Livro Alice - Projeto II

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58 UM CHÁ DAS CINCO MUITO LOUCO

69 O CROQUÉ DA RAINHA

79 A HISTÓRIA DO JABUTI DE MENTIRA

90 A QUADRILHA DAS LAGOSTAS

100 QUEM ROUBOU AS TORTAS?

110 AS EVIDÊNCIAS DE ALICE

Edição gameficada

Instruções para iniciar o jogo

Olá jovem aventureiro! Boas vindas à sua jornada imersiva pelo mágico mundo de Alice no País das Maravilhas. Primeiramente, certifique-se de estar com algum dispositivo móvel ao seu alcance para iniciarmos nossa aventura.

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A leitura atenta da história será de extrema importância para sua progressão na aventura! Fique ligado em passagens em negritos que aparessam ao longo da leitura e em ilustrações - como as dessa página - no canto superior direito. Isso significa que nesta página você encontrará dicas para os desafios do jogo!

Ótima leitura e boa gameplay

toca do coelho Dentro da

Alice já estava cansada de ficar sentada no banco sem nada para fazer. Por uma ou duas vezes ela xeretou o livro que a irmã lia a seu lado, mas nele não havia figuras nem diálogos.

“Para que serve um livro sem figuras nem diálogos?”, Alice pensou.

Ela considerava o tanto quanto podia (afinal, o dia quente a deixava zonza e sonolenta) se o prazer de montar uma guirlanda de margaridas valeria o esforço de se levantar para colhê-las. Foi quando, de repente, um Coelho Branco de olhos cor-de-rosa passou correndo perto dela.

Não havia nada de tão incrível nisso. Alice também não achou nada de mais ouvir o Coelho Branco conversar sozinho:

— Ai, rapaz! Ai, rapaz! Vou me atrasar — ele dizia.

Depois, ao pensar melhor, passou pela cabeça de Alice que ela deveria ter se impressionado mesmo que só um pouquinho com aquilo. Na hora, entretanto, tudo lhe pareceu completamente normal.

Alice só se alvoroçou quando o Coelho Branco sacou um relógio do bolso de seu colete, checou as horas e saiu apressado. Ela se deu conta de que nunca tinha visto um coelho com um relógio no bolsa do colete. Ardendo de curiosidade, correu atrás dele a tempo de vêlo se emburacar toca adentro no pé de uma cerca. No instante seguinte, era Alice quem se entocava ali. Decidiu perseguir o Coelho Branco sem refletir sobre como sairia daquele buraco.

A toca tinha um trecho reto semelhante a um túnel. Depois, inclinava-se bruscamente para baixo, tão bruscamente que Alice não foi sequer capaz de pensar em frear. Simplesmente despencou em um poço de grande profundidade.

Aliás, das duas uma: ou o poço era demasiado fundo ou ela estava caindo bem devagarinho. A queda era tão demorada, mas tão demorada que Alice conseguia observar tudo a seu redor e pensar tranquilamente no que aconteceria depois. Primeiro, tentou olhar para baixo, para descobrir onde ia parar, mas era impossível enxergar o que havia no fundo escuro. Então ela percebeu que as laterais do poço estavam repletas de prateleiras, estantes de livros, mapas e obras de arte.

De passagem, Alice puxou um jarro das prateleiras. Seu rótulo dizia geleia de laranja; contudo, para sua decepção, estava vazio. Ela não queria deixar o jarro cair. Tinha medo de matar alguém, então o devolveu às estantes durante a queda.

“Depois desse tombo, não vou mais me importar quando cair da escada!

Em casa todo mundo vai me achar muito valente”, pensou consigo mesma. “Ora, mas eu nunca contaria nada, mesmo se caísse de cima da casa”. E Alice não contaria mesmo.

E caía, caía, caía. Será que aquela queda não acabaria nunca?

— Quantos quilômetros eu despenquei? Já devo estar me aproximando do centro da Terra. Deixe-me ver: acho que isso deve ser por volta de uns seis mil quilômetros — dizia em voz alta.

Veja você que Alice aprendera várias coisas na escola e, apesar de essa não ser a melhor oportunidade para demonstrar seu conhecimento, afinal ninguém a estava escutando, ela sentia que recitar em voz alta parecia um ótimo exercício de memória.

— Sim, a distância é mais ou menos essa, em latitude e longitude.

Será que eu cheguei?

Alice não tinha ideia do que era latitude ou longitude, mas considerava essas palavras monumentais ao serem ditas em voz alta.

Logo ela retomava a prosa:

— Será que vou atravessar a Terra nesse tombo? Vai ser muito engraçado sair do outro lado, no meio das pessoas que andam de cabeça para baixo: os antipáticos! — Dessa vez foi um alívio não ter ninguém para ouvi-la, pois “antipáticos” não soou nem um pouco como a palavra correta.

— Precisarei perguntar a eles o nome do país: “Olá, senhorita, aqui é a China ou o Japão?”. — Alice fazia reverência enquanto falava e despencava! Se você estivesse em queda livre, acha que seria capaz de fazer o mesmo?

— A moça vai me achar muito ignorante por perguntar — dizia ela. — Não vai dar certo. Talvez eu veja o nome do país escrito em algum lugar.

Ela caía, caía, caía e, como não tinha mais nada para fazer, voltava a tagarelar:

— A Diná vai sentir muito minha falta esta noite — disse, lembrando-se de sua gata. — Espero que eles se lembrem de dar leite para ela. Diná, minha querida! Como eu queria você aqui embaixo comigo! Não tem rato no ar, mas você bem que poderia caçar um morcego, que é quase um rato. Será que gato come morcego? — perguntou.

Em seguida, já bastante sonolenta, repetiu como se sonhasse:

— Será que gato come morcego? Será que cego come morgato? Será que gago come morceto? Será que morcego come gato? — questionava-se, embaralhando os bichos. Afinal de contas, quando não sabemos exatamente como responder a uma pergunta, não importa muito o jeito de dizê-la, não é mesmo?

Um chá das cinco muito louco

Havia uma mesa posta debaixo de uma árvore, em frente à casa. A Lebre de Março e o Chapeleiro tomavam chá: uma preguiça dormia entre eles em sono profundo. Os dois a usavam como almofada e descansavam seus cotovelos nela enquanto falavam por cima de sua cabeça.

“Muito desconfortável para a Preguiça”, Alice pensou. “Pelo menos está dormindo. Acho que não se importa.”

A mesa era grande, mas, mesmo assim, os três se amontoavam em um canto.

— Não tem espaço! Não tem espaço! — gritaram ao ver Alice se aproximar.

— Tem bastante espaço! — ela disse, indignada, e se sentou em uma grande poltrona em uma das pontas da mesa.

— Beba um pouco de vinho — a Lebre de Março falou, encorajando-a.

Alice olhou ao redor da mesa, mas só havia chá.

— Não vejo vinho nenhum.

— Não tem mesmo — confirmou a Lebre de Março.

— Então não foi muito elegante oferecer — ela respondeu, injuriada.

— Também não foi muito elegante sentar-se sem ter sido convidada — retrucou a Lebre de Março.

Não sabia que esta era a sua mesa — a menina falou.

— Está posta para muito mais de três pessoas.

— Seu cabelo está pedindo para ser cortado — observou o Chapeleiro em seu primeiro pronunciamento, após algum tempo olhando Alice com muita curiosidade.

— Você deveria aprender a não fazer comentários pessoais — ela afirmou, severa. — É muita falta de educação.

O Chapeleiro abriu bem os olhos ao ouvir isso e disse:

— Por que um corvo é igual a uma escrivaninha?

“Eba, agora a gente vai se divertir!”, Alice pensou.

— Que legal que começaram a fazer charadas… Acho que consigo adivinhar essa — ela respondeu.

— Quer dizer que acha que consegue descobrir a resposta? — perguntou a Lebre de Março.

— Exatamente isso — respondeu Alice.

— Então fale — continuou a Lebre.

— Eu vou… pelo menos… pelo menos eu digo o que quero falar… é a mesma coisa, percebe? — declarou Alice.

— Não é nem um pouco a mesma coisa! — opinou o Chapeleiro.

— É como se você dissesse que “eu vejo o que como” é o mesmo que “eu como o que vejo”!

— É como se você dissesse — acrescentou a Lebre de Março — “eu gosto do que tenho” é o mesmo que “eu tenho o que gosto”.

— É como se você dissesse — afirmou a Preguiça, que parecia falar enquanto dormia — que “eu respiro quando durmo” é o mesmo que “eu durmo quando respiro”.

— É o mesmo que você — disse o Chapeleiro. E todos ficaram em silêncio por um minuto, enquanto Alice pensava em tudo o que sabia sobre corvos e espor um minuto, enquanto Alice pensava em tudo o que sabia sobre corvos e escrivaninhas (não era muita coisa).

O Chapeleiro quebrou o silêncio:

— Estamos em qual dia do mês? — indagou, voltando-se para Alice.

Ele havia tirado do bolso um relógio e o observava, inquieto, sacudindo-o a todo o momento e segurando-o perto do ouvido.

Alice refletiu um pouco, então disse:

— Dia quatro.

— Errou por dois dias! — suspirou o Chapeleiro. — Eu disse que a manteiga não consertaria o maquinário! — acrescentou, olhando com irritação para a Lebre de Março.

— Era manteiga de primeira — respondeu a Lebre humildemente.

— Sim, mas deve ter entrado um pouco de migalha junto — o Chapeleiro resmungou. — Você não deveria ter passado a manteiga com a faca do pão.

A Lebre de Março pegou o relógio e o observou com arrependimento. Então, mergulhou-o em sua xícara de chá para observá-lo novamente. Não conseguiu pensar em nada melhor que seu primeiro comentário:

— Era manteiga de primeira.

Alice fitava sobre os ombros da Lebre com curiosidade.

— Que relógio engraçado! — ela disse. — Diz o dia do mês, mas não as horas!

— E por que deveria? — o Chapeleiro perguntou. — O seu relógio diz em qual ano estamos?

— Óbvio que não — Alice respondeu prontamente. — Mas é assim porque permanecemos no mesmo ano por um tempão.

da rainha 0 croqué

Havia uma grande roseira na entrada do jardim: floresciam rosas brancas, mas três jardineiros as pintavam de vermelho.

Alice achou tudo muito curioso e se aproximou para vê-los, quando ouviu um deles dizer:

— Presta atenção, Cinco! Não fique esguichando tinta em mim assim!

— Não foi culpa minha — Cinco falou, zangado. — O Sete esbarrou no meu cotovelo!

Ao que o Sete respondeu imediatamente:

— Isso aí, Cinco! Sempre botando a culpa nos outros!

É melhor você ficar quieto! — Cinco afirmou. — Ouvi a Rainha dizer ontem mesmo que você merecia ser decapitado!

— Por quê? — disse aquele que havia falado primeiro.

— Isso não é problema seu, Dois! — Sete respondeu zangado.

— É sim problema dele! — Cinco disse. — E vou contar: foi por trazer bulbos de tulipa em vez de cebolas.

Sete atirou o pincel no chão e começou:

— Olha, de todas as injustiças…

Foi quando seus olhos pousaram sobre Alice, que observava tudo parada. Ele se calou de repente. Os outros também olharam em volta e todos fizeram grandes reverências.

— Está posta para muito mais de três pessoas.

Sobre o autor

Lewis Carroll (1832–1898), pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson, foi um escritor, matemático e fotógrafo britânico. Professor em Oxford, destacou-se nos estudos de lógica e álgebra, mas conquistou reconhecimento mundial por suas obras clássicas “Alice no País das Maravilhas” e “Através do Espelho”, histórias cheias de imaginação, humor e reflexões sobre a vida.

A inspiração para “Alice” veio de um passeio de barco com as irmãs Liddell, especialmente Alice, que serviu de modelo para a protagonista. Além da literatura, Carroll era um talentoso poeta e criador de enigmas, unindo sua mente lógica à criatividade. Seu legado continua vivo, encantando leitores de todas as idades com seu universo mágico e atemporal.

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