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Introdução A longa jornada da história humana mostra que é no processo de interação social, na e por meio da atividade prática, que o homem transforma a natureza e, ao transformála, transforma a si mesmo. Esta obra – que tem como objetivo o estudo com alunos com deficiência intelectual, especialmente no que se refere a sua terminalidade acadêmica – procura mostrar, inicialmente, como a história do homem, sua constituição como ser humano, sua natureza humana, é essencialmente social, na medida em que se origina e se desenvolve no âmbito das relações sociais de produção. Como espécie, filogeneticamente, o homem passou por um longo processo de hominização e, ontogeneticamente, como ser individual, pertencente ao gênero humano, cada homem passa pelo processo de humanização. Para melhor compreender o processo de hominização, faz-se necessário citar Engels (1986, p. 16), para quem a sociedade humana surgiu “daquela manada de macacos trepadores em árvores”, e o trabalho é a característica distintiva entre ambas – a manada de macacos e a sociedade humana. Tais macacos pertenciam a uma raça “mais inteligente e com maior capacidade de adaptação que as demais” (ENGELS, 1986, p. 17). O estudo da evolução humana com a tese da origem animal do homem – produto da evolução gradual do mundo animal – fundamenta-se, segundo Engels (1986), em disciplinas como Geologia, Anatomia Comparada, Primatologia, Antropologia Cultural, Paleontologia etc. Engels (1986) afirma, ainda, que os ancestrais do Homo Sapiens Sapiens, os primeiros hominídeos, surgiram no continente africano há mais de dois milhões de anos. O processo de hominização caracteriza-se pela passagem do animal ao homem, ou seja, por mudanças essenciais na sua organização física e resultou da passagem do homem à vida, numa sociedade organizada com base no trabalho, modificando sua natureza e marcando o início de um desenvolvimento submetido não a leis biológicas, mas a leis sócio-históricas. Trata-se de um longo processo, que compreende alguns períodos ou estágios. O primeiro estágio, segundo Leontiev (1978, p. 262), é o da “preparação” biológica do homem. Os representantes desse período já conheciam a posição vertical, mas seus utensílios eram muito rudimentares e seus meios de comunicação muito primitivos. O segundo estágio é marcado pela “passagem” (LEONTIEV, 1978, p. 262) ao homem e pelo início da fabricação de instrumentos e de organização social, ou seja, formas embrionárias de “trabalho” e de “sociedade”. Foi nesse período que a biologia se pôs a “inscrever” na estrutura anatômica do homem a “história” nascente da sociedade humana, na medida em que a ingestão de carne e a passagem à posição vertical (ereta) levaram a grandes transformações anatômicas e psíquicas transmitidas de geração em geração pela hereditariedade. Ao mesmo tempo, outros elementos apareciam no desenvolvimento deste homem – por influência do trabalho e da comunicação pela linguagem que o trabalho suscitava: modificações na constituição anatômica do cérebro,