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APÊNDICE 1: A Presença da Cannabis em Registros Etnográficos
(a) Filme Etnográfico: Andando com Thijs <https://youtu.be/SNf-gXE1WtU> É um filme etnográfico realizado através da pesquisa “Eu vivo na floresta aprendendo a me cuidar” Dados sobre usos ritualísticos de Ayahuasca em Alagoas. Quando realizei viagem à Holanda em 2013, entrevistei Thijs sobre sua experiência com enteógenos (Cannabis, cogumelo, Peyote e ayahuasca). O filme mostra registros quando pela primeira vez encontrei Thijs pessoalmente. Visitei em sua casa e ele nos levou (Marc e eu) a uma floresta onde conversamos. Foi então quando ele acendeu um cigarro de “amnesia haze” que era a Cannabis que ele estava preferindo fumar e disponibilizada em Coffee shops em Oss.20 No filme, ele me explica que “amnesia haze... é bem curativa e ajuda a esquecer a dor.” Então pedi para experimentar e com a câmera na mão, registro minha reação tossindo após fumar. Isso aparece no filme (no timing 10’24”). Nesse diálogo, Thijs lembra que eu o tinha contado que havia escrito minha tese de doutorado no Canadá utilizando “skunk”. E assim, nesse nosso encontro, vivenciamos essa excelente oportunidade de registros audiovisuais na força do “amnesia haze”. Observei que era refrescante (apesar de ter tossido ao fumar), e expressei minha opinião como a Cannabis sempre me proporcionou uma lucidez e insights, por isso foi muito benéfica para minha finalização da redação da minha tese de doutorado.21
Localizei dados sobre a “amnesia haze” num blog que explica ser uma espécie cultivada na Holanda com a mistura de diferentes genéticas e com teor de THC que chega a uma média de 19-24% https://blog.mapadamaconha.com.br/amnesia-haze-conheca-as-strains/ 20
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Meu doutorado em Antropologia foi realizado na Universidade de Manitoba (Canadá), entre os anos de 1999 e 2003, onde, de volta à Winnipeg, após a realização de pesquisa de campo entre os Kariri-Xocó (Porto Real do Colégio, Alagoas), utilizei “skunk” em momentos de redação da tese defendida em 2003, intitulada Gender and Reproduction: Embodiment among the Kariri-Shocó of Northeast Brazil. <https://mspace.lib.umanitoba.ca/xmlui/handle/1993/19997?show=full>; <http://neip.info/novo/wpcontent/uploads/2015/04/Marting_Gender1.pdf> . Eu conseguia comprar essa Cannabis que era denominada localmente como “skunk” e que continha alto teor em THC e era cultivada em estufa. O marido de uma sobrinha de uma grande amiga indígena, que fazia mestrado em Antropologia, me fornecia. Não tive experiência de fumar em ambientes sociais. Meu uso do “skunk” foi unicamente voltado para minha concentração na redação da tese. Tive experiências místicas, pois frequentava rituais de sweatlodge (Temascal) conduzidos por índios Cree-Ojibwe, First Nations, que minha amiga me convidava e eu fazia parte. Nesses rituais, vivenciei experiências xamanísticas, inclusive experiências de cura que me sentia em sintonia com xamãs Kariri-Xocó. Com xamãs Cree-Ojibwe, aprendi algumas práticas de uso de tecidos de algodão coloridos, onde amarrava na estante de livros no meu ambiente de trabalho em casa e colocava oferendas de tabaco (como os índios faziam e deixavam em árvores). Eu acrescentava também, nessas oferendas, skunk junto com tabaco, como oferenda aos espíritos. Cheguei a estabelecer comunicação com xamãs Kariri-Xocó com o uso dessas práticas xamanísticas quando consagrava essa Cannabis nos momentos de leituras e redação da minha tese. São experiências vivenciadas que comprovam esse caráter espiritual da Cannabis enquanto planta professora, que me proporcionou essa convergência entre experiência e conhecimento dentro de vivência de redação da tese nessa força vibracional.