Pequim
Zhongnanhai*.
15 de janeiro de 1976.
Algumas horas antes da cerimónia, a família do dirigente preferido dos Chineses veio apresentar os seus sentimentos à esposa dele.
O cancro de Chu En-lai acabou por levá-lo uma semana antes.
Irmã mais velha Deng**, espero que esteja a aguentar.
Mas a sua agonia foi tão longa e dolorosa...
Então, a irmã que lutou tanto para libertar a China! Confesso que estou mais abalada do que imaginava que ia ficar.
Acreditava naquilo firmemente, mas hoje...
um dia, ao sair do coma, disse-me: «É preciso telefonar à direção do partido para lhes dizer que me manterei vivo o tempo que me exigirem...»
O movimento do 4 de maio, a liga da Juventude socialista, a Comissão das Mulheres no Partido Comunista, a longa marcha, a reunião internacional contra a agressão japonesa...
Posso fazer-te uma pergunta?
Claro, eu...
Por todas estas razões é que imaginava que ia ter mais coragem depois da morte dele.
Ele virá? Quero dizer: o Presidente.
E eu acrescentei: «Os membros do Partido Comunista devem mostrar-se fortes. Devem resistir às provações.» * Situado na zona Oeste da Cidade Proibida, este jardim imperial, composto de dois lagos, serviu de sede ao governo republicano, antes de, em 1949, o Partido Comunista instalar lá um conjunto administrativo e residencial, incluindo entre outras coisas os alojamentos de Mao Tsé-Tung e de chu En-lai. ** Alcunha que todos os Chineses davam (e ainda dão) a Deng Yingchao.