Paulo Vaz, diretor-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal
“O made in Portugal é uma etiqueta de excelência” O ano de 2016 foi extraordinariamente positivo para o setor da Indústria Têxtil e do Vestuário, com as exportações a registarem 5 mil milhões de euros, voltando ao máximo registado em 2001. Já em 2017 algumas incertezas nos mercados externos, como no Reino Unido e Estados Unidos da América, poderão traduzir-se em novos desafios para o setor. Paulo Vaz, diretor-geral da Associação do Têxtil Portugal, em entrevista ao Jornal OPINIÃO PÚBLICA, fala de uma indústria capaz de se reinventar e, atualmente, bem preparada para o futuro. Sofia Abreu Silva Em 2016, a Indústria do Têxtil e do Vestuário bateu o recorde de vendas absoluto, superando a meta dos cinco mil milhões de euros de exportações. Como é que a ATP vê estes números? Paulo Vaz: Vemos estes números de forma positiva, numa perspetiva de grande satisfação, porque o setor conseguiu cumprir um desígnio estratégico. Além de voltarmos à fasquia dos 5 mil milhões de euros, que só foi atingida em 2001, como ainda antecipámos, em quatro anos, os objetivos definidos no Plano Estratégico para o “Cluster Têxtil e Moda 2020”. Este é um sinal muito claro de que o setor está a viver um bom momento e os números são
indicadores desse bom desempenho. O que é que tornou os têxteis e vestuário portugueses tão interessantes aos olhos do mundo? Eu acho que foi um esforço muito grande que as empresas realizaram quando enfrentaram, na primeira década deste século, um conjunto de choques competitivos e muito desafiantes. Foi primeiro a liberalização do Comércio Internacional, a entrada da China na Organização Mundial do Comércio e a abertura da União Europeia ao Leste europeu, com a entrada de países que eram concorrentes diretos de Portugal, embora em produtos de gama mais baixa. Tivemos também a crise económico-financeira global em 2008 com uma crise de consumo que penalizou o mundo todo e, naturalmente, Portugal. Depois, tivemos a intervenção da Troika no nosso país, que acabou por penalizar as condições em que as empresas operavam, nomeadamente no acesso ao crédito para a gestão corrente e para o investimento. As empresas tiveram de mudar… Eu digo que as empresas decidiram viver. Podiam, simplesmente, dizer que tudo isto é penoso e difícil e poderiam tomar outro rumo. As empresas optaram por seguir e continuar, procurando o que fazer para se distinguirem da sua concorrência, apostando nos fatores crí-
ticos de competitividade, incorporando mais moda, mais inovação tecnológica, mais intensidade de serviço, e internacionalizaram mais as suas atividades, o que, combinado, acabou por fazer subir o nosso produto na cadeia de valor. Hoje temos um novo posicionamento. Significa que o “made in Portugal” no têxtil e no vestuário é uma etiqueta de excelência, é requerida pelos nossos clientes à escala internacional. É, de certa forma, sinónimo de alta qualidade, inovação, de moda e de serviço. São atributos que nos distinguem pelos quais nos procuram.
Essa etiqueta “made in Portugal” chega, atualmente, até onde? Os mercados principais estão na Europa, com quatro principais clientes: Espanha, França, Reino Unido e Alemanha. Já fora da Europa, temos os Estados Unidos da América. Com Espanha temos uma proximidade geográfica, mas também cultural, porque falamos, culturalmente, a mesma linguagem e porque os modelos de negócio que operam lá com sucesso são adequados àquilo que é a capacidade de resposta portuguesa, muito assente »»»»»continua pub