamar um cego desvalido…
SONNETTO DA ACCEITAÇÃO [13.580]
Glaucão, você reclama sem razão! A gente se conforma, nesta vida, com tudo, pois a vida nos convida a achar algum calor no coração!
Eu mesmo, que estes oculos ja tão grahudos uso, julgo ser soffrida a minha condição, mas a sahida encontro: lentes novas! Hem, Glaucão?
Bem sei que, no seu caso, nova lente não cabe, mas você concordará que pode renovar a sua mente…
Sorria! Acceite sua sorte! Hem? Ja é tempo de entender que quem se sente por baixo um dia morre e livre está!
SONNETTO DO CLIENTELISMO [13.581]
Glaucão, é mentirinha que essa emenda chegou à prefeitura por motivo politico! Das midias não me exquivo, mas fazem só fofoca, criam lenda!
Lhe peço que você, Glaucão, me entenda! Emendas são secretas! Eu não vivo a vida me explicando! Pelo crivo passei do Ministerio da Fazenda!
Secreto sempre foi todo orçamento!
Não sei por que é que, agora, alguem me cobra razões! Entender isso ja nem tento!
O publico dinheiro sempre sobra! Ha muito jornalista rabugento! Não sabem que sou massa de manobra?
SONNETTO DO SOMNAMBULISMO [13.582]
Meu somno, menestrel, bem intranquillo foi sempre! Eu até, rapido, caminho e, pela casa toda, ando sozinho! Meu olho nem consigo mais abril-o!
Notei que meus irmãos fazem sigillo daquillo que eu refiz com meu vizinho emquanto nós dormiamos, a vinho regados, como Baccho, nesse estylo!
Criticam-me por isso, menestrel! Não sabem que somnambulos estão alheios ao que fazem? É cruel!
Culpado sou si mesmo o meu irmão me fode emquanto durmo, no papel mais sadico da scena? À merda vão!
SONNETTO DO BRUXISMO [13.583]
Meu somno, menestrel, bem intranquillo foi sempre! Eu ranjo os dentes, entendeu? Não fique impressionado, mas é que eu com bruxas me envolvi… Peço sigillo!
À noite, me visitam! Eu vacillo, mas transo, sim, com ellas! Nesse breu, nem vejo si são feias! Só me deu tesão, quando me chupam com estylo!
Meu ecstase é tão forte, que eu os dentes apperto, nesse sonho delirante! Por isso são trincados e pendentes…
Um dia, ainda faço algum implante, mas, grana me faltando, sorridentes imagens não farei mais, nesse instante…
SONNETTO DO PUXASAQUISMO [13.584]
Magina, presidente! Impopular? Jamais! O seu charisma continua intacto! Ouvir bastou o que na rua commentam! O senhor ficou a par?
Só fallam maravilhas! Seu logar, ainda, nas pesquisas, se situa no topo! O dos demais sempre recua! Tranquillo fique! Irá, claro, ganhar!
Ninguem dessa bossal opposição capaz é de chegar até seus pés! Bastante incompetentes todos são!
Que importa si esquerdista seu viés de novo se tornou? Esse povão dará, como lhe dou, só nota dez!
SONNETTO DO VANDALISMO [13.585]
Picasso? Salvador Dali? Da Vinci? Magina! Não estou eu nem ahi! Nalgumas obras fiz até chichi! Eu causo mesmo! Faço o meu accincte!
Rasguei, ja, muitas telas, mais de vinte! Perdi, Glaucão, a compta do que vi que estava dando sopa por alli e, rapido, ultrajei! Pelo seguinte:
Preciso registrar o meu protesto! Artistas novos nunca que teem vez! Eu, para alguma coisa, agora presto!
Entende? É que estou farto do burguez que investe em arte e ignora todo o resto! Farei o que, nas artes, ninguem fez!
SONNETTO DO SENSACIONALISMO [13.586]
Viu, Glauco, o que fizeram? O coitado ficou cego por causa dum subjeito cruel, que botou acido (“Bem feito!”, disse elle) no collyrio receitado!
Sim, eram inimigos! Revoltado, o cego se vingou! Nenhum proveito tirou o seu algoz desse imperfeito delicto, pois morreu assassinado!
O cego contractou o mactador mais caro da parochia, que, sem pena, cegou e eliminou o cegador!
Agora, na cadeia, quem ordena mactar, appós cegar, irá se expor aos sadicos da cella! Ah, meu, que scena!
SONNETTO
DO INCONFORMISMO [13.587]
Foi por inconformismo, Glauco! O cara achou que se vingar iria, sem trabalho maior, desse que, recem casado, sua amada lhe tomara!
Um acido botou (Fallou: “Tomara que fique cego!”, como disse bem o proprio delegado) no que vem num frasco de collyrio! Ora, que tara!
Pingado no olho são, isso causou cegueira! Mas um olho se salvou, poupado dessa droga adulterada…
Quem manda adulterar, Glaucão? Nem vou contar o que na cella, appós, rollou com esse inconformista camarada…
SONNETTO DO PATRIOTISMO [13.588]
Embora não paresça, patriota sou, Glauco! Ora, você não accredita? Hem? Só porque não faço uma visita ao Christo Redemptor, em fé devota?
Não dou ao carnaval a minha quota uffana, nem procuro uma pepita nas selvas amazonicas! Me irrita as fozes commentar na minha ropta!
Não fallo, nem do Rio de Janeiro, nem mesmo de Fernando de Noronha, siquer, em Salvador, dalgum terreiro!
Ainda assim, não sinto uma vergonha tão grande si, em São Paulo, ja me inteiro de tantas novas boccas de maconha…
SONNETTO DO BONDAGISMO [13.589]
Tiveste ja, Glaucão, mão algemada? Tiveste ja grilhões, hem, nos teus pés? Hem? Nunca te encontraste, nas galés, à sadica mercê dum camarada?
Jamais tu foste, Glauco, na quebrada, por manos sequestrado, bem ao rés do chão pisoteado por uns dez pivetes brincalhões, chupando cada?
Com olhos teus vendados, nunca havias levado pela bocca alguma rolla sebenta, fedorenta, ja, de dias?
Sonhaste com alguem que curte pol-a por entre esses teus beiços? Hem? Sabias que idéa tal nem acho que é tão tola?
SONNETTO DO PROVINCIANISMO [13.590]
Quem acha ser alguem “provinciano” se julga, geralmente, em capital morar, kosmopolita, mas é tal e qual um caypyrão, de tudo uffano.
Orgulha-se dum podre centro urbano, a mijo tresandante? Cathedral por noias rodeada? Dum geral e immenso fundo, feio, ja sem panno?
Hem? Centro cultural? Hem, cara pallida? Quem anda, ainda, lendo? Quem lettrado se julga, frente à massa pobre, esqualida?
Quem xinga de caypyra alguem, de gado e safras rodeado, quer que valida ainda seja a lucta? De que lado?
SONNETTO DO CINCOENTISMO [13.591]
Rockeiros cincoentistas eram tão dansantes, menestrel! Si duvidasse, alguem até perdia a sua classe, capaz mesmo de dar algum pisão!
Si fosse em minha cara, até que não causava maior damno, mas pisasse naquelle sapatão, em vez da face, na certa causaria confusão!
Sapatos de camurça azul, com jeans, alem do topetão e da jaqueta de couro, foram itens mais affins…
Mas gatto que se preze não se metta com gangues mais rueiras, de ruins sanguinhos, pois na certa haverá treta!
SONNETTO DO SESSENTISMO [13.592]
Rockeiros sessentistas eram tão lysergicos, Glaucão! Si duvidasse, diria alguem que hervinha agora nasce até no mais domestico torrão!
A gente cultivava, de montão, plantinhas, cogumellos… Si chegasse visita, não havia desenlace erotico sem chas… E eu bem doidão!
Canções mais psychodelicas, em vez daquellas agitadas, eram trilha sonora até de escandalos, talvez…
Ninguem usa sapato que rebrilha nem roupas tem, de estylo mais burguez, mas entra até assassino na quadrilha…
SONNETTO DO SEPTENTISMO [13.593]
Rockeiros septentistas foram tão satanicos, Glaucão! Era capaz alguem de dar a bunda a Satanaz, alem de lhe beijar o cu sujão!
Ouvindo um heavy metal pelo Cão nos versos inspirado, um bom rapaz virava até bandido si, por traz, soffresse essa fatal penetração!
Mas eis que, de repente, chega alguem mais podre, mais anarchico, na scena, que para bagunçar as coisas vem…
A gente, que escrevia, agora antenna que estamos no momento de ter, sem reservas, uma lyra nada amena…
SONNETTO DO OITENTISMO [13.594]
Rockeiros oitentistas foram tão modistas e tribaes que, de repente, à gente se junctava aquella gente racista, até nazista, no portão!
Das gangues suburbanas, então, não cheguei a fazer parte, mas, silente não sendo, me expressei lyricamente accerca do careca mais brigão.
Lambi varios cothurnos, pois não nego que gente botinuda me interessa tambem pelo fetiche… Então, me entrego.
Mas rapido passava por mim essa rueira phase. Estou agora, cego, curtindo um som nos phones, bom à bessa…
SONNETTO DO COLLEGUISMO [13.595]
Ninguem, alli na Camara, haverá de estar a dedurar qualquer collega! Não quero ser um desses, meu, que entrega às feras um dos nossos, camará!
Mandatos são sagrados! Quem está pensando que vou, quando o bicho pega, votar contra meus pares, excorrega na merda que cagou! Razão não ha!
O gajo pode estar incriminado nas midias, na policia, no Supremo, que eu sigo, leal paca, do seu lado!
Peores consequencias eu nem temo, si estou de immunidades bem cercado! Não casso nem quem golpe quiz, extremo!
SONNETTO
DO CLUBISMO [13.596]
Prefiro ver o Vasco ganhar, ja que não sou sampaulino, do Timão! Não torço pelo Sanctos! Elle, então, que perca do Cruzeiro, camará!
Jamais quero o Flamengo onde elle está! Que perca, ja, do Gallo, meu irmão! O Gremio que não ganhe do Verdão! Nem mesmo o Botafogo ganhará!
Si for para perder do Fluminense, que seja para vel-o perder para o Vasco, na final, sem mais suspense!
Havendo um macta-macta, quebra a cara quem torça para time que não vence siquer o Colorado… Mas tomara!
SONNETTO DO CORPORATIVISMO [13.597]
Não, nunca voto contra alguem da minha bancada no Congresso! Não, sem chance! Si for para dansar, então que danse algum oppositor, não colleguinha!
Hem? Querem, ja, cassar quem nada tinha roubado, desta vez? Ninguem advance p’ra cyma do collega! Alguem ammanse quem venha com aquella ladainha!
A sanha dos reporteres não cessa! Então, nós precisamos nos blindar de tanta fallação, mais que depressa!
Jamais uma sessão parlamentar deixemos que se paute, si começa a midia a nossos pares diffamar!
SONNETTO DO FANATISMO [13.598]
Fanatico sou, mesmo, menestrel! Sim, sendo satanista, a Satan quero render o meu tributo, pois venero seu rabo! Sou àquelle cu fiel!
Você nunca beijou, ao prazer bel de Lucifer, as pregas? Não é mero fedor, esse, de enxofre, e sim severo sabor, bem mais amargo do que fel!
Só mesmo o fanatismo dum devoto supporta aquelle cheiro sulphuroso, Mattoso, mas supporto, pois fé boto!
Ainda que não tenha nenhum gozo, eu creio que elle vence! Irá, na photo, ficar bem, e serei, tambem, famoso!
SONNETTO DO OCCULTISMO
[13.599]
Não pode ser assumpto de geral e publico motivo de interesse, Glaucão! Que todos queiram saber desse negocio nunca achei eu tão normal!
Que perca seu sigillo, com aval de todos os confrades, não me desce! Prefiro que se faça aquella prece secreta aqui na nossa cathedral!
Si for em plena praça, vae causar escandalo! Dirão que estamos sendo satanicos! Rirão, até, no bar!
Devemos nos fechar, é o que eu entendo! Sinão, a multidão irá pensar que esteja a nossa bocca, ja, fedendo!
SONNETTO DO EUPHEMISMO [13.600]
Addeus! Até mais ver! Chau chau! A gente se falla! Nos fallamos! Até breve! A gente, neste seculo, se escreve! Ainda nos veremos, certamente!
Nos vemos por ahi, seguramente! Té mais, hem? Té depois! A gente deve, em breve, se cruzar! Depois da greve, a gente ‘inda se exbarra pela frente!
Não suma! Até ja ja! Pô, como voa o tempo! Logo, logo, cruzo os teus caminhos! É do mar quem não enjoa!
Te estimo muito! Fique bem! Si Deus quizer, te encontro logo, gente boa! Te cuida! Até loguinho, sim? Addeus!
SONNETTO DO DESFECHO [13.300]
A cada novo livro que termino de, celere, compor, me indago si, de facto, para ainda andar aqui, motivos haverá desde menino.
Por que não me mactei? O que imagino se prende, na cegueira, ao mimimi do qual sou accusado por quem ri da victima dum tragico destino.
Nos livros, macto o tempo, para não mactar minh’alma, alem do corpo, um fardo que, em trevas, não vislumbra a salvação…
Quem ri do meu azar é felizardo? Talvez seja, mas clamo: os “normaes” hão, um dia, de entender por que fui bardo…

Casa de Ferreiro
