DOBRAVEL, INDOBRAVEL, DESDOBRAVEL

Page 1


DOBRAVEL, INDOBRAVEL, DESDOBRAVEL

Glauco Mattoso

DOBRAVEL, INDOBRAVEL, DESDOBRAVEL

E OUTROS SONNETTOS

São Paulo

Casa de Ferreiro

Dobravel, indobravel, desdobravel © Glauco Mattoso, 2025

Editoração, Diagramação e Revisão Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

Fotografia: Akira Nishimura

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Mattoso, Glauco

DOBRAVEL, INDOBRAVEL, DESDOBRAVEL E OUTROS SONNETTOSRVIL/ Glauco Mattoso. –– Brasil : Casa de Ferreiro, 2025. 114 Páginas

1.Poesia Brasileira I. Título.

25-1293 CDD B869.1

Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia brasileira

NOTA INTRODUCTORIA [10.100-F]

A cada novo livro, me questiono accerca do que posso compor como prefacio si, na practica, só sommo sonnettos e sonnettos collecciono.

Digamos que eu não diga que num throno sentei do sonnettismo, mas que eu domo o verso decasyllabo, pois tomo logar de quem nariz tem, sendo dono.

Em tempo de editar anthologia me vejo, quando somma meu trabalho, talvez, onze milhares. Quem diria?

Tem tudo o que compuz um vario talho thematico, mas tudo, todavia, demonstra que, na verve, eu jamais falho.

SONNETTO DOBRAVEL [13.401]

Sonnetto, quando o faço, será obra que possa se dobrar ao meu desejo de impor experimentos. Neste ensejo, meu estro reaffirmo, pois, de sobra.

À dupla affirmação elle se dobra, agora que, na pagina, não vejo mais sua cara: chulo, usa, sem pejo, a lingua, mas, formal, um preço cobra.

Propuz desconstruir, em quantidade, o genero, porem a qualidade mantendo: um paradoxo ouso propor.

Mantive, em poezine, esta amizade possivel entre luxo ou chulo. Um ha de render-me immortal nome, é de suppor.

SONNETTO INDOBRAVEL

[13.402]

Sonnetto, quando o fiz, sempre foi obra que nunca se dobrou ao meu desejo de impor experimentos. Neste ensejo, jamais confirmarei qualquer manobra.

À dupla affirmação nunca se dobra: Nem como obscenidade eu, cego, o vejo, nem como “ouro nativo” meu traquejo impede que se empregue, ‘inda, de sobra.

Propuz desconstruir, em quantidade, o genero, porem a qualidade mantendo: um paradoxo ousei propor.

Mantive, em tantos livros, a amizade possivel entre elite e povo? Um ha de render-me immortal nome? Hem? Que suppor?

SONNETTO DESDOBRAVEL [13.403]

Sonnetto será sempre infeliz obra. Excappa, vez por outra, ao meu desejo de impor certas verdades. Neste ensejo, observo que em vertentes se desdobra.

Versões e variantes tem de sobra. Nem sempre é pornographico, nem vejo que sempre se disponha ao malfazejo desejo de ser massa de manobra.

Propuz desconstruir, em quantidade, o genero, porem a qualidade mantendo: um paradoxo ousei propor.

Não tenho, sobre nada, a auctoridade em tantas releituras. Ninguem ha de negar que sou, porem, ainda auctor.

SONNETTO CURTIVEL

[13.404]

Um facto que, veridico, occorria: Tornei-me fellador dum japonez, ou antes, descendente, certa vez. Curtia -- Ah, si curtia! -- a putaria…

Seu pau se introduzia, mas por via oral, e ia bombando qual freguez fiel das artimanhas do Marquez, a poncto de engasgar-me emquanto urdia.

De porra a minha bocca abbastescia. Depois, elle mijava a prestação, em jactos bem curtinhos, e eu bebia…

Nem todo japa assume tal tesão, mas esse me brindava, como orgia bem sadica, com lubrica micção.

SONNETTO REMEDIAVEL [13.405]

Um dia, annunciou seu casamento o japa que eu chupava, por vontade, é claro, da familia. “Mas quem ha de chupal-o como chupo?” Um mau momento…

De mim ficou distante. Em pensamento, porem, lhe vinha a scena, jus a Sade fazendo, da mijada que me invade a sordida garganta, a qual enfrento.

Nas raras circumstancias em que estava mais longe da mulher, jogando tennis ou golfe, elle irrumava a bocca escrava.

Na rapida visita, ah, como o penis mettia com tesão! Ah, si mijava gostoso, com golfadas sempre infrenes!

SONNETTO PLAUSIVEL

[13.406]

Do japa algum cunhado suspeitou que estava com veados se mettendo. Até que taes suspeitas eu entendo, mas esse irmão da moça me encontrou.

Notando que machão, si tal não sou, ao menos eu paresço, foi fazendo perguntas… “Quer saber si estou comendo seu masculo cunhado? Não estou!”

Assim fallei, mas elle saber quiz mais coisas, si era mesmo seu cunhado activo na sessão. Ficou feliz.

De facto, lhe expliquei que, para aggrado dum macho, minha bocca tem servis funcções e rende incrivel resultado.

SONNETTO RAZOAVEL [13.407]

Assim fallei: {Sossegue. Seu cunhado jamais humilharia a sua mana. Mulher nenhuma quer dalgum sacana tractada ser tal como um vil veado.}

{Commigo o seu cunhado, sem cuidado nem pena, faz aquillo que me irmana aos bichos, aos cachorros. Na mundana funcção de fellador eu me degrado.}

{Na minha bocca aquelle macho, o seu cunhado, só practica as putarias às quaes a mulher delle não cedeu.}

{Por isso lhe confesso que, por vias oraes, sou como o servo mais plebeu, que só para abjecções tem serventias.}

SONNETTO COMPROVAVEL [13.408]

Então o japonez quiz me propor um pacto. Disso nada fallaria com outrem, desde que eu egual orgia com elle practicasse sem pudor.

É claro que topei. Para lhe expor, de cara, como magicas fazia com minha lingua louca, sem phobia, seu tennis descalcei. Que bello odor!

O japa allegou algo do chulé que tinha, a desculpar-se, mas notando que eu, avido, o lambia, botou fé.

Gostou, quiz que eu chupasse seu nefando vão cheio de frieiras. Foi até mais rispido, depois, ja no commando.

SONNETTO MEMORAVEL [13.409]

Emfim este relato breve encerro narrando que foi tudo como narro. O japa accostumou-se com o sarro e logo retornou, mettendo o ferro.

Em pouco, chupo os dois e escuto o berro de gozo cada vez que, rente, exbarro a lingua numa glande que bizarro tesão vem desfructar. Jamais eu erro.

Um delles nunca sabe que eu chupei seu timido parente, pois la fora são elles discretissimos, bem sei.

Bom, gente, me despeço, pois agora ja chega de lembranças. É que gay não posso ser, tão louco, como outrora.

SONNETTO INTOCAVEL [13.410]

Não, Glauco! Precisei fugir, sinão seria presa! Ah, como poderia tal vida supportar nalguma fria prisão para mulheres? Eu, hem? Não!

Ah, não! Mil vezes não! Do coração ja soffro, fora alguma nevralgia rheumatica, alem duma aguda azia, por causa desse estresse que me dão!

Eu era valentona! Ah, que ninguem ousasse me xingar, pois, bem armada, eu fogo passaria, mestre! Eu, hem?

Agora condemnada, ja mais nada espero conseguir! Ninguem me vem salvar! Resta fugir, meu camarada!

SONNETTO VULNERAVEL [13.411]

Estão as consequencias do que fazes medidas por ti, mestre? Estás ficando de todos affastado! Teu nefando azar augmentará! Vae, faz as pazes!

As pazes não fizeste com rapazes malvados, todos esses que, no bando do bairro, te curravam, Glauco? Quando puderes, recommendo que te cases!

Sozinho si tu ficas, é capaz um delles de invadir a tua casa, currar-te novamente! Errar não vás!

Reflecte, mestre! Fica quem se casa mais livre de invasões! Algum rapaz terás, que por ti queira arrastar asa!

SONNETTO INCONSOLAVEL [13.412]

Discipulos teus, mestre, me contaram que estupros commettiam contra ti depois de estares cego… Mas aqui p’ra nós, mestre… Será que exaggeraram?

Verdade? Esses rapazes te estupraram? Fizeram ja comtigo o que reli nos teus sonnettos? Delles o chichi bebeste? Essas lembranças não te enfaram?

Ainda, Glauco, sonhas com aquillo que delles tu comeste na privada? Jamais conseguirás dormir tranquillo?

Que eu possa fazer, mestre, não ha nada? Não mesmo? Si quizeres, sem vacillo, consolo-te e me pagas a chupada!

SONNETTO ACCONSELHAVEL [13.413]

Suggiro-te jamais idéa tal em practica botares, menestrel! Nenhum gigolô sabe ser fiel! Iriam te tornar um animal!

Um cego que conhesço no hospital parar foi porque esteve, cara, ao bel prazer dum gigolô, bebendo o fel amargo do sadismo! Farás mal!

Conselho te darei, da mais sincera estima, menestrel! Sei dum michê que nunca dos clientes se appodera!

Appenas elle espera que lhe dê gorgeta boa aquelle que se exmera chupando um pau de erotico buquê!

SONNETTO PECHINCHAVEL [13.414]

Não, Glauco! Sou rapaz honesto! Não estupro os meus clientes! Não, jamais! Só faço uns delles desses animaes domesticos, eguaes ao fiel cão!

Aquelles que me pagam bem me dão inteira liberdade de seus ais, aos poucos, controlar! São sexuaes escravos, mas controlo o meu tesão!

Sossegue, menestrel, pois lhe prometto appenas lhe metter o pé na cara, sem outras malvadezas que commetto!

Achou minha cobrança muito cara?

Lhe faço um bom descompto! Num sonnetto, depois, você elogia a minha tara!

SONNETTO ACCESSIVEL [13.415]

Alô! Mattoso? Puxa, até que emfim! Estava aqui esperando que ligasses! E então? Me conta ahi! Deste, hem, as faces a tapa? Aquillo tudo foi ruim?

Sim, temo os taes michês, pois eu ja vim a ser, desses que estão nas baixas classes, a victima perfeita! Caso os caces, cuidado toma! Guarda teu dindim!

Que foi que te fez esse rapagão? Lambeste esse pé chato? Que tesão! Cobrou-te muito caro, menestrel?

Caramba! Foi barato o chulezão? Então só teu vintem, só teu tostão gastaste? Nem foi dollar em papel?

SONNETTO INCONTORNAVEL

[13.416]

Relaxa, mestre! Estás assaz de estresses possesso! Teu discipulo sou, mas paresço ser teu mestre! Estás assaz possesso por estresses! Tu me exquesces?

Te lembras de mim, mestre? Tuas preces, ha tempos, attendi! Jamais terás sossego si exquesceres Satanaz! Quiz elle que mais preces tu fizesses!

Precisas crer em Lucifer, meu caro! As tuas afflicções só lenitivo terão si para a fé tiveres faro!

Não sentes desse enxofre meu activo odor? Tuas narinas esse raro aroma reconhescem? Ou me exquivo?

SONNETTO ININFLAMMAVEL

[13.417]

Aquelles trouxas todos, Glaucão, não iriam se sentar dos réus no banco si golpe não tentassem! Eu sou franco, Glaucão! Sim, estariam no bembão!

Bastava disputarem eleição ao baixo clero! Prompto! Um solavanco siquer nem sentiriam! No tamanco quizeram, pois, subir? Se foder vão!

Podiam desfructar de mordomia à bessa! Generaes, si de pyjama estão, nunca recebem má quantia!

Puzeram a perder tudo! Se inflamma a tropa toda à toa! Alguem iria seguir quem nem engendra boa trama?

SONNETTO IMPREVISIVEL

[13.418]

Reparem, meus senhores, nesse carro electrico que está no meu jardim! Orgulho nos dará! Creiam em mim! Mais tarde, lembrarão do que lhes narro!

Do carro o fabricante tira sarro dos carros de motor antigo! Sim, É nossa solução, por mais dimdim que custe! Lhes paresce tão bizarro?

(Trez mezes depois…) Vejam só que latta comprei eu, de sardinha! Tal sucata é cara demais! Nada soluciona!

Motor a gazolina não empatta a foda! Foda-se esse tal magnata! Nem pego no seu carro uma carona!

SONNETTO INELEGIVEL [13.419]

Attenta, caso queiras planejar a apposentadoria: nenhum plano privado livre fica desse insano imposto do governo! Um puta azar!

Puzeste fé naquelle linguajar fajuto do mercado? Nada, mano! Diziam que Fulano, que Beltrano lucrara, no mais alto patamar!

Tirei eu, da poupança, meu dinheiro suado, que junctei devagarinho, só para pôr no plano! Um surto beiro!

Aquelle fidaputa, de mesquinho intento, me fodeu! Mas ja me inteiro: Jamais se reelege, esse damninho!

SONNETTO IRRETORNAVEL

[13.420]

A volta alguem suggere desse imposto do cheque, esse que exstincto fora ja, saudades sem deixar. Alguem está brincando, sim, com fogo! Ora, que encosto!

Glaucão, de infernizar não sei que gosto teem esses maus politicos! Será possivel que não notam, camará, a furia do povão, o odio no rosto?

Não tarda, algum ministro ou assessor lynchado será, Glauco! Uma alegria daria a todos nós! Basta se expor!

Terá que estar trancado numa fria prisão! No gabinete esse estupor não fica, si Satan me ouvir, um dia!

SONNETTO INADDORMESCIVEL [13.421]

Que insomnia, cara! A noite nunca passa! Comtigo tambem isso occorre? Puxa! Tentei comptar carneiros, quente ducha tomar, mas não ha nada que se faça!

Diziam que cerveja, que cachaça, ou vinho, davam somno, mas gorducha ficou minha barriga… Alguma bruxa jogou-me praga, dessas de má raça!

Que fazes, menestrel, para que possas dormir? Punheta battes? Mas que grande idéa! Pensarei nalgumas bossas…

Sabão exfregarei na minha glande, lambidas simulando… Tu te coças assim? Assim teu ecstase se expande?

SONNETTO DORMITAVEL [13.422]

Nanar é tão gostoso! Meu bassê que o diga! Ah, si eu pudesse dormir tanto! Si hinverno, lhe colloco um quente manto por cyma! Ah, como nana meu bebê!

Você não dorme tanto? O que você faz para addormescer? Ouve esse canto khoral, gregoriano? Ja faz quanto tempinho? Muitos seculos? O que?

Assim tão velho, mestre, é que se sente você? Mas meu bassê só viverá mais dois ou trez anninhos, ja doente…

Melhor somno que a morte? Hem? Não, não ha! Appenas cochilamos, aqui! Tente pensar nisso, meu caro camará!

SONNETTO VIVIVEL

[13.423]

Vivemos nós, Glaucão, como si fosse num somno polyphasico. Um cochilo agora, algum mais tarde… Bem tranquillo não durmo, mas a vida não é doce…

Um dia partiremos, e accabou-se o somno piccadinho! Sem vacillo, te digo que não quero num asylo morrer! Mas boa nova Satan trouxe…

Sabias tu, Glaucão, que iremos nós passar um tempo paca, appós a morte, dormindo num bom limbo? Nada atroz…

Ainda bem que temos essa sorte, só nós, os cegos… Ouve, então, a voz satanica! Accredita! Ha quem se importe…

SONNETTO MEDICAVEL [13.424]

Tomei uns comprimidos, trovador, só para addormescer bem mais depressa. Occorre que de insomnia andei, à bessa, soffrendo. Cappotei, é de suppor…

Tambem és tu de insomnia soffredor? Então te indicarei, trovador, essa incrivel droga. Tudo que interessa é que ella de cabeça nem dá dor.

Eu, antes, só tomava aquelle vinho commum, ou até mesmo o tal licor dos bardos, um absintho baratinho…

Mas dava aquella puta dor! Quem for beber que se previna! Meu caminho achei: ja me tornei consumidor…

SONNETTO PREFERIVEL [13.425]

Não, Glauco! Minha thia não quer nem ouvir fallar nas pillulas que estão à venda por ahi, pois faz questão de chas me preparar! Faz ella bem!

De insomnia soffro, Glauco! Ocê tambem? Não tome comprimidos, então, não! Licores de cabeça dores dão! Melhor só chas tomar! Me deixam zen!

Tithia algumas hervas põe naquellas bebidas, que provocam até bellas visões paradisiacas, Glaucão!

Garanto: nem siquer deixam sequelas! Nem temos pesadellos! As cannellas sonhamos que battemos! Legal, não?

SONNETTO APPROVEITAVEL [13.426]

Dormir? Ora, a melhor coisa que exsiste na vida para a gente dormir é massagem relaxante em nosso pé! Funcciona que só vendo! Tu ja viste?

É só pedir a um cego que te liste as physicas vantagens dessa fé holistica! A massagem vae até curar quem sempre esteve muito triste!

Tu foste massagista? Ah, sendo cego, é logico que entendes desse troço! Hem? Fazes com a lingua? Ahi me pego!

Dormir irei, depois, mas, antes, posso até gozar lambido assim, não nego! Ainda massageias? Mestre és nosso!

SONNETTO INENNOJAVEL [13.427]

Não, Glauco! O melhor jeito para a gente dormir é ter orgasmo! Depois dum, a gente está mais grogue que bebum e immerge num torpor rapidamente!

Não vale ser com puta! Nada sente a gente si foder uma commum, daquellas que se ennojam com um pum e evitam engolir nossa semente!

Si puta for, terá que ser polaca!

Aquella, sim, nem liga para a “nhaca” das partes que terá de lamber, ora!

Um somno, com certeza, a gente emplaca, mas, antes, é gostoso ver a vacca de lingua dando um banho, rolla affora!

SONNETTO REVIRAVEL [13.428]

Ah, Glauco! Um “Boa noite, Cinderella!” soffri recentemente! Nem te conto! Dormir eu quiz com puta, alli no poncto aonde sempre eu ia, na favella!

Mas era puta nova… Achei que della vantagem tiraria… Fiquei tonto, depois de ter tomado, com descompto, um drinque… Hem? Que é que tinha? Alguem revela?

O coppo tinha alguma verde mentha… Hem? Era absintho? Nunca saberei! Ficar de pé, depois, ninguem aguenta…

Depois que desse effeito cappotei, alem de ter na compta só zerenta, fizeram de mim tudo! Virei gay!

SONNETTO FESTEJAVEL [13.429]

Agora virou moda! Numa festa, até de casamento, um “penta” appella e exfrega algo nos noivos: uma bella porção de bollo! Pô, ninguem protesta?

Eu mesmo ja assisti! Si desembesta a coisa, ninguem freia! Vi, na tela, a cara do subjeito com aquella camada de glacê! Gostou, hem, desta?

Em outra dessas festas, a mulher levou toda a fatia pela sua carinha de babaca! Ahi, quem quer?

Commigo não, Mattoso! Quem actua assim se foderia! Até, si der, lhe deixo, no sallão, de bunda nua!

SONNETTO REVIDAVEL

[13.430]

No meu anniversario quiz, tambem, um desses me exfregar uma fatia de bollo pela cara! Alguem iria achar que eu acceitava aquillo bem?

No dia a dia, até que sou bem zen, mas, quando me mellei todo, não ia deixar barato, Glauco! Que mania! Subi nas tamanquinhas! Não quiz nem…

Saber! Sahi no braço! O tal pentelho joguei da porta affora! Ja na rua, fiz que elle me ficasse de joelho!

Depois que dei porrada, metti sua cabeça na sargeta! Ja acconselho: Fizeram com você? Pois retribua!

SONNETTO INTOLERAVEL [13.431]

Sou como o Lennon, mestre! Mulher minha não anda se encontrando com algum folgado Ricardão! Si estou bebum, eu parto p’ra aggressão! Que batter tinha!

Si pego com alguem essa gallinha, ah, Glauco, não mantenho o meu bumbum sentado! Vou à forra! Farei um tremendo sururu! Mas que putinha!

Mil vezes advisei: sou ciumento! Prefiro vel-a morta a vel-a com um gajo que pau tenha de jumento!

Sim, posso na cueca ter batom, mas ella, menestrel, só me contento que esteja na cozinha, seu bom dom!

SONNETTO ELITIZAVEL [13.432]

Não sou eu escriptor de brochurinhas, não, como o Paul cantava, Glauco! Os meus livrinhos cappa dura teem! Addeus ja dei às edições baratas minhas!

Baratos livros, Glauco, tu ja tinhas escripto? Os editores aos plebeus só vendem os de bolso, mas os teus não fallam ao povão! Rhymas as linhas!

Fizeste, cara, alguns sob encommenda? Eu acho horrivel isso, pois a gente de puta passa a ficha! Ha quem entenda?

Agora melhorei! Ja meu agente me pede edificantes textos! Venda nem tenho: compra algum burguez, somente…

SONNETTO DELEITAVEL [13.433]

O doce, si é de abobora, em estado de graça nos colloca, ja dizia mamãe, que sempre fez tal iguaria. Mas nada se compara ao que é truffado.

Si é de batata doce, para aggrado de quem é formiguinha, sobraria só cheiro na tigella ja vazia. Mas nada se compara ao que é truffado.

Servida num hotel tal sobremesa, o George iria, sem qualquer surpresa, fazer uma canção illuminada.

Eu mesmo, si provasse isso que fez a avó dum meu amigo, com certeza diria: “Doce egual? Ah, não ha nada!”

SONNETTO SUBMERSIVEL

[13.434]

Morar num submarino? Ringo diz que dá para chamar toda a gallera amiga. Mais amigos elle espera. A vida assim paresce ser feliz.

Diria tal canção coisas subtis alem do que se espera? Quem nos dera! Appenas no desenho tal chimera assume proporções dalgum paiz.

Naquella dystopia, a gente vê caretas dominando o que você talvez associasse a algum logar…

Si for só na canção, essa deprê noção jamais se vê. Disse eu: “Cadê o nexo disso tudo, Ringo Starr?”

SONNETTO DEPRIMIVEL [13.435]

Não, Lennon não compunha blues. Mas, quando compoz, de suicidio quiz fallar. Si estou, talvez, de Lennon no logar, direi algo que estava aqui guardando.

Me sinto só. Sim, quero morrer. Mando às favas quem me queira consolar. Si falta pouco para me mactar, mais nada chamarei eu de nefando.

Bem, ja que irei morrer, vou desfructar de tudo que não pude em outras eras, comendo, por exemplo, um bom manjar…

Sim, truffas do Savoy! O que é que esperas do gosto da ambrosia? Appós provar tal doce, morrer posso, sem chimeras…

SONNETTO AUTOCENSURAVEL [13.436]

Alguns pakistanezes, sem licença, occupam Londres. Prompto! Ja surgia motivo para haver xenophobia. O que é que disso Macca, affinal, pensa?

“Get back” elle escreveu. Mas não compensa mandar os immigrantes, certo dia, de volta para casa. Alteraria a lettra: assim se evita a desadvença.

Mais tarde, na appertada cobertura dum predio bem central, a banda dava, ao vivo, uma “jam session” que perdura.

Xenophobo ninguem mais se julgava, mas sempre exsistirá, nessa cultura britannica, quem “pakis” manda à fava.

SONNETTO TRIBUTAVEL [13.437]

Augmenta a taxação e mais imposto está cada governo nos baixando. Você ja declarou? Vae sinão quando inventam nova aliquota. Ah, que gosto!

O George bem lembrou. Quem no commando está só quer gozar do nosso rosto. Eu mesmo, si estivesse nesse posto, emprego dava a todos do meu bando.

Melhor nem reclamar. Si foi, por cento, noventa que lhe cobram, ‘inda dez lhe sobram. Não, chiar eu jamais tento…

Até, para quem anda, alguem os pés lhe taxa! Desse jeito, um chulepento pezão aos gays mais custa! Ah, que revés!

SONNETTO ROPTEIRIZAVEL [13.438]

Agir naturalmente? No cinema paresce-me impossivel, mas alguem fallou ao Ringo: “Nossa! Você nem se estressa! Segurança tem extrema!”

Aos Beatles, nesse caso, foi o thema bem simples de filmar. Houve, porem, pequena falha: alli jamais ninguem mostrou seu pé descalço. Ora, ha quem tema?

Ha tempos, um photographo ja fez sessões nas quaes os Beatles, de pyjama, exhibem os pezões nus. Que tesão!

Alguem me fofocou isso. Talvez verdade seja: alli, naquella cama, chupou Macca, do Lennon, o dedão…

SONNETTO IMPERCEPTIVEL [13.439]

Quem mais tinha chulé, dizem, seria o George. Elle chodó tinha demais por um sapato velho, que aos seus ais dos callos dava allivio todo dia.

Marron esse sapato fora. Havia um tempo, desbotara. Não, jamais certeza nós teremos si reaes são essas fofoquinhas. Mas, por via…

Das duvidas, supponho que lhe tiro tambem dos pés as meias que, suadas, bem forte fedem. Porra, quasi piro!

Dos Beatles muitos fans outras balladas na certa curtirão, mas, neste gyro, dou trella às mais podolatras sacadas.

SONNETTO REJUVENESCIVEL [13.440]

Dos vinte emquanto esteve ‘inda na casa, o Macca achou que velho demais era quem, nos sessenta e quattro, não espera mais nada desta vida. Que rapaz, ah!

Agora que seu tempo se dephasa e passa dos oitenta, a tal chimera dos jovens se exvahiu. Na actual era, um velho bem que trepa. Até se casa.

O tempo nos ensigna. Antigamente nós eramos mais bobos pela banda que tanto fez o mundo differente…

Mas Dylan allertou: hoje, quem anda na casa dos septenta até se sente mais joven do que foi na propaganda…

SONNETTO NOTICIAVEL

[13.441]

São vinte e dois pisões no rosto, vate, alem dos varios chutes na cabeça! Espera alguem que tal facto se exquesça? Magina, menestrel! Cabe debatte!

Quem foi pisoteado se debatte da vida para a morte! Caso desça ao tumulo, duvido que apparesça aquelle que incitou tal disparate!

Sahiam, me disseram, duma casa nocturna… Discutiram e… Quem fica debaixo duns pezões é quem não vaza…

Vazou a tempo quem se identifica mas nunca será preso… Ja lhe embasa tal caso um sonnettinho sobre zica…

SONNETTO IMMORTALIZAVEL [13.442]

Poetas brazileiros, si valor tiveram, só morreram de doença gravissima, accidente e desadvença propensa a crime barbaro, si for!

Que podes, menestrel, disso suppor? Acaso morrerás de dor intensa? De grippe? Bomba? Alguem que me convença do fado que persiga cada auctor!

Ouvi fallar que só famoso fica, depois de morto, o gajo que estiver soffrendo, si as cannellas, cedo, estica…

Terá que ser alguem cujo mester envolva vicio ou crime… Tua zica de cego serviria de colher…

SONNETTO

CONDEMNAVEL (1) [13.443]

Dizia Leo Lins o que interpreto. Bem, digo que “dizia” porque ja disseram ao subjeito que não dá mais para ser assim tão incorrecto.

A um gordo Leo disse e foi directo: “Cê quer emmagrescer? Mas nem será preciso perder tempo, camará, com tanta malhação…” Não ficou quieto:

“Sim, basta pegar AIDS! Então é só sahir com gays trepando por ahi…” Das varias minorias não tem dó…

P’ra cyma do humorista mimimi não falta, nem processo. Não, chodó por elle não terei. Porem eu ri.

SONNETTO MUSICAVEL [13.444]

Não é possivel! Frente ao altar, tu juraste teu amor me dar! Sim, para o resto dos teus dias! E eu jurara amar-te em egualdade, meu chuchu!

O padre representa Deus! Tabu total é, quando um caso ja se azara, pedir separação! Eu tenho cara de trouxa, meu chuchu? Falla bem cru!

Tu podes ir aonde tu quizeres, fazer tudo o que fazem as mulheres da vida, até sahir com Ricardões…

Mas não te dou divorcio, que é peccado! Embora durmas sempre do meu lado, um dildo no meu rabo nunca pões…

SONNETTO INFESTAVEL [13.445]

Glaucão, o meu irmão ja na privada nem senta mais, tranquillo! Occorreu isto: Subiu-lhe pela perna (nisso insisto) a aranha gigantesca, ja estressada!

Até que entendo, cara! Quem não brada, na hora, por soccorro? Jesus Christo! Insisto no tamanho, não desisto: Commum não é tamanha aranha, nada!

Estamos na cidade, não no matto! Calcule si, por dentro do sapato, eu sinto uma bichana dessas, meu!

Si me encho de coragem, eu a macto, mas outras surgirão, e eu ja constato que, pelo jeito, o mundo se fodeu…

SONNETTO INTREPAVEL

[13.446]

Na hora de trepar com minha amada, que foi que na parede vi, Glaucão? A aranha cabelluda! Meu irmão, egual àquelle bicho não ha nada!

Os pellos até brilham! E tem cada chelicera! A bundona do bichão maior é do que um kibbe! Eu mesmo não consigo crer que exsista tal malvada!

Só pode ser damninha a Natureza, creando um animal que, com certeza, agir irá com sanha malfazeja…

Quem é que ‘inda tesão, na luz accesa, consegue segurar? Tambem illesa, a chota della acção ja não deseja…

SONNETTO INCONTROLAVEL [13.447]

Por causa de immigrantes que estão sendo expulsos dos Esteites, de repente, os animos se accirram e tem gente morrendo. Muita gente está soffrendo.

Los Angeles é palco. Não entendo que idéas pavorosas veem à mente dum gajo tão patife e incompetente a poncto de mactar… Scenario horrendo…

Semente do que pode se expalhar, o caso de Los Angeles tem ar daquillo que é, na America, banal…

Não tarda, haverá força militar a torto metralhando quem ousar viver numa potencia mundial…

SONNETTO SATURAVEL [13.448]

Num filme japonez, sempre é gigante o monstro que destroe toda a cidade de Tokyo. Sempre em Tokyo! Ora, quem ha de pensar em um que em outro logar ande?

Gorillas, dinosauros… Ja se expande a fabrica dos filmes. Na verdade, está tambem na China. Que me enfade, não vejo nada anodyno o bastante…

Não, Glauco, tal cinema só clichê repete! Exhausto fico! Um dia, susto meus gastos num filão tão demodê!

Emquanto fui creança, ainda susto me dava ver monstrengos que você jamais verá de novo… Um fado justo…

SONNETTO INTUTELAVEL [13.449]

Tiraram todo o sal da mortadella, do bacon, do presuncto que, hespanhol, chegou-nos importado! Nesse rol salame tambem entra! Deram trella!

Por causa desses medicos, quem zela por nosso paladar scismou que anzol se torna a propaganda, sem excol, que totalitarismo, só, revela!

Não querem que comamos sal? Quem é que pode me impedir de degustar aquillo de que gosto? Sou mané?

Adulto sou! Exijo o meu logar de falla! Si eu quizesse botar fé nos medicos, a ver ia voltar?

SONNETTO INESPERAVEL [13.450]

Estive digitando o dia todo, segundo o meu biographo. Mentira. Não passo tanto tempo minha lyra urdindo. Mesmo assim, produzo a rodo.

Ganhei ja, dos amigos, um appodo: “Usina de Sonnettos”. Que confira quem queira duvidar. Pois é, se vira um cego, né? Nem sempre, irmãos, me fodo…

Em pouco, ja quattorze mil terei composto neste practico teclado, em Windows, para cegos. Usar sei…

Nem sempre gaz terei, por outro lado, nas horas em que espero, pela lei divina, deixar logo o meu legado…

SONNETTO INHABIL [13.451]

Hem? Como? Um escriptor cego? De jeito nenhum! Eu não acceito! Não aqui! Nem venhas fazer esse mimimi p’ra cyma de mim, ora! Não acceito!

Emquanto for eu membro grande, eleito por voto dos demais, quero de ti distancia! Me entendeste? Nunca vi tamanha pretensão! Com teu defeito?

Jamais! Aqui nem cegos, nem quem tenha qualquer deficiencia, terá meu aval para addentrar, nem siquer senha!

Pensaste que, por seres um plebeu valente e empoderado, de ferrenha conducta, me commoves? Não! Não eu!

SONNETTO INCOMPTABIL

[13.452]

De “caixa dois” ouviste fallar? Não? De grana que, “por fora”, se desvia, tambem não? Nem de “incognita quantia”? Cacete! Estás por fora, meu irmão!

Aqui nós transferimos, de montão, altissimos montantes! Quem iria fazer auditoria? Ah, sahiria da porta affora, a chute e bofetão!

Que entendas duma vez por todas: nem que a vacca ao brejo va, nosso dinheiro será verificado, por ninguem!

Si queres, experneia, companheiro! Nem mesmo Satanaz aqui mantem poderes de fiscal! Cheguei primeiro!

SONNETTO COMPTABIL [13.453]

Não, mestre! Entrou dinheiro? Nós aqui mantemos nossos livros em total controle! Não darei, jamais, aval a rombos e desvios, insisti!

Fallei aos jornalistas, ora! A ti tambem repetirei: age bem mal aquelle que malversa capital alheio! Falcatrua, aqui, não vi!

Talvez, numas gestões passadas, ja bastante grana tenham desviado! Jamais, Glaucão, na minha! Não, não dá!

Si eu fosse metter minha mão, coitado de mim! Me jogariam, camará, a culpa até por golpe dar, de estado!

SONNETTO DEBIL

[13.454]

Nas ultimas estava a minha thia, mas lucida, bem lucida, sim, ‘inda! Aquella mulher tinha sido linda, charmosa… Agora alguem o que diria?

Rhachitica, nem tinha voz! Um dia, meu primo resolveu que era bemvinda a morte della: tudo, ora, se finda! Chamemos de euthanasia, na voz fria…

Que fez elle? Bollou esta tremenda surpresa: a aranha negra! Não é lenda! Appenas collocou-a alli na cama…

A velha, assustadissima (Me entenda, Glaucão!), vendo chegar-lhe tão horrenda bichana, morreu! Coisa de quem ama…

SONNETTO IGNOBIL [13.455]

Alem do Ora Pro Nobis, da Cannabis Sativa, dos chazinhos e dos pós, alguem hoje entendeu algo que nós, os bruxos, ja sabiamos! Tu sabes?

És bruxo, tambem, Glauco? Não te gabes daquillo que tu sabes, mas a voz dos velhos alchymistas, dos avós de todos nós, razão te dá! Não babes!

De ti cheio não fiques, mas agora se sabe que chulé faz bem à nossa libido! Qualquer mago corrobora!

Pesquisa scientifica ha que possa provar, tambem: quem cheira algum, adora, lelé si for e lingua tiver grossa…

SONNETTO INDELEVEL

[13.456]

Me fica na memoria, até depois de cego, uma visão, num sonho bem satanico, daquelle que ja tem mais nomes do que eu possa dar aos bois…

Satan não só, nem Lucifer: dos dois alem, ha Mephistopheles; alem, tambem Melchisedech, eis que ninguem supera seus perfis… São varios, pois.

Foi elle quem fallou: “Não sendo um só, serei, pois, legião!” Desta visão jamais me exquescerei. É meu chodó…

Visões outras, dum cego, sempre estão na mente, mas só deste quem tem dó é seu Anjo da Guarda, aquelle Cão.

SONNETTO IMPONDERAVEL [13.457]

Tu queres previsões fazer? Não dá!

Tu queres ser propheta? Alguma lei, da physica, de Murphy, la nem sei, te impede de ver tudo o que virá!

Os cegos visionarios são, sei ja!

Tambem que são videntes ja fiquei sabendo! Mas, um google quando dei, notei que mil respostas varias ha!

Tu perdes o teu tempo si quizeres prever o que na mente das mulheres se passa, por exemplo, menestrel!

Melhor é, dentre todos os mesteres, nos numeros jogar, mas não esperes ganhar, pois de infeliz fazes papel!

SONNETTO IMPRACTICAVEL [13.458]

Não! Lixo recyclar? Não dá, Glaucão! Ja viste como fazem na calçada? Mixturam tudo! Fica accumulada a pilha com o peixe mais podrão!

No predio, juncta a gente, de montão, tudinho separado, mas de nada nos serve, ja que, em pouco, um camarada bagunça a coisa toda! Não dá, não!

Um dia -- Ja notaste? -- notei eu que todo beberrão, que ja bebeu de tudo, revirar vem cada latta!

Qualquer ecologista, que tem seu nariz no logar, sabe que plebeu nenhum entenderá de que se tracta!

SONNETTO IMPOSSIVEL

[13.459]

Eu quero, menestrel! E, quando quero, jamais desisto! Lembras-te do dicto? Querer é poder! Sempre que eu repito tal dicto, não o creio um mero lero!

Si digo o que desejo, sou sincero! A serio jamais levo o velho mytho das causas impossiveis e reflicto que em sanctos crer seria chance zero!

Depende só da gente si seremos felizes no que tanto desejamos! Capaz sou de empregar meios extremos!

Os fins nos justificam si ficamos em duvida! Mas duvida não temos si somos sempre escravos de maus amos…

SONNETTO INTHEMATIZAVEL [13.460]

Os classicos não deram aval para as tuas artimanhas, Glauco! Não podemos um sonnetto compor tão podrão, malcomportado! Nunca, cara!

Não pode esse bom genero de tara fallar, nem de estuprados, com tesão, por sadicos pivetes! Do calão abusas! Nem Bocage tanto ousara!

Mal fallas tu dos passaros, das rosas, dos bardos que, em epistolas chorosas, lamentam a perfidia duma amada…

Só pensas em tormentos quando gozas! De vate escatologico tu posas! Não cabe, num sonnetto, disso nada!

SONNETTO CRIVEL [13.461]

Verdade, Glauco! Podes crer! Havia na rua muita gente! Ninguem sente vontade de intervir! O delinquente queimou o morador em plena via!

Sim, Glauco! Os molecotes, nesse dia, filmaram tudo! Gente, de contente, gozava, até, nas calças! Simplesmente horrivel o que vi! Quem quereria?

O pobre morador de rua não abriu a tempo os olhos! Pelas chammas envolto, debatteu-se, então, em vão!

Hem, Glauco? Como um caso desses chamas? Que typo de cidade quererão aquelles que comedias vêem nos dramas?

SONNETTO

VISIVEL [13.462]

Sim, visibilidade certamente é muito necessaria para quem pretende, em nossas lettras, ser alguem e possa apparescer a muita gente.

Num meio que é tão futil e excludente, tapetes são puxados. Ninguem tem logar si não publica algo que, bem battido, só nas midias se sustente.

Os cegos, que invisiveis são, alem, é claro, de invidentes, excluidos estão e ficarão, da gloria, aquem.

Que gloria? Que exclusão? Desses ruidos estou eu bem distante, pois não vem ninguem aqui. Melhor assim, queridos.

SONNETTO INVISIVEL

[13.463]

Glaucão, não te incommodes! Commummente, os cegos não são vistos, mesmo, como artistas de relevo! Não embromo, directo vou ao poncto mais pungente!

Ninguem jamais crerá num invidente que escreva poesia, num assommo de verve, egual à tua, cada tomo enchendo de sonnettos num repente!

Mas pensa no seguinte, mestre: estão os normovisuaes em condição identica, si vivos e invisiveis!

Appós a morte, tanto faz quem não viu nada, quem viu tudo: genios são só mesmo os que galgaram altos niveis!

SONNETTO DEPHASAVEL [13.464]

Ficou fora de moda, cara, aquella botinha que, dos Beatles, fama fez! Me lembro: por aqui, qualquer burguez comprou imitações, nenhuma bella…

Moleque exsistirá, que ‘inda revela, voltando no passado, o que vocês faziam: eu, no caso, sou talvez no bicco da botinha quem mais fella…

Chupei, sim, essa bota: a do meu pé e mesmo umas alheias, cara, até! Vocês, beatlemaniacos, me endossam?

Quem era, nos sessenta, algum mané fanzoca, no que digo bota fé: Felizes evocar os que ‘inda possam!

SONNETTO DEVASSAVEL

[13.465]

Mulher sou, perdidissima, poeta. Só vivo debruçada na janella e evito perder tempo na panella. Vaidosa sendo, nunca paro quieta.

Devota de Satan sou. Nada veta desejos de exhibir-me. Mais revela as minhas bellezuras uma tela, alem do meu espelho, o mais estheta.

Por sexo jamais falta quem me venha pagar, pois virgindade não mantive e sempre precisei prostituir-me…

Roubaram ja, da minha compta, a senha, mas grana sobra a alguem que livre vive! Emquanto houver freguez, eu fico firme!

SONNETTO INDEVASSAVEL [13.466]

Mulher sou, discretissima, poeta. Não fico debruçada na janella nem passo o tempo todo na panella. Emfim, sou, sim, vaidosa, mas bem quieta.

Devota sou dos sanctos, o que veta desejos de exhibir-me. Só revela as minhas bellezuras uma tela, alem do meu espelho, o mais estheta.

De sexo nem por sombra alguem me venha fallar, poeta! Virgem me mantive e nunca precisei prostituir-me…

Jamais darei, da minha compta, a senha! Virtudes collecciona quem, só, vive! Somente minha fé me mantem firme…

SONNETTO CARICATURAVEL

[13.467]

Tu ja te imaginaste, em tua dura vidinha de cegueta, convidado àquelle show do gajo que tem dado exemplo de satyrica figura?

Pensaste? Elle fará caricatura da tua cara, Glauco! O resultado será que, por ser cego, de veado alguem deva ser feito! Não tens cura!

No palco, o comediante irá mandar que lambas os sapatos de quem queira subir e, frente às cameras, brilhar…

Piadas causará tua cegueira, mas pensa que teu nome popular será, mais do que, posthuma, a caveira!

SONNETTO RISIVEL

[13.468]

Na frente do juiz, o militar que esteve preso só por ter um plano bollado de intentona, ja tão lhano não pode parescer. Irá piscar.

Tentou se desculpar, mas, com um ar ridiculo, mostrou que seu insano projecto causaria mais é damno que fructo, sem nem chance de vingar.

Mas, quando o magistrado lhe indagou si não se envergonhava desse show horrendo, o militar cahiu no choro…

Ahi toda a platéa se exbaldou na aberta gargalhada. Assim, só dou palpite sobre quebra de decoro…

SONNETTO DEPLORAVEL [13.469]

Emquanto o dictador na gargalhada cahia, a populaça até mais ia no surto mergulhando. Mas um dia depois dum outro, dizem… Melhor, nada.

O tempo foi passando. Para cada doente que morria na agonia, o lider ‘inda risos exhibia na cara de babaca, appalermada.

Somente quando, sendo candidato, não fora reeleito, foi que, emfim, chorou, mas com peninha só de si…

Por isso mesmo, mestre, é que eu constato que sempre quem mais pena tem de mim serei eu, mas por justo mimimi…

SONNETTO TEMIVEL

[13.470]

De cara feia, Glauco, nunca tive medinho, nem que seja algum vampiro! Tambem de lobishomem jamais piro de medo! Não! Da noite ha quem se prive?

Commigo nas noitadas quem convive bem sabe que Satan eu mais admiro que Christo ou Buddha! Quando me refiro à noite, quem for monstro que se exquive!

Eu acho, meu, que infundo mais terror num outro, que elle mesmo de mim possa ter, visto que sou feio mais que a peste…

Aquelle que me encara vae suppor que minha cara a Morte bem esboça! Não vejo quem, ao ver-me, me conteste…

SONNETTO CONDEMNAVEL (2) [13.471]

Um cego, que engenheiro se diz, vae ao show dum comediante, que na testa lhe batte e, frente ao publico, faz festa às custas do subjeito, que diz: “Ai!”

O publico ri. Ficha jamais cae ao sordido humorista, que detesta qualquer deficiente. Nada resta sinão notar que o povo se distrae.

“É foda, não? Um cego que engenheiro se diz! De que? De software? Mas então não pode funccionar, né, companheiro?”

Só falta applicar nelle um saphanão, um murro, uma rasteira… Até me inteiro de que elle foi pisado, ja no chão…

SONNETTO VOLUVEL [13.472]

Agora ha pouco, mestre, eu só queria o rabo dar àquelle rapagão sarado, por quem tinha atroz tesão, mas logo resolvi que ja não ia!

E sabes por que? Lembro-me do dia em que elle me pediu para mandão virar e lhe comer o cu, razão me dando na noção de sodomia!

Te explico p’ra que entendas: dar o cu depende de veneta! De repente, mudamos nós de idéa, vendo um nu…

Si noto um pau mais flaccido, pendente, prefiro ser activo, pois tabu não vejo nesse lance incoherente…

SONNETTO AFFAVEL

[13.473]

Senhor, por gentileza, poderia virar a sua cara p’ra que eu batta na face da direita? A gente tracta com jeito, p’ra poupal-o da sangria…

Agora melhorou. Para alegria da gente, por favor, tenha sensata noção e de joelhos fique. Chata será tal posição, mas nos sacia…

Perfeito, meu senhor! Agora, abrindo a sua linda bocca, favor faça de nella metter este pau, que é lindo…

Não acha lindo? Chupe, então! Pirraça não faça! A porra trague! Depois brindo, pacifico, com vinho ou com cachaça…

SONNETTO INEFFAVEL [13.474]

Glaucão, como direi? Eu não consigo pensar numa palavra para dar idéa do que, neste linguajar poetico, opinasse, meu amigo!

Sim, tento me expressar e no que digo preciso ter cuidado… Meu radar indica que me estão a patrulhar, por isso teus conselhos sempre sigo!

Eu, outro dia, disse pelo meu perfil que nem palavras tinha para fallar do que na mente se perdeu…

Cahiram-me de pau, poeta! A tara dos caras é lacrar sempre, mas eu me exquivo de illações! Hem? Quem ousara?

SONNETTO INFLAMMAVEL [13.475]

Estás é louco, Glauco! Que perigo! Dizer coisas quetaes pode implicar em serias consequencias! Nem logar de falla te concedem, meu amigo!

Commigo si for, Glauco, ora, nem ligo! Mas, sendo no teu caso, vão pensar que estás a provocar, e de inflammar os animos perigas, ja te digo!

Nem tentes cotucar esses causões! Por causa dum pretexto qualquer, podem subir nas tamanquinhas! Que suppões?

Não penses que elles pouco se incommodem! Depois que tu levares uns pisões, não venhas te queixar dos que te fodem!

SONNETTO INDUBITAVEL [13.476]

Podolatra, ficou Vera Verão famosa numa “Praça da Alegria”. O texto que lhe deram só dizia que, muitos, grandes fans de fructa são.

No proprio pé quem curte refeição festiva, num pomar, desejaria provar cada fructinha. Todavia, a Vera teve disso outra noção.

“Sim, gosto de chupar no pé!”, disse ella. A phrase, eis que synthetica, revela, sem duvida, algo proximo de mim.

Não sei si alguem diria que ella fella tambem algo mais proprio, mas querella não faço, ja que fica bem assim.

SONNETTO DISCUTIVEL

[13.477]

Glaucão, ha controversias! Ja fallei que pautas desse typo vão causar polemica! Teu franco linguajar accirra, Glauco, os animos, bem sei!

Um thema, si for lesbico, si gay, costuma piccuinhas suscitar!

Tu queres à celeuma dar um ar de esthetico debatte? Hem? Que direi?

Puzeste, dia desses, num poema palavras de sentido duvidoso, capazes de levar a algum dilemma…

De impasses taes não gosto, não, Mattoso, pois causam discussões dubias, de extrema discordia, sem espaço para gozo…

SONNETTO INDISCUTIVEL

[13.478]

Glaucão, nem se discute! Ja fallei que pautas desse typo vão causar polemica! Teu franco linguajar accirra, Glauco, os animos, bem sei!

Um thema, si for lesbico, si gay, costuma piccuinhas suscitar!

Tu queres à cizania dar um ar de esthetico debatte? Hem? Que direi?

Não ponhas, não, poeta, num sonnetto taes themas controversos, pois teu verso suscita batteboccas nesse ghetto!

Um caso, quando sadico ou perverso, não passa no meu crivo! Não prometto teus livros commentar! Ja desconverso!

SONNETTO SOFFRIVEL [13.479]

Que entendes por “soffrivel”, trovador? Alguma coisa abbaixo de qualquer conceito? Criticavel? Si não der prazer, será soffrivel um auctor?

Si fosse insupportavel uma dor, chamavas de “insoffrivel”? Teu mester de bardo te incommoda? De colher não era a lyra abjecta? Que suppor?

Não passa no teu crivo o que se faz agora? Nota minima não dás? Que esperas dessa nova geração?

Não soffras, trovador, por essas más figuras! Nossas lettras não teem az nenhum! Analphabetos todos são!

SONNETTO EXSEQUIVEL [13.480]

Mas claro que dá, Glauco? Não me escutas si digo que é possivel, porra! A gente bem pode imaginar um differente planeta, sem taes guerras, sem taes luctas!

Um mundo de prazer, sem ser com putas, michês ou gigolôs! Sem que se tente, não dá para saber si é consistente meu plano! Vi propostas tão fajutas!

Em practica poremos os conceitos mais basicos! Utopicos? Jamais! Iremos corrigindo seus defeitos!

Não achas tão viavel? Animaes melhor ja sobrevivem? Nossos feitos inuteis são? À merda tu não vaes?

SONNETTO DURAVEL [13.481]

O panno do meu tennis, Glaucão, é daquelles bem duraveis! Tem que ver! Mas elle está folgado… Que prazer eu sinto, quando o calço, no meu pé!

Saber quer? Sim, o tennis dá chulé! É pena que você não vae poder cheirar isso… Si quer me convencer, seu tempo perde, meu! Me cansa, até!

Mas deixe eu lhe dizer: quando o calçado furado se encontrar, todo podrão, aberto o bicco, para seu aggrado…

Eu posso lhe vender! Que tal, Glaucão? No caso de que eu ganhe bom trocado, quem sabe você chupe meu dedão…

SONNETTO HYPERDURAVEL [13.482]

Caralho! O teu fetiche ‘inda perdura, depois de tantos annos? Não te cansas de tanto cafungar, nessas andanças podolatras? Não perdes a postura?

Ainda tens comprado, porventura, uns tennis deschartados, de creanças grandinhas, de rappeiros que, nas dansas do genero, de cheiros teem fartura?

Então acho que tenho o que tu queres! Guardei os meus, de quando basketeiro fui, antes de trampar noutros mesteres…

Te posso dal-os, Glauco… Mas, primeiro, feliz eu ficarei si tu me deres algum, ja que estou falto de dinheiro…

SONNETTO COMPATIVEL

[13.483]

Depois de tanto usar um tennis branco, de couro, meu chodó desde rapaz novinho, verifico que elle traz, ja, furos e rasgões… Mas serei franco.

Não quero deschartal-o… Si no banco tivesse mais dinheiro, ora, ahi has de estar concorde, bons caraminguás num novo gastaria… Ah, não me manco!

Um cheiro compativel elle guarda, si queres saber, Glauco. Não desejas compral-o? Ora, ao lixão irá, não tarda…

Embora a cor do couro ja não vejas, garanto que, encardido, de mostarda tem cheiro, ou mesmo um gosto de carquejas…

SONNETTO INCOMPATIVEL [13.484]

Meu tennis, menestrel, foi pouco usado! Ainda assim, tresanda a bacon, si não for a gorgonzola! Você ri? Hem? Tanto federei? Me desaggrado!

Perfume borrifei, sem resultado! Puz talco, puz palmilha, mas não vi melhora num odor tão mau! Aqui p’ra nós, você que entende esse meu lado!

Irei me desfazer desse pisante incommodo! No lixo vou jogal-o, a menos que eu o venda a quem se encante…

E então? É desejavel tal regalo? Cobrar lhe irei appenas um montante não tão incompativel com meu phallo…

SONNETTO IMMUTAVEL [13.485]

Na sexta-feira, treze, sempre está alguem a commentar sobre vampiro, phantasma, lobishomem, num retiro remoto ou na cidade, camará!

Quem deixe de ter medo, meu, não ha! Ja viste taes figuras, Glauco? Um gyro ja deste pelos hermos? Quasi piro, pensando num zumbi, num boytatá!

À noite tu ja foste em cemeterio de filme de terror, sozinho, sem siquer um cellular? Não? Falla serio!

Mas gothico não és? Nem bruxo, nem um bardo ultraromantico? Funereo climão tu não cultivas? És tu quem?

SONNETTO CONVERSIVEL [13.486]

Mas, Glauco, sempre em tempo estará para você se converter à fé christan! Não seja mais devoto de Satan! Se livre desse vicio, dessa tara!

Em tempo, sim, está! Dê sua cara a tapa! Aguente firme, em sua san e livre consciencia! Seja fan dos sanctos, não de Sade! Esse -- Hem? -- azara!

Assim que, de Jesus, você estiver podendo ver a luz, ja significa que é livre da cegueira, si quizer…

Não vale, todavia, chupar picca de irmão, de sacristão, nem, da “mulher do padre”, inseminar a sancta crica!

SONNETTO CONVERSAVEL [13.487]

Sim, tudo se resolve na conversa, Glaucão! Quem ficará com as acções, os titulos, os carros, as mansões, a grana que, das verbas, se malversa!

A vida não é coisa assim perversa a poncto de impedir o que suppões que seja a fé politica! Questões mais ethicas te cobram? Desconversa!

Ah, logo que ingressares no Partido, verás que nosso pappo bem differe daquillo que, em egrejas, tens ouvido!

Aqui não é sanctinho nem quem gere finanças, nem quem acha algum sentido nas practicas que Lucifer suggere!

SONNETTO SENSIVEL [13.488]

Me toca, menestrel, qualquer dorzinha alheia! Accreditar tu não irias? Me tocam as alheias agonias, até mesmo uma dor mais comezinha!

Ainda mais a practica damninha de todos os politicos, dos guias e lideres de seitas, as vazias promessas, essa absurda ladainha!

Me tocam as agruras do povão, as victimas da guerra, alem de tanta doença que se expalha… Como não?

Tambem tu não te tocas? Não te expanta a falta de empathia dos que estão por cyma, nos pisando na garganta?

SONNETTO INSENSIVEL [13.489]

Não sinto, menestrel, qualquer dorzinha alheia! Accreditar tu não irias? Desdenho das alheias agonias, até mesmo da dor mais comezinha!

Nem ligo para a practica damninha de todos os politicos, dos guias e lideres de seitas, as vazias promessas, essa antiga ladainha!

Desdenho das agruras do povão, das victimas da guerra, alem de tanta doença que se expalha… À merda vão!

Tambem tu não desdenhas? Ah, te expanta a falta de empathia dos que estão por cyma, te pisando na garganta?

SONNETTO ACCEITAVEL [13.490]

Não vejo, menestrel, nenhum problema em grana acceitar para algum projecto deixar passar! Até que tenho um tecto normal para as gorgetas! Sem dilemma!

Você não quer entrar, Glaucão? Não tema! Garanto que seu pratto predilecto lhe fica assegurado! O que interpreto é simples: Sente dores? Então gema!

A mim jamais doeu levar algum trocado, um pechuleco meio ommisso! Eu acho uma attitude bem commum!

Hem, Glauco? Vamos la! Sem compromisso! É como dirigir, mesmo bebum: Em caso de accidente, eu fujo disso!

SONNETTO INACCEITAVEL [13.491]

Não posso conceber, Glauco, que meu mais perfido rival tenha pensado em ver-me de cocô todo borrado por elle, que meus troços ja comeu!

O cara andou fallando que lhe deu vontade de cagar e que, veado eu sendo, minha bocca, para aggrado seu, facil eu abria? Ah, não! Não eu!

Dum typo desse naipe eu não acceito siquer o commentario que elle fez accerca do que trago no meu peito!

Magina, Glauco! O cara foi, talvez, aquelle que mais odio, sem proveito, guardou! Cocô não como dum burguez!

SONNETTO INEXSEQUIVEL

[13.492]

Magina, menestrel! Está maluco quem pensa que me caga aqui, directo na bocca! Não, jamais dum desaffecto acceito tal offensa! Nem encuco!

Não creia no que falla aquelle eunucho! Eu nunca deglutti nenhum dejecto, siquer dalgum mandão de quem eu, quieto, cumpria as ordens! Nunca assim me educo!

Quem pensa que exsecuto tudo quanto alguem deseja, quebra a sua cara, pois, antes que me almosse, eu logo o janto!

Você, Glaucão, alguma vez jantara alguem? Foi almossado? Não me expanto com nada, sendo tanta a sua tara!

SONNETTO INADDIAVEL [13.493]

Ja querem essas pautas addiar?

Não é nem p’ra ammanhan, Glaucão, e sim p’ra hontem! Não, p’ra cyma não de mim! Não topo discussão parlamentar!

A fome não espera! Para azar do povo, se elegeu sangue ruim! Não pode este paiz seguir assim! Ainda quanto querem demorar?

O treco ja parado na gaveta está desde que eu era adolescente, sem mesmo ter battido uma punheta!

Ninguem pode esperar que quem se sente em cyma duma pauta ainda metta no rabo seu mester de presidente!

SONNETTO INCOMMUNICAVEL [13.494]

Estou na solitaria, trovador! Ja choro todo dia, sem amparo! Sim, minha liberdade é bem mais caro! Ninguem mais pode, em satyra, se expor?

Appenas cotuquei o portador de physicos defeitos, esse raro especime de monstro: fiz reparo ao surdo, ao cego, ao gordo que é de cor!

Por causa disso, mestre, estou detido ca nesta cella! Aqui não vem ninguem commigo conversar! Não sou bandido!

Piadas sempre faço! O que é que tem? Até dos alleijados! Não duvido que quem me dedurou não tem, tambem!

SONNETTO INGOVERNAVEL [13.495]

Não, desse jeito, mestre, ja ninguem mais pode governar este paiz! Ninguem siquer respeita algum juiz! Ninguem do meu ministro pena tem!

Depois desse decreto, fiquei sem appoio no Congresso! Ja se diz que estou impopular e ninguem quiz votar a meu favor! Quanto desdem!

Appenas porque quero tributar os ricos? Mas justiça social fará de mim alguem mais popular!

Hem, Glauco? Vou surtar, assim! Que tal? Nem posso mais p’ra fora viajar, que fazem esse immenso carnaval!

SONNETTO INCONCEBIVEL

[13.496]

Não posso conceber, Glauco, que teu mais perfido rival tenha pensado em ver-te de cocô todo borrado por elle, que meus troços ja comeu!

O cara andou fallando que lhe deu vontade de cagar e que, veado tu sendo, tua bocca, para aggrado seu, facil abririas? Quem cedeu?

Dum typo dessa laia acceitas tu o sujo commentario que elle fez accerca do que engoles do seu cu?

Magina, Glauco! O cara foi, talvez, aquelle que mais merda, sem tabu, pappou! Cocô não comas dum burguez!

SONNETTO INEMMAGRESCIVEL [13.497]

Não use, menestrel, essa canneta que, para ficar magro, hoje se vende! Não emmagrescerá ninguem, entende? É tudo propaganda, tudo peta!

Não creia caso o medico prometta milagres! Muito lucro o troço rende! O gordo continua, a quem offende, um pratto cheio sendo, por veneta!

A droga nem siquer p’ra diabetes funcciona! Quem a adopta só vomita, em nauseas envolvido, nas retretes!

Ninguem na medicina jamais cita, mas creio que inventaram uns chiclettes capazes de engordar! Quem accredita?

SONNETTO INEXGOTTAVEL [13.498]

Pegando um tetraplegico, o subjeito que, sadico, se impunha, c’uma agulha seu olho quiz furar: “E então, seu pulha? Fará tudo o que eu mando, ou rollo e deito!”

Immovel, o coitado, que “Bem feito!” ouvira, com a lingua ja vasculha o rabo do mandão, que ordena: “Gulha! Exfrega a prega! Guenta! Ah, me deleito!”

Na bocca do mandado um cagalhão excorre mollemente, lingua abbaixo. É duro obedescer ao tal mandão…

Pensando nisso, sonho que eu encaixo os beiços nesse rego, donde vão sahindo mais cocôs, e gemo baixo.

SONNETTO INSOPHISMAVEL

[13.499]

Commenta Leo Lins: “Ah, toda vez que vejo um cego pela rua andando, vontade me dá, quasi que um commando por dentro, incontrolavel e soez…”

“Vontade de tomar delle (Vocês não acham graça?), sempre chutes dando, aquella bengalinha! Affinal, quando cahisse, lhe enfiava…” Que mais fez?

Nem disse desse jeito, nem metteu a vara no cu delle, todavia. Importa que isso pense, direi eu.

À parte esse sadismo, do meu guia eu mesmo ouvi tal chiste. Qual plebeu piadas taes não ouve todo dia?

SONNETTO INSONNETTIZAVEL [13.500]

Ha themas ineffaveis, que jamais possamos, em sonnetto, condensar? Não creio, pois revi, no meu radar, as scenas mais atrozes e irreaes.

Seriam irreaes? Alheios ais me tocam, tanto quanto o meu azar de cego tocaria alguem que estar pudesse commovido por ais taes.

Em summa, meus sonnettos não serão, jamais, incompativeis com a vida real, em toda parte, do povão.

Quem olhos tem de ver, ja não duvida daquillo que compuz. Nenhum christão descrê de qualquer alma desvalida.

SONNETTO DO DESFECHO [13.300]

A cada novo livro que termino de, celere, compor, me indago si, de facto, para ainda andar aqui, motivos haverá desde menino.

Por que não me mactei? O que imagino se prende, na cegueira, ao mimimi do qual sou accusado por quem ri da victima dum tragico destino.

Nos livros, macto o tempo, para não mactar minh’alma, alem do corpo, um fardo que, em trevas, não vislumbra a salvação…

Quem ri do meu azar é felizardo? Talvez seja, mas clamo: os “normaes” hão, um dia, de entender por que fui bardo…

Casa de Ferreiro

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.
DOBRAVEL, INDOBRAVEL, DESDOBRAVEL by ed.casadeferreiro - Issuu