Carcara #30

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#30 WINTER 2022
Cover Photo: Tuca Vieira

Humankind lingers unregenerately in Plato’s cave, still reveling, its age-old habit, in mere images of the truth. But being educated by photographs is not like being educated by older, more artisanal images. For one thing, there are a great many more images around, claiming our attention. The inventory started in 1839 and since then just about everything has been photographed, or so it seems. This very insatiability of the photographing eye changes the terms of confinement in the cave, our world. In teaching us a new visual code, photographs alter and enlarge our notions of what is worth looking at and what we have a right to observe. They are a grammar and, even more importantly, an ethics of seeing. Finally, the most grandiose result of the photographic enterprise is to give us the sense that we can hold the whole world in our heads - as an anthology of images

SUSAN SONTAG ON PHOTOGRAPHY
Tuca Vieira
Carlito Rozeno
Chris Oliveira
Daniel Eduardo
David Martins
Felipe Homem
Francisca Rodrigues
Gleiziele Oliveira
Gustavo Lira
Jose Barbosa
Luis Dellunna
Marcela Novais
Thamiris Paula
Vinicius Trindade

SWINGING RIO

A câmera na mão, o braço cheio de pulseiras, as botas com salto, cabelos passando dos ombros, um sotaque carioca forte com um toque diferente na fala - seria uma língua presa? Assim era o pacote do encantamento que o fotógrafo Antônio Guerreiro oferecia a quem estivesse em seu entorno. Esta imagem retive na memória desde os anos 1970, quando eventualmente ele estava em São Paulo e eu era seu ajudante/assistente, nas sessões feitas para as revistas de moda da Editora Abril. Estava, então, aos 16 ou 18 anos, começando minha trilha. Fiquei fascinado por esta figura que passou a ser o modelo de profissional que eu sonhava em ser.

A partir do filme Blow-Up de Antonioni, lançado em 1966, a figura do fotógrafo charmoso, sedutor, rico, poderoso e excêntrico virou paradigmática e gerações se sucederam buscando atingir o grau de excentricidade do personagem do ator David Hemmings, emergido diretamente da cena do “Swinging London”, movimento que expressou a transformação radical de comportamento vista ainda ao longo das décadas seguintes.

Antonio personificava esta figura como nenhum outro, mas havia uma diferença. Ao contrário do fotógrafo inglês, ele era doce, divertido e sua risada ecoava por todos os cantos do estúdio.

Ao longo dos anos, suas aparições em São Paulo se tornaram raras e eu fui me tornando adulto, não podendo mais assisti-lo, mas sempre acompanhando seu trabalho que então acontecia, na maioria das vezes, em seu estúdio no Rio que dividia com o também, genial, fotógrafo americano David Zingg.

Reza a lenda que havia uma espécie de anfiteatro arquibancada , para que uma plateia o visse fotografando. Seus contorcionismos diante das modelos, as objetivas como simulacros fálicos, a música alta, constituíam um espetáculo sensual, transgressor, audacioso e eram expressão máxima do carioquismo vigente à época. Uma espécie de swinging Rio. As performances/sessões eram, em si, um ato subversivo e resistente ao comportamento conservador insuflado pelos militares durante os anos da ditadura militar.

No entanto, seu trabalho não se restringia à toda esta movimentação. Nesta necessária e justíssima publicação, aqui, na Carcará, vemos o quanto seu olhar generoso capturou o espirito de uma época, obviamente dentro de um microcosmo da elite, mais especificamente, carioca. E para além de sua persona pública deixa um legado cheio de experimentações, crônica de um tempo e ele certamente já está inscrito na história da fotografia brasileira como um dos seus principais autores.

A humanidade permanece, de forma impenitente, na caverna de Platão, ainda se regozijando, segundo seu costume ancestral, com meras imagens da verdade. Mas ser educado por fotos não é o mesmo que ser educado por imagens mais antigas, mais artesanais. Em primeiro lugar, existem à nossa volta muito mais imagens que solicitam nossa atenção. O inventário teve início em 1839, e, desde então, praticamente tudo foi fotografado, ou pelo menos assim parece. Essa insaciabilidade do olho que fotografa altera as condições do confinamento na caverna: o nosso mundo. Ao nos ensinar um novo código visual, as fotos modificam e ampliam nossas ideias sobre o que vale a pena olhar e sobre o que temos o direito de observar. Constituem uma gramática e, mais importante ainda, uma ética do ver. Por fim, o resultado mais extraordinário da atividade fotográfica é nos dar a sensação de que podemos reter o mundo inteiro em nossa cabeça - como uma antologia de imagens.

SUSAN SONTAG

SOBRE FOTOGRAFIA

Credits

Publisher: Alaide Rocha

Editor: Carlo Cirenza

Text:

Graphic Project: Marcelo Pallotta

Designer Assistant: Daniela Naomi I

Translation: Bruna Martins Fontes

Acknowledgements: Beco Visceral, Tuca Vieira, Susan Sontag

1 - Suggestions, complaints and praise should be sent by email to: contact@carcaraphotoart.com

2 - Portfolios should be submitted in the following format: JPEG ( 20 x 30 cm ), 300 dpi by email to: contact@carcaraphotoart.com

ISSN 2596-3066

www.carcaraphotoart.com.br

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