www.odebateon.com.br
Macaé (RJ), quarta-feira, 7 de outubro de 2015, Ano XL, Nº 8831
Fundador/Diretor: Oscar Pires
CADERNO DOIS O DEBATE DIÁRIO DE MACAÉ
‘Oleanna’ em cartaz no Teatro do Sesi Macaé O Teatro do Sesi/Macaé leva aos palcos o espetáculo ‘Oleanna’, proporcionando cultura e entretenimento ao público de Macaé e região
Isis Maria Borges Gomes isismaria@odebateon.com.br
L
evando ao palco o tema relação de poder, entra em cena a peça ‘Oleanna’, no Teatro do Sesi/Macaé, que vem proporcionando cultura, lazer e muito entretenimento de qualidade ao público macaense e dos municípios da região. O espetáculo acontece nesta quinta-feira (8), às 20h. Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), e a classificação é de 16 anos. Os ingressos podem ser adquiridos na Bilheteria do Teatro do Sesi Macaé, que fica na Alameda Etelvino Gomes, 155, Riviera Fluminense. Contatos: (22) 2791-9214 / 99222-9223. Sob a direção de Gustavo Paso, ‘Oleanna’ aborda barreiras da comunicação na vida cotidiana e é considerado um marco na dramaturgia contempo-
rânea. A peça traz dois personagens que vivem mundos distintos e com visões limitadas por seus preconceitos e estereótipos: um professor preso à sua erudição e uma aluna que não consegue aprender nesse ambiente acadêmico elitista. Mas as questões apresentadas podem acontecer em qualquer relação: homem, mulher, familiar, profissional. ‘OLEANNA’
O espetáculo ‘Oleanna’ conta a história de uma aluna, prestes a ser reprovada, que procura seu professor e lhe cobra maior empenho na arte de ensinar. Este é o ponto de partida da série de três encontros entre os dois personagens que o espetáculo apresenta. A peça é uma adaptação do texto do americano David Mamet, que transpôs para a dramaturgia uma circunstância de encontro e
desencontro levados ao extremo a partir da impossibilidade de comunicação entre pessoas de origens e processos de raciocínio totalmente distintos. David Mamet traz à tona um assunto um tanto espinhoso, fala das relações de poder que se estruturam a partir da incomunicabilidade das pessoas. DETALHES DO ESPETÁCULO
O texto do dramaturgo David Mamet imprime um ritmo crescente e envolvente na obra até alcançar proporções inimagináveis de tensão. Um dos maiores mestres americanos no uso da linguagem, Mamet possui estilo próprio e sensibilidade apurada no uso da linguagem para dominar e manipular. A direção de Gustavo Paso, que também é dramaturgo, transmite de forma espetacular a ideia de jogo de poder que ocorre o tempo todo em cena, desde os detalhes,
como um celular que antes era atendido a toda hora e passa a ser ignorado, ou a troca de posições dos atores no palco. Com cenário único representando a sala do professor, jogo de luzes e trilha sonora para indicar passagem de tempo, a atenção fica centrada nos atores, que desempenham seus papéis de forma sensacional. Marcos Breda, como o professor, dá um show de interpretação. Seu posicionamento firme e confiante do início da peça dá lugar a um misto de pavor e incredibilidade que seu personagem enfrenta ao se ver como refém de uma situação que ele mesmo criou sem perceber. Luciana Fávero, a aluna, é a responsável pela reviravolta surpreendente da história, onde a menina confusa e com dificuldade de aprendizado se mostra uma verdadeira mestra na arte da manipulação.
Ficha técnica ● TEXTO:
David Mamet Marcos Daud ● DIREÇÃO: Gustavo Paso ● ILUMINAÇÃO: Paulo Cesar Medeiros ● CENÁRIO: Gustavo Paso e Teca Fichinski ● FIGURINOS: Jô Resende ● TRILHA SONORA ORIGINAL: Andre Poyart ● DESIGN GRÁFICO: Gustavo Paso ● MUSICAS: Andre Poyart ● MÚSICOS: Cello- Saulo Vignoli ● VIOLINO: Anderson Pequeno ● FOTOS: Mônica Vilela ● TRADUÇÃO:
O que é Oleanna?
O título da peça de David Mamet vem de uma canção satírica norueguesa de 1953 sobre a comunidade chamada Nova Noruega, fundada em 1852 no estado americano da Pensilvânia pelo primeiro “pop star” norueguês internacional, o violinista Ole Bull. Oleanna fazia parte da Nova Noruega e, na música (traduzida para o inglês por Pete Seeger), um aspirante a imigrante para a colônia de Bull, canta sobre como ele prefere estar em Oleanna ao invés de “carregar as correntes da escravidão” na Noruega, pois em Oleanna pode-se deitar e descansar enquanto o “trigo e o milho são semeados pelo vento/Depois nascem e crescem uns bons centímetros por dia” e a cerveja brota da terra. E o que é melhor: lá “As mulheres fazem todo o trabalho do campo, e bem rápido/ Cada uma carrega um galho de nogueira-amarga/Para bater na outra que fizer o serviço devagar.” Bull era um ativista fervoroso em prol da independência política e cultural da Noruega, na época em que esta era governada pela Suécia. Ele foi, de fato, o fundador do primeiro teatro onde os atores falavam norueguês (e não dinamarquês), projeto que acabou não dando certo, mas que, antes de acabar, acolheu um promissor escritor de vinte e dois anos chamado Henrik Ibsen. E foi nesse teatro que o grande dramaturgo, então contratado de Ole, teve sua formação teatral. Ole não tinha ideias políticas ou sociais radicais, e os colonos da Nova Noruega não eram indolentes ou preguiçosos, mas exímios trabalhadores em busca de uma oportunidade. Infelizmente, os comerciantes que venderam Nova Noruega a Bull incluíram cláusulas no contrato que dão aos americanos o direito de tomar todas as terras cultiváveis, e os noruegueses rapidamente perceberam que não tinham chances de sobreviver nesta condição. A Nova Noruega acabou por volta de 1857, não devido a sonhos utópicos de harmonia ou por falta de determinação, mas por pura fraude, à boa e velha moda americana.