Diário da Manhã
OPINIÃOPÚBLICA
GOIÂNIA, SEXTA-FEIRA, 29 DE JULHO DE 2011
OPINIÃOPÚBLICA Editora: Sabrina Ritiely
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CANÇÃO SOZINHA À LIBERDADE Batista Custódio Especial para OPINIÃOPÚBLICA
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UITOS bebem etílicos para aguentar a angústia das traições amorosas. Outros bebem alegrias nas festas para esquecer a felicidade que foi embora nas saudades que ficaram crescendo na tristeza. Tantos bebem alívio no Prozac para sobreviver ao tédio matando na alma. Uns bebem ilusões nas conversas de bares para curtir os sonhos não vindos na vida. Eu bebo música para suportar as decepções na solidão das lutas. Todos têm a sua hora na canção sozinha da desarrumação íntima e cada um se acode a seu modo no sentimento que o isola daquela sofreção. Às vezes o mundo nos dói insuportável nas perdas inevitáveis. Mas devemos bendizer a tritura dos infortúnios, pois os trouxemos na escrita do nosso destino. Portanto, no bem que se mostra antes pode se esconder o mal que se revelará depois, ou estar no que nos sacrifica hoje a nossa salvação amanhã. As quedas nas adversidades são fases salutares para o nosso aprimoramento nas etapas das subidas no roteiro do triunfo para a nossa consagração. Então as percas são mais intensas ou menos consistentes na existência humana. Mas cada pessoa padece com a mesma densidade as flagelações e cada qual reage na medida do grau da resistência de seu feitio moral.
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EU ofício é o idealismo sem pausa e escravo das virtudes do caráter sem alforria no trabalho dificultado na construção da liberdade de imprensa. Não culpo a ninguém pela reincidência das armações de reveses que quase me destroem no rigor das atrocidades. Debito-me o amargor das agonias como provações que terei de beber solitariamente na taça das ideias que me romantizam na voluntária excludência das tentações dos poderes terrenos, vencidas uma a uma por esse cativo espontâneo do Cristianismo.
Nasci herdeiro de latifúndios e cresci rejeitando riquezas na vocação jornalista; vivi a paixão na imprensa e perdendo mulheres no coração; morrerei na imprensa independente e suspirando dores nos sonhos feridos. Não mando na minha vida. O destino decide-me. O que me vier para a pessoa é o que Deus quiser de mim no espírito. Como chama ao sopro dos ventos, vou respirando a liberdade incorporado na inspiração, e o pensamento faz-me condor voando poemas no que sou gente.
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jornalismo é o meu ninho habitado nas asas viajando nos infinitos da mente e bebendo conhecimento nos sábios pousados no teto da posteridade. Não fico parado no meu tempo. Arrebato-me para a companhia do jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, participo de sua luta pela Independência, frequento em 1829 a redação do jornal Observador Constitucional denunciando na primeira edição “os desmandos e os excessos cometidos pelos governantes” e advertindo que “não deveria vegetar no Brasil a planta do despotismo”. Emociona-me a leitura de um artigo de Líbero Badaró em defesa da liberdade de imprensa. Manteve-se idealista republicano até ser assassinado em São Paulo por ordem do imperador Pedro I e tombou dizendo: “Morre o liberal, mas não morreu a liberdade.”
Michelangelo A criação das estrelas e dos planetas
de Março de ser editado. E o mantive circulando durante os oito meses de dentro do Cárcere do DI. “As melhores coisas sobre a liberdade têm sido escritas no cárcere” (Sófocles – Atenas, 406 a.C a 495 a.C –, festejado como o maior poeta trágico da Grécia Antiga e autor da obra-prima Édipo Rei. Filósofo, acreditava que o homem está no centro do mundo e no poder invisível dos deuses). Na democracia, o autoritarismo de um governo goiano coagiu um juiz de direito a decretar a falência do Diário da Manhã. O jornal foi fechado, mas não fecharam o sonho da imprensa livre na minha cabeça. “Onde mora a liberdade, ali está a minha pátria” O jornal que (Benjamim Franklin – Boston, 1706 a 1790 –, jornalista, tirava o sono escritor, cientista, inventor, líder da Revolução Americados corruptos na, fundador do Almanaque do Pobre Ricardo e expoente Os dias são frações do do Iluminismo). tempo na facção dos mandatários impositivos. Um liberdade é o oxigênio governo estadual prendeuda vida e nenhum pome e fechou o Cinco de vo é soberano se não está liMarço na ditadura militar. vre para pensar. Os luminaReabri-o. Ao sair a primeira res da inteligência honesta edição, o coronel-governa- nas civilizações definem a dor mandou oficiais da Po- independência de opinião lícia Militar empastelarem como a ética da cidadania. as oficinas do semanário “Só conheço uma liberque tirava o sono dos cor- dade, e essa é a liberdade ruptos às segundas-feiras e do pensamento” (Antoinematarem-me. Reconstituí o Jean-Baptiste-Roger Foscoparque gráfico. Dois outros lombe de Saint-Exupery – governadores prenderam- Lion, 1900 a 1944 –, piloto me para impedir o Cinco herói da Segunda Guerra
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Continua
A minha imagem de Deus é Luz
Mundial e autor de O Pequeno Príncipe). “Quando a imprensa não fala, o povo é que não fala. Não se cala a imprensa. Cala-se o povo” (William Blake – Londres, 1757 a 1827 –, poeta, marcado pelo Iluminismo e pela Revolução Industrial da Inglaterra; sua literatura era romântica e denunciava a negatividade da Igreja Anglicana e do Estado ante a pobreza e a injustiça social; atualmente é reconhecido como um santo pela Igreja Gnóstica Católica). “A imprensa é o dever da verdade. A busca da verdade é a meta principal da imprensa. A imprensa é a vista da Nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa e se acautela do que a ameaça” (Ruy Barbosa de Oliveira – Salvador, 1849 – Petrópolis, 1923 –, o gênio e o estadista empatavam-se na sabedoria e no idealismo na grandeza humana de sua biografia como o resumo que sintetiza a retidão da coerência entre os atos e as palavras do civilismo na história da república brasileira. Nas duas derrotas como candidato a presidente ou nas vitórias como senador, ministro ou no exílio,
Ruy Barbosa foi o monumento universal do apogeu da inteligência na vida pública dos líderes brasileiros e, pelo brilhantismo de sua eloquência no voo das ideias na 2ª Conferência de Paz de Haia, foi condecorado com o título de Águia de Haia. Fisicamente, a sua cabeça era desproporcional ao corpo, como se nele a vida quisesse demonstrar para as pessoas que a única função do corpo é a de carregar o cérebro na cabeça. Jornalista enciclopédico do idioma português, seus textos para a imprensa eram no estilo de escritor no Jornal do Brasil, no Diário de Notícias e no Imprensa, e, sobretudo, respeitado como mestre pelos intelectuais que o elegeram para suceder Machado de Assis na presidência da Academia Brasileira de Letras).
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S pensadores é que movem o mundo do atraso para a modernidade, através da clarividência dos filósofos do descortínio dos sábios do pensamento, para as descobertas dos inventos dos cientistas. “A imprensa é a artilharia da liberdade” (Hans-Dietrich Genscher, ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, consagrou-se como um iluminado focado na irradiação da liberdade como a única forma prática de soberania para todos os povos. Promoveu a pacificação entre a Alemanha Oriental e a
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