Diário da Manhã SUPLEMENTO ESPECIAL
SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014
EDIÇÃO Nº 9662
LIBERDADE Aniversário da
HISTÓRIA DOS LIVRES
Batista Custódio Especial para OPINIÃOPÚBLICA
P
arei de publicar meus artigos há 9 meses e não parei de escrevê-los. E guardo. A Bíblia diz que tudo tem o seu tempo e esse é o tempo de esgotar corrupção. O estoque acumulado na pompa ladravaz dos soberanos gerou furúnculos na consciência dos apátridas e rachou o caráter dos governos. Escorre muito pus o tempo todo em toda parte do mundo. Os poderes estão infeccionados de desonestidades. A inflamação nos ânimos é geral no contexto da sociedade, entre os que roubaram, os que estão roubando, os que querem roubar, e nos que foram roubados e nos que são roubados em seus sonhos e de vida, em sua fé religiosa, em seus ideais políticos, em sua confiança nos amigos desleais. A dor da punhalada de inimigo passa rápido. A punhalada do amigo dói muito tempo, como se o punhal tivesse ficado cravado na gente. Por isso, decidi-me a não lancetar os tumores latejando nos carnegões da corrupção, para não correr o risco de contaminar inocentes no cisto dos culpados. O meu silêncio não é aleatório. Agi elucidado pela Espiritualidade. As atuais mudanças que reviram a estabilidade dos poderes terrenos são divinas e funcionam como caldeiras da depuração moral da humanidade. São redentoras e se consumarão inexpugnáveis até não restar nenhum mal de pé na Terra. Tentar estancá-la é como esvaziar oceano com conta-gotas. Serão salvos os redimidos. Estarão expiados os irrecuperáveis. É a fervura da purificação e dela irão surgindo os novos estadistas, de onde não se sabe quando menos se espera. E não aguardem-os nos moços modelados nas velhas práticas da mentalidade materialista e nem se surpreendam se chegarem dos velhos inovados nas ideias do romantismo. Por isso, não bato nos líderes que foram ou nos que irão de suas glórias para a desonra nessa queda mundial em toda forma de poder sujado no ilícito e no imoral. Pelejar para revertê-la, seria como catar no ar as gotas da água nas chuvas ou contar na ventania os grãos de chão nas poeiras. Procurar apressá-la, daria no mesmo que empurrar árvores podres que serão derrubadas pelos ventos dessa mudança prevista há dois mil anos por Jesus Cristo a João Evangelista. Essa reforma moral da humanidade será mais devastadora em Goiás, que é o polígono de terras delimitado na profecia do santo Dom Bosco onde surgirá a civilização que governará a Terra a partir do atual milênio. Então não é prudente ficar cortando troncos da corrupção na selva apodrecida dos poderes. Como na floresta de árvores podres, o sábio é permanecer a uma distância delas, não tão longe que não possa ver suas copas balançado, nem tão perto que possam cair em cima da gente.
O
romantismo e o materialismo são as linhas divisórias das duas partes
distintas entre si nas grandezas da vida habitada por dois seres igualmente indispensáveis nos valores que definem a evolução no mundo. O poeta e o mercenário. Ambos são imprescindíveis. No romantismo, o poeta é mais precioso que o mercenário e, no materialismo, o mercenário é mais valioso que o poeta. O que não deve acontecer é a estupidez recíproca de um subjugar o outro no seu mérito específico. Mas, lamentavelmente, a incompreensão mútua é o que tem ocorrido e sido um desastre para os povos. O poeta é o que sonha e ousa. O mercenário é o que se atreve e realiza. São diferentemente iguais no oposto da mais-valia que consagra as pessoas superdotadas. Do jeito que o poeta se encanta na sua música, na sua escultura, na sua descoberta científica, na sua literatura, no seu quadro pintado e nos seus voos na liberdade, do mesmo modo o mercenário se maravilha na criação da sua empresa, no invento do seu produto exclusivo, na sua condição de vencedor reconhecido.
A
obra do empresário e a do poeta são imprescindíveis no conjunto do notável. O que estraga a grandiosidade dos dois seres é o egoísmo. O mercenário destrói o poeta que sonha nele e ousa no empresário. O poeta destrói em si o realizador que concretiza a realidade no visionário que se atreve na oficina da inspiração. Mas ambos se limitam no medíocre da inteligência quando passam a ouvir o canto de sereias da vaidade. E é onde ambos se matam em suas virtudes.
T
odos os governadores de Goiás cometeram erros. E não foram poucos. O maior deles nas grandes obras que fizeram, foi o mesmo em todos eles. O de confiar nos chamados de homens fortes de seus governos. Homem forte de governo é fraqueza do governador. E o que são eles? São ambulantes nas ideias nômades. São furadores de buracos de dívidas no poço dos impostos. São paus-terra envernizados de aroeira. São bijuterias de teorias políticas falíveis na prática das ideologias exequíveis. São zero votos no povo e que, ao serem impostos ao eleitorado para deputado ou senador, são os causadores da derrota dos governadores em suas reeleições no pleito seguinte. Os homens fortes são contagiosos. Não há um só erro dos governadores que não seja só dos homens fortes nos governos. Não há um só ex-governador que a sua derrota não tenha sido causada só pelos íntimos dele. Não há um só ex-governador que só ouvia os que só o elogiavam e que não terminou só na planície política. Não há um só ex-governador que acreditou só na más companhias no poder e não tenha sido responsabilizado só ele pelas malinagens e outras coisas só daqueles espertalhões. Não há um só ex-governador que não trocou os velhos amigos só pelos novos amigos no governo e que depois só lhe restaram só os velhos amigos quando ficou só no ostracismo. Eles não criam um programa de metas para o governo. Fazem um plano de seu continuísmo no po-
der. Mas o ciclo do fisiologismo nos governos acabou-se na vida pública. Entramos na era das maiores mudanças históricas de todos os tempos. Os camelôs da demagogia estão com os dias contados às vésperas de seu fim. Todos temos a própria culpa nos erros que vemos nos outros. Ary Valadão terminou pagando sozinho por haver sido o último governador nomeado pela ditadura militar. O Marconi Perillo acaba responsabilizado em Goiás como o único culpado pela falência melancólica refletida sobre ele do ciclo petista no Brasil. O que precisa mudar é o modelo político. Gastou-se a disputa acívica do poder pelo poder a serviço de grupos. Os partidos giram atrelados nos lados adversos do oportunismo e jogando corrupção uns nos outros. A presidente Dilma Rousseff é uma revolucionária e ficou prisioneira da corrupção dos outros que tomaram seu governo para outros. O governador Marconi Perillo é um guerreiro e se tornou refém dos que o deixaram de fora de seu governo no início, ele ficou com os problemas até o fim. Percebe-se a montagem de canhões para alvejarem a campanha eleitoral com sobrecargas de lamas que se esborrifarão nos governadoriáveis. São canhões de vidro que não aguentarão uma pedrada da verdade de parte a parte. Precisam levantar a alça de mira para suas virtudes e não mais apontarem para os deméritos alheios. Denúncias de corrupção não elegerão nenhum dos candidatos. O denuncismo caiu em descrédito na rede de suspeitas da cumplicidade generalizada na demonização dos políticos.
N
ão me fiz um conformado com a banalização da honradez. Tampouco perdi a capacidade de ficar indignado com a impunidade dos desmandos. Estou apenas um meditativo, igual a um peregrino na contemplação desoladora da vastidão do deserto. Não joguei a batuta fora. Estou como o maestro organizando a sua orquestra para não desafinar na execução da sinfonia. Quebrarei o jejum dos meus artigos na comunhão com o justo em abril. Rompi, só por hoje, o penitenciado de manter-me calado, por dever de apresentar aos leitores do Diário da Manhã o suplemento especial Aniversário da Liberdade,
de 24 páginas, com artigos de pessoas que sua biografia se confunde com a história de Goiás. A tradição nas edições comemorativas de aniversário do jornal é publicar matérias retrospectivas focando os episódios relevantes sobre a sua trajetória empunhando o mastro da liberdade de imprensa. Agora, não. Todos os espaços foram reservados para artigos de personalidades notórias nas elites pensantes e de jornalistas vivenciados nas causas dignificantes e decisivas nos sementeios da opinião independente. Uma dúvida parou-me no dilema: se limitava-me a escrever o texto formal e de praxe como editor geral do Diário da Manhã, ou se exteriorizaria como jornalista as coisas silenciosas dentro de mim que pediam para sair e falar. O sentimento da cautela interferiu contra. A angústia arrastoume à reflexão. O poder das palavras que vinham no pensamento era fuzilante. Pareciam-me um brado fora de hora. Busquei a Espiritualidade nas orações dia 11, véspera do aniversário do Diário da Manhã, e fui ao Centro Espírita Mãos Unidas. O Fábio Nasser veio nessa carta psicografada pela médium Mary Alves: “Meu pai, abençoe-me. As palavras realmente são poderosas. Jamais o deixaremos só. Nosso trabalho é comum. Um ao lado do outro. Em seu mundo interior, mergulhado em si mesmo, nos arquivos do passado, a compreensão surgiu de que um dia tudo será diferente. Hoje podemos chorar a dificuldade, a ingratidão, a decepção, mas o amanhã é de Deus e a vitória é certa. Estamos trabalhando para um futuro melhor. Não tem sido fácil. Meu pai, sinta-me ao seu lado sempre. O Dr. Almir está aqui comigo e abraça seu coração amigo. Com todo amor do seu, sempre seu Fábio Nasser Custódio dos Santos. * Abraço meus irmãos queridos.”
O
número dos artigos superou a expectativa e o volume dos anunciantes surpreendeu. O caderno Aniversário da Liberdade teve de ser adiado para hoje, 17 de março, dia do aniversário mensal nos 15 anos que meu filho foi da vida para a minha saudade. E somente ontem vim para a Lexikon 80 escrever o artigo História dos Livres. Agora vou ao confessionário na mea culpa em dois pecados cometidos por mim: um contra o Diário da Manhã, outro em desfavor do Cinco de Março. O DM foi fundado em 12 de outubro e comemora o aniversário em 12 de março. O dúbio nos prazos acoplados nas duas datas advém do equívoco de se homenagear a sua reabertura quase dois anos após a decretação da falência judicial urdida nos bastidores do governo estadual no período. Natalícios não são importantes para mim. Data de calendário é convencionalismo. O tempo não faz aniversário. O que conta nas legendas é o seu dimensionamento na História.
Corrijo hoje outra distorção injusta com os dois jornais. O selo conjugado ao logotipo do Diário da Manhã registra os 34 anos que ele herdou dos 56 do Cinco de Março no jornalismo que inaugurou o caderno OPINIÃOPÚBLICA, o espaço inédito na história da imprensa mundial para a liberdade de opinião. Mudei o carimbo em respeito às pessoas e às almas dos que se abençoaram na pia batismal dos libertadores da imprensa em Goiás.
E
sse ano, o povo goiano vai precisar de uma voz isenta da imprensa nas eleições. O Diário da Manhã será território livre no centro dos arquipélagos das ilhas de autoritarismo dos partidos políticos. Não me esperem na colheita da safra dos pensamentos odiosos, que estarei no plantio dos sentimentos amados. Sempre estive no comboio da liberdade de imprensa, como o trem-de-ferro nos trilhos. Se me desencarrilham, conserto os vagões, realinho os trilhos, embarco de novo na liberdade e não a apeio do sonho. O destinou peou-me na sina da história dos livres. O discurso que elegerá o governadoriável é o do combate à corrupção. O que não será difícil de vir a ser teorizado por quem tenha experiência na prática da própria. E não será fácil de criar esse discurso. Ele terá que trazer a força de um poema capaz de apagar o desencanto popular com um incêndio das emoções. Tenho apenas duas premonições doidíssimas na intuição. A que poderá ser evitada pelo governadoriável que tiver a compreensão de que chegou a hora de parar de vasculhar os erros do passado e de perscrutar o correto para o futuro, pois os que continuarem só batendo, apanharão também da chibata das mudanças. O outro presságio é na percepção. Esse é inevitável. Qualquer um dos governadoriáveis que se julga virtualmente vitorioso nas urnas de 2014, pode começar a rezar desde já, pois o próximo governador de Goiás sofrerá o inferno no céu do Palácio das Esmeraldas. E irá para a História, que é onde estão os poetas Sócrates, Platão, Aristóteles, Pitágoras, Sêneca, Churchill e vai o papa Francisco. Mas se for um mercenário, poderá até ir para uma sepultura folheada a ouro, que estará jogado para fora da posteridade.
Q
uero ir para junto dos que disseram o que pensaram, porque pensaram o que disseram. Nasci um viciado em liberdade. Não aceito gaiola na opinião. Sou contra ditadura de esquerda e de direita. Rotulo o esquerdismo e o direitismo como os dois lado da mesma bosta ideológica dos regimes políticos. Cultuo a república como mãe da democracia, filha do povo e alma da liberdade. Nasci assim e vou morrer assim. E se um dia tiver que ser ouvido o último brado da liberdade de imprensa, esse grito virá na minha voz. Desculpem-me, os leitores. Tenho que sair rápido. Preciso ir ali hoje. Ouvi um silêncio me chamando na saudade. Vou ao meu coração dar um abraço no filho Fábio Nasser.