NATAL DE NOSSO SENHOR
“Mas os seus não o receberam” – aqui temos a tragédia do Natal. O Logos era como alguém que retorna para casa, e agora seus próprios familiares fecham-lhe a porta. Será que a verdadeira luz resplandece em vão? Não. Há pessoas que o “recebem”. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus...”. Eis aí a chance do Natal. Cada um de nós pode “ver” essa luz e agarrar com alegre avidez essa “vida”, acolhendo aquele do qual e para o qual ela foi criada. “E Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.” Assim, Deus revelou-se genuinamente. Tornouse verdadeiramente um de nós, numa solidariedade plena. Essa é a história do Natal no horizonte do pensamento do Evangelho de João, a qual Mateus e Lucas descrevem de uma maneira bem diferente: plástica e concretamente como nascimento de uma criança em circunstâncias dramáticas. Onde os outros evangelhos nos oferecem figuras e imagens para ver e contemplar, nós achamos em João termos teológicos e filosóficos. João deixa de lado tudo o que Mateus e Lucas informam sobre o nascimento e a infância de Jesus. Por quê? Isso já é do conhecimento da igreja. Mas ainda não é essencial e decisivo, que deve ser dito sobre o mistério da pessoa de Jesus. É preciso circunscrever mais ainda o mistério da pessoa de Jesus Cristo, sua natureza e sua importância. No fundamento de nossa religião está, pois, a doutrina da encarnação. E o motivo para festejar o nascimento de Cristo não veio de fora, mas surgiu de reflexões cristãs sobre o significado teológico do fato salvífico de que Deus se tornou gente em Cristo e se humilhou, a ponto de descer até nós e igualar-se conosco.
2 Cremos em Jesus Cristo, o Deus humano Tema básico da teologia luterana são Deus e o ser humano em seu relacionamento mútuo: Deus, manifesto em Jesus de Nazaré, e o ser humano, salvo unicamente por causa de Cristo. Cristo personifica a graça de Deus. Em Jesus Cristo, Deus abre seu coração para nós. Jesus Cristo é o Deus por nós, que quer entrar no todo de nossa existência. Enquanto a nossa tendência é buscar a própria divinização, a tendência de Deus é a valorização do humano.
3 O poder de Deus na fragilidade do mundo “Deus é grande demais para poder passar pelas portas do templo. Aliás, Ele nem cabe no templo, nem em qualquer catedral, igreja ou capela. Por
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