FOOD WASTE - EVITAR DESPERDÍCIO PARA ALIMENTAR ESPERANÇA

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1 FOOD WASTE - EVITAR DESPERDÍCIO PARA ALIMENTAR ESPERANÇA Conteúdo produzido por: Realização Q&A COM ESPECIALISTAS EM 29 DE SETEMBRO

3 EDITORIAL

Mestrando pela Faculdade de Medicina da USP, Membro do American College of Sports Medicine, Coordenador Científico da HQ Content e Science Play.

Omar de Faria / Nutricionista

Vicente Ramos / Redator

Nutricionista e Mestre em Nutrição Humana (UnB), Doutorado em andamento em Ciências da Saúde na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Integrante do Grupo de Pesquisa em Fisiologia, Nutrição e Treinamento Desportivo aplicado ao Fitness Funcional. Docente de graduação e pós-graduação desde 2010, nas áreas de Nutrição Clínica, Nutrição Materno-Infantil e adolescente e Nutrição Esportiva.

Máisa Neves / Nutricionista

Júlia Coutinho / Nutricionista

Redator Publicitário e Pós-Graduado em Leitura e Produção de Textos. Já trabalhou como Social Media e Assessor no Governo de Brasília, possui experiência em agências de comunicação do DF e escreve poemas nas horas livres. Para ele, palavras são sementes que frutificam a vida.

Bacharelado em Nutrição pela Universidade Católica de Brasília 2011, Pós-Graduado em Nutrição Clínica e em Estética pela IPGS 2013, Pós-Graduado em Nutrição Esportiva Funcional pelo Instituto VP 2015, Pós-Graduando em Fitoterapia pela Pratiensino 2021, Sócio-Proprietário da Clínica Omar de Faria, Escritor, Palestrante na área da Nutrição desde 2017, Consultor para desenvolvimento de suplementos e produtos nutricionais.

Pedro Perim / Nutricionista

Nutricionista e Advogada, especialista em vigilância sanitária de alimentos, ingredientes e bebidas – Sócia e Fundadora da Regularium.

Brunno Falcão / Gerente de projeto CEO do Grupo HQ•Content / Fundador da Science Play e WE Nutrition Conference / Autor do livro “O Fim do Consultório”

Caroline Romeiro / Nutricionista

Nutricionista especialista em vigilância sanitária, tecnologia industrial farmacêutica e regulatório de alimentos, ingredientes e bebidas – Sócia e Fundadora da Regularium.

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INTRODUÇÃO

Todos os anos, toneladas de alimentos são produzidas para nutrir milhões de pessoas ao redor do mundo. Consequentemente, o desperdício acompanha o grande volume dessa produção, seja na obtenção de matéria-prima, distribuição ou destinação final de um produto. Com isso, a preocupação com o desperdício alimentar se torna um assunto cada vez mais discutido, com grande visibilidade à questão.

De acordo com estudo recente realizado pela Capgemini Research Institute (2022), o consumidor parece estar mais consciente em relação ao desperdício de alimentos, especialmente nos últimos dois anos. Em 2020, apenas 33% dos consumidores disseram estar cientes do seu desperdício; hoje, 72% relatam ter essa consciência.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), por meio do relatório Índice de Desperdício de Alimentos 2021), demonstra que houve um grande

aumento no desperdício alimentar em todo o mundo. Somente em 2019, 931 milhões de toneladas de alimentos vendidos a famílias, varejistas, restaurantes e outros serviços alimentares foram desperdiçadas.

Neste ano, o desafio é ainda maior, com as consequências da covid-19. Para muitas nações, o acesso da população a uma alimentação saudável e equilibrada pioraram, com impactos socioeconômicos e ambientais.

Alguns exemplos de fatores que motivam o crescimento são: o aumento dos preços dos alimentos; os desafios da cadeia de suprimentos; a pandemia; e as preocupações com a sustentabilidade. Tratam-se de temas atuais, relevantes e com os quais tanto os consumidores quanto a indústria se deparam diariamente.

É importante que toda a indústria compreenda como o desperdício impacta o mundo e como podemos utilizar as tecnologias para evitar essas perdas, e assim, combater a fome e produzir alimentos com mais qualidade, segurança e sustentabilidade.

O mesmo índice aponta que 17% dos alimentos disponíveis aos consumidores em mercados, lares e restaurantes, vão diretamente para o lixo – e 60% desse lixo está em casa. Os dados também revelam que o desperdício alimentar possui números significativos em quase todos os países, sendo realmente um problema global e que necessita de atenção e mobilização.

As indústrias têm um papel fundamental na diminuição do desperdício, seja na etapa de produção ou na conscientização do consumidor final. Utilizar as novas tecnologias de alimentos para manter sistemas alimentares eficientes e capazes de garantir o abastecimento da população nas próximas décadas, é uma alternativa para reduzir o impacto ambiental, o desperdício e focar a atenção em questões sociais, visando minimizar as desigualdades hoje encontradas, como no Brasil.

No cenário atual, o desperdício é um problema mundial que afeta não apenas o meio ambiente, mas toda a humanidade. A ele, estão associadas graves consequências, como o aumento da fome, a poluição e os impactos socioeconômicos.

UMA DAS MAIORES CONSEQUÊNCIAS DO DESPERDÍCIO: A FOME

Segundo pesquisa da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, aproximadamente 14% dos alimentos produzidos para consumo global é perdido entre a colheita e o varejo a cada ano. As perdas significam um impacto maior no meio ambiente, com emissões de gases com efeito estufa, utilização de recursos hídricos desperdiçados e alimentos que não chegarão a quem precisa.

comestíveis. Além disso, é possível reduzir a emissão de gases de efeito estufa, utilizar menos água nos processos, menos energia por alimentos processados e, certamente, muito mais ainda pode ser feito.

Quando falamos sobre fome, não falamos necessariamente sobre a falta de alimentos, mas sim a respeito da dificuldade de acesso a eles. Em todo o mundo, existe uma cultura de se jogar fora os alimentos não consumidos, desperdiçar insumos durante a produção e não aproveitar todo o potencial de uma matéria-prima. Quando isso acontece, há um impacto direto no planeta, como mudanças climáticas, perda da natureza e poluição.

Em publicações anteriores, abordamos o aproveitamento do máximo de recursos que uma matéria-prima ou alimento oferece, por meio do movimento upcycling food. Esse movimento visa reutilizar e reaproveitar tudo que um alimento pode oferecer, garantindo propriedades organolépticas e nutricionais, tornando-se, muitas vezes, uma opção mais viável economicamente.

Ao enxergar essas possibilidades, a indústria pode aplicar as tecnologias disponíveis para reduzir perdas e resíduos, aproveitar melhor as partes comestíveis dos alimentos e dar uma destinação mais adequada às não

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No Brasil, o cenário se agravou, com a quantidade de brasileiros que enfrentaram algum tipo de insegurança alimentar ultrapassando a marca de 60 milhões de pessoas (o equivalente a um em cada três brasileiros) , segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), divulgados em 2022.

Em sua segunda edição, celebrada em 2021, a data teve como foco o apelo por ações voltadas a acabar com a cultura de jogar fora alimentos não consumidos e ajudar no enfrentamento da crise ambiental em todo o planeta.Alémdos

Figura 1 – Dia Internacional de Conscientização sobre a Perda e o Desperdício de Alimentos

os grupos sociais, as mulheres são as que mais sofreram com insegurança alimentar, segundo a mesma pesquisa. Em 2021, 31,9% das mulheres no mundo enfrentavam um cenário de insegurança moderada ou grave, acima dos 27,6% apurados entre os homens. A FAO também projeta que, em 2030, 670 milhões de pessoas passarão fome, o equivalente a 8% da população global.

Com foco na conscientização sobre este tema, foi criado, pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2019, o Dia Internacional de Conscientização sobre a Perda e o Desperdício de Alimentos, celebrado em 29 de setembro. A data tem o intuito de alertar os setores público e privado sobre a importância de priorizar ações que busquem reduzir a perda e os desperdícios de alimentos.

6 Fonte: Unep, 2021.

1. Insegurança moderada: são as pessoas não sabiam ao certo se conseguiriam comida e tiveram de reduzir a quantidade e a qualidade de alimentos.

2. Insegurança grave: são pessoas que ficaram sem comida e passaram fome por um dia ou mais.Dentre

impactos ambientais, o desperdício de alimentos traz uma consequência enorme para a sociedade: a fome.

Para definir o que é insegurança alimentar, a FAO utiliza os seguintes critérios:

Segundo a FAO, a fome aumentou em todo o mundo nos últimos anos, atingindo mais de 820 milhões de pessoas em 2021. Esse estudo ainda revelou que o Brasil voltou para o Mapa da Fome, com 4,1% da população brasileira em situação de subalimentação entre 2019 e 2021. Isso significa que 61,3 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar moderada ou grave, sem ter certeza de que farão a próxima refeição do dia. Para efeito de comparação, em 2015 o Brasil havia saído do mapa da fome.

Figura Mapa da Insegurança alimentar.

2 –

Neste ano, os dados também são ainda mais alarmantes. Segundo o 2º Inquérito Nacional sobre insegurança alimentar no contexto da pandemia da covid-19 no Brasil (2022), apenas quatro em cada dez famílias brasileiras têm acesso pleno à alimentação e 33,1 milhões de brasileiros passam fome. A pesquisa é realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), composta por pesquisadores, professores, estudantes e profissionais, com execução do Instituto Vox Populi. Foram ouvidas 12 mil famílias em 577 municípios, de novembro de 2021 a abril de 2022. Em comparação com o último relatório, realizado em 2020, são 14 milhões de novos brasileiros em situação de fome em pouco mais de um ano.

Fonte: Correio Braziliense/FAO, 2022.

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média, cada brasileiro desperdiça 60 quilos de alimentos adequados para o consumo por ano, segundo dados da Embrapa. Dentre os motivos, estão não saber utilizar integralmente frutas, verduras, legumes, e aqueles alimentos já cozidos, mas esquecidos na geladeira, por exemplo. Buscando ampliar a consciência dos consumidores brasileiros sobre o desperdício de alimentos e impactar positivamente na mudança de hábitos de consumo alimentar, a Embrapa, em parceria com o WWF-Brasil e a FAO, lançaram a iniciativa

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mais desperdiçados pelos brasileiros, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com os Diálogos Setoriais União Europeia-Brasil, e com apoio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), são arroz (22%), carne bovina (20%), feijão (16%) e frango (15%). A mesma pesquisa demonstra que, dentre as causas de desperdício, estão a busca pelo sabor e a preferência pela abundância dos consumidores, além de não aproveitarem as sobras das refeições – 61% das famílias entrevistadas informaram que fazem uma grande compra mensal de alimentos, resultando na aquisição de produtos desnecessários ou excessos que causam o desperdício.

Enquanto milhares de famílias não possuem o que comer, o Brasil está entre os dez países que mais desperdiça alimentos. É considerado desperdício todo alimento descartado que ainda possui valor nutricional. Consumidores e comerciantes possuem, culturalmente, o hábito de descartar sobras de comida, comprar em excesso e deixar um alimento vencer, seja na prateleira ou em casa.Em

QUAIS AS SOLUÇÕES PARA ESSE CENÁRIO?

Enquanto encara o desafio de evitar o desperdício e buscar sair do mapa da fome, o Brasil desperdiça por ano cerca de 27 milhões de toneladas de alimentos, segundo levantamento da ONU. Esse desperdício acontece no manuseio, no transporte e nas centrais de abastecimento em 80% das vezes, segundo estimativas.

#SemDesperdício.Osalimentos

Figura 3 – Distribuição de Julho - ONG Banco de Alimentos

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Existe também o Stop Food Waste Day (dia de acabar com o desperdício, em tradução livre), um dia dedicado a educar e engajar as pessoas no combate ao desperdício de alimentos. Ele foi criado pelo grupo

Outra iniciativa que merece destaque é a ONG Banco de Alimentos. Ela recolhe alimentos que, mesmo perdendo valor de prateleira no comércio, ainda estão perfeitos

A empresa promove a arrecadação de alimentos entre os fornecedores e centros de distribuição. No Brasil, a campanha começou em 2018 e conta com um movimento interno focado na redução do desperdício nos restaurantes, além de divulgação de informação e engajamento para o público externo, com o apoio de embaixadores, empresas parceiras e influenciadores digitais.

A iniciativa realiza campanhas de conscientização e engajamento, com orientações para o aproveitamento integral e reaproveitamento de alimentos. Também foca em boas ideias de como evitar desperdício e em ampliar a consciência dos consumidores brasileiros sobre o desperdício de alimentos, visando gerar um impacto positivo na mudança de hábitos de consumo alimentar.

O projeto Mesa Brasil Sesc é uma rede nacional de bancos de alimentos contra a fome e o desperdício. Seu foco é buscar alimentos onde sobra e entregar onde há falta. Também desenvolve ações educativas nas áreas de Nutrição e Serviço Social, visando promover alimentação adequada, reeducação alimentar e fortalecer as instituições assistidas.

Compass, em 2017, e está alinhado à meta de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas #12.5. O grupo tem o compromisso de reduzir seu desperdício de alimento pela metade até 2030.

para consumo humano e são destinados para instituições sociais cadastradas. Ao longo do mês de julho de 2022, foram mais de 25 mil pessoas em situação de vulnerabilidade social beneficiadas pela entrega de mais de 87 toneladas de alimentos, além de 2.130 quilos de alimentos em cestas básicas, distribuídos para famílias em situação de insegurança alimentar. O projeto também conta com a Colheita Urbana, que arrecadou 85.820 quilos de comida, entregues a instituições sociais cadastradas, que diariamente atendem crianças, adolescentes, jovens, idosos, famílias e comunidades inteiras.

Fonte: ONG Banco de Alimentos, 2022.

O projeto foi formalizado por meio do termo de abertura de processo administrativo de regulação nº 74, de 31 de agosto de 2021 (Anvisa, 2021a) para regulamentação complementar de critérios de doação de alimentos, estabelecida pela Lei nº 14.016, de 2020, considerando, inclusive, o disposto nos regulamentos de boas práticas para estabelecimentos industrializadores e produtores de 11 alimentos (industrializados) e de serviços de alimentação, especialmente refeições prontas para consumo.

Essas e tantas outras iniciativas são fundamentais para o combate à fome e ao desperdício, pois evitar o desperdício é uma forma ecologicamente sustentável de fazer bem para a sociedade e para a economia.

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), incluiu o tema da doação de alimentos na Agenda Regulatória 2021-2023, por meio do Projeto nº 3.10 –Regularização da doação de alimentos com segurança sanitária.

O desperdício, por sua vez, acontece quando os alimentos possuem a data de validade vencida, sobram em hotéis e restaurantes, são utilizados erroneamente, não possuem padrão comercial ou apresentam confusão nos rótulos. A falta de conscientização da população e as condições inadequadas de armazenamento também são uma forma de desperdício.Orelatório

As indústrias possuem um papel fundamental na diminuição do desperdício. Primeiramente, é importante entendermos a diferença entre perda e desperdício de alimentos em uma produção.

A perda ocorre quando o descarte não é intencional, mas se dá por falta de uma estrutura apropriada, problemas na colheita, armazenamento ou transporte dos alimentos. Elas podem acontecer em toda a cadeia produtiva, principalmente em grandes escalas.

são alternativas para aumentar o investimento em tecnologia, com técnicas modernas que evitem a perda e o desperdício de alimentos, água e recursos naturais. O meio ambiente e a sociedade necessitam urgentemente de ações que consigam reverter o quadro atual.

O PAPEL DAS INDÚSTRIAS NA DIMINUIÇÃO DO DESPERDÍCIO

O mesmo estudo demonstra que mais de 62% dos consumidores dizem estar cientes do desperdício de recursos (uso da terra e da água, trabalho etc.) na produção de alimentos; a maioria (58%) dos consumidores espera que os preços dos alimentos subam ainda mais nos próximos 12 meses. Ainda nesse contexto, 56% dos consumidores afirmaram querer economizar custos cortando o desperdício e que se preocupam com a fome no mundo e querem contribuir para aliviá-la.

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O estudo Reflect. Rethink. Reconsider. Why food waste is everybody’s problem, aponta que 72% dos consumidores admitem estar atentos à questão do desperdício, contra apenas 33% há 2 anos (antes da pandemia). A pesquisa também sugere que os consumidores estão cada vez mais conscientes e ansiosos para mudar o cenário, mas esperam que marcas e supermercados os ajudem. Essa consciência, assim como tantas outras tendências socioeconômicas, foi catalisada pela pandemia, impulsionada por inflação de alimentos, escassez de produtos essenciais durante o período, aumento dos preços de alimentos e energia.

Campanhas de conscientização, parcerias com Organizações não Governamentais (ONGs), órgãos governamentais e empresas,

The State of Food and Agriculture 2019 informa que a perda de alimentos no mundo é responsável por 14% do total descartado, enquanto o desperdício corresponde a 86%. Na indústria, as perdas ocorrem por motivos que podem ser evitados, como a ausência de tecnologia, falta de adubação, aplicação errada de agroquímicos e embalagens ineficientes para a conservação de alimentos.

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2022.

O papel da indústria de alimentos é o de investir na conscientização, seja por ações de comunicação ou educação nutricional dos consumidores, ressaltando a importância da reutilização de alimentos ou do consumo de produtos apenas essenciais à alimentação familiar. A indústria também deve investir em tecnologias de alimentos, essenciais para manter os sistemas eficientes e capazes de garantir o abastecimento da população nas próximas gerações, otimizando a produção e diminuindo o desperdício.

Fonte: Capgemini Research Institute Analysis,

Figura 4 – Como as organizações podem acelerar a luta contra o desperdício de alimentos?

O estudo também traz sugestões sobre como as organizações podem acelerar a luta contra o desperdício de alimentos, com ações como engajar consumidores e colaboradores a diminuílo e controlá-lo, utilizando tecnologia, informação e iniciativas de conscientização. Também é preciso colaborar com a cadeia produtiva oferecendo soluções, tecnologia e transparência no controle de resíduos e monitorar os níveis de desperdício de alimentos, gerando relatórios e permitindo que colaboradores tenham poder o bastante para controlarem o desperdício em seus setores.

Por parte dos consumidores, eles desejam que as organizações tomem decisões conjuntas na responsabilidade de reduzir o desperdício alimentar doméstico. Enquanto se sentem culpados por desperdiçar alimentos, também expressam descontentamento com varejistas e fabricantes de alimentos que desperdiçam grandes volumes, exigindo que tenham políticas de contenção. O estudo da Capgemini (2022) também revela que os consumidores expressam descontentamento com as ações das empresas sobre o desperdício de alimentos. Assim, 50% das organizações

Fonte: Capgemini Research Institute Analysis, 2022.

Standardization) fornecem a padronização de produtos e serviços, utilizando normas internacionais para melhoria contínua. Esses sistemas permitem não somente diminuir o desperdício, mas garantir o controle de uma manufatura com mais qualidade e segurança dos alimentos produzidos, com menos perdas e redução dos impactos ambientais (utilização de água nos processos, emissão de gases de efeito estufa e gasto de energia, por exemplo).

Existem sistemas específicos de qualidade e sustentabilidade que orientam a aplicação destas tecnologias, como o sistema de Análise de Perigos e Controle de Pontos Críticos (HACCP), que tem, na sua base, uma metodologia preventiva, para poder evitar potenciais riscos que podem causar danos aos consumidores, por meio de eliminação ou redução de perigos. As normas ISO (International Organization for

Sistemas de qualidade e sustentabilidade

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dizem que fornecem ideias de receitas (no pacote ou online) para utilizar o excesso de comida, mas somente 17% dos consumidores se dizem satisfeitos com a ação. Outra medida que 60% das empresas afirmam tomar é ajudar os consumidores a entender termos como “melhor antes”, “consumir até”, e “data de validade”, para reduzir o desperdício de alimentos. 39% dos consumidores acham essa medida satisfatória. Por fim, 62% das empresas afirmam utilizar a inovação de produtos para aumentar a vida útil dos alimentos e 54% dos consumidores estão satisfeitos com essa ação.

Figura 5 – Consumidores expressam descontentamento com as ações das empresas sobre o desperdício de alimentos.

Assim, diversas organizações estabelecem metas de redução de perdas de alimentos e disposição de resíduos, com compromissos e realizações. A seguir, veremos algumas delas, divulgadas no portal da Plataforma de Inovação Tecnológica da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado de São Paulo:

Com as atenções voltadas para o tema, a redução de perdas e resíduos na industrialização de alimentos tem sido de interesse da indústria. Ela também auxilia em pontos como a diminuição de custos e quanto a políticas públicas que enfatizam a necessidade de reduzir as perdas de alimentos e a geração de resíduos, a fim de minimizar os impactos ambientais e garantir a segurança alimentar. Os interesses se alinham a partir do momento em que o ganho é visível em todas as esferas.

Danone: a meta para 2025 é reduzir em 50% a intensidade (kg de resíduos de alimentos não recuperados/toneladas de produtos vendidos) de resíduos de alimentos não recuperados (base: 2016).

Kellogg’s: tem como meta para 2025 doar 2,5 bilhões de porções de alimentos em 6 continentes, por meio de centenas de bancos de alimentos e outros programas. Em 2017: 569.950.393 de porções; até 2030, contribuir para a redução pela metade do desperdício global per capita de alimentos no varejo e no consumidor e reduzir as perdas alimentares ao longo das cadeias produtivas e de fornecimento, incluindo pós-colheita (alinhado com o SDG nº 12.3 da ONU).

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Barilla: parceria internacional com a rede Carrefour, visando a redução de desperdício de alimentos; 92% dos resíduos gerados na produção de molhos, são enviados para reciclagem.

O QUE A INDÚSTRIA TEM FEITO PARA REDUZIR O DESPERDÍCIO?

BRF: o controle de resíduos sólidos tem por objetivo reduzir, reciclar e reusar materiais em toda a cadeia de valor; realiza separação de resíduos orgânicos para seu aproveitamento em compostagem para produção de fertilizantes.

Nestlé: mantém compromisso público para reduzir a perda de alimentos e o desperdício, de modo a garantir o suprimento das matérias-primas agrícolas de sua origem, gerar impacto positivo na sociedade, apoiar o desenvolvimento rural, a conservação da água e a segurança alimentar. Esse compromisso estabelece três linhas de atuação: prevenção, minimização e valorização; informação e educação; envolvimento e parcerias com stakeholders. Desde 2008, a empresa cortou pela metade, por tonelada de produto, a quantidade de resíduos descartados gerados em suas fábricas.

Evitar o desperdício, aproveitar integralmente os alimentos e reaproveitá-los parece ser uma missão desafiadora, porém necessária, para a indústria e para os consumidores nos próximos anos, tendo em vista o cenário apresentado. Para isso, é preciso haver um trabalho conjunto e contínuo em todas as esferas – sociedade, indústria e governo -, para que a realidade atual possa ser mudada. A fome, a emissão de gases no meio ambiente e a perda de recursos hídricos são alguns exemplos de consequências já enfrentadas pela população, acarretadas, em grande parte, pelo desperdício.

Unilever: assume o compromisso de seguir os princípios da nutrição sustentável, dentre os quais a redução do desperdício de alimentos e a utilização de embalagens do campo à mesa. De 2008 a 2017, houve redução de 98% dos resíduos enviados para aterros sanitários. Em relação aos resíduos associados ao descarte de seus produtos, a diminuição foi de 29%. No Brasil, toda operação (fábricas, centros de distribuição e escritórios) já atingiu a marca “aterro zero”. A empresa mantém rígida política de fornecimento responsável e exige que seus parceiros tenham uma política de gestão de resíduos. Já para incentivar os consumidores a darem destinação correta aos resíduos, a companhia lançou, em 2001, em conjunto com o Grupo Pão de Açúcar (GPA), o programa pioneiro Estações de Reciclagem Pão de Açúcar Unilever. Em seus 17 anos, o projeto coletou mais de 110 mil toneladas de resíduos.Alista

Pepsico: a meta para 2025 é atingir resíduo zero para disposição em aterros nas operações diretas, além de reduzir resíduos de alimentos em 50% também nas operações diretas.

Como publicado na revista Piauí (2022), o Brasil desperdiça 8,9 milhões de toneladas de alimento por ano, com um volume de comida jogada no lixo de 8,1 milhões de metros cúbicos, pouco mais de um Maracanã cheio de comida. A mesma publicação destaca que, anualmente, o mundo joga fora 931 milhões de toneladas de alimento, segundo a FAO.

CONCLUSÃO

Em países mais pobres, o desperdício alimentar pode estar relacionado às más condições de armazenamento ou à falta de refrigeração. Porém, nos mais desenvolvidos, o desperdício está na ponta da cadeia produtiva: os consumidores. A principal causa do descarte nesses países é a diferença entre produção excessiva e consumo real.

completa pode ser conferida no portal alimentosprocessados.com.br.

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É urgente a necessidade de, cada vez mais, haver políticas públicas e privadas voltadas para a economia de recursos, a diminuição de desperdício e o reaproveitamento de alimentos, sobretudo no Brasil. Culturalmente, nosso país preza por fartura e excesso de alimentos nas compras e pratos preparados. Os excessos podem ser evitados com mudanças de hábito da população, além de projetos, regulamentação e programas de conscientização para as indústrias.

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O consumidor pode ser orientado a praticar novos hábitos, como comprar a quantidade adequada para o seu consumo, aproveitar folhas, sementes e cascas em receitas diversas e colocar no prato somente o que consumirá.

Os consumidores entendem a necessidade de evitar o desperdício e querem fazer isso, enquanto desejam ver ações por parte das empresas que demonstrem estar em sintonia com essa demanda urgente. Ou seja, a responsabilidade é compartilhada por produtores, indústrias, distribuidores e consumidores e não de um grupo específico.

Os diversos programas já existentes, como aqui abordados, contribuem para a melhor distribuição dos alimentos, conscientização e para evitar o desperdício no país. As indústrias de alimentos devem investir ainda mais em tecnologia e processos de produção que diminuam o uso de recursos naturais, o desperdício e a perda de alimentos em toda a cadeia produtiva. Essa missão é contínua e, felizmente, está mais evidente a cada ano. O futuro da alimentação depende das atitudes de agora, evitando o desperdício e prezando por alimentar com qualidade, segurança e na quantidade certa, sem exageros.

A indústria deve incentivar práticas por meio de campanhas publicitárias ou mesmo em suas embalagens, estimulando a atenção dos consumidores quanto às datas de validade e à segurança de consumo de “alimentos feios”, como frutas e legumes, que, apesar de visualmente não tão atrativos, ainda são frescos, nutritivos e saborosos.

ARROZ e carnes lideram lista de alimentos mais desperdiçados no Brasil. Vitrine do Varejo, 10 out. 2021. Disponível em: https://vitrinedovarejo.com/arroz-e-carnes-alimentos-mais-desperdicadosno-brasil/. Acesso em: 14 ago. 2022.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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