para adiar o fim do mundo
comosuperaracrise
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01 03 04 02 quem esteve presente nesta roda
algumas ideias que surgiram neste encontro
oprimeiroencontro:como superaracriseereimaginar futurossaudáveis dopassadoparaofuturo:a cartadocaciqueSeattle sobreainiciativaIdeiaspara adiarofimdomundo iniciativas que realizaram e apoiaram o primeiro encontro Ideias para Adiar o Fim do Mundo
_ i n t r o d u ç ã o
O mundo parou para olhar o que estava acontecendo! Era a chuva. Mas ela vinha tão intensa que não apenas uma cidade, mas um estado inteiro estava sendo levado pela correnteza das águas que formavam um imenso rio.
Isso não é ficção literária tampouco é uma cena de filme, embora a arte já tenha retratado com tamanha beleza a distopia que vivemos. Isso se chama o “nosso tempo”. E que também não é novo… pois segue um fluxo contínuo. Éramos nós que estávamos adormecidos em seu fluxo.
Diante do que ignoramos e pelo modo como vivemos em sociedade hoje, esgotando recursos e desprezando os sinais, parece que a natureza deu sua resposta. E qual será a nossa resposta diante de tanta fúria?
O encontro "Ideias para Adiar o Fim do Mundo" inspira-se na obra de Ailton Krenak e busca resgatar nossa capacidade de olhar, sentir com o coração e inspirar futuros saudáveis. É preciso olhar para trás sem soberba, encarar o presente sem medo e plantar o futuro “com presença de alma”. Este encontro é uma roda de conversa para discutir as mudanças climáticas, inspirar soluções e, sim, mudar o que está posto.
Esse encontro busca abrir o espaço de diálogo e também mobilizar doações para o Rio Grande Sul. As previsões são que as chuvas não irão parar tão cedo. Então, essa correnteza do bem precisa continuar. E não se engane: sempre podemos ajudar, sempre temos algo a contribuir. Seja também correnteza! Entra nessa roda.¹
¹texto publicado no Instagram, no dia 10 de maio de 2024
O Encontro de Ideias para Adiar o Fim do Mundo é uma iniciativa da Ao Vento que busca fomentar conversas e reflexões sobre o papel da cultura e da economia criativa na construção de um futuro sustentável. Através de uma plataforma aberta, convidamos pessoas de diferentes áreas a compartilhar suas perspectivas e ideias sobre como preservar o meio ambiente e regenerar os ecossistemas.
Inspirada na obra “Ideias para adiar o fim do mundo” , do indígena e filósofo Ailton Krenak, essa iniciativa propõe uma cosmovisão mais abrangente, que inclui diferentes filosofias, como a indígena e a dos povos de matriz africana. O objetivo é superar a visão de um mundo em decadência e distante da nossa realidade local, transformando-o em um mundo integrado aos fenômenos naturais, como parte intrínseca de nossa própria concepção de mundo.
s o b r e a i n i c i a t i v a
Para Krenak, o ato de sonhar é um exercício que guia nossas ações e escolhas diárias. Inspirarse, engajar-se e compartilhar as visões de nossos sonhos com os outros é um processo disciplinado que nos permite concretizar mundos. Através dos sonhos, encontramos significado para nossa existência e direcionamos nossa energia em busca da cura, expressando-nos de maneira criativa, estética, filosófica ou científica.
Assim, idealizar e colaborar na construção de perspectivas positivas para o mundo está intrinsecamente ligado à formação, à cosmovisão e à integração com a tradição de diferentes povos, que veem nos
sonhos um caminho de aprendizado e autoconhecimento sobre a vida. Essa jornada se reflete em nossa interação com o mundo e com as outras pessoas (KRENAK, 2020, p. 53).
A iniciativa tem por objetivo promover encontros online e presenciais, além de oficinas, com uma equipe multidisciplinar composta por filósofas, engenheiras, comunicadoras, pensadoras, biólogas, cientistas, mestras da cultura, educadoras, ativistas e todas as pessoas interessadas nessa construção coletiva.
A missão desta iniciativa é conscientizar e inspirar ações que contribuam para a sustentabilidade e a harmonia com a natureza. Acreditamos que, ao unir conhecimentos, criatividade e engajamento, podemos adiar o fim do mundo e construir um futuro mais promissor para as próximas gerações.
As intensas chuvas no Rio Grande do Sul têm resultado em tragédias sem precedentes na história deste estado. Até o momento, foram contabilizados 107¹ mortos e mais de 1,4 milhão de pessoas afetadas, o que representa aproximadamente 67% da região do estado em situação de calamidade pública. Infelizmente, as previsões indicam que as chuvas não darão trégua tão cedo. Novos temporais estão previstos para os próximos dias, somados a uma frente fria que aumenta o sofrimento dos desabrigados, agora também enfrentando frio além da fome e da sede.
O governo brasileiro declarou a situação como similar a uma guerra, e medidas urgentes estão sendo tomadas para enfrentar esse problema.
Essas mesmas chuvas que assolam o sul do país têm sido recorrentes em Pernambuco. Ano após ano, testemunhamos uma cena que se repete, como um filme da sessão da tarde, porém repleto de dramáticos toques de dor e desespero das pessoas que perderam tudo para esses fenômenos naturais cada vez mais extremos.
Aos poucos, o drama vivido pelos gaúchos ganhou destaque nacional, gerando uma onda de comoção e solidariedade. Diversas iniciativas se mobilizaram para arrecadar itens básicos para doação, promover campanhas de crowdfunding e organizar rodas de debate sobre o meio ambiente.
Divulgação da primeira roda
Diante da emergência e comoção que levaram iniciativas a colaborarem para coleta de donativos aos desabrigados do clima no sul do país, o projeto foi formatado para acontecer no formato de roda de conversa. A roda foi lançada em 10 de maio e, em uma semana de intensa mobilização, sete iniciativas já estavam apoiando o debate e a campanha de doação.
O encontro, marcado para 18 de maio, foi realizado na Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco e aconteceu de forma totalmente solidária. _ o p r i m e i r o e n c o n t r o
Carlos Fabal / AFP_ o p r i m e i r o e n c o n t r o
Desde o início, o encontro buscou reunir diferentes perspectivas. Mesmo com o curto prazo, o objetivo foi envolver diversas iniciativas, coletivos e representações para garantir um debate diverso. Um evento online foi lançado no Sympla, atraindo 39 inscritos. No local, estiveram presentes cerca de 35 pessoas, das quais 30 participaram ativamente na roda de conversa.
O encontro contou com uma variedade de representações, incluindo políticos, cientistas, ativistas, jovens, mulheres, idosos e empresários da área de inovação social. Esse primeiro encontro destacou a necessidade de criar espaços abertos para o debate ambiental, que levem a ações efetivas e a um melhor monitoramento das políticas públicas já em curso. O sentimento predominante é de urgência: o tempo para agir é agora. O relógio está contando para trás e, cada vez mais, precisamos atuar de forma colaborativa e em rede.
�� Artes gráficas sobre a primeira roda
�� Álbum de fotos da primeira roda
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"Tem gente aqui que é tricampeão de cheia.
Eu sou uma delas!"
"Era uma camada de lama. E uma camada de lixo.
Uma camada de lama.
E uma camada de lixo."
Fala sobre o Rio Beberibe
"Costumava falar sobre o tema com as crianças que eu dava aula. Promovia rodas de leitura sobre o meio ambiente.
Muitas delas moravam em casas de palafitas e perderam tudo nas enchentes"
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"Hoje eu enfrento uma dificuldade que é lidar com diversas associações no meu território. A comunicação é a chave e também um desafio"
"Ainda vejo como uma dificuldade ‘furar a bolha’ e chegar na base"
"Acredito que a gente precisa se inserir, meter a cara e arriscar. Eu mesma tenho uma startup e trabalho com artesanato. Precisamos ocupar os lugares"
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"Em momentos de catástrofes, o trabalho coletivo é o diferencial. Quando houve o derramamento de petróleo que chegou nas praias, o que contou foi a ajuda coletiva"
"Falamos pouco sobre a poluição do ar, mas é importante que falemos. As doenças respiratórias hoje matam mais do que acidentes de carro."
"Precisamos investir na revitalização dos rios.
Água é vida!"
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“Precisamos de iniciativas que consigam traduzir a linguagem técnica e muitas vezes complexa da ciência para uma linguagem acessível. Projetos de educação ambiental são fundamentais neste momento”
“Todo mundo tem o dever de falar sobre o meio ambiente”
“Precisamos construir um projeto de Felicidade Coletiva”
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“As ações precisam passar pela perspectiva de gênero. As dificuldades enfrentadas pelas mulheres em situação de emergência no Rio Grande do Sul é o ensinamento de que o Estado precisa garantir a sua segurança”
“Além de entender os fenômenos climáticos, precisamos também entender como se deu a ocupação do solo e nos territórios. É importante estudar como se deu a ocupação urbana”
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“Pessoas da ciência tem o dever moral e ético de apresentar os conhecimentos estudados em pesquisas científicas e acadêmicas de uma forma palatável ao público geral. É um dever cívico transmitir - de forma acessível - o conhecimento discutido nos âmbitos de pesquisa.”
cita o IPCC como importante documento a ser lido
“Como podemos acabar/mudar com o poder das empresas que destroem o planeta?”
_ o p r i m e i r o e n c o n t r o “ Precisamos aprender a consumir de forma mais consciente. Campanhas sobre repensar o consumo e provocar a mudanças de hábitos sobre aquilo que adquirimos, como a moda”
“É importante olhar para a cultura local como uma referência para a transformação. Resgatar autores brasileiros como Krenak e Nego Bispo que abordem uma perspectiva sobre o mundo que vivemos. E como Nego Bispo fala: ‘Esse mundo acabou!’”.
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“Precisamos ficar atentas (os) com o que o governo do estado de Pernambuco está planejando fazer numa área de proteção ambiental para montar uma escola de sargentos. É inadmissível!”
“O futuro não está à venda!”
“A gente precisa mostrar que a preservação da Amazônia é mais valiosa e lucrativa do que derrubá-la para plantação de soja e fazenda de gado. Estamos vendo as consequências agora…”
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“Eventos como esses são fundamentais neste momento. Espero que tenha novos encontros para debatermos a fundo as ideias. Nós precisamos cada vez mais disso!”
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2024.
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Imagens 3 - Peças de divulgação sobre a primeira roda. Recife, maio de 2024.
o p r i m e i r o e n c o n t r o
André Cardim - Eng. agrícola e ambiental, representante da Kapiwara e do Jardim Secreto do Poço.
Andreza Araújo - bióloga, representante da politize e da Impacta Nordeste
Anita Presbítero - pedagoga e idealizadora do Floriterárias
Anne Justino - cientista e pesquisadora do LMI Tapioca
Assis Lacerda - ambientalista, engenheiro de pesca, trabalhou na CPRH e hoje integra o Turismo Legal
Cida Pedrosa - política e poeta, esteve à frente na criação de planos sobre o clima no Recife
Cleo - indígena, representante da Greenpeace Recife e da Engajamundo
Danielle Gomes - artesão e idealizadora da startup Fábrica de Brinquedos
Fabiane Figueiredo - ávida leitora e integrante do Floriterárias
Flávia - interprete de libras e idealizadora da Cultural Libras
Gabriel - integrante e voluntário na Greenpeace Recife
Gabriel Quintiliano - engenheiro agrônomo, estuda ecologia e biodiversidade das abelhas
Gidália - música e entusiasta da espiritualidade
Jessica Lobo - ávida por conexões e idealizadora da Ao Vento
o p r i m e i r o e n c o n t r o
Jonas - jovem e ativista
Jefferson Moura - biólogo e estudante de pós-graduação em Etnobiologia (UFRPE)
Karla Avelino - pescadora, estudante de Engenharia de Pesca e pesquisadora no LMI Tapioca
Laudijane Domingos - candomblecista, representante da UBM
Mercia Lobo, em busca de novos conhecimento e “do lar”
Milena - embaixadora da politize
Nilson Cordeiro - historiador e idealizador da Cultural Libras
Rani Vital - bióloga e integrante da Instituto Toró
Rebeka Quintão - embaixadora da politize e idealizadora da Ong Saluz
Rogério Vasconcelos - morador de Porto de Galinhas e diretor do Turismo Legal
Sara - oceanógrafa e pesquisadora do LMI Tapioca
Vânia Nunes - bióloga e trabalha com entomologia médica
Verônica - técnica de Meio Ambiente, moradora de Ipojuca e voluntária na Turismo Legal
Vitor - comunicador social e militante pelo PCdoB Paulista
o p r i m e i r o e n c o n t r o
Ao Vento
Atua com projetos na área de economia criativa e economia circular. O projeto mais recente que esteve envolvida foi o Laboratório de Educação e Design Circular - Cirandar, inscrito na categoria social da chamada “Saneamento do Futuro - Rios Sem Plásticos”, selecionado e premiado em Brasília pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) Saiba mais, acesse: https://faleaovento.com/
Floriterárias
Idealizado por Anita Presbitero, o Floriterárias é uma coletiva de mulheres que promove, há 8 anos, em Recife, um clube do livro e saraus, com o propósito desenvolver o protagonismo feminismo por meio de rodas de leituras e conversas literárias. O grupo promove encontros periódicos e realizou em 2022 a sua primeira edição do Festival Floriterárias. Saiba mais, acesse: https://www.instagram.com/floriterarias/
Grupo de Voluntários da Greenpeace Recife
O Greenpeace é uma organização ambiental que existe porque o planeta e seus ecossistemas precisam de quem os defenda, Estão no Brasil há mais de 30 anos e fazem o debate e enfrentamento necessário para colocar a pauta ambiental em evidência. Quem participa na roda de debate é o grupo de voluntários do Greenpeace Recife. Saiba mais: Greenpeace Brasil - https://www.greenpeace.org/brasil/ Greenpeace Recife - https://www.instagram.com/gpbr.recife/
Carvalho Studio de Dança
Idealizado por Alê Carvalho, o Carvalho Studio de Dança acredita que Arte é um exercício da empatia e lugar de luta social. Saiba mais: https://www.instagram.com/carvalhostudio7/
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Instituto Toró
O Instituto Toró - Clima, Tecnologia e Cultura tem por finalidade a promoção e o apoio a ações e iniciativas relacionadas à sustentabilidade, defesa e conservação do meio ambiente. Tem como missão diminuir a distância entre o pensar e o fazer para enfrentar a crise climática. Saiba mais: https://www.instagram.com/toroinstituto
TAPIOCA é um grupo de pesquisa e extensão interdisciplinar que reúne pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da França (IRD).
O LMI Tapioca é um laboratório interdisciplinar sobre dinâmica física, biogeoquímica, ecológica e humana do Atlântico Tropical. Saiba mais: https://tapioca.ird.fr
Bheka Quintão é ativista, líder de projeto da Ashoka Brasil e embaixadora da Todxs Brasil, Politize e Nivea Brasil. É idealizadora da ONG Saluz, que ajuda pessoas em situações de vulnerabilidade para minimizar as desigualdades através de ações.
Saiba mais, acesse: https://www.instagram.com/ongsaluz/
Impacta Nordeste
Uma de suas principais missões é impulsionar soluções para os desafios sociais da região.O Impacta Nordeste é uma organização que busca fomentar o ecossistema de impacto social do Nordeste. Sua atuação se dá por meio de 4 estratégias principais: comunicação, inteligência, inovação aberta e aceleração de negócios e organizações. Possui uma comunidade de empreendedores sociais da região. https://impactanordeste.com.br/
d o p a s s a d o p a r a o f u t u r o
No ano de 1854, o presidente dos Estados Unidos fez uma proposta a uma tribo indígena para comprar grande parte de suas terras, oferecendo em contrapartida, a concessão de uma outra "reserva". A resposta do chefe Seattle, distribuído pela ONU (Programa Ambiente), tem sido considerado, através dos tempos, um dos mais belos e profundos pronunciamentos já ocorridos.
“Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa ideia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?
Cada pedaço desta terra é sagrado para o meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência do meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho. Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas.
Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs. O cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem - todos pertencem a mesma família.
Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos.
Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós. Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados.
Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo.
O murmúrio das águas é a voz dos meus ancestrais. Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos, e seus também. E, portanto,vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.
Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto. _ d o p a s s a d o p a r a o f u t u r o
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção de terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa pra trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda.
Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.
Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto. Talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos.
E o que resta da vida se um homem não pode ouvir um choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros. O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro.
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. _ d o p a s s a d o p a r a o f u t u r o
Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda vida que mantém. O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar e também recebi seu último suspiro.
Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.
Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir.
Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecer vivos.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.
Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem às suas crianças, o que ensinamos às nossas, que a terra é nossa mãe. Tudo que acontecer à terra, acontecerá aos seus filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.
Há uma ligação em tudo. O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. _ d o p a s s a d o p a r a o f u t u r o
Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra.
Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família.
_ d o p a s s a d o p a r a o f u t u r o
O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho.
Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam.
Onde está o arvoredo? Desapareceu.
Onde está a águia? Desapareceu.
É o final da vida e o início da sobrevivência.”
“A terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo. O que ocorrer sobre a terra, recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um dos seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.”
É importante viver a experiência da nossa própria circulação do mundo, não como metáfora, mas como fricção, poder contar uns com os outros.
AiltonKrenak,IdeiasparaAdiaroFimdoMundo
Imagem 4 - Foto com as pessoas presentes na primeira roda de conversas Ideias para Adiar o Fim do Mundo, realizada no dia 18 de maio de 2024 na Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco.
Esse encontro foi construido em apenas uma semana, de forma totalmente solidária graças ao apoio das pessoas e iniciativas.
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