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1.4 Uma breve história da rádio dramaturgia

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REFERÊNCIAS

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Os atos ilocutórios produzem os sentidos de contexto, de forma a introduzir no discurso elementos além da intenção direta do ato locutório como: tempo, espaço, ênfase, emoção e pessoalidade. Já os atos perlocutórios expressam a forma como o receptor recebe o discurso, de modo a influenciá-lo, persuadi-lo ou constrangê-lo. O argumento pelo qual se discute a teoria dos atos de fala junto as características da narrativa nesta pesquisa é devido a natureza do objeto de pesquisa. Por se tratar de uma obra sonora, o podcast utiliza da oralidade na sua construção. O emprego da oralidade traz a tona questões referentes aos elementos subjetivos que o discurso pode assumir segundo um determinado contexto. Como exemplo dessa empregabilidade está a frase “E como foi o seu dia?”, a depender da entonação atribuída a frase, a intenção pode ser facilmente destoada do sentido literal que ela estabelece, como indiferença, suspeita, irritação, entre outros. Pela inviabilidade da analise dos atos perlocutórios nesta monografia, que como condição demanda a composição de um grupo focal para o estudo comportamental da mensagem, se restringe portanto a apenas os atos locutórios e ilocutórios como itens possíveis de investigação. A seguir, para melhor elucidação do contexto histórico de formação do que hoje se comporta na internet como áudio dramaturgia, será realizado um levantamento do percurso do formato no veículo de comunicação hertziano.

1.4 Uma breve história da rádio dramaturgia O começo das produções dramatúrgicas no veículo radiofônico veio, no início, através do formato de esquetes humorísticas de teatro, que, unidas às técnicas de sonoplastia, traduziam a ambientação dos palcos para os aparelhos auditivos do público. Para Perdigão (2003):

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O primeiro momento da radiodramaturgia brasileira foi marcado pelo formato do esquete, original do teatro de variedades e identificado por sua curta duração e humor. Eram famosas as cortinas cômicas explorando o novo meio eletrônico ou ainda a produção de cenas de comédia utilizandose um mesmo humorista para diferentes personagens ou vozes. (PERDIGÃO apud BRANDÃO; FERNANDES, 2014, p. 123).

A partir da crescente em popularidade do formato, o radioteatro começou a ser produzido e irradiado por diversas radiodifusoras, e as obras de maior sucesso

da época de 1930 a 1940 eram de responsabilidade da radiodramaturgia humorística. “O radioteatro foi bastante difundido nos anos 1930 e fazia sucesso em quase todas as emissoras brasileiras, até que a radionovela se instalou no país, em 1941.” (BRANDÃO; FERNANDES, 2013, p. 123). A radionovela, desde a sua primeira transmissão no Brasil, em 1941, a partir da obra Em busca da felicidade, exibido pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, cativou o imaginário da audiência, entregando uma obra que ofertava em capítulos intercalados a experiência sonora infusa na imaginação do público. Com números expressivos de sintonizações, logo o formato se tornou de interesse popular, e seus horários de exibição lideraram os quadros nas pesquisas de audiência da época. De acordo com Calabre as “radionovelas obtinham altíssimos índices de audiência e estavam sempre entre as obras mais ouvidos das emissoras. A Rádio Nacional, em especial, liderava a audiência em praticamente todos os horários” (CALABRE, 2007, p. 14). A partir do sucesso da Rádio Nacional, as demais começaram a desenvolver, subsequentemente, as próprias obras de dramatização radiofônica novelesca, que também obtiveram enorme sucesso na época, como a Rádio Tupi e a Rádio Mayrink, as quais disputavam os números com a Nacional, de acordo com as pesquisas de Ibope de 1943. Porém, a partir de 1951, com o crescimento do que no século XXI viria a se tornar a mídia mais influente no território nacional, isto é, a televisão, a verba publicitária que sustentava a carga horária onerosa que a produção das radionovelas exigia, foi, cada vez mais, direcionada para o novo meio, o qual, por consequência, inviabilizou a continuidade do mesmo, como descreveu Calabre:

Com o crescimento da televisão ocorreu um fenômeno de migração dos patrocinadores para o novo veículo. [...] A falta de recursos financeiros foi, em grande parte, responsável pelo abandono do gênero radionovela pelo rádio. Ao longo da década de 1960, algumas emissoras ainda mantinham alguns horários de radionovelas ou de programas de radioteatro. Mas na década de 1970 o gênero desapareceu, apesar de algumas tentativas isoladas de reativá-lo. (CALABRE, 2007, p.18).

A movimentação da verba publicitária para a nova mídia emergente da época, — a televisão —, minguou os recursos necessários para a produção do formato, que ocupava longas diárias de preparação e gravação subsequente. Dessa forma, a forte presença das radionovelas no meio radiofônico veio a cessar, porém contando

com obras esporádicas de tempos em tempos por rádios que ainda acreditavam na sua força e na repercussão que desempenhou na época áurea do rádio. Uma segunda causa da quebra com esse formato pelas emissoras de rádio foi devido à estrutura na escala de produção dessas obras, pois eram necessários demasiados profissionais para a sua realização. De acordo com Calabre (2007), a estrutura para a irradiação de uma radionovela consistia nas figuras dos redatores, atores, sonoplastas e contrarregras, uma junção de profissionais que, por conta de uma nova falta de verba publicitária, foram se tornando de inviável contratação. Porém, a decrescente presença dele na rádio não foi o final do formato novelesco. Posteriormente sob uma nova roupagem, a televisão, ao adaptar a fórmula do sonoro em conjunto ao visual começou a produzir a continuidade do sucesso das novelas na nova mídia televisiva sob a alcunha de telenovelas. Esta demonstração de como um formato pode ser transportado de uma mídia para outra, anexando as demais características inerentes ao novo meio, como foi o caso da transposição da rádionovela para a telenovela, de uma mídia sonora para uma mídia sonora e visual, abre caminho para a exposição do que fora marcado pelo início do século XXI como um novo fenômeno midiático que oferta elementos da linguagem radiofônica por meio da internet, o podcasting. O podcasting é a junção das palavras “IPod” e “Broadcasting”, uma mídia sonora concebida através do resgate da linguagem radiofônica em meio à cibercultura, como complementa Primo (2005): “podcasting surge como um novo processo midiático na Internet, e que oferece formas particulares de interação” (PRIMO, 2005, p. 1). O podcasting serve como um termo guarda-chuva que abriga formatos diversos entre si, não sendo restrito à inclinação natural de consumo de um público maior. Produto da cibercultura, o processo de podcasting carrega na sua essência características atribuídas ao meio pelo qual é propagado, as quais, segundo Primo (2005) têm a capacidade de ampliar a experiência sensorial da obra, pois “[...] o podcasting vai além do áudio, incorporando imagens e navegação hipertextual. Ou seja, mais do que tratar da escuta, é preciso também discutir como o público usa suas mãos e olhos durante o processo” (PRIMO, 2005, p.20). Porém, mesmo a partir da incorporação do uso de imagens e navegação hipertextual, esse formato tem como principal substância caracterizadora a influência do som e da linguagem radiofônica na condução da narrativa e transmissão da informação.

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