



O53p Olyott, Stuart, 1942Pregação pura e simples / Stuart Olyott ; [tradução: Francisco Wellington Ferreira]. – 3. reimpr. – São José dos Campos, SP: Fiel, 2018.
157 p.
Tradução de: Preaching pure and simple.
ISB N 9788599145401
1. Pregação. I. Título.
CDD: 251
Catalogação na publicação: Mariana C. de Melo Pedrosa – CRB07/6477
Traduzido do original em inglês:
Preaching Pure and Simple ©2005 by Stuart Olyott.
• Traduzido e impresso com permissão de Bryntirion Press - País de GalesReino Unido.
• Copyright © 2008 Editora Fiel 1ª Edição em Português - 2008
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária
Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
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Diretor: Tiago J. Santos Filho
Editor: Tiago J. Santos Filho
Tradução: Francisco Wellington Ferreira
Revisão: Laura Macal e Marilene Paschoal
Capa e diagramação: Edvânio Silva
ISBN: 978-85-99145-40-1
Caixa Postal, 1601 CEP 12230-971
São José dos Campos-SP PABX.: (12) 3919-9999 www.editorafiel.com.br
Este livro é dedicado à memória de Hugh David Morgan (1928-1992),
que já foi descrito como
“o pastor mais amado do País de Gales”
John está em seus vinte anos de idade e Jack tem quase cinquenta, mas se tornaram bons amigos. Eles não se conheciam, até se encontrarem em uma série de seminários mensais sobre pregação, em uma cidade vizinha. Essas reuniões mensais lhes proporcionaram não somente uma nova amizade, como também mudaram as suas vidas para sempre.
Antes de assistir aos seminários, John nunca havia pregado. Ele pensara no assunto por muito tempo, mas nunca soubera como começar. Mas, o que é realmente pregar? Qual a diferença entre um sermão e uma palestra? Por que algumas pregações são poderosas e cativantes, enquanto outras são enfadonhas e monótonas? Quais os elementos essenciais de um bom sermão? Os seminários responderam as perguntas de John e o colocaram no rumo certo. Hoje, ele prega com regularidade e seu ministério realiza uma boa obra espiritual.
A história de Jack é muito diferente. Antes de assistir aos seminários, ele estivera envolvido na pregação por mais de vinte anos. Apesar disso, sentia que precisava melhorá-la. Havia lido alguns livros sobre o assunto e buscara o conselho de algumas pessoas. Por que os seus sermões pareciam não alimentar ninguém? Por que as pessoas se desligavam mentalmente, quando ele ainda estava nos minutos iniciais de seu sermão? E, o que é mais importante, por que Jack conhecia tão poucas pessoas transformadas por seus sermões? Os seminários trouxeram-lhe alívio intenso, colocando tudo em ordem ao fazerem-no livrar-se de coisas desnecessárias, preservando as essenciais. Agora, muitas pessoas agradecem ao Senhor pela poderosa pregação de Jack.
Os seminários foram bem modestos. Cada um deles consistia em uma palestra introdutória que não apresentava nenhuma novidade e devia muito ao discernimento de outros. Então, era seguido por perguntas e meia hora de discussão orientada. Mas, os Johns e os Jacks que frequentaram aquelas reuniões se referem a elas com frequência e usam o material dos seminários para avaliarem não somente a si mesmos, mas também uns aos outros. Eles pediram que a essência do que aprenderam fosse colocada na forma de um livro. Eis o livro.
Stuart Olyott
Movimento
Evangélico
Bryntirion, Bridgend Novembro de
2004
do País de Gales
Sealguém gastasse uma semana lendo toda a Bíblia e, na semana seguinte, se familiarizasse com os principais acontecimentos da história da igreja, o que observaria? Que a obra de Deus no mundo e a pregação estão intimamente ligadas. Onde Deus age, ali a pregação floresce. Em todos os lugares em que a pregação é menosprezada ou está ausente, ali a causa de Deus passa por um tempo de improdutividade. O reino de Deus e a pregação são irmãos siameses que não podem ser separados. Juntos, eles permanecem de pé ou caem.
O que isto significa para nós? Significa que, se temos um desejo sério de ver Deus sendo adorado mais do que Ele realmente o é, precisamos nos interessar ardentemente pelo assunto da pregação. Isto será verdade, quer sejamos pregadores, quer não. Se pregamos, desejaremos fazê-lo melhor. Se não pregamos, desejaremos fazer tudo o que pudermos para ajudar e encorajar aqueles que pregam.
Então, o que é pregação? Ficamos admirados ao observar quão poucas pessoas são capazes de apresentar uma resposta exata a esta pergunta. Isto é verdade até entre aqueles que pregam durante muitos anos! O problema é que muitas pessoas têm formulado sua ideia de pregação a partir do que ouvem e lêem, e não a partir de um estudo atencioso das Escrituras.
Quatro palavras do Novo Testamento que significam pregar
O Novo Testamento descreve a pregação usando mais de sessenta ma-
neiras diferentes, porém reserva um lugar especial para quatro palavras.1 Ao escrever sobre elas, usarei a sua forma verbal, mas terei em mente outras palavras da mesma família. Por exemplo, quando uso kerusso (“pregar”), também tenho em mente kerygma (“a mensagem pregada”) e keryx (“um arauto”). Portanto, consideremos estas quatro palavras e vejamos de que forma elas nos ajudam a compreender o que é pregação. Talvez alguns de nós devamos nos preparar para uma surpresa!
(1) kerusso
Nenhuma outra palavra que significa pregar é mais importante do que esta. Ela sempre nos ocorre quando falamos sobre pregação. É usada mais de sessenta vezes no Novo Testamento. Significa “declarar, como o faz um arauto”. Refere-se à mensagem de um rei. Quando um soberano tinha uma mensagem para seus súditos, ele a entregava aos arautos. Estes a transmitiam às pessoas sem mudá-la ou corrigi-la. Simplesmente transmitiam a mensagem que lhes havia sido entregue. Os ouvintes sabiam que estavam recebendo uma proclamação oficial.
O Novo Testamento usa este verbo para enfatizar que o pregador não deve anunciar sua própria mensagem. Ele fala como porta-voz de Outrem. A ênfase desta palavra está na transmissão exata da mensagem. O pregador não fala com sua própria autoridade. Ele foi enviado e fala com a autoridade dAquele que o enviou. Palavras da família de kerusso são usadas para descrever a pregação de Jonas (Mt 12.41), de João Batista (Mt 3.1), de nosso Senhor Jesus Cristo (“proclamar” e “apregoar” — Lc 4.18b-19) e de seus apóstolos (“pregador” — 1 Tm 2.7; 2 Tm 1.11).
(2) euangelizo
Esta é a palavra da qual obtivemos a nossa palavra “evangelizar”. O verbo grego significa “trazer boas notícias” ou “anunciar boas-novas”. Em Lucas 2.10, onde lemos que o anjo disse: “Eis aqui vos trago boa-nova...”, ele usou este verbo. Mas é importante observar que kerusso e euangelizo não significam algo totalmente diferente. Muitas pessoas abraçaram a ideia de que esses verbos falam sobre duas atividades separadas. Apegaram-se a esta ideia
sem estudar as Escrituras, para saber o que elas dizem a respeito do assunto. Assim, desenvolveram pontos de vista errados quanto à pregação.
Precisamos considerar com atenção Lucas 4.18-19. Estes versículos descrevem nosso Senhor falando na sinagoga de Nazaré, a cidade da Galileia na qual Ele fora criado. Nosso Senhor começou a sua mensagem lendo o profeta Isaías. Ele escolheu uma passagem que, centenas de anos antes, predissera o seu ministério. Não há dúvida de que sua leitura ocorreu em língua hebraica, mas Lucas narrou o acontecimento usando a língua grega. No versículo 18a, “evangelizar” é uma forma do verbo euangelizo, enquanto nos versículos 18b e 19, “proclamar e anunciar” são formas do verbo kerusso. Nosso Senhor usou ambos os verbos para descrever seu ministério. Ao fazer um, Ele fazia também o outro. “Proclamar” é “evangelizar”, que, por sua vez, é “proclamar”!
“Evangelizar” pode até ser usado em referência a algo que fazemos aos crentes! Isto pode ser visto, por exemplo, em Romanos 1.15. Depois de saudar os seus leitores, que eram crentes, no versículo 7, e de apresentar as informações dos versículos 8-14, Paulo continuou: “Quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros que estais em Roma”. A expressão “anunciar o evangelho” é uma tradução do verbo euangelizo. Paulo iria a Roma para evangelizar aqueles que já eram convertidos! É tempo de pensarmos novamente a respeito de como usamos nossas várias palavras que expressam a ideia de pregar.
Este verbo significa “dar testemunho dos fatos”. Hoje, porém, quando os crentes falam sobre testemunhar, o que eles geralmente querem dizer? Com frequência, usam esta palavra a fim de descrever aqueles momentos em que contam aos outros sua experiência pessoal com o Senhor. Na Bíblia, martureo não é usado dessa maneira, em nenhuma ocasião. Muito frequentemente, esse verbo é usado ao dar testemunho no tribunal. Em outras ocasiões, martureo é usado com o sentido de invocar a Deus (ou mesmo pedras) para testemunhar algo. Esse verbo se refere completamente à objetividade, e não à subjetividade; refere-se a contar às pessoas fatos e
acontecimentos, e não os meus sentimentos ou o que aconteceu a mim.
Quem já tomou tempo para estudar a Septuaginta (a antiga tradução grega do Antigo Testamento) sabe que as afirmações do parágrafo anterior são verdadeiras. Um estudo do Novo Testamento nos leva rapidamente à mesma conclusão. No relato de João, quando a mulher samaritana usou martureo (“anunciara” — Jo 4.39), ela se referiu ao conteúdo de uma conversa. Em 1 João 1.2, quando o apóstolo empregou martureo (“damos testemunho”), ele falava do que vira e ouvira. Em Atos 26.5, quando Paulo usou martureo (“testemunhar”), ele o fez porque estava apelando a um testemunho diante de uma corte.
Mas, ao estudarmos esta palavra, existe uma passagem que é sobremodo relevante. A passagem é Lucas 24.44-48. Nestes versículos, nosso Senhor ressuscitado está dizendo aos discípulos o que deveriam fazer. Deveriam sair por todo o mundo pregando (kerusso) o arrependimento e a remissão dos pecados (v. 47 — “pregasse”) e sendo testemunhas (uma palavra da família de martureo) dos grandes fatos do evangelho, que eles mesmos presenciaram (v. 48). Aqueles que proclamam dão testemunho; e aqueles que dão testemunho proclamam. E, se olhássemos Mateus 28.20, perceberíamos que os receptores da Grande Comissão também deveriam ensinar (didasko).
A que conclusão chegamos? Aprendemos que kerusso não é algo separado de euangelizo. Também aprendemos que kerusso não é algo separado de martureo. E agora temos aprendido que kerusso e martureo não são atividades divorciadas de didasko — nossa quarta grande palavra — à qual nos volveremos em seguida.
Por favor, observe: não estou dizendo que estas palavras são intercambiáveis. Estou mostrando que, ao fazermos algumas destas coisas, fazemos também as outras — visto que pregar inclui todas elas! Este é um argumento que não podemos enfatizar demais. Adiante, ressaltaremos novamente este argumento. Por enquanto, devemos considerar nossa quarta palavra.
4) didasko
Esta palavra significa “pronunciar em termos concretos o que a mensagem significa em referência ao viver”. É um erro grave separar kerygma (uma
palavra da família de kerusso) de didache (uma palavra da família de disdasko). Não são apenas os teólogos eruditos que têm procurado fazer isso, pois há inúmeros crentes, em nossas igrejas, que fazem uma clara distinção entre uma “mensagem evangelística” e uma “mensagem doutrinária”. Logo falaremos um pouco mais sobre isso.
“Pronunciar em termos concretos o que a mensagem significa em referência ao viver” não deve ser um mero acréscimo à nossa pregação; deve ser uma parte da mensagem que proclamamos. Isto pode ser comprovado ao lermos Atos dos Apóstolos. Em Atos 5.42, lemos que os apóstolos não cessavam “de ensinar e de pregar” (didasko e euangelizo) a Jesus, o Cristo. Em Atos 15.35, lemos que Paulo e Barnabé demoraram-se em Antioquia, “ensinando e pregando” (didasko e euangelizo), a palavra do Senhor. Em Atos 28.31, lemos que Paulo usou sua casa em Roma para pregar e ensinar (kerusso e didasko). Precisamos ser sensíveis ao vocabulário do relato inspirado. Quando alguém faz o que significa um desses verbos, essa pessoa está fazendo, ao mesmo tempo, o que significa algum outro deles!
Precisamos dizer mais do que isso. Se compararmos Atos 19.13 com Atos 19.8, veremos que Paulo, ao pregar (kerusso) em Éfeso, também “falava ousadamente, dissertando e persuadindo”. Desta maneira, Lucas nos mostra que, quando alguém prega (kerusso), está fazendo muito mais do que os outros três verbos expressam. Seguir esta linha de pensamento nos levaria a um estudo que vai além do escopo deste livro. Mas, antes de deixarmos Atos dos Apóstolos, devemos observar Atos 20.24-25. Nesta passagem, Paulo explicou aos presbíteros de Éfeso que dar testemunho solene do evangelho (“testemunhar” — uma palavra da família de martureo) foi algo que ocorreu enquanto ele esteve “pregando” (kerusso).
O que isto significa para nós
Estamos em perigo de dar muita atenção aos detalhes e não entender o que é realmente importante. Que argumento estamos, de fato, procurando estabelecer? É este: quando alguém prega, não importa o lugar em que esteja ou para quem está falando, está fazendo todas as quatro coisas que menciona-
mos. No Novo Testamento, não temos uma palavra que signifique pregar para o perdido e outra que signifique pregar para o salvo. Simplesmente não encontramos mensagens conhecidas como “mensagens doutrinárias”, enquanto outras são conhecidas como “mensagens evangelísticas”. Alguns leitores podem achar isto desagradável, mas não podemos alterar o que a Bíblia diz. A pregação, toda a pregação, envolve fazer quatro coisas de uma vez.
Se pudermos entender isso, muitas passagens das Escrituras nos atingirão de maneira diferente. Um bom exemplo é 2 Timóteo 4.1-5. Nestes versículos, Paulo escreveu suas palavras finais a alguém que, mesmo sendo jovem, já era um importante líder cristão. Paulo o instrui solenemente a pregar “a Palavra”! Nesse ponto, ele usou o verbo kerusso. Mas, por que Timóteo devia fazer isso? Por que viria o tempo em que as pessoas não suportariam a sã “doutrina” (uma palavra da família de didasko) e se cercariam de “mestres” (outra palavra da família de didasko). É óbvio que Paulo estava dizendo a Timóteo que pregar (kerusso) é a maneira de ensinar (didasko) a igreja e protegê-la do erro.
Mas isso não é tudo. Paulo exortou Timóteo a fazer o trabalho de um “evangelista” (uma palavra da família de euangelizo). É claro que Paulo queria dizer que, à medida que Timóteo pregasse (kerusso) e, consequentemente, ensinasse [didasko], deveria assegurar-se de que o verdadeiro evangelho (euangelizo) fosse mantido em primeiro plano. Assim, em um único parágrafo, vemos que três de nossas quatro palavras foram usadas para descrever a tarefa de Timóteo. Se ele era um verdadeiro pregador, não faria apenas uma dessas coisas e sim todas elas. Onde quer que encontremos a verdadeira pregação, várias coisas acontecem ao mesmo tempo.
Se não levarmos isso em conta, jamais seremos verdadeiros pregadores. Temos de nos livrar da ideia de que existem dois tipos de pregação: uma que é adequada ao não-convertido e outra que é conveniente para o convertido. De agora em diante, temos de rejeitar o pensamento de que pregar para o perdido e pregar para o salvo são dois fenômenos distintos. Não devemos estabelecer uma divisão entre um tipo e outro de pregação. Toda pregação é uma proclamação da salvação (no pleno sentido desse termo) a homens e mulheres, rapazes e moças. É verdade que a audiência pode ser constituída de pessoas
muito diferentes. É verdade que os não-convertidos e os convertidos não têm as mesmas necessidades. Portanto, é verdade que a maneira como a Bíblia é aplicada pode variar consideravelmente. Mas não é verdade que a pregação ministrada aos não-convertidos possui uma natureza diferente da pregação apresentada aos convertidos. A ideia de que há dois tipos distintos de pregação (e de que algumas pessoas são boas para um tipo de pregação; e outras pessoas são boas para outro tipo de pregação) está impedindo as pessoas de todos os lugares a entenderem o que é a verdadeira pregação.
Então, o que é pregação? A pregação, toda a pregação, é constituída de quatro coisas:
1. É proclamar a mensagem dada pelo Rei (kerusso). Isto nos fala sobre a fonte da mensagem e a autoridade que a acompanha.
2. É anunciar boas-novas (euangelizo). Isto nos fala sobre a qualidade da mensagem e o espírito com que ela é apresentada.
3. É dar testemunho dos fatos (martureo). Isto nos fala sobre a natureza da mensagem e a base na qual ela está construída.
4. É um esclarecimento das implicações da mensagem (didasko). Isto nos fala sobre o alvo da mensagem (a consciência do ouvinte) e a medida do seu sucesso (ela muda a vida de alguém?).
Enquanto não estivermos esclarecidos quanto a este assunto, nunca teremos pregado realmente, de modo algum. Portanto, a fim de tornar as coisas tão claras quanto possível, você virá comigo a uma igreja local? Ela não possui muitos membros, e, conforme pensamos, todos eles são verdadeiros crentes. Quando subo ao púlpito a fim de pregar para eles, o que faço?
Primeiramente, toda a minha mensagem é obtida nas Escrituras. Não a invento. Descobrirei o que o Rei afirma em sua Palavra e mostrarei isso aos membros da igreja. Isto é kerusso.
Talvez eu tenha de falar ousadamente sobre o pecado deles. Estas serão más notícias. Mas não os deixarei confusos, em desespero. Eu lhes
mostrarei como a passagem os leva a Cristo, dizendo-lhes como Ele é, e o que fez em benefício dos pecadores. Isso afetará o modo como tudo é anunciado. Antes de terminar o culto, eles terão ouvido as boas-novas da graça de Deus. Isto é euangelizo.
Minha mensagem lhes falará sobre a data e os tempos do livro bíblico que estamos considerando; eu lhes darei abundância de informações factuais, quer sejam acontecimentos, geografia, cultura ou outras coisas. E o melhor de tudo: eles ouvirão novamente os grandes fatos da encarnação, da vida, morte, ressurreição e ascensão do Senhor Jesus Cristo. Não os deixarei tateando em um mundo abstrato. Isto é martureo.
Falarei diretamente à consciência deles. Mostrarei o que a passagem significa, mas não pararei ali. Eu lhes mostrarei o que a passagem significa para eles. E saberão de que maneira a passagem exige uma mudança em sua vida. Em nome de Cristo, insistirei no arrependimento. Apresentarei instruções práticas fundamentadas na Bíblia. Por último, lhes recordarei como eles prestarão contas a Deus mesmo. Isto é didasko.
Ao final, terei pregado porque fiz as quatro coisas que a Palavra de Deus exige de mim. E voltarei para casa. Contudo, no caminho de volta, encontrarei alguns adolescentes nas ruas. E, visto que vocês estão comigo, pararemos para conversar com eles. Vocês e eu sabemos que temos de suportar alguns momentos de insensibilidade. Também sabemos que eventualmente eles concordarão em ouvir o que temos a dizer-lhes. Então, onde começaremos?
Não inventarei o que devo dizer-lhes. Talvez não possamos abrir nossa Bíblia diante deles, mas tudo que dissermos virá do Livro. Transmitiremos, tão fielmente quanto possível, o que o Rei tem a dizer a jovens como esses. Isto é kerusso.
É claro que nos concentraremos nas grandes verdades do evangelho. Nós lhes falaremos a respeito de Deus, de suas exigências, do seu Filho, da necessidade de que se arrependam e creiam. Falaremos sobre a ira de Deus. E, com alegria, lhes proclamaremos o amor de Deus e o que Ele fez na cruz. Amaremos esses jovens enquanto conversarmos com eles. E todos eles saberão que a nossa mensagem é boas-novas. Isto é euangelizo.
Não seremos desviados de nossa tarefa. Contaremos a eles os fatos so-
bre a existência de Deus, o pecado deles, a vinda de Cristo, a sua expiação e a sua ressurreição, o fim do mundo e o que Deus promete àqueles que se convertem a Ele. Isto é martureo.
Incutiremos nossa mensagem com toda a energia que pudermos. Explicaremos que eles se perderão eternamente, se permanecerem como são. Nós lhes ordenaremos, exortaremos, convidaremos e apelaremos a que se arrependam de seus pecados e convertam-se a Cristo. Diremos a eles que não há nada mais importante do que isso. Insistiremos que precisam se arrepender e voltar-se para Cristo agora. Isto é didasko.
Assim, tanto na igreja como nas ruas, teremos feito as mesmas quatro coisas — kerusso, euangelizo, martureo, didasko. Daremos apenas um sermão, mas teremos pregado duas vezes! Passaremos por duas situações bem diferentes: uma na igreja, outra na rua. Falaremos a pessoas que são muito diferentes umas das outras, mas cujas necessidades profundas são as mesmas. Faremos aplicações diferentes. Experimentaremos resultados diferentes. Mas não teremos feito duas coisas diferentes. Apesar das diferenças enormes, no que concerne às situações, em ambas teremos pregado!
Algumas das características-chave da pregação do Novo Testamento
Portanto, já ficou claro o que significa a pregação. Agora, sabemos o suficiente sobre ela para descobrirmos se estamos realmente pregando ou não. Também já sabemos a respeito do espírito em que ela deve ser realizada. Mas seria errado terminar um capítulo introdutório como este, sem observarmos que o Novo Testamento enfatiza três características particulares da verdadeira pregação.
1) Compulsão
A primeira é compulsão. Existe algo no íntimo do pregador que o impulsiona à sua obra. Ele possui um constrangimento interior que é maior do que ele mesmo. Em seu coração, há um fogo que se recusa a extinguir-se. Ele não pode deixar de pregar. Ele tem de pregar. E clama: “Ai de mim, se não O que é Pregação?
pregar o evangelho!” (1 Co 9.16). Quando ordenado a parar, o pregador declara como os apóstolos: “Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (At 4.20). Ele tem um senso de vocação que não encontra dificuldade para entender o que significavam as palavras de seu Senhor, quando disse: “Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim” (Mc 1.38).
Onde não existe essa coerção interior, também não existe um verdadeiro pregador. Na Bíblia, o homem que proclama, anuncia, dá testemunho dos fatos e deseja atingir a consciência é um homem impulsionado. Nos recessos de sua alma, Deus o conquistou, e esse homem vive cada hora com a consciência de que foi enviado. A experiência é tão profunda que ele não encontra palavras para descrevê-la. O melhor que ele pode fazer é conversar a respeito do seu “chamado”, embora nunca tenha escutado uma voz ou recebido uma visão.
Em circunstâncias normais, o “chamado” do pregador é reconhecido, de um modo ou de outro, pela igreja de Jesus Cristo. Este reconhecimento é designado, frequentemente, de “chamado exterior”. Seria anormal um homem continuar pregando sem esse chamado. Todavia, muitas vezes, as igrejas evangélicas possuem tão pouco discernimento e maturidade; são tão mundanas e dominadas pelo pecado, que são incapazes de reconhecer um homem enviado dos céus. O homem que é verdadeiramente chamado não desistirá por causa disso. O fogo dado por Deus arderá tão intensamente como sempre ardeu. A energia interior impelirá esse homem. Ele pregará, pregará e pregará de novo, porque a compulsão de seu íntimo é invencível e o deixará sem opções.
2) Clareza
A segunda característica-chave é clareza. E tem de ser! Os arautos sempre falam na linguagem das pessoas que os ouvem. A boa-nova apresentada com palavras e frases difíceis não é boa-nova. Se os fatos são mostrados sem clareza parecerão ficção. E como alguma coisa pode ser incutida na consciência, se não pode ser entendida?
Os verdadeiros pregadores são pregadores de linguagem clara. Declaram a palavra do Rei; por isso, não atraem a atenção para si mesmos. Não
permitem que nada obscureça a mensagem da cruz. Anseiam que cada ouvinte grave os fatos e não seja distraído pela maneira como estes são apresentados. Mostram-se resolutos a fazer com que ninguém tenha dúvidas quanto ao que se espera deles em seguida.
O apóstolo Paulo falou por todos os verdadeiros pregadores da Palavra, quando descreveu a sua pregação como uma proclamação franca da verdade (2 Co 4.2). Ele decidiu “pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo” (1 Co 1.17). Eis uma descrição de seu ministério:
Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus. (1 Co 2.1-5.)
A terceira característica-chave é a centralidade de Cristo. E tem de ser. Isto é verdade, porque os pregadores são arautos da Escritura. E toda a Escritura fala sobre a pessoa de Cristo. Implícita ou explicitamente, direta ou indiretamente, cada parte da Bíblia nos revela Cristo. Em toda a Escritura, não há qualquer passagem que seja uma exceção.
O Espírito de Cristo moveu todos os autores do Antigo Testamento a escreverem os seus livros (1 Pe 1.10-12). O próprio Senhor Jesus esclareceu o Antigo Testamento para os seus discípulos e lhes explicou que Ele estava contido em cada parte das Escrituras (Lc 24.25-27, 44-48). Jesus é o grande assunto dos quatro evangelhos, de Atos dos Apóstolos, de todas as epístolas e do Apocalipse. Então, o que diremos a respeito de um pregador que abre a sua Bíblia e não prega a Cristo com base na passagem que tem diante de si? Esse pregador não entendeu o Livro; e, se não o entendeu, não deveria estar pregando! O que é Pregação?
O Senhor Jesus Cristo é o conteúdo e o centro de tudo o que Deus revelou em sua Palavra. Jesus é o foco da história bíblica. É o âmago de todos os escritores sagrados, desvendando-se a Si mesmo à mente deles e guiando os seus escritos. Ele se revela nas páginas das Escrituras a cada pessoa que comissionou, pessoalmente, ao ministério da pregação. Onde Cristo não é pregado, ali não existe pregação.
Por que este livro possui esta estrutura
Com todas estas coisas em mente, estamos em condições de entender por que este livro possui esta estrutura. Agora, sabemos o que significa a pregação. Temos visto três das suas características-chave. Então, como pregar com determinação? Como podemos ter certeza de que estamos pregando corretamente?
Não é difícil responder a estas perguntas. Reconhecendo que somos arautos do Rei e que em seu Livro está escrito tudo que Ele tem a dizer-nos, não pode haver nada mais importante do que obter o seu significado correto. E não obtemos este significado, se não vemos a Cristo nas páginas das Escrituras. Pregar requer exatidão exegética.
A Bíblia é um livro completo. Nada lhe pode ser acrescentado. Se isto é verdade, podemos estudá-la e desenvolver o que ela ensina a respeito de um assunto específico. Ao estudá-la, descobrimos que ela ensina um sistema completo de doutrina, que revelo em qualquer passagem sobre a qual eu prego. Por isso, tenho de mostrar às pessoas que sistema é esse. Pregar exige conteúdo doutrinário.
Mas, não aprendemos que a clareza é uma das características-chave da pregação bíblica? Podemos dizer que uma mensagem é clara, se temos dificuldade em acompanhá-la e não podemos recordá-la? Pregar exige clareza na estrutura. E, por essa mesma razão, requer ilustrações vívidas.
Não devemos esquecer que a Palavra do Rei, as boas-novas, entretecida nos fatos, tem de atingir a consciência (didasko). Ela insiste que todo ouvinte corrija o seu viver. Pregar requer aplicação penetrante.
Aconteça o que acontecer, a mensagem divina tem de alcançar seu alvo.
O que é Pregação?
Não devemos permitir que nada lhe obstrua o seu objetivo. A maneira como um pregador fala e se movimenta pode ser uma ajuda ou um obstáculo. Pregar exige uma pregação eficiente.
Por causa do fogo interior que se recusa a apagar-se, o pregador se envolverá emocionalmente com os seus ouvintes. O pregador falará a palavra do Rei em nome dEle, mas não desejará fazer isso sem experimentar a presença e a bênção do Rei. Na verdadeira pregação, há uma dimensão que não ousamos desprezar. Pregar requer autoridade sobrenatural.
Estes são os elementos que constituem a verdadeira pregação. Não basta ter a maioria deles; precisamos de todos eles. Também precisamos de um método de preparar sermões que, enquanto possível, nos proporcione estes elementos. Por isso, nosso livro termina com uma sugestão de um método de preparação de sermões.
Notas:
1 Minha atenção foi atraída, pela primeira vez, a estas quatro palavras pela leitura do clássico Preaching and Biblical Theology (Pregação e Teologia Bíblica), escrito por Edmund P. Clowney (London, The Tyndale Press, 1962), p. 54-59.
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