Até que a morte
nos separe… ? O
amor – ou aquilo que acreditamos que isso seja – tem um impacto tão importante nas nossas vidas que, com frequência a mais, inúmeras mulheres e homens acabam por viver numa realidade ilusória do que confiam ser o melhor para elas/es. O amor, quando assim é, de verdade e no seu real sentido, não nos diminui nem nos agride – física ou verbalmente.
Sei que entrei a pés juntos, sei que este é um mês associado às rosas e aos corações, declarações poéticas e promessas de lealdade, mas acho importante que se fale da lealdade a nós próprios antes de qualquer outra coisa: amarmo-nos o suficiente para que se perceba que nenhum relacionamento deve permanecer quando se torna tóxico. Em Portugal, por exemplo, só no ano de 2021, a violência doméstica aumentou seis vezes mais durante o confinamento devido à pandemia que o mundo tem atravessado – e desenganem-se os que acham que os números apresentados representam a realidade de um país, são inúmeros os casos de silêncio cerrado. Depois há ainda uma outra verdade e para a qual talvez não haja ainda uma estimativa muito exata - a quantidade de pessoas que, por incrível que possa parecer, preferiam até ser agredidas fisicamente só para que a dor das palavras não as mate antes. Há um ano, por volta desta altura, fez-se um estudo em Portugal sobre a violência no namoro, com cerca de 5 mil jovens, cuja média de idades é de 15 anos, e devo dizer que me deixou assustada com o facto de perceber que quase sete em cada dez jovens, que participaram nessa amostra, acha legítimo o controlo ou a perseguição na relação e quase 60% admitiram já ter sido vítimas de comportamentos violentos. Em mais de 75% dos casos, a vítima não apresenta queixa do/a agressor/a. A violência entre casais acontece em qualquer idade, é importante que tenhamos consciência clara disso. Estes números são tristes e um prenúncio muito escuro do futuro das gerações mais novas. 90 I Amar
Já devem ter reparado no cuidado que estou a ter com a escolha do género das palavras ao longo deste texto, incluindo, de forma bem clara, a mulher e o homem no mesmo saco, porque apesar dos casos de violência doméstica acontecerem muito mais a mulheres, há uma percentagem que pertence aos homens e que deve ser obviamente falada – até porque o homem, por norma, sente ainda mais vergonha em admitir viver assombrado por medos maiores que qualquer perspetiva de felicidade. Grande parte dos homens – muito infelizmente – ainda vive com aquela ideia incutida nas entranhas de que macho é forte e não chora. Mas, meu caro macho... Já Pedro Abrunhosa nos acalmava dizendo que “um homem também chora quando assim tem de ser”. Macho que é muito macho também tem as suas fragilidades. Sente como qualquer outra mulher. Homem não o deixa de ser por ser vítima. Portanto seja mulher ou homem quem me leia, por favor perceba nas entrelinhas o que de forma direta lhe digo: não tenha vergonha de se amar tão profundamente ao ponto de pedir ajuda. Pedir ajuda é reflexo de coragem. Serve este artigo para si, caro/a leitor/a, que se encontra numa relação de amor ilusório, agarrado/a a um relacionamento que já terminou há tanto tempo, mas que vive no medo de sair dessa realidade porque o futuro será diferente, porque não é fácil terminar um casamento/relação, porque acha que os filhos precisam de si ao lado da outra pessoa que nada de bom tem para lhe acrescentar nesta fase da sua vida: ame-se! O futuro será diferente, mas certamente mais feliz e os filhos precisam de si ao lado deles com saúde e não a viver (ou a morrer) num pesadelo. Quem gosta de si, quer que esteja bem – se precisar de ajuda, não hesite em contactar os números que hoje lhe deixo. O medo do desconhecido não pode ser maior do que a esperança numa vida bonita. Amor não são migalhas. Amor é cuidar. Ame-se: cuide de si.