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John Silence Algernon BlAckwood

CAsos psíquicos do Doutor ExtrAordinÁrio

TrAdução F. T. Rossi

São Paulo

2022

1ª edição

Equipe técnica:

Editor-chefe: Rodrigo Barros

Curadoria e tradução: F. T. Rossi

Revisão:

Simone Souza

Capa, diagramação e projeto gráfico: Rodrigo Barros

Ficha técnica:

B632j

Blackwood, Algernon, 1869 - 1951

John Silence: casos psíquicos do Doutor Extraordinário / Algernon Blackwood; tradução F. T. Rossi - São Paulo: Cartola Editora, 2022.

493kb ; ePub

ISBN: 978-65-89837-78-7

1. Literatura inglesa. I. Título

CDD: 820

CDU: 821 111-3

Todos os direitos desta edição reservados à Cartola Editora. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização por escrito da editora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Para M. L. W.
O verdadeiro John Silence e meu companheiro em diversas aventuras.

SUMÁRIO

Introdução

Sobre o autor

Uma invasão psíquica

Feitiçarias do passado

Nêmesis do fogo

Devoção secreta

O acampamento do cão

Uma vítima da quarta dimensão

Financiamento coletivo

INTRODUÇÃO

John Silence não é apenas o clássico investigador do oculto e do sobrenatural, como tantos outros. Ele é um médico que pode ler pensamentos, prever o futuro, captar vibrações emitidas pelo remetente de uma carta, apenas ao tocar no papel e que conhece, como poucos, a mente humana, identificando não apenas as reminiscências de uma vida passada, como também as manifestações físicas de um horror real. Além de conhecer os mistérios dessa e de outras dimensões, John Silence também fez de seu criador, Algernon Blackwood, um best-seller. O personagem de John Silence foi um divisor de águas para Blackwood, transformou-o em um escritor, em um especialista no oculto, e suas histórias estão entre as mais famosas do autor. É um de seus livros mais memoráveis e conhecidos, o único, aliás, cujos contos têm um fator em comum; o Doutor Extraordinário.

Para entender John Silence, é necessário saber primeiramente que Algernon Blackwood foi um místico desde muito cedo. Quando era jovem, passava noites em casas mal-assombradas, na faculdade, participava de séances1 , sessões de hipnose e quando se viu longe de seus pais, ao se mudar da Inglaterra para o Canadá (1890), filiou-se a Sociedade Teosófica, que misturava ensinamentos budistas, ciência e filosofia. Mais tarde, tornou-se um membro da sociedade secreta A Ordem Hermética da Aurora Dourada (1900), onde estudou magia e cabala ao lado de outros escritores de sua época, como W. B. Yeats e Arthur Machen. Não existia ninguém melhor para criar um investigador do sobrenatural que Algernon Blackwood, e seu editor, Eveleigh Nash, sabia muito bem disso quando sugeriu que o autor trabalhasse com um personagem em comum para seu terceiro livro, lançado depois de “A casa vazia e outras histórias de fantasmas” (1906) e “O ouvinte e outras histórias” (1907).

O livro foi publicado em 16 de setembro de 1908 com cartazes em ônibus e outdoors por toda Londres, tornando-se a maior campanha de um lançamento literário da época. Os slogans diziam “John Silence – O personagem mais misterioso da ficção moderna”. A edição original tinha cinco histórias, “Uma invasão psíquica”, “Feitiçarias do passado”, “Nêmesis do fogo”, “Devoção

secreta” e “O acampamento do cão”. Nash rejeitou “Uma vítima da quarta dimensão” de última hora por considerá-lo fraco, mas é claro, está incluso neste livro, como deveria.

“Uma invasão psíquica” é o conto que abre o livro e apresenta o protagonista. John Silence é um médico diferente, um filantropo que não precisa cobrar seus pacientes para viver e, após passar por um intenso treinamento que durou cinco anos, interessa-se apenas por casos de natureza intangível, de difícil compreensão, as chamadas aflições psíquicas. Aqui, John Silence tenta ajudar um paciente, que, após tomar uma dose experimental de haxixe, passa a ser assombrado por uma entidade maligna. O autor se inspira em suas próprias experiências com uma dose experimental da mesma droga, evento que aconteceu quando morou em Nova Iorque (18921899) e inspirou algumas outras histórias também. O episódio detalhado consta neste livro em “Sobre o autor”.

“Feitiçarias do passado” é marcada pela narrativa de Vezin, um homem que se vê em uma estranha cidadezinha no interior da França, cujos habitantes têm hábitos peculiares. Aqui Blackwood aborda o tema de vidas passadas em um de seus contos mais memoráveis. Veio a ele enquanto passava pela cidade de Laon, na França (por volta de 1903-1904), e ficou hospedado na pousada Auberge de la Hure. A atmosfera da cidade e também a atitude e quantidade de gatos pelas ruas o impressionou. John Silence aparece mais como um ouvinte neste conto e Mike Ashley, na biografia Starlight Man - The Extraordinary Life of Algernon Blackwood (Stark House Press, 2019), argumenta que talvez esta foi uma história que Blackwood já havia escrito e apenas adaptou para o livro seguindo o conselho de Nash.

Em “Nêmesis do fogo”, o doutor extraordinário tem uma participação muito ativa e temos aqui também a introdução do personagem Hubbard, um tipo de assistente baseado provavelmente no Watson, de Sherlock Holmes. Um primo de Blackwood foi a inspiração para o nome, Arthur Hobart-Hampden. Neste conto, John Silence é chamado para investigar fenômenos inexplicáveis acontecendo em uma antiga mansão de fazenda, cujo bosque é mal-assombrado. A locação é inspirada em duas propriedades onde morou seu amigo Edwyn R. Bevan. A primeira delas possuía tal bosque, um antigo círculo de pedras também mencionado no conto e foi para onde Bevan levou diversos artefatos egípcios (ele era um egiptólogo e passou um tempo

estudando em tal país). A outra, onde Bevan e sua esposa também viveram, possuía um túnel subterrâneo que levava a uma capela do século XIII, que também inspirou algumas das cenas. É interessante mencionar que quando os Bevan venderam essa segunda propriedade, os novos donos, “uns americanos, ficaram tão impressionados com o ‘espírito do mal’ que a esposa ameaçou a se divorciar do marido se ele não se livrasse da casa2” . Apesar disso, Edwyn e Mary nunca tinham visto nada de mal no lugar, mas mencionam ter ouvido histórias estranhas sobre seus antepassados. “Nêmesis do fogo” é uma das narrativas mais longas do livro, aproximando-se a uma novela, mas, com certeza, uma das mais interessantes. Nela, John Silence lida com um elemental do fogo preso a uma múmia egípcia que foi trazida para a propriedade muitos anos antes.

Um outro conto que pode ter sido escrito anteriormente, apenas com a introdução do personagem de John Silence é “Devoção secreta”. A história é extremamente autobiográfica pois narra a visita de um homem a um antigo colégio de padres que estudou quando garoto na Alemanha. Blackwood estudou na The School of Moravian Brotherhood, na Floresta Negra, entre 1885 e 1886. Apesar da rotina estrita, Blackwood gostou muito de seu tempo lá, e o começo do conto é repleto de memórias vividas de Harris, o personagem, que podem muito bem ser as mesmas do autor. Ele menciona as meias-porções de comida com que era punido por falar em sua língua nativa, ter de acordar às cinco da manhã no inverno, ou ir a todos os lugares com seu respectivo grupo e um dos Irmãos em seus calcanhares. A escola, com sua vida reclusa e a dedicação a um propósito sagrado, deixou grande impressão em Blackwood e talvez o fez despertar para a busca mística e filosófica que se tornou sua vida mais tarde. É de se espantar o grande desvio que o conto toma, quando Harris descobre a vida secreta dos Irmãos, no que se torna uma das histórias mais aterrorizantes e vívidas do livro.

Quando se começa a ler “O acampamento do cão”, o cenário remoto nos lembra imediatamente contos como “O Wendigo” ou “Os salgueiros” e antecipa-se que este vai ser palco de mais uma das assustadoras narrativas sobre a Natureza de Blackwood, mas o tema, apesar de não ser menos assustador, é projeção astral e lobisomens. A ilha, onde Blackwood passou um mês acampando em um grupo de seis pessoas (que também incluíam Edwin Bevan e sua esposa), é a ilha de Angsholmen, cerca de sessenta

quilômetros de Estocolmo. Esta história foi a última a ser escrita por Blackwood e a segunda contada pelo personagem de Hubbard, além disso, tem uma visão muito interessante do tema de lobisomens.

“Uma vítima da quarta dimensão”, o conto excluído da edição original, se passa no escritório do médico, não tem tanta ação ou ambientações exóticas quanto os outros, mas não deixa de ser uma discussão sobre hiperespaço muito atual e bem-feita. Mike Ashley argumenta que este conto estaria mais próximo da intenção original de Blackwood para o livro, de começar discussões sobre fenômenos psíquicos, e é de se perguntar o que teria acontecido com o futuro de John Silence se a história não tivesse sido rejeitada por Nash. Se era a intenção do autor continuar com esse tipo de discussão, talvez John Silence poderia até ter ganhado outras aventuras, mas infelizmente, esta é a última.

O médico originalmente tinha o nome de dr. Stephan. O livro estava completo quando Nash sugeriu a mudança de nome durante um jantar e, virando-se para Maude Ffoulkes (que havia recentemente se tornado sua sócia), perguntou se ela não tinha um parente com o nome de Silence; eles imediatamente decidiram pelo nome. Mike Ashley, quando conta este episódio na biografia Starlight Man, adiciona uma nota dizendo que não se sabe a resposta de Maude Ffoulkes, e ao pesquisar sua genealogia, ele não conseguiu achar nenhum membro de sua família com o sobrenome de Silence. A família de seu marido, entretanto, tinha ancestrais com o sobrenome Strange, e talvez Nash tivesse apenas se confundido. De qualquer forma, assim nasceu John Silence.

Mas quem foi John Silence? Para aqueles familiares com o trabalho de Blackwood, sabem que sua obra é muito autobiográfica, e muitos de seus personagens são inspirados em pessoas que conheceu e faziam parte do seu círculo de amizades. O livro foi dedicado “Para M. L. W., o verdadeiro John Silence e meu companheiro em diversas aventuras”, e durante os anos, muitos especularam quem poderia ser M. L. W., mas nem mesmo Mike Ashley, com a impressionante quantidade de informações que recolheu sobre Blackwood, conseguiu responder completamente essa pergunta.

Ashley, entretanto, tem algumas teorias. A principal delas é que John Silence seria uma mistura de algumas pessoas que Blackwood conhecia. O próprio autor diz que o personagem é baseado em um colega de faculdade

hindu, um colega que o ajudou a compreender o budismo e ensinou-o práticas de meditação e respiração, mas seu nome é incerto. Mike Ashley cogita a possibilidade de se tratar de Harvey Vaillant, que havia nascido em Calcutá, era bom amigo de Blackwood durante a faculdade, e pode ter inspirado, além de John Silence, um outro personagem chamado Julius LeVallon, mas as iniciais não batem, e nenhum estudante hindu consta na Universidade de Edimburgo na época com as iniciais de M. L. W. A pessoa, porém, cuja personalidade exerce uma maior influência na de Silence, e também um homem que acompanhou Blackwood em diversas aventuras, desde investigar casas mal-assombradas, a viagens exóticas e acampamentos em ilhas desertas, e já mencionado como inspiração em dois dos contos, é Edwyn Robert Bevan. Fisicamente, a descrição de Silence também se encaixa muito bem na de Bevan, mas, é claro, as iniciais não são as mesmas. Ashley então volta-se para sua esposa, Mary Waldegrave, a quem Blackwood conhecia desde a infância. Apesar de ser uma forte candidata, não se tem conhecimento de que Mary tinha algum nome do meio e a verdadeira identidade de M. L. W. permanece, até hoje, uma incógnita.

A repercussão do livro foi imediata. Em três meses, John Silence vendeu as três mil cópias iniciais e continuou sendo impresso durante toda a vida de Blackwood. Foi seu primeiro livro publicado nos Estados Unidos e ganhou até uma cópia pirata de uma editora. Juntamente do Doutor Extraordinário, Blackwood ganhou fama e a reputação de especialista do sobrenatural. Diversos fãs escreviam cartas procurando a ajuda e conhecimento de John Silence em casos inexplicáveis, perguntando sobre o enigmático M. L. W., ou até mesmo marcando encontros telepáticos e o autor chegou a responder as mais interessantes delas. Após o lançamento, também houve rumores de que Blackwood praticava magia negra, mas nada que não passasse de fofoca e parece ter apenas ajudado na venda dos livros.

Por fim, John Silence foi o companheiro que conduziu Blackwood a todo seu potencial, deu-lhe a confiança para deixar um trabalho administrativo como diretor de uma fábrica de leite em pó, e seguir seus interesses, suas viagens, seus estudos, e ver onde sua imaginação poderia levá-lo, no que viria a ser uma das mais brilhantes carreiras do século XX. Espero que o leitor encontre no “Doutor Psíquico” também um companheiro que o conduzirá às mais estranhas, maravilhosas e inexplicáveis aventuras.

1 Sessão espírita.

2 Starlight Man, Mike Ashley (Stark House Press, 2019), p. 181.

SOBRE O AUTOR

Um homem que passava noites em casas mal-assombradas, um contador de histórias cercado por olhares atentos diante do fogo, um adorador da natureza, um pesquisador curioso de fenômenos inexplicáveis, um frequentador de sociedades secretas, um homem solitário em seu íntimo, mas possuidor de devotas amizades, um homem que viveu em uma ilha deserta, que viajou o mundo, que teve a companhia de princesas e poetas, que morou na rua. O último dos verdadeiros cavalheiros ingleses, um homem que preferia a vista das estrelas – este foi Algernon Blackwood3 .

Nascido em 14 março de 1869, em uma família abastada de Shooter’s Hill (próximo aos subúrbios de Londres), Algernon Henry Blackwood era um entre os cinco filhos de Sir Arthur Blackwood e Harriet Blackwood. Com relações próximas da nobreza e valores vitorianos muito rígidos, sua família teve grande influência – mesmo que contrária – em sua busca pelo sobrenatural. Sir Arthur, que tinha um alto cargo administrativo nos correios, realizava estudos bíblicos em sua casa e teve um importante papel na comunidade religiosa.

Deus, um Deus vingativo e severo, fez parte da vida de Algernon enquanto crescia e o medo de que as crenças de seus pais fossem verdadeiras o fez se interessar por outros credos. Quando ainda um garoto, encontrou uma cópia do livro Yoga Aphorisms de Bhagwan Shree Patanjali (esquecido em sua casa por um dos amigos de seu pai que escrevia um artigo com a intenção de avisar a nação sobre tais imoralidades orientais), e ele o achou fascinante. Apesar de não entender muito bem o budismo, Blackwood leu o livro diversas vezes.

Em sua infância e adolescência, foi educado em colégios internos na Inglaterra, Suíça e Alemanha. Uma delas, a escola de padres The School of Moravian Brotherhood, na Floresta Negra, mais tarde, viria a inspirar sua obra. Com influência de seus mestres, Blackwood começou a ler poesia (P. B. Shelley tornou-se um de seus preferidos) e grandes obras de filosofia. O trabalho do filósofo Gustav Fechner, particularmente, mudou sua visão de mundo. Sua concepção de que tudo, inclusive a Terra, tinha uma alma, viria a construir a estrutura na qual Blackwood embasaria seu pensamento.

Seus pais, mesmo com uma estreita visão religiosa, não eram intolerantes. Sir Arthur era um homem de caráter e bom coração, Algernon dividia com ele a paixão pela natureza. Isso não quer dizer que o pai aprovasse as inclinações do filho, apenas esperava que amadurecesse e eventualmente as deixasse de lado – o que nunca aconteceu.

Antes de ingressar na faculdade, Sir Arthur (adepto a tudo que poderia desmascarar o espiritismo como charlatanismo), colocou Algernon em contato com a Sociedade de Pesquisa Psíquica (Society of Psychical Research, ou SPR). Como o próprio nome diz, o SPR era uma sociedade séria que pesquisava eventos paranormais. Blackwood não se tornou um membro do SPR, mas, ao que tudo indica, realizou algumas de suas investigações, entrevistando pessoas e passando noites à procura de fantasmas em casas mal-assombradas. Em uma delas, depois de examinar cada quarto vazio junto de sua acompanhante, entraram em um quartinho para esperar o acontecimento de algum fenômeno estranho e foi onde Blackwood vivenciou um dos episódios mais assustadores de sua vida. Por um momento, o rosto da mulher ao seu lado pareceu se transformar em uma máscara, tornando-se o rosto de uma garotinha. Ele usou alguns detalhes dessas investigações anos mais tarde, em um de seus contos mais memoráveis: A casa vazia.

Seu amor pela natureza faria Algernon decidir por uma carreira em agricultura. Ele ingressou na Universidade de Edimburgo com intenções de obter um diploma de Agricultura e Economia Rural e mudar-se para o Canadá, onde se tornaria um fazendeiro. Ele seguiu com os planos de se mudar para o Canadá, mas nunca teria sucesso em tal carreira. Na faculdade, pouco se interessava pelos temas das aulas e muitas vezes, assistia palestras de patologia, observava autópsias, fraternizava com os estudantes e professores de medicina (alguns dos quais viriam a ser membros da Sociedade Teosófica4 e da Ordem Hermética da Aurora Dourada5), além de aprender hipnose, participar de séances e escrever histórias de fantasmas. Durante este período, publicou seu primeiro conto “A Mysterious House” (1889) na revista Belgravia.

No Canadá, Algernon se estabeleceu em Toronto. Até conseguir conexões na indústria agropecuária (Sir Arthur já havia aberto caminho com alguns conhecidos), dava aulas particulares de francês, trabalhava como secretário e

escrevia para revistas, além de contar com uma modesta mesada de seu pai. Quando finalmente entrou em sociedade com um produtor de laticínios, o negócio faliu em seis meses e ele perdeu grande parte do dinheiro que havia investido. Blackwood rapidamente chegou a linha da pobreza, mas contou com a boa vontade de alguns amigos. Um tempo depois, investiu o pouco do capital que ainda tinha em um hotel, em mais um negócio que viria a falir. Apesar de aparentemente bem-sucedido, o hotel apenas acumulava dívidas, até que Blackwood e seu sócio em uma manhã de maio, sem avisar seus credores, foram para uma ilha deserta que pertencia a um de seus amigos. Ali, eles passaram meses vivendo na mata, com apenas uma pequena cabana para se proteger do tempo. Antes que o inverno chegasse, entretanto, Blackwood decidiu deixar o Canadá e em 1892, mudou-se para Nova Iorque.

Nos Estados Unidos, passou por mais um longo período de pobreza e relações conturbadas. Ele dividiu quartos baratos com amigos que eventualmente lhe roubaram e para se sustentar, dava aulas de violino, de línguas e escrevia artigos em jornais. Como repórter no The Sun, Blackwood cobria casos policiais e também entrevistava prisioneiros condenados à cadeira elétrica, uma função que, por anos, o assombraria com a visão de olhares suplicantes por trás das grades. Foi nesta época também que teve algumas experiências com drogas. Um de seus colegas, um médico prusso viciado em morfina, aplicou algumas doses em Blackwood enquanto ele esteve doente. Como coloca em sua autobiografia Episodes Before Thirty, as doses o deixavam em um “estado de absoluta euforia6” . A administração da morfina continuou por algumas semanas, mas eventualmente, Blackwood, sentindo-se melhor, as deixou de lado. Ele também experimentou haxixe com a intenção de escrever um artigo sobre a experiência. No artigo publicado pelo The Sun em junho de 1893, um jovem médico toma pílulas de haxixe, e achando que não fizeram efeito, vai até uma barbearia. De repente, tudo parece exagerado, o barbeiro se torna um gigante e sua navalha um machado. Na rua, os postes vão até o teto, os prédios são enormes. Ele tenta correr para casa, mas fica exausto. Atrás de si, vê um brilho e vira-se para encontrar um vulcão em erupção. Mike Ashley, seu biógrafo, acredita que a experiência descrita no artigo foi realmente vivida por Blackwood, e posteriormente é explorada no conto Uma invasão psíquica, no livro John Silence (1908). Apesar dessas experiências, Blackwood não considerava a droga uma

maneira viável de atingir uma consciência superior. É um estado mental que deveria vir de dentro, através de meditação, exercícios especiais e preferencialmente, em conexão com a natureza.

Mesmo com os artigos jornalísticos, a situação de Blackwood em Nova Iorque era precária, e na primavera de 1895, durante algumas semanas, ele não teve onde morar. Foi obrigado a dormir em bancos de parques e tomar banho na casa de amigos. Entretanto, logo conseguiu uma vaga como repórter no New York Times, onde trabalhou por pouco mais de um ano e suas finanças melhoraram significativamente. Mais tarde, Blackwood deixou o trabalho em jornais para atuar como secretário particular de um banqueiro. Ele também publicou algumas de suas histórias em revistas e periódicos, mas com nada próximo ao sucesso que viria a ter nos anos seguintes.

Pouco depois de sua mudança para Toronto, em 1890, Algernon havia se tornado um membro da Sociedade Teosófica e seus estudos continuaram em Nova Iorque. Ele assistia as palestras, reunia-se com membros e escrevia artigos para a revista interna, Lúcifer. A Sociedade tinha uma visão voltada para filosofia e religião oriental, muito baseada no budismo, e possuía uma Seção Esotérica da qual muito interessava Blackwood, mas pouco se sabe sobre suas experiências nela. No último parágrafo de Episodes Before Thrity, ele diz: “sobre experiências místicas, psíquicas, ou as chamadas ‘ocultas’, eu as propositalmente deixei de fora…7” .

Em 1899, aos trinta anos, e quase uma década após sua ida para a América, Blackwood voltou para a Inglaterra. Seu pai havia falecido durante seus anos em Nova Iorque, sua mãe não teria mais muito tempo de vida, e ele decidiu permanecer na Europa. Naquele ano e no seguinte, enquanto se estabelecia em seus antigos arredores, começou a escrever com mais frequência e grande parte de suas primeiras histórias reconhecidas vem desse período.

Em Londres, ocupou-se com trabalhos administrativos que lhe davam tempo necessário para escrever, viajar e continuar os estudos de teosofia. Blackwood se filiou à sede de Londres da Sociedade Teosófica, mas logo também se associaria à Ordem Hermética da Aurora Dourada.

A Aurora Dourada essencialmente estudava ocultismo, em especial magia hebraica e cabala. O ritual de iniciação Mike Ashley descreve em detalhe em Starlight Man:

“A cerimônia era maçônica em estrutura. Blackwood estaria com os olhos vendados, vestido em um robe preto até os tornozelos que amarrava na cintura com uma corda preta trançada em três e sandálias vermelhas nos pés. Depois de meditar sozinho em um quarto escuro por cerca de quinze minutos, ele seria levado por uma corda amarrada em seu pulso direito por seu guia. (…) Ao ser levado ao templo, água seria jogada em suas mãos e robe, como purificação, e incenso esfumado em volta dele. Ele seria levado ao altar, onde faria seu juramento de segredo e fraternidade.” ASHLEY, 2019, p. 152.

Blackwood logo avançou nos estudos, um de seus assuntos favoritos era vibrações e palavras de poder, explorado em seu conto Smith: um incidente em uma pensão e na novela “The Human Chord”. Um outro famoso autor do sobrenatural que também foi um membro da Aurora Dourada era Arthur Machen, ele e Blackwood foram aceitos na sociedade durante o mesmo período. Após um escândalo envolvendo os fundadores, ambos se distanciaram da ordem, e anos mais tarde, Blackwood concordaria com o que Arthur diz em sua biografia sobre a Aurora Dourada, descrevendo a sociedade como “pura bobagem interessada em abracadabras impotentes e imbecis8” .

Em 1906, um encontro ao acaso mudaria a vida de Algernon para sempre. Caminhando na Picadilly em Londres, ele foi chamado por um velho amigo que não via desde os tempos do The Sun, Angus Hamilton. Hamilton havia se tornado um proeminente repórter, ele acompanhou Blackwood até seu apartamento e perguntou se ainda escrevia contos de terror. Blackwood mostrou a ele dúzias de manuscritos e Hamilton os levou consigo para ler. Algernon não pensou nada sobre o assunto até receber uma carta de Eveleigh Nash, com um convite para publicar seus contos em um livro. Este seria “A casa vazia e outras histórias de fantasmas”. Hamilton havia enviado os contos para Nash, que tinha uma pequena editora. Nash os mandou para sua leitora crítica, Maude Ffoulkes, que ao ler A casa vazia disse a Nash no dia seguinte que eles deveriam publicar o livro imediatamente “porque vai demorar muito até encontrarmos um outro Algernon Blackwood9” . Maude Ffoulkes viria a ter uma longa relação editorial e também de amizade com o autor. O sucesso de A casa vazia foi imediato, aclamado pela crítica como “um dos melhores livros de ‘horrores’ desde a aparição de Drácula, do sr. Bram Stoker10” . No ano seguinte, veio seu segundo livro, “O ouvinte e

outras histórias”, também com ótima resposta. Em 1908, “John Silence: casos psíquicos do Doutor Extraordinário” foi publicado com diversos cartazes por Londres.

Nos anos seguintes, sua fama apenas cresceu, e eventualmente, ele se tornou uma espécie de celebridade. Algernon ficou conhecido pelo terror fantástico de seus contos, mas também escreveu histórias que evocam beleza e beiram o divino e transcendental. Foi autor de livros infantis e também algumas peças de teatro. Em 1934, recebeu um convite da BBC para narrar suas histórias de fantasmas no rádio. Até então, ele tinha uma carreira respeitável, mas viria a ser por suas narrativas no rádio e posteriormente, em programas de televisão que seria mais bem conhecido e lembrado. Blackwood foi um ilustre convidado na primeira transmissão de televisão da BBC em novembro de 1936, e a partir daí, suas performances nunca pararam. Em 1948, aos setenta e nove anos, foi premiado com o CBE (Commander of the British Empire) por ajudar a levantar a moral da nação com suas performances durante a Segunda Guerra Mundial, e também por sua participação na Primeira Guerra. No ano seguinte, em 1949, recebeu o Television Society Medal, o Oscar da televisão britânica.

Sobre seu papel na Primeira Guerra Mundial, Blackwood foi recrutado como agente secreto. Ele foi enviado para a Suíça no final de 1916. Seu trabalho era selecionar agentes, dar-lhes os meios de se comunicar com ele, fazer pagamentos e passar as informações aos seus superiores. Apesar de ter conseguido uma boa rede de contatos, depois de alguns meses, renunciou; “Eu detestava fingir que era outra pessoa, dizer ‘me encontre na segundafeira ao meio-dia’ o que queria dizer ‘na terça, às seis’, mudar de bonde a cada estação, para ter certeza de que não estava sendo seguido e diversos outros truques de garotos de escola11” . Mike Ashley discute que o fato dele ser responsável por outros agentes e possivelmente mandá-los para a morte em uma ou outra pista errada, talvez tenha tido um papel importante em sua renúncia. Posteriormente, ele trabalhou na Cruz Vermelha. É bem conhecido pelos os admiradores do trabalho de Blackwood que uma de suas grandes paixões era viajar. Ele passava longas temporadas em meio a natureza e grande parte de suas histórias são inspiradas nesses momentos de solidão cercada de selva. Duas viagens ao Danúbio inspiraram um de seus mais famosos contos, Os salgueiros. A inspiração de O Wendigo veio após

uma viagem de caça ao alce no Canadá e O encanto da neve relata muito bem suas próprias experiências na Suíça, onde morou por um período, e onde passava religiosamente seus invernos até o final de sua vida. Suas viagens ao Egito também basearam diversos de seus contos. Seu trabalho é muito autobiográfico, e para conhecermos Algernon Blackwood, devemos analisar suas histórias. A paixão pela natureza aparece na maioria delas, era em meio às árvores que ele se sentia mais confortável. Com o passar dos anos, o autor se distanciou de seus estudos da Sociedade Teosófica e também da Aurora

Dourada, mas sua relação com a natureza era quase uma religião. Em meio às árvores, ele podia se conectar com seu eu interior e vinha dali todo o estímulo que precisava para viver uma vida satisfeita e saudável. Um exemplo desta forte influência da natureza é uma lembrança de Lady Sarita Barclay, uma velha amiga que, ao ser entrevistada por Mike Ashley, mencionou que sua primeira recordação de Blackwood foi no baile da embaixada em Budapeste, por volta de ١٩٢٦, e de como ele estava mais interessado no céu estrelado e na vista do balcão do que no evento em si.

Apesar de seu sucesso e vida confortável como escritor, Blackwood nunca se tornou um homem rico, mas tinha boas relações em meio a aristocracia e sempre pode contar com amizades. Sua companhia era tão agradável que durante muitos anos na Inglaterra não tinha um lugar específico para viver e passava longas temporadas na casa de amigos. Ele até mesmo chegou a se auto intitular um “hóspede profissional”. Apesar de ser considerado o tipo solitário, estava sempre cercado de pessoas e era um querido contador de histórias. De sua família, também permaneceu próximo, e para seus sobrinhos e sobrinhas, sempre foi o peculiar e maravilhoso tio que dava asas à sua imaginação. Ele desenvolveu uma relação especial com sua cunhada Kate, viúva de seu irmão mais velho Stevenson, e o filho deles, seu sobrinho Patrick. Blackwood e Patrick chegaram a dividir um apartamento em Londres e foi para ele e Kate que deixou seus bens e sua renda no final de sua vida.

Algernon Blackwood nunca se casou, suas relações parecem ter sido sempre intelectuais com pessoas que admirava e cuja troca com suas próprias ideias era enriquecedora. Era um homem de livros, natureza e pensamento. Sua relação com Maya Knoop talvez possa ser definida como o mais próximo de uma “relação amorosa” que chegou. Eles se conheceram por volta de 1910 e tiveram uma forte amizade durante muitos anos. Maya era casada com um

barão extremamente controlador e ciumento, entretanto, o Barão Knoop não pensava duas vezes em deixar Maya sozinha na companhia do autor, até faziam longas viagens juntos. Foi em uma dessas viagens, em março de 1912, que Blackwood conheceu o poeta alemão Rainer Maria Rilke. Blackwood e Maya voltavam do Egito quando ela decidiu apresentá-los e os três tiveram um encontro em Veneza. Rilke escreveu sobre o evento para a Princesa de Habsburgo, Marie Von Thurn und Taxis-Hohenlohe, sua amiga íntima e grande admiradora do trabalho de Blackwood: “…no pouco tempo que tivemos, (Blackwood e eu) nos demos muito bem, quero dizer, ambos olhávamos um para o outro com profunda admiração12” .

Maya se tornou sua maior inspiração, durante alguns anos, eles eram inseparáveis, e seus amigos diziam ser um caso de amor sem a manifestação física. Quando o barão faleceu, Maya se casou novamente e teve uma vida feliz com o novo marido, cujos diversos eventos sociais eram frequentados pelo autor.

Sempre cercado de pessoas influentes que admiravam seu trabalho e sua companhia, Blackwood jamais parou de desfrutar a vida, jamais perdeu o interesse no mundo e na humanidade, jamais deixou de aprender e de ter novas ideias. Em uma carta a um amigo, ele escreveu: “Eu acho, sinceramente, que meu maior interesse na vida é encontrar qualquer conhecimento, em livros ou na prática, que possam ampliar os campos de consciência e despertar poderes que, eu estou convencido, existem adormecidos em nosso eu superior – o chamado subconsciente13” . Algernon Blackwood morreu em Kent, no dia 10 de dezembro de 1951, aos 82 anos, após uma série de derrames, deixando os elementos desta busca em cada uma de suas histórias, e conhecer seu trabalho é se aproximar um pouco da natureza fantástica presente dentro de cada um de nós.

3 As informações reunidas neste texto, incluindo citações, nomes, datas e eventos têm como fonte a brilhante e minuciosa biografia de Algernon Blackwood, feita por Mike Ashley no livro Starlight Man – The Extraordinary Life of Algernon Blackwood (Stark House Press, 2019).

4 A Sociedade Teosófica foi fundada em 1875, em Nova Iorque, pela russa Helena Blavatsky (1831-1891). A irmandade se dedicava a comparações sistemáticas entre

religiões e investigava fenômenos inexplicáveis. Pode ser brevemente descrita como um conjunto entre religião, filosofia e ciência.

5 Estabelecida em 1888 quase que como um contraponto da Sociedade Teosófica, a Ordem Hermética da Aurora Dourada era uma sociedade secreta que concentrava seus estudos em hermetismo ocidental

6 Episodes before Thirty, Algernon Blackwood, (Cassel and Company, 1923) p. 161.

7 Episodes before Thirty, Algernon Blackwood, (Cassel and Company, 1923) p. 304.

8 Things Near and Far, Arthur Machen, 1923, apud Starlight Man, Mike Ashley (Stark House Press, 2019), p. 158.

9 Starlight Man, Mike Ashley (Stark House Press, 2019), p 170

10 The Academy, 15 de dezembro de 1906, apud Starlight Man, Mike Ashley (Stark House Press, 2019), p. 171

11 Starlight Man, Mike Ashley (Stark House Press, 2019), p. 285.

12 Carta de Rilke à Princesa Marie, 29 de Março de 1912, em The Letters of Rainer Maria Rilke and Princess Marie von Thurn und Taxis, (Londres, The Hogarth Press), p. 39, apud Starlight Man, Mike Ashley (Stark House Press, 2019), p. 239.

13 Carta de Blackwood a Wrong, 12 de Novembro de 1923 (Biblioteca da Universidade de Toronto), apud Starlight Man, Mike Ashley (Stark House Press, 2019), p. 331.

UMA INVASÃO PSÍQUICA

Título original: “A Psychical Invasion”.

IE o que a faz pensar que eu seria útil neste caso específico? perguntou o dr. John Silence olhando um tanto desacreditado para a senhora sueca na cadeira à sua frente.

Seu coração solidário e conhecimento em ocultismo…

Ah, por favor! Essa palavra terrível! interrompeu ele erguendo um dedo com um gesto de impaciência.

Bem, então ela riu seu maravilhoso dom de clarividência e seu treinado conhecimento psíquico dos processos pelos quais uma personalidade pode ser desintegrada e destruída… esses estudos esquisitos que você tem pesquisado todos esses anos…

Se é apenas um caso de personalidade múltipla, devo realmente recusar interrompeu o médico rapidamente outra vez, uma expressão entediada em seus olhos.

Não é nada disso, agora, por favor, fale sério, pois quero sua ajuda ela disse , e se eu usar as palavras erradas para me expressar, seja paciente com minha ignorância. O caso de que falo vai interessá-lo, e mais ninguém poderia tratá-lo tão bem. Na verdade, um médico comum nem mesmo poderia tratá-lo, pois não conheço nenhuma terapia ou remédio que possa restaurar o senso de humor perdido.

Seu “caso” está começando a me interessar ele respondeu e se ajeitou para ouvir.

A sra. Sivendson deu um suspiro satisfeito ao vê-lo ir até a campainha e dizer ao criado que não deveria ser incomodado.

Acho que você já leu meus pensamentos disse ela , seu conhecimento intuitivo do que se passa na mente dos outros é espantoso. Seu amigo balançou a cabeça e sorriu enquanto colocava a cadeira em uma posição melhor e se preparava para ouvir o que ela tinha a dizer. Ele fechou

os olhos, como sempre fazia quando desejava absorver o verdadeiro significado de uma narrativa que poderia ser expressa de forma incorreta, pois assim achava mais fácil captar os pensamentos vivos por trás de palavras quebradas.

Pelos seus amigos, John Silence era considerado um excêntrico, pois era rico por acidente e por escolha, um médico. Que um homem de meios independentes devotaria seu tempo a tratar, ainda por cima tratar pessoas que não podiam pagar, escapava totalmente de sua compreensão. A nobreza simples de uma alma cujo único desejo era ajudar os que não podiam ajudar a si mesmos os intrigava. Depois disso, irritava-os e, muito para a satisfação do médico, o deixavam para lá.

O dr. Silence era autônomo, embora, diferente de outros médicos, não tinha consultório, nem secretária, nem postura profissional. Ele não cobrava honorários, pois, no fundo, era um verdadeiro filantropo, mas, ao mesmo tempo, não fazia mal aos seus colegas de profissão, porque só aceitava casos não-remunerados e que o interessavam por alguma razão muito especial. Para ele, os ricos podiam pagar e os muito pobres se valiam da caridade de comunidades, mas uma classe muito grande de trabalhadores mal pagos, pessoas de respeito, muitas vezes no ramo da arte, não podiam pagar o preço de uma semana de necessidades básicas, meramente se fosse preciso se deslocar. E era esses quem ele desejava ajudar: casos que muitas vezes exigiam um estudo especial e paciente – algo que nenhum médico pode dar por um guinéu, e ninguém esperaria que o fizesse.

Mas havia outro lado de sua personalidade e atuação que mais nos interessa; pois os casos mais atrativos a ele não eram do tipo comum, mas sim daquela natureza intangível, evasiva, e difícil, melhor descritos como aflições psíquicas; e, embora ele fosse a última pessoa a aprovar o título, não havia dúvidas de que era geralmente conhecido como o “Doutor Psíquico”.

Para enfrentar casos desse tipo peculiar, ele se submeteu a um longo e severo treinamento, ao mesmo tempo físico, mental e espiritual. O que exatamente foi esse treinamento, ou onde foi realizado, ninguém sabia, pois ele nunca falava sobre o assunto – e, é bem verdade, não mostrava nenhum outro indício de um charlatão – mas por ter envolvido seu desaparecimento total do mundo por cinco anos, quando retornou, ao começar sua prática singular, ninguém jamais sonhou em rotulá-lo com o epíteto tão facilmente

adquirido de charlatão. Falou-se muito da seriedade de sua estranha busca, e também da genuinidade de suas realizações.

Pelo pesquisador moderno de casos paranormais, ele sentia a calma tolerância do “homem que sabe”. Existia um traço de lástima em sua voz –desdém nunca mostrou – quando falava dos seus métodos:

Essa classificação de resultados é, na melhor das hipóteses, um trabalho pouco inspirado — ele me disse certa vez, quando eu era seu secretário particular há alguns anos. Não leva a lugar nenhum e, daqui a cem anos, não levará a lugar nenhum. É jogar com o lado errado de um brinquedo muito perigoso. Muito melhor seria examinar as causas, e então os resultados facilmente se encaixariam e se explicariam. Pois as fontes são acessíveis e abertas aos que têm a coragem de levar uma vida que sozinha torna a investigação prática segura e possível.

E com relação à questão da clarividência, também, sua atitude era sempre sensata, pois ele sabia a raridade do poder real e, às vezes, o que é chamado de clarividência nada mais é do que um aguçado poder de visualização.

Isso indica uma sensibilidade ligeiramente maior, nada mais dizia ele.

O verdadeiro clarividente lamenta o seu poder e reconhece que adiciona um novo horror à vida, aproximando-se de uma aflição. E você vai ver que este é sempre o verdadeiro teste.

E assim, John Silence, esse médico incomparável, selecionava seus casos com nítida compreensão entre a mera ilusão histérica e o tipo de aflição psíquica que reivindicava seus poderes especiais. Nunca foi necessário recorrer aos mistérios baratos da adivinhação; pois, como o ouvi dizer, após a solução de algum problema peculiarmente difícil:

As técnicas de adivinhação, desde a geomancia1 até a leitura de folhas de chá, são apenas algumas de tantas técnicas para obscurecer a visão externa, para que a visão interna possa se abrir. Uma vez que o método é dominado, nenhuma técnica é necessária.

E essas palavras representavam os métodos deste homem notável. A essência de onde o poder residia, talvez mais do que qualquer outra coisa, estava no conhecimento de que, em primeiro lugar, o pensamento pode agir à distância e, em segundo, o pensamento é dinâmico e pode alcançar resultados materiais.

Aprenda como pensar ele teria expressado e então aprenderá a

explorar o poder em sua fonte.

Para quem olhasse, era um homem que já passava dos quarenta anos, com estrutura magra e franzina, expressivos olhos castanhos nos quais resplandecia o conhecimento e a autoconfiança, enquanto remetiam aquela maravilhosa delicadeza, vista com mais frequência nos olhos dos animais. Uma barba cerrada escondia a boca sem disfarçar a determinação severa dos lábios e do queixo, e o rosto, de alguma forma, irradiava transparência, uma sensação quase de luz, tão delicadamente refinados eram os traços. Em sua testa, descansava a marca indefinível de paz dos com a mente conectada ao que é permanente na alma e deixam o efêmero passar, sem lhe dar poder para ferir ou angustiar; ao passo que, por suas maneiras –tão gentil, quieto, compreensivo – poucos perceberiam a força queimando em seu interior, como uma grandiosa chama.

Posso dizer que é um caso psíquico continuou a senhora sueca, obviamente tentando explicar com algum conhecimento. E exatamente do tipo que lhe interessa. Quero dizer, um caso onde a causa se esconde em alguma angústia espiritual e…

Mas primeiro os sintomas, por favor, minha querida Svenska interrompeu ele, com uma seriedade estranhamente convincente. E suas deduções depois.

Ela chegou até a beirada da cadeira e o encarou, baixando a voz para evitar que sua emoção fosse muito óbvia.

Na minha opinião, há apenas um sintoma ela quase sussurrou, como se dissesse algo desagradável , medo, simplesmente medo.

Medo físico?

Acho que não… mas como posso colocar? Acho que é um horror na região psíquica. Não é uma ilusão comum; o homem é bastante são; mas vive em terror mortal de algo…

Não sei o que quer dizer com “região psíquica” disse o médico, com um sorriso. Mas suponho que sua intenção é dizer que seus processos espirituais, não mentais, são afetados. De qualquer forma, tente me dizer rapidamente e com mais clareza possível, o que sabe sobre o homem, seus sintomas, sua necessidade de ajuda, minha ajuda em particular, e tudo que lhe parece vital no caso. Eu prometo ouvir com atenção.

Estou tentando continuou ela, séria , mas quero falar com minhas próprias palavras e confiar em sua inteligência para decifrá-las enquanto prossigo. Ele é um jovem autor e mora em uma casinha em algum lugar perto de Putney Heath. Escreve histórias engraçadas; um gênero bem característico dele. Pender é o nome, o senhor deve ter ouvido falar, Felix Pender? Ah, o homem tinha um grande dom e se casou com base nele; seu futuro parecia seguro. Eu digo “tinha”, pois de repente seu talento o deixou completamente na mão. Pior, se transformou no oposto. Ele não consegue mais escrever uma linha do jeito antigo que lhe trazia sucesso…

Dr. Silence abriu os olhos por um segundo e a encarou.

Ele ainda escreve, então? A força não foi embora? perguntou brevemente e então fechou os olhos mais uma vez para ouvir.

Ele trabalha como uma fúria2 , mas não produz nada ela hesitou por um momento , nada que possa usar ou vender. Seus honorários praticamente sumiram e ele mal ganha a vida com resenhas de livros e trabalhos temporários – muito bizarros, alguns deles. No entanto, estou certa de que seu talento não o abandonou realmente, mas é apenas…

Novamente, a sra. Sivendson hesitou na palavra adequada.

Uma suspensão sugeriu o médico, sem abrir os olhos.

Um bloqueio continuou ela, após um momento para pensar na palavra , meramente bloqueado por outra coisa…

Por alguém?

Bem que eu queria saber. Tudo o que posso dizer é que ele é assombrado e seu senso de humor está temporariamente encoberto; desaparecido, substituído por algo aterrorizante que escreve outras coisas. A menos que algo seja feito, ele morrerá de fome. No entanto, ele tem medo de procurar um médico por receio de ser considerado louco; e, de qualquer forma, um homem dificilmente pode pagar um guinéu a um médico para restaurar seu senso de humor perdido, não é mesmo?

Ele tentou algum?

Nenhum médico ainda. Tentou reverendos e pessoas religiosas; mas estes sabem tão pouco e têm tão pouca compreensão inteligente. E a maioria deles está ocupado em se equilibrar no topo de seus pequenos pedestais…

John Silence interrompeu o discurso indecoroso com um gesto.

E como sabe tanto sobre ele? perguntou, gentil.

Eu conheço bem a sra. Pender, eu a conhecia antes de se casar com ele.

E ela é uma das causas, talvez?

Nem um pouco. Ela é dedicada; uma mulher muito bem-educada, embora não muito inteligente, e com tão pouco senso de humor que sempre ri nas horas erradas. Mas ela não tem nada a ver com a causa de sua aflição; e, na verdade, percebeu que tinha algo errado por observá-lo, e não pelo pouco que ele lhe contou. E ele, sabe, é um sujeito realmente adorável; trabalhador, paciente; alguém que vale a pena salvar.

O dr. Silence abriu os olhos e foi até a campainha pedir o chá. Ele não sabia muito mais sobre o caso do humorista do que quando se sentou para ouvi-lo; mas percebeu que nenhuma quantidade de palavras de sua amiga sueca ajudaria a revelar os verdadeiros fatos. Apenas uma entrevista com o autor poderia fazê-lo.

Vale a pena salvar todos os humoristas disse ele com um sorriso, enquanto ela se servia do chá. Não podemos perder nenhum nesses tempos difíceis. Visitarei seu amigo na primeira oportunidade.

Ela o agradeceu com muita pompa e uma enxurrada de palavras elaboradas e ele, com grande dificuldade, manteve a conversa daí em diante estritamente ao bule de chá.

E, como resultado dessa conversa – e com um pouco mais de informações que ele recolheu por meios conhecidos apenas por ele e seu assistente – o dr. Silence zunia em seu carro alguns dias depois em uma tarde, subindo Putney Hill para sua primeira entrevista com Felix Pender, o escritor humorístico vítima de uma misteriosa doença em sua “região psíquica” que havia acabado com seu senso de humor e ameaçava acabar com sua vida e destruir seu talento. E seu desejo de ajudar era provavelmente tão forte quanto seu desejo de saber, investigar.

O motor parou com um ronronar profundo, como se uma grande panteranegra estivesse escondida dentro do capô e o médico – o “Doutor Psíquico”, como às vezes o chamavam – saiu em meio à névoa e atravessou o minúsculo jardim onde estava um pinheiro morto e um arbusto de louro quase seco. A casa era muito pequena e demorou um tempo até alguém atender à campainha. Então, de repente, uma luz apareceu no corredor e ele viu uma mulher muito bonita parada no último degrau, implorando para ele entrar. Ela

estava vestida de cinza e a luz a gás incidia sobre uma massa de cabelos claros, muito bem escovados. Pássaros empalhados e empoeirados e um conjunto surrado de lanças africanas se penduravam na parede atrás dela. Um porta-chapéus, com uma bandeja de bronze repleta de cartões de visitas muito grandes, conduziu seus olhos rapidamente para uma escada escura. A sra. Pender tinha olhos redondos como os de uma criança e o cumprimentou com tanta simpatia que mal escondia sua emoção, mas ela se esforçava para parecer naturalmente cordial. Ela esperava sua chegada, era evidente, e havia ultrapassado a criada para atendê-lo. Estava um pouco sem fôlego.

Espero que não tenha esperado demais. Acho que é uma bondade imensa do senhor ter vindo… ela começou e então parou de supetão quando viu seu rosto sob a luz.

Havia algo no olhar do dr. Silence que não encorajava a mera conversa. Sua expressão mostrava determinação, como poucos homens tinham.

Boa noite, sra. Pender disse ele, com um sorriso tranquilo que ganhou sua confiança, mas reprovou palavras desnecessárias. A névoa me atrasou um pouco. Estou contente em vê-la.

Eles foram para uma modesta sala de estar nos fundos da casa, bem mobiliada, mas deprimente. Livros se enfileiravam sobre a lareira. O fogo havia acabado de ser aceso e a fumaça se erguia em grandes nuvens pela sala.

A sra. Sivendson disse que o senhor talvez viesse arriscou a mulherzinha novamente, olhando para cima com interesse em seu rosto, traindo sua ansiedade e entusiasmo em cada gesto. Mas quase não acreditei. Acho que é bom demais da sua parte. O caso do meu marido é tão estranho que… bem, o senhor sabe, qualquer médico comum o mandaria imediatamente a um hospício.

Ele não está, então? perguntou o dr. Silence com calma.

No hospício? Ela arfou. Ah, céus, não! Ainda não!

Em casa, eu quis dizer. Ele riu.

Ela deu um grande suspiro.

Ele deve chegar a qualquer momento respondeu, obviamente aliviada por vê-lo rir. Mas não esperávamos o senhor tão cedo. Quero dizer, meu marido pensou que dificilmente viria.

Sempre fico feliz em vir, quando realmente querem e posso ajudar disse ele rapidamente. E, talvez, seja melhor que seu marido não esteja, pois a senhora pode me dizer um pouco sobre as dificuldades dele. Até agora, sabe, não ouvi quase nada.

A voz dela tremeu ao agradecê-lo e, quando ele se aproximou e se sentou ao seu lado, ela teve dificuldade em encontrar palavras para começar.

— Em primeiro lugar — começou tímida, então continuou com uma série de palavras nervosas e incoerentes , ele ficará simplesmente encantado pelo senhor ter vindo, porque disse que é a única pessoa que veria. O único médico, quero dizer. Mas, claro, ele não sabe o quanto estou assustada, ou o quanto eu notei. Ele finge que é apenas um colapso nervoso e tenho certeza que ele não percebe todas as coisas estranhas que o vi fazer. Mas o principal, eu suponho…

Sim, o principal, sra. Pender ele a encorajou, notando sua hesitação.

… é que ele acha que não estamos sozinhos na casa. Isso é o principal. Conte-me mais fatos. Apenas fatos.

Tudo começou no final do verão passado, quando voltei da Irlanda. Ele tinha passado seis semanas aqui sozinho e eu pensei na época que ele parecia cansado e estranho… seu rosto um farrapo e tão disperso, se é que me entende, e abatido. Ele disse que estava escrevendo muito, mas sua inspiração falhou e estava insatisfeito com seu trabalho. Seu senso de humor o havia abandonado, ou se transformado em outra coisa, disse. Havia algo na casa, ele declarou que — ela enfatizou as palavras — o impedia de se sentir engraçado.

Algo na casa que o impedia de se sentir engraçado repetiu o médico.

Ah, agora estamos chegando ao “x” da questão!

Sim prosseguiu ela. Era isso o que ele dizia.

E o que ele fazia, que lhe pareceu estranho? ele perguntou com interesse. Seja breve, pois ele pode chegar antes que a senhora termine.

Coisas muito pequenas, mas para mim eram significativas. Ele parou de trabalhar na biblioteca, como a chamamos, e foi para a sala de estar. Disse que todos os seus personagens saiam errados e medonhos na biblioteca; eles ficaram tão alterados, que ele tinha vontade de escrever tragédias, tragédias

vis, degradadas, tragédias de almas destruídas. Mas agora ele diz o mesmo da sala de estar e voltou para a biblioteca.

Ah!

Veja bem, há tão pouco que posso lhe dizer continuou ela, agora com pressa e incontáveis gestos. São pequenas atitudes e frases que me são estranhas. O que mais me assusta é que ele acha que tem alguém na casa… alguém que eu nunca vejo. Ele não diz exatamente isso, mas nas escadas eu já o vi dando licença para alguém passar; já o vi abrir a porta para deixar alguém entrar ou sair; e no nosso quarto, às vezes, ele coloca cadeiras para alguém sentar. Ah! Ah sim, uma ou duas vezes ela exclamou uma ou duas vezes…

Ela fez uma pausa e olhou em volta com ar assustado.

Sim?

Uma ou duas vezes retomou rapidamente, como se tivesse ouvido um som que a assustava. Eu o escutei correndo; entrando e saindo dos quartos esbaforido como se tivesse alguém atrás dele…

A porta abriu enquanto ela ainda falava, cortando suas palavras no meio, e um homem entrou na sala. Ele era moreno, sem barba, com a pele amarelada, olhos daqueles que possuem muita imaginação e cabelo castanho crescendo escasso nas têmporas. Ele vestia um terno de tweed surrado e usava uma gola de flanela desarrumada no pescoço. A expressão dominante em seu rosto era de espanto – assombro; uma aparência que pode a qualquer momento saltar para a medonha expressão de horror e anunciar uma perda total de autocontrole.

No momento em que viu seu visitante, um sorriso se espalhou por suas feições desgastadas e ele avançou para cumprimentá-lo.

Eu esperava que o senhor viesse. A sra. Sivendson disse que talvez tivesse tempo disse ele apenas. Sua voz era fina e fraca. Estou muito feliz em vê-lo, dr. Silence. É “doutor”, não é?

Bem, tenho direito ao título riu o outro , mas raramente o consigo. Sabe, eu não pratico normalmente; isto é, eu só aceito casos pelos quais tenho um interesse especial, ou…

Ele não terminou a frase, pois os homens trocaram um olhar de compreensão, tornando-a desnecessária.

Ouvi falar de sua grande generosidade.

É meu hobby disse o outro rapidamente e meu privilégio. Espero que ainda pense assim quando ouvir o que tenho a dizer continuou o autor, um pouco cansado.

Eles foram até um pequeno escritório do outro lado do corredor onde poderiam conversar sem perturbações. Lá dentro, por trás da porta fechada e com privacidade, a atitude de Pender mudou, seu jeito ficou muito sério. O médico sentou-se à sua frente, onde poderia observar seu rosto. Notou que já parecia mais abatido. Era muito custoso para ele referir-se ao problema.

O que eu tenho é, em minha opinião, uma profunda aflição espiritual começou Pender, sem delongas, encarando o outro.

Eu percebi imediatamente disse o dr. Silence.

Sim, o senhor percebeu, é claro; deve ser óbvio para qualquer pessoa sensitiva. Além do mais, com tudo que ouvi falar, tenho certeza que senhor é realmente um médico da alma, não é, mais do que do corpo?

Você me coloca em um patamar muito alto respondeu o outro. Embora eu prefira casos, como sabe, onde o espírito é perturbado primeiro, o corpo depois.

Sim, eu entendo. Bem, tenho sofrido de um curioso distúrbio em… não primeiramente em minha região física. Quero dizer, meus nervos estão bem e meu corpo está bem, não tenho ilusões exatamente, mas meu espírito está sendo torturado por um medo catastrófico que veio a mim de um jeito muito estranho.

John Silence se inclinou por um momento e pegou na mão do outro, segurando-a na sua por alguns segundos, e fechou os olhos. Ele não estava sentindo seu pulso, ou qualquer coisa geralmente feita por médicos; apenas absorvia a nota principal da condição mental do homem, para obter um ponto de vista completo e assim tratá-lo com verdadeira compreensão. Um observador perspicaz talvez notasse um leve tremor percorrer seu corpo depois de ter segurado a mão de Pender por alguns segundos.

Diga-me honestamente, sr. Pender disse com calma, soltando a mão, e com atenção especial às suas maneiras. Diga-me todos os passos que levaram a esta invasão. Quero dizer, diga-me qual era a droga em particular, por qual motivo a tomou e como lhe afetou…

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