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MACRO

Luz Para Todos em Sete Anos. Uma Missão a Duas Velocidades

Teoricamente, a meta assumida pelo Governo, de assegurar o acesso universal à energia até 2030, mantém-se. Mas, no terreno, a vandalização de infra-estruturas e a necessidade de intervenção do sector privado na expansão das renováveis levantam dúvidas quanto ao cumprimento da meta dentro do prazo

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Texto Anderson Cossa • Fotografia D.R

AElectricidade de Moçambique (EDM) e o Fundo Nacional de Energia (FUNAE) são parceiros no ambicioso programa do Governo “Energia para Todos”. Enquanto a EDM é responsável pelas ligações dentro da rede pública, o FUNAE encarrega-se da expansão da energia para os pontos mais recônditos, onde a rede pública não chega. E não são poucos!

Periodicamente, a imprensa divulga informação pontual sobre o programa, geralmente optimista, como o recente anúncio, pela EDM, da garantia do financiamento da segunda fase do “Energia para Todos”, avaliada em mais de 300 milhões de dólares desembolsados pelo Banco Mundial, Reino da Suécia e Noruega.

Tudo indica, portanto, que o processo segue sem sobressaltos. Mas porque fazem parte das preocupações do sector a vandalização da infra-estrutura e a necessidade de expansão das renováveis, vale a pena questionar em que pé está esta missão. E é aí onde sobressaem as preocupações que fazem despertar para a dimensão do desafio que se tem de enfrentar num prazo de pouco mais de sete anos.

A difícil tarefa da EDM

Em entrevista à E&M, o gestor do projecto ProEnergia (Energia para Todos), Sílvio Romeu, começou por revelar o estágio actual de execução do programa governamental.

“Em termos de cobertura, fechámos o ano de 2021 com 44% da taxa de acesso de energia ao nível do País”, revelou o gestor, lançando um olhar promissor para um futuro próximo: “O nosso plano é que, até 2024, possamos alcançar uma cobertura de até 64%, ou seja, poderemos ter dez milhões de famílias com acesso à energia”. De acordo com Sílvio Romeu, o projecto teria avançado mais se não fosse a constante vandalização de infra-estruturas eléctricas.

Só para se ter uma ideia, no ano passado, a empresa pública EDM teve um prejuízo de 16 milhões de dólares devido ao roubo de equipamentos e enfrenta grandes dificuldades para travar o fenómeno. No primeiro semestre deste ano, a EDM reportou perdas que chegam aos 250 mil dólares.

“Sempre que há roubo e vandalização de infra-estruturas atrasamos o processo de expansão, porque temos de repor os equipamentos vandalizados, e os recursos gastos na reposição podiam servir para acelerar a expansão da rede eléctrica”, lamentou.

Este não é, no entanto, o único factor de retrocesso na expansão da energia. O covid-19 também contribuiu para que o programa andasse a um ritmo lento uma vez que “importamos grande parte [de matéria-prima] e houve um impacto nas fábricas que produzem e nas empresas que transportam o material”, explicou, indicando que, felizmente, “tudo isso foi ultrapassado”.

É possível chegar à meta? Como?

Faltam dois anos para a meta estabelecida pela própria EDM, no sentido de cobrir dez milhões de famílias, e sete anos para que todos passem a usufruir da corrente eléctrica, segundo a meta do Executivo a que já nos referimos.

Mas Sílvio Romeu entende que apesar dos vários obstáculos, há sinais que indicam que as metas serão alcançadas. “Desde o início do programa Energia para Todos, quase duplicámos o número de ligações que fazemos por ano. Antes fazíamos 150 mil e agora estamos na casa das 300 mil”, informou, com tom carregado de optimismo: “Conseguiremos chegar a 2030 com acesso universal. Todos os esforços estão a ser feitos do lado da EDM, FUNAE e Governo para garantir que isso seja alcançado”, garantiu.

Para chegar a esta meta, o ProEnergia tem estado a adoptar medidas para, pelo menos, proteger as infra-estruturas eléctricas. Por exemplo, a EDM está a montar os transformadores e quadros a uma altura de difícil acesso. Se antes “estavam a uma distância de um metro, agora estão a três ou quatro metros”.

O gestor do ProEnergia lembra que o roubo de cobre de terra faz com que o transformador exploda, pois fica sem protecção. “Estes roubos não acontecem só nas novas infra-estruturas, mas também nas antigas. Assim, deve imaginar que não podemos deixar de reparar o que foi vandalizado e isto custa muito dinheiro à EDM. É esse dinheiro que ser-

Faltam dois anos para a meta estabelecida pela própria EDM, no sentido de cobrir 10 milhões de famílias, e sete anos para que todos passem a usufruir da corrente eléctrica

viria para fazer chegar energia a 100 ou 200 famílias”, exemplificou Sílvio Romeu, reiterando o apelo à vigilância e denúncia popular a práticas que atentem às infra-estruturas eléctricas – a principal arma de combate ao fenómeno.

E o que acontece com a solução fora da rede?

Para os locais mais recônditos onde a rede pública não chega, as soluções vêm de fontes de energia “naturais” – as renováveis. E a energia chega lá através dos projectos do FUNAE. Também neste contexto, a primeira ideia que se faz passar é de algum optimismo. Desde o lançamento do projecto em 2019, o FUNAE conseguiu “dar luz” a 190 vilas com sistemas isolados e 76 com mini-redes.

Todas as mini-redes foram feitas com base em soluções solares numa capacidade, que varia de quatro kilowatts até cerca de 550 kilowatts, e que existem na província do Niassa, Norte do País.

Há também infra-estruturas sociais electrificadas. “Até ao momento, conseguimos assegurar que cerca de 7745 escolas e 6660 centros de saúde espalhados por todo o País tenham acesso à energia”, revelou o chefe do Departamento de Estudos e Planificação no FUNAE, Edson Uamusse, acrescentando que há também mini-hídricas instaladas ao longo do País para aproveitar pequenos cursos de água para a electrificação de algumas localidades.

Tal como a EDM, sua parceira no projecto, o FUNAE também acredita no alcance da meta de ter 42 mini-redes nos postos administrativos até 2024, ainda que, mesmo com a ajuda da EDM, não tenha chegado nem a metade deste número, faltando um ano e meio para o fim do prazo.

“Já concluímos oito, mas três dos locais que estavam previstos para serem abrangidos fora da rede acabaram por ser incluídos no projecto da EDM porque, da reavaliação feita, entendeu-se

Para os locais mais recônditos onde a rede pública não chega, as soluções vêm de fontes de

energia “naturais” – as renováveis. E a energia

chega lá através dos projectos do FUNAE

que seria prático adoptar-se essa solução para a electrificação destes locais. Estamos a dizer que dos 42, somando quatro do FUNAE e três da EDM, já fechamos 11. O remanescente está em curso e a perspectiva é que até 2024 tenhamos todo este pacote fechado”, avançou Edson Uamusse.

Mas será necessário o apoio do sector privado

O FUNAE tem disponíveis cerca oito mil milhões de meticais para, através de mini-redes, fazer chegar a energia às famílias que vivem nas zonas de difícil acesso até 2024.

Mas, para lograr o objectivo de acesso universal à energia até 2030, a entidade admite ser necessária a ajuda do sector privado. “Para alcançarmos os nossos objectivos precisaríamos de nos ancorar ao sector privado porque, se olharmos para a dimensão do País (quase 800 mil quilómetros quadrados), não será possível conseguir a cobertura nacional até 2030 apenas com soluções providas pela EDM e FUNAE”, reconheceu o responsável. Edson Uamusse esclareceu ainda no que vai consistir a intervenção do sector privado.

“Essencialmente, o apoio que nós buscamos junto do sector privado, neste momento, é para assegurarmos a expansão das mini-redes, mas também a operação e manutenção, uma vez que a experiência mostrou-nos que a intervenção do sector privado neste sentido é indispensável. Precisamos de ter o sector privado também engajado a operar e manter estas mini-redes”, sublinhou. O Fundo de Energia revela ainda que o facto de convidar o sector privado a juntar-se ao projecto não significa que não tenha capacidade financeira para fazer a manutenção das infra-estruturas. É que, “sendo muito oneroso, a experiência mostrou-nos que podemos partilhar este custo com o privado.

E sendo o privado uma entidade que busca o lucro está em melhores condições de operar e fazer a geração de receitas através das mini-redes”, explicou. O FUNAE garante que dispõe de técnicos que fazem a manutenção e tem trabalhado com as comissões de gestão locais, “mas isso não se mostrou muito eficiente, razão pela qual transitámos para a intervenção privada na gestão destes projectos”.

Para envolver o sector privado neste negócio, o FUNAE sugere que haja um aprimoramento de regulamentos por parte do Governo, até porque há projectos que vão precisar da mão do empresariado para que possam avançar, nomeadamente a construção de mini-hídricas no Niassa com uma capacidade de cerca de 492 quilowatts e na província da Zambézia com dois megawatts.

O que Deve Mudar?

Sobre como promover o emprego digno e o conteúdo local muito já se disse. Mas, quanto mais o tema é abordado, mais ideias novas são adicionadas. É o que faz o Programa +Emprego, além de buscar mais oportunidades de trabalho para os jovens, claro. Desta vez juntou diversas entidades em mais um workshop de reflexão sobre “Empreendedorismo e Contratação Industrial Inovadora”, que não só traz os resultados desta batalha, como também lições que vale a pena conhecer e explorar

Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva

Há quem diga que não é necessário esperar por uma lei para reter, em Moçambique, os ganhos da presença de recursos naturais, principalmente o gás. Mas há, por outro lado, quem já não contenha a ansiedade por acreditar que a Lei tarda e aí começa a derrota de Moçambique na luta em impedir que os recursos não se tornem numa “maldição”. Todos os posicionamentos são válidos. Mas a acção e as reflexões promovidas pelo Programa +Emprego mostram onde estamos em termos de realização para lá chegarmos.

O último workshop, realizado a 22 de Setembro, no Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique (Isctem), sob o tema “Empreendedorismo industrial inovador em África”, foi mais um espaço não só para ficarmos a saber “quem faz o quê”, como para conhecermos o perfil dos empreendedores e de técnicos que o mercado precisa para alcançar o desenvolvimento.

A busca pelo Conteúdo Local. Pequenas lições para grandes conquistas

Dos vários momentos importantes proporcionados pelo workshop, o último painel de debate trouxe contributos relevantes para responder ao desafio da promoção do Conteúdo Local. Procurava-se responder à pergunta “Como agilizar a obtenção de contratos de fornecimento de mão-de-obra, bens e serviços para a indústria em Moçambique?”.

Para João Gomes, Partner da Jason Moçambique, só se conseguem mais e melhores contratos quando se desenvolvem soluções inovadoras e interessantes para os clientes. Isso significa uma aposta, por exemplo, ao nível da protecção da propriedade intelectual no Instituto de Propriedade Industrial e a criação de ambiente conducente a trazer a inovação dentro da organização. “Era muito importante que as empresas, mesmo as que querem entrar nas fileiras do Oil & Gas, começassem a olhar para dentro e percebessem se os seus produtos e serviços são aqueles que um mercado minimamente competitivo quer, e não basicamente invocar a situação de estar num território próximo do Oil & Gas para acreditar que tem mais direitos de participação do que os outros”, advertiu João Gomes.

Também chamou a atenção para a capacidade negocial como determinante para conseguir bons contratos. “A experiência no terreno mostra que temos muito caminho para fazer. É preciso conhecer melhor a legislação dos contratos e as melhores técnicas de negociação de bens e serviços”, disse.

Outro aspecto que mais faz acelerar as economias em termos de obtenção de contratos é a possibilidade de ter uma força de trabalho flexível. “E em Moçambique não é fácil fazer isso porque a legislação do trabalho ainda é muito apertada”, observou, sugerindo maior concentração das empresas, dos decisores e da sociedade nessas três vertentes de análise, na busca pela obtenção de contratos com os megaprojectos do gás.

Um olhar à (in)competência técnica

No mesmo painel, a academia assumiu não estar a formar capital humano à altura das exigências dos megaprojectos. Rodrigues Fazenda, docente universitário e coordenador em Moçambique do Fórum de Economia e Gestão da Lusofonia (FEGL), admitiu que “a culpa” em relação à fraca qualidade dos profissionais que a academia coloca no mercado é da própria academia. Porquê? Fazenda explica que existe um indicador de avaliação de cursos do ensino superior e indicadores de avaliação das próprias instituições do ensino superior. Contudo, esses instrumentos estão completamente desligados daquilo que as empresas querem, mas coincidem com o que os pais querem dos seus filhos estudantes. Depois, há uma completa falta de ligação entre as empresas e as instituições de ensino o que significa que as empresas não têm qualquer influência na elaboração dos currículos.

Na óptica de Rodrigues Fazenda, isto ocorre “porque as empresas não procuram as academias para dialogar a este respeito, provavelmente por considerarem não haver qualquer benefício para si. Mas depois ficam prejudicadas quando precisam de mão-de-obra e o resultado disso é que recorrem sempre à mão-de-obra estrangeira. Obviamente que para mudar este paradigma, “será necessário que se construa um fórum de diálogo muito sério entre as empresas e a academia”. Um exemplo do desfasamento entre a formação e as necessidades das empesas veio do vice-pre-

O FOCO DO +EMPREGO

O Programa +Emprego é um projecto que começou em 2020 em tem a duração de quatro anos, financiado pela União Europeia (UE) num valor de 4 milhões de euros e gerido pelo Camões, I.P, visa aumentar as oportunidades económicas da população de Cabo Delgado, sobretudo jovens, contribuindo para a melhoria do acesso ao trabalho digno e de rendimento em actividades que estão directa ou indirectamente ligadas à indústria do gás. A meta estabelecida neste âmbito é de que gradualmente sejam criados 5 mil postos de trabalho directos em toda a cadeia de produção nomeadamente exportação, refinaria, transporte, distribuição e revenda. Também prevê gerar cerca de 10 mil empregos indirectos, na cadeia de valor da construção civil, serviços de manutenção industrial, transportes e da produção agrícola e agro-alimentar. “Este projecto parte do pressuposto de que a concentração dos recursos técnicos e tecnológicos que são altamente especializados na bacia do Rovuma, exige uma viragem urgente na matriz base da criação de empregos na província de Cabo Delgado, que até agora ainda está configurada num perfil muito baseado no sub-emprego e no emprego de fraca produtividade e fraco valor acrescentado, assente nos sectores da agricultura, da pesca e da silvicultura”, explicou Cristina Paulo, coordenadora do Programa +Emprego.

sidente do Pelouro de Desenvolvimento de Capacidades Locais da CTA, Bercêncio Vilanculos, que é também empresário no sector da logística. Fazendo menção à experiência do seu empreendimento, revelou que a primeira barreira para os jovens moçambicanos que saem das universidades é o domínio da língua inglesa.

“Mesmo com uma boa bagagem de conhecimentos, se não domina o inglês é desqualificado. Esta é a razão por que recorremos a indivíduos, que podem até ter um nível de escolaridade baixo e, por vezes, com fraco know how, mas que dominem a língua inglesa”.

No entanto, a solução está na aposta interna em treinar pessoal. O empresário conta que trabalhou com jovens que fazem o curso de Gestão Portuária e Economia na Universidade Católica de Moçambique e teve de os treinar em matérias de domínio da língua inglesa. Tendo conseguido resultados encorajadores, Bercêncio Vilanculos deixa uma dica: é preciso paciência para formar e adequar os recursos humanos às necessidades da empresa. E adverte que “o importante, nesse processo, é tomar o investimento na formação como um ganho e não um encargo”.

Muita coisa mudou… e ainda vai mudar

No momento da partilha de informação sobre o grau de implementação das iniciativas dentro do Programa +Emprego, ficou-se a conhecer os avanços que se foram alcançando nos primeiros dois anos (que coincidem com a primeira metade da sua vigência). Na apresentação do sumário das iniciativas de apoio à contratação jovem em Moçambique, Sandra Alfeu, directora dos Serviços Centrais de Emprego do Instituto Nacional de Emprego (INEP), fez saber que, logo após a assinatura do memorando de entendimento com o programa +Emprego pela promoção das oportunidades para os jovens de Cabo Delgado, o programa apoiou a instalação de um centro de emprego de referência, que consistiu na capacitação dos técnicos de emprego além da aquisição de material de escritório e mobiliário.

Paralelamente, a parceria permitiu o melhoramento do portal de emprego do INEP, plataforma que intermedeia a procura e a oferta de emprego. Assim, foi instalado o Gabinete de Inserção da Vida Activa (GAIVA), que consiste em realizar palestras de orientação profissional para que os jovens tenham melhor visão da profissão que pretendem

seguir, e foi implementado o programa de estágios técnico-profisionais para a área da indústria, o que permitiu a inserção de 74 profissionais em diversas empresas em Cabo Delgado. Para este ano, de acordo com Sandra Alfeu, está prevista a inserção de 50 jovens nos estágios profissionais através do programa +Emprego.

O (bom) exemplo da Galp

Uma experiência de proactividade de uma empresa envolvida no processo de exploração do gás foi também partilhada. Marlena Chambule, directora de Recursos Humanos da Galp, falou de uma iniciativa denominada Generation Galp, desenvolvido em parceria com a Jason Moçambique.

Trata-se de um programa que existe em todos os dez países onde a petrolífera portuguesa está presente e que consiste em atrair para a empresa uma nova geração de jovens empreendedores. A empresa forma talentos anualmente com o objectivo de os tornar aptos a fazerem parte do processo de transformação organizacional da Galp.

Teve lugar pela primeira vez no ano passado, quando foram contratados seis jovens. No processo de recrutamento, que durou três meses, estes jovens foram apurados entre 1200 candidatos moçambicanos espalhados por dez países. No quadro desta formação, os jovens são desafiados a criarem ideias inovadoras para resolverem questões de diversa ordem na empresa, individualmente ou em grupos, e depois propõem soluções.

“O segredo deste tipo de iniciativa está em garantir que, dentro das organizações, as pessoas estejam preparadas para ouvir os jovens, visto que, muitas vezes, há iniciativas de inclusão e de acolhimento, mas falta espaço para ouvir e inserir os jovens nos processos”, explicou Marlena Chambule.

A Galp também anunciou inovações ao programa Generation Galp no futuro. Em 2023 será mais global. Incluirá jovens de Portugal, Brasil e Espanha, para uma partilha de conhecimento de forma conjunta e abrangente.

Avanços na certificação

Sendo a certificação de qualidade um dos imperativos para participar nos grandes projectos, a CTA está a apostar na preparação de empresas nacionais tendo em vista este objectivo, sendo que está a implementar, desde 2020, o programa de certificação nacional. À luz deste programa, de acordo com Bercêncio Vilanculos, foram seleccionadas 20 empresas, na fase inicial, sendo que três delas foram certificadas ainda no presente ano e a expectativa é que, antes do fim de 2022, mais dez empresas também sejam certificadas. O objectivo imediato, ainda de acordo com Bercêncio Vilanculos, é certificar mais 15 empresas de Cabo Delgado no âmbito do programa +Emprego. Além disso, e focada na questão do Conteúdo Local, a CTA tem apostado em workshops de divulgação das potencialidades das PME ao nível local, como forma de as preparar para participarem nas futuras oportunidades de negócio, bem como de despertar os megaprojectos a contarem com a prestação destes empreendimentos nas suas futuras aquisições. Da entidade financiadora do +Emprego, a União Europeia (UE), veio a promessa de “cada vez mais investir em oportunidades direccionadas para jovens”, uma vez que “acreditamos plenamente no potencial e talento dos jovens moçambicanos porque têm vontade de lutar e de serem protagonistas de mudanças”, disse Veerle SMET, chefe da Secção de Operações de Infra-estruturas, Investimento e Sector Privado da Delegação da UE em Moçambique. Uma importante lição sobre certificação de pessoas na indústria de Oil & Gas veio de Margarida Segard, directora da ISQ Academy - Instituto de Soldadura e Qualida-

Workshops promovidos pelo programa +Emprego tornaram-se espaços privilegiados para falar das acções prioritárias rumo ao desenvolvimento

de criado há 70 anos em Portugal e que trabalha com muitas instituições estratégicas em Moçambique.

De acordo com a responsável, a luta tem de ser no sentido de que cada vez mais os referenciais nacionais de formação, quer de ensino geral, básico e secundário, quer do ensino superior, sejam harmonizados com os referenciais de certificação internacional.

“Isto quer dizer que se as coisas estiverem juntas, no final de cada curso, os alunos têm acesso também a um diploma internacional de diversas certificações interessantes e que são específicas para a área do Oil & Gas, como sejam de soldador, de engenheiro de soldadura, de tecnólogo, etc.”, explicou.

A (má) influência da cultura no empreendedor africano

Quando foi a vez de saltar do emprego para o empreendedorismo, dentro do contexto de promoção do conteúdo local, João Gomes assumiu o papel de keynote speaker na apresentação do tema “Empreendedorismo industrial inovador em África”. Recorrendo a estudos, concluiu que o afro-empreendedor sofre e beneficia da influência da família nas decisões de levar o negócio para frente. Estimou, citando esses estudos, que 8,5% da população activa em África não é empreendedora porque a família não deixa.

Por exemplo, em países como o Egipto, para as mulheres se tornarem empresárias precisam da autorização dos maridos.

Explicou que esta condição pode derivar da concepção que os africanos têm do conceito de família alargada e que acaba sendo aproveitado para desenvolver relações que vão compensar o défice de acesso aos instrumentos formais de segurança social e de poupança, por exemplo, através do xitique (uma forma de poupança e empréstimo rotativo de dinheiro baseada na confiança mútua entre os membros de um grupo). Mas esta vantagem tem um preço. João Gomes fala da chamada “ajuda mútua forçada”, que significa que, por inerência das características culturais do continente, a família funciona na lógica de que as pessoas economicamente bem-sucedidas têm de ajudar as mais pobres e essa cobrança equivale a 9% do PIB formal de África.

É um sistema que pode sair ainda mais caro do que um sistema de segurança social formal, segundo o pesquisador, já que o afro-empreendedor luta contra uma restrição com que mais nenhum empreendedor se defronta nos outros continentes, incluindo a fraca mão-de-obra dos seus funcionários que também são seus familiares.

Ainda neste workshop, jovens empreendedores de Cabo Delgado tiveram a oportunidade de partilhar as suas experiências com os participantes.

Joana Cuambe • Consultora em Sistemas de Gestão Ambiental na Insite

ASustentabilidade está na ordem do dia e é cada vez mais uma maior preocupação para as pessoas e para as empresas. As alterações climáticas estão a afectar gradualmente o nosso modo de vida e colocam em perigo milhões de pessoas, especialmente nos países em vias de desenvolvimento. Basta relembrarmos os ciclones Idai e Kenneth em Moçambique em 2019 e, mais recentemente, as cheias no Paquistão. Mas será que sabemos o que a palavra Sustentabilidade significa? Qual a sua importância para o negócio das empresas?

Tornar os negócios mais sustentáveis passa não só pela área financeira, como também pelas áreas social e ambiental. Neste último caso, a implementação de boas práticas de Gestão Ambiental é crucial para que as empresas tenham o menor impacto possível no Meio Ambiente e na Comunidade.

A inserção de questões ambientais no âmbito do planeamento socioeconómico entrou para a ordem do dia no contexto nacional em 1992, quando Moçambique participou pela primeira vez numa Conferência de Ambiente das Nações Unidas organizada no Rio de Janeiro. Desde então foram publicados vários diplomas legais na área ambiental, entre os quais a Lei do Ambiente (Lei n.º 20/97, de 7 de Outubro), que estabelece os princípios fundamentais da protecção ambiental, promovendo a utilização e gestão racionais dos recursos e a visão global e integrada do ambiente.

Para além da legislação nacional, existem outros requisitos ambientais pelos quais as organizações podem e devem guiar-se. É o caso da Norma ISO 14001:2015, a qual consiste numa ferramenta fundamental para a implementação de um sistema de gestão ambiental numa Organização, sendo facilmente integrável com outros referenciais normativos como, por exemplo, a ISO 9001:2015 – Sistemas de Gestão da Qualidade.

A implementação deste tipo de sistemas permite optimizar os recursos utilizados numa Organização e, consequentemente, trazer poupanças e ganhos financeiros para as empresas. Além além disso, constitui uma vantagem competitiva, uma vez que impulsiona a melhoria contínua do desempenho ambiental dos processos e serviços, contribuindo para melhorar a imagem da empresa junto das partes interessadas e aumentar a satisfação do cliente. Em síntese, um sistema de gestão ambiental possibilita à Or-

ganização compreender, gerir e minimizar os impactos ambientais das suas actividades, produtos e serviços, assim como prevenir a poluição, cumprir as obrigações de conformidade, tratar os riscos e oportunidades e melhorar continuamente o desempenho ambiental.

Contudo, não obstante as vantagens evidentes sob o ponto de vista ambiental e financeiro, há alguns factores que constituem desafios para a plena implementação das medidas/sistemas de gestão ambiental pelas Organizações no contexto nacional, nomeadamente: • A necessidade de suporte legal para as Organizações determinarem os valores limite de emissão (VLE) de

Sustentabilidade nos Negócios - Desafios e Vantagens da Gestão Ambiental nas Organizações

“Para que a gestão ambiental seja uma realidade... é necessário, que todas as partes envolvidas assumam o compromisso de ‘fazer a sua parte’”

poluição. Em alguns casos estes padrões não se encontram na legislação nacional, obrigando as empresas a recorrerem a standards internacionais. A título de exemplo, ainda não existe um regulamento nacional referente à poluição sonora. • Para minimizar os impactos ambientais causados, em algum momento é necessária a existência de soluções tecnológicas ao nível, por exemplo, dos sistemas de produção ou de gestão dos resíduos produzidos. Contudo, no mercado nacional por vezes não existem alternativas disponíveis para tratamento de resíduos, especialmente no caso de resíduos perigosos. • O comprometimento de todos os níveis e funções da Organização é essencial para o sucesso da gestão ambiental, que envolve mudança de atitudes e por vezes da cultura da Organização. Os colaboradores tendem a resistir à mudança quando não se identificam com os valores ou não entendem a importância de determinado assunto. Como tal, é recomendável uma correcta gestão da mudança, fazendo um esforço por envolver nas decisões ambientais não só os colaboradores, como também as restantes partes interessadas.

Para que a gestão ambiental seja uma realidade e as empresas nacionais possam melhorar a sua sustentabilidade é, pois, necessário, que todas as partes envolvidas assumam o compromisso de “fazer a sua parte”.

Entretanto é, de facto, necessário que todas as Organizações, independentemente da sua dimensão e estatuto público ou privado, adoptem ferramentas de gestão ambiental que garantam o controlo dos aspectos e impactos ambientais decorrentes das suas actividades e contribuam para um desenvolvimento mais sustentável.

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