Diário da Manhã
ESPECIAL
GOIÂNIA, SÁBADO, 4 DE OUTUBRO DE 2014
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A VIDA MANDA-ME DIZER A LINHA DO CAOS
Batista Custódio
Editor-geral do Diário da Manhã
ERCEBO delinear-se no semblante das pessoas a sensação de que alguma coisa acabou, como se doesse nos rostos o tapa da consciência. E é. A vida perdeu a paciência com os que não cuidam dela. E passou a bater castigos neles. O mundo se enfezou com as autoridades que criam nele sofrimento para os humildes na Terra. E começou a tirar o poder delas. A natureza se embrabeceu com os devastadores e principiou o remanejamento das quatro estações do ano para períodos diferentes nas regiões. E secaram-se nas insolações os lugares férteis em água e inundaramse nas chuvaradas os locais áridos. A Humanidade continua persistindo no egoísmo irracional do materialismo ganancioso, destruindo sonhos, devorando honras, legalizando crimes, roubando nações, matando esperanças, semeando ódios, plantando misérias e gente consumindo gente nas colheitas de fortunas. E a pobreza moral se fez transparente nas riquezas feitas na corrupção. O enriquecimento pessoal cresceu na proporção do empobrecimento espiritual. E o Universo interviu no Planeta. Então a impressão que figura no subconsciente de que algo se findou não é imaginária. É a pessoa ouvindo sua alma. O cérebro é conectado com o Universo e capta as mudanças cosmológicas da evolução contínua da vida. E gravitamos em sua órbita. As convulsões desses anos duros que flagelam a humanidade em toda a Terra não acontecem por acaso. Marcam o início dos ciclos da depuração que enquadrará a atual civilização nos princípios da ética. Fechou-se a época de remendos no velho. Abriu-se a era do original no novo. E é a contagem regressiva no prazo de saída do falso na pontuação da data de chegada do verdadeiro.
P
A VOZ DAS SAUDADES PRESSINTO pairar-se no sentimento coletivo a falta de alguma emoção no gosto da saudade, como se fosse a memória parada na recordação buscando velhas lembranças. Sente-se essa nostalgia das cidades na descrença das ruas. Entreouve-se esse pesar dos campos nas reclamações dos sertanejos inconformados nas estradas. Manifesta-se essa melancolia na apatia dos eleitores de votarem nas próximas eleições, ante o descrédito dos políticos. Exalta-se essa nostalgia nas multidões das passeatas peregrinando nas romarias das reminiscências, a procura de patriota para pôr no andor das saudades. E são muitas as saudades no coração do povo. Saudade dos honestos como Juscelino Kubitschek, que construiu um novo Brasil, e como Pedro Ludovico, que mudou a História de Goiás. E morreram pobres.
Ruy Barbosa, polímata brasileiro e Alfredo Nasser, gênio da política goiana
Saudade dos idealistas como os oradores Ruy Barbosa e Alfredo Nasser, que não fincaram os tijolos dos aplausos às obras físicas nos governos em que foram expoentes, e estão imortalizados no pedestal das praças Diário da Manhã
Fúria de Aquiles, óleo sobre tela por Charles Antoine Coypel (datada em 1694). Mais adiante, o artigo detalha que todo homem que sobe ao poder também tem o seu frágil calcanhar
públicas como monumentos à sabedoria. Saudade dos sonhadores como Abraham Lincoln e Luther King, que aboliram a escravatura negra do seu povo. E morreram honestos. Saudade do respeito à Liberdade como Platão, que criou a República, e como Sócrates, que entreviu a imortalidade da alma. E morreram pobres. Saudade dos puros como Chico Xavier, que foi o maior médium dos dois últimos séculos. E morreu pobre e humilde; ou como o papa Francisco, que pratica a pureza inteira da Fé em Deus e se tornou o discípulo que revoluciona o Cristianismo atualmente. E vive humildade o voto de sua pobreza pessoal na pompa do Vaticano. Há muitas outras saudades dos valores essenciais à vida em todo o Brasil. A prioritária delas é a comunhão dos poderes com as liberdades públicas. E Goiás devia ser a primeira hóstia para a eucaristia de Liberdade nas catedrais do autoritarismo.
OS VOOS CAÍDOS ESTAMOS assistindo um festival de vassoureiros encabados nas mentes desocupadas de valiosidade construtiva no cérebro trotante nas detrações aos governadoriáveis Marconi Perillo, Iris Rezende, Vanderlan Cardoso e Antônio Gomide. Um enxame de moralistas opiniosos reveza-se em turmas no bloco dos garis faxineiros da política, que usam a maledicência como detergente nas línguas corrosivas. Operam em escalas avulsas e com tabelas agendadas nos turnos de plantão no denuncismo. Uns varrem, cada qual, ideias porcas para denegrir os demais candidatos em benefício do seu preferido. Outros fazem hora extra ciscando na lixeira da cabeça resíduos de frustrações detonadas, quais estilhaços de ojerizas, sobre a relevância dos pretendentes cotados para o governo nos partidos políticos. Generalizam honorabilidades no crivo do vulgo. São os palpiteiros enroscados na ignorância entupida no néscio balbuciando tagarelices atarantadas no oco de ideias. Dão pinotes no anonimato e somam zero com zero voto no eleitorado goiano. No conceito de quem os conhece nas coisas de trás da vida, seus julgamentos prejudicam os elogiados e beneficiam os criticados. Denomino-os como os Língua-Suja. Salivam inflamações morais no caráter alheio como se lambessem escarrações de recalques em ebulição no ânimo. Voam como corvos nos piados agoureiros e nas garras abrindo feridas, e revoam como morcegos ruflando as asas na abanação das dores, e adejam como anjos piedosos nas penações agradecidas. Formam o bando de arribação das aves de rapina esvoaçadas nas temporadas de devoração nos poleiros políticos e planam bicando sujidade nas honras, como se fossem beija-flores pairados no ar na retirada
de néctar das rosas, quando são beijamãos voejando nos canteiros dos sobrados e, nessa condição, volteiam como baratas se alimentando das sobras no chão. Insetos roedores de carunchos no caráter.
ENGAVETADOS NO ATRASO NÃO basta estar moço para ser o novo ou ser idoso para estar no velho. Avalia-se o jovem no moderno das ideias e mede-se o ancião no provecto dos conceitos. Modelam-se no retrocesso os que veem somente defeito e nenhum mérito nos outros. Ajustam-se na evolução os que reconhecem as virtudes alheias e admitem as próprias imperfeições. O antiquado acentua-se relegado nos líderes que qualificam seus desatinos como perspicácia e classificam a prudência dos adversários como ineficácia, e nesses se enquadram os condutores do povo engavetados no atraso. A atualidade formata-se irrecuável na aprimoração do obsoleto nas lapidações da modernidade, e nesses moldam-se os estadistas nas luzes do conhecimento nos fogos do contemporâneo. Por serem ilustrados, estão atinados e percebem que a Humanidade debate-se atada a uma roldana arrastando-nos num confinado de agruras acumuladas nas malevolências cometidas durante séculos. Lotou-se o recipiente do espúrio. Não há mais como adiar o saneamento das tubulações envilecidas. Nem tem como fazer a lavação do lameiro com uns jogando lama em outros. A única solução é cada qual dos suspeitos assumir a sua parte no trabalho conjunto de reparação moral no embolado do aviltado. Defeitos, quem não os tem? Erros, quem não os comete? Meditem no ensinamento da Justiça Divina: “Não julgueis, para não seres julgados. Pois com o julgamento com que julgueis sereis julgados e com a medida com que medis, sereis medidos” (Jesus Cristo).
Jesus de Nazaré
Os tolos falam demais, os sábios ouvem muito, e pensem na doutrina da sabedoria humana: para o que se entorta no mal, leva-se a retidão do bem; para o que se desvirtua no ódio, traz-se a virtude do amor; para o que se perde na desonra, mostra-se o caminho correto do digno; para o que cultiva a desavença, semeia-se a concórdia; para o que se atordoa nas provações, indica-se o confessionário da consciência; para os sofridos, dá-se o alívio. Colhe-se para si a misericórdia que se planta no perdão.
A VIDA MANDA-ME DIZER
O mundo patina num conglomerado de perdições envergonhantes revezandose ampliadas na desorganização generalizada nos poderes e incidindo-se, atiçantes de rebelações, na sociedade insatisfeita nas riquezas e perigosa nas pobrezas. A Terra encapelou-se de corrupções corpulentas no pasto dos impostos e musculosas na engorda das licitações. É a ceva das mamatas nos cofres públicos de robustas fortunas políticas e de milagrosas impunidades nos covis do crime organizado. A civilização atual está um invólucro destampado de sem-vergonhagens canalizadas na cumplicidade pudica dos omissos e mantendo chefes de estado reféns de comparsas em todas as nações. Filas de líderes parceirizam dividendos nos pecúlios da improbidade sisuda. Parcelas de circunspectas autoridades meam cativos os regalos nos vinténs rapados nas sobras dos superfaturamentos miliardários. A conjunção das falcatruas refinadas injetou o amoral na unicidade mundial agregada ao consenso da conformação com as mazelas imorais inoculadas no inconsciente coletivo. A desolação nos países entrecorta-se no apreensivo das expectativas no imponderável das perspectivas. Estertora-se a economia. Estrebucha-se a política. Os povos assustam-se. Os governantes montam planos de metas sustentáveis no fantástico e os gestores levantam obras de proporções faraônicas que sugerem o cenário da Torre de Babel. É entristecente o estarrecedor esfacelamento estável das estruturas de todas as formas de poder e cujas reformas adotadas são meras reciclagens de equívocos dos erros mantidos. Perigamos à beira do abismo, mas não entramos ainda na linha de risco do caos. Devemos então bendizer as desgraças iminentes. Pois nelas estão a salvação dos justos e a maldição dos injustos. Estamos na fervura da tacha das mudanças na depuração que separará os impuros dos puros. Nas purgações está, sobretudo, a bênção da purificação para os que se redimirem da legião dos maus para a hoste dos bons.
OS PODERES DESFILAM CORRUPÇÃO RASGOU-SE o remendo das aparências no disfarce das realidades transformistas do desonroso nas libertinagens em honrarias nas homenagens. O discreto no escabroso desprezível banalizou-se ostensivo no abjeto visível. A corrupção tinha um charme macioso na cativância que seduzia pessoas como o ímã atrai objetos e os mantém magnetizados por ele. A corrupção possuía o carisma das idolatrias no fascínio que induzia à dependência deslumbrada os que degustavam a chiqueza do glamour dela. Era discreta no porte nobrezado. Era envolvente na fidalguia irretocável. Era solidária nas desditas dos leais. Era astuciosa nas questões delicadas. Era implacável no extermínio dos traidores. Era extrovertida na extravagância das orgias íntimas. Era vigiosa no resguardo de não expor em público a privacidade. Era. Amolecaram a corrupção. Foi vulgarizada no decoro. Ficou vadia na linhagem. Está decadente do esplendor das mesuras clonadas na reciprocidade dos interesses retribuídos nas vantagens parceiras. Está aviltada no convívio da aristocracia como má companhia que a simples presença compromete a reputação das pessoas honoráveis. Está vigiada e comanda em regime de liberdade condicional nas contravenções o enriquecimento ilícito através de células nas franquias das corruptelas, como as outras organizações criminosas controlam nas celas dos presídios a operosidade nas regalias das falanges do banditismo na sociedade. A corrupção pôs a cara de fora no mundo, vestida de toga, de farda, de batina, de beca, de mandato popular, de fardão acadêmico, desfilando no carnaval do denuncismo, com culpados e inocentes no carro alegórico dos suspeitos diante do camarote dos condenadoCONTINUA