20 | Dossier sobre sexualidade
O impacto das representações sociais no autoconceito e na sexualidade do adulto idoso Ana Pedro Fidalgo1, Ricardo Pocinho2 e Liliana Marques3 1
Psicóloga Clínica e da Saúde, Terapeuta de Casal e Sexóloga Clínica 2
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Professor e Investigador – ESECS.IPLeiria - CICS.NOVA.IPLeiria
Psicóloga Clínica e da Saúde – PhD Student, Universidad de Salamanca
Representação da sexualidade na terceira idade Durante muitos anos, a sexualidade no envelhecimento viveu sob uma sombra de preconceitos sociais e individuais. Felizmente, mitos como “os idosos não precisam/tem sexo”, “a atividade sexual na velhice pode ser debilitante” ou “as mulheres idosas não precisam tanto de sexo como os homens” entre outros tantos associados a duplos padrões de género, têm vindo a ser desmantelados pela comunidade científica, chamando o olhar para a realidade da sexualidade humana, tão diversa e contínua como cada indivíduo.
Historicamente, a sexualidade foi sendo influenciada pelos pensamentos e conceções dos contextos culturais, económicos, políticos e religiosos. Apesar dos movimentos contrários, atualmente, a pressão exercida pela sociedade ainda faz com que a generalidade dos idosos experimente sentimentos de culpa, vergonha e se considerem pessoas anormais por manterem o interesse sexual (Rodrigues, 2019). Existe, portanto, um longo caminho a percorrer no sentido de transformar os modelos sociais e estereótipos mais antigos, que ainda vivem no discurso, tanto das novas gerações, como na idade avançada (Negreiros 2004).
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Afinal, de que significados falamos quando falamos de sexualidade na 3ª idade? De onde vêm? E que impacto eles têm na experiência afetiva destas gerações? Num estudo de 2016 (Vieira, Coutinho & Saraiva), um grupo de idosos questionados acerca da representação da sexualidade compreenderam que a sexualidade abrange diversos fatores, contudo, representam-na principalmente através da relação sexual, reforçando a ideia de sexualidade como sinónimo do ato sexual (Frugoli & Maganhães-Junior 2011). No entanto, tem-se vindo a estabelecer um discurso mais abrangente, que enfatiza diferentes maneiras de expressão da sexualidade, sublinhando a importância do carinho e atenção, altruísmo e atratividade para idosos que são sexualmente ativos (Humboldt, Ribeiro-Gonçalves, Costa & Leal, 2020). Com efeito, no estudo de Humboldt et al. (2020) “a atividade de atração foi definida por vários participantes como um conjunto de características (e.g., físicas, emocionais ou psicológicas) que evocam o interesse ou desejo de uma pessoa e que posteriormente podem levar à atividade sexual”, o que denota o estabelecimento claro de uma ligação entre a autoestima, o autoconceito e bem-estar sexual, onde os testemunhos