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Luz Para Todos em Sete Anos. Uma Missão a Duas Velocidades Teoricamente, a meta assumida pelo Governo, de assegurar o acesso universal à energia até 2030, mantém-se. Mas, no terreno, a vandalização de infra-estruturas e a necessidade de intervenção do sector privado na expansão das renováveis levantam dúvidas quanto ao cumprimento da meta dentro do prazo Texto Anderson Cossa • Fotografia D.R
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Electricidade de Moçambique (EDM) e o Fundo Nacional de Energia (FUNAE) são parceiros no ambicioso programa do Governo “Energia para Todos”. Enquanto a EDM é responsável pelas ligações dentro da rede pública, o FUNAE encarrega-se da expansão da energia para os pontos mais recônditos, onde a rede pública não chega. E não são poucos! Periodicamente, a imprensa divulga informação pontual sobre o programa, geralmente optimista, como o recente anúncio, pela EDM, da garantia do financiamento da segunda fase do “Energia para Todos”, avaliada em mais de 300 milhões de dólares desembolsados pelo Banco Mundial, Reino da Suécia e Noruega. Tudo indica, portanto, que o processo segue sem sobressaltos. Mas porque fazem parte das preocupações do sector a vandalização da infra-estrutura e a necessidade de expansão das renováveis, vale a pena questionar em que pé está esta missão. E é aí onde sobressaem as preocupações que fazem despertar para a dimensão do desafio que se tem de enfrentar num prazo de pouco mais de sete anos. A difícil tarefa da EDM Em entrevista à E&M, o gestor do projecto ProEnergia (Energia para Todos), Sílvio Romeu, começou por revelar o estágio actual de execução do programa governamental. “Em termos de cobertura, fechámos o ano de 2021 com 44% da taxa de acesso de energia ao nível do País”, revelou o gestor, lançando um olhar promissor para um futuro próximo: “O nosso plano é que, até 2024, possamos alcançar uma cobertura de até 64%, ou seja, podere-
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mos ter dez milhões de famílias com acesso à energia”. De acordo com Sílvio Romeu, o projecto teria avançado mais se não fosse a constante vandalização de infra-estruturas eléctricas. Só para se ter uma ideia, no ano passado, a empresa pública EDM teve um prejuízo de 16 milhões de dólares devido ao roubo de equipamentos e enfrenta grandes dificuldades para travar o fenómeno. No primeiro semestre deste ano, a EDM reportou perdas que chegam aos 250 mil dólares. “Sempre que há roubo e vandalização de infra-estruturas atrasamos o processo de expansão, porque temos de repor os equipamentos vandalizados, e os recursos gastos na reposição podiam servir para acelerar a expansão da rede eléctrica”, lamentou. Este não é, no entanto, o único factor de retrocesso na expansão da energia. O covid-19 também contribuiu para que o programa andasse a um ritmo lento uma vez que “importamos grande parte [de matéria-prima] e houve um impacto nas fábricas que produzem e nas empresas que transportam o material”, explicou, indicando que, felizmente, “tudo isso foi ultrapassado”. É possível chegar à meta? Como? Faltam dois anos para a meta estabelecida pela própria EDM, no sentido de cobrir dez milhões de famílias, e sete anos para que todos passem a usufruir da corrente eléctrica, segundo a meta do Executivo a que já nos referimos. Mas Sílvio Romeu entende que apesar dos vários obstáculos, há sinais que indicam que as metas serão alcançadas. “Desde o início do programa Energia para Todos, quase duplicámos o número de ligações que fazemos por ano. Antes fazíamos 150 mil e agora estamos na ca-
sa das 300 mil”, informou, com tom carregado de optimismo: “Conseguiremos chegar a 2030 com acesso universal. Todos os esforços estão a ser feitos do lado da EDM, FUNAE e Governo para garantir que isso seja alcançado”, garantiu. Para chegar a esta meta, o ProEnergia tem estado a adoptar medidas para, pelo menos, proteger as infra-estruturas eléctricas. Por exemplo, a EDM está a montar os transformadores e quadros a uma altura de difícil acesso. Se antes “estavam a uma distância de um metro, agora estão a três ou quatro metros”. O gestor do ProEnergia lembra que o roubo de cobre de terra faz com que o transformador exploda, pois fica sem protecção. “Estes roubos não acontecem só nas novas infra-estruturas, mas também nas antigas. Assim, deve imaginar que não podemos deixar de reparar o que foi vandalizado e isto custa muito dinheiro à EDM. É esse dinheiro que serwww.economiaemercado.co.mz | Setembro 2022