Comunidades compassivas: um novo olhar sobre a dimensão social da pessoa com doença grave

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32 | Dossier sobre cuidados paliativos

Comunidades compassivas: um novo olhar sobre a dimensão social da pessoa com doença grave

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Carla Costa1, Manuela Bertão2 Assistente social no Centro Hospitalar Universitário do Porto, Mestre em Gestão de Serviços, Formada em

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Supervisão em Serviço Social, Estratégias de Comunicação na Doença Avançada, Comunicação Positiva. 2

Assistente hospitalar de Medicina Interna e com formação avançada em Cuidados Paliativos, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Equipa Intrahospitalar de Suporte de Cuidados Paliativos. Membro fundador do Grupo de Estudos e Reflexão em Medicina Narrativa (GERMEN).

Nenhuma pessoa é uma ilha, isolada em si mesma; toda a pessoa é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. John Donne

Cuidar a pessoa de forma integral A complexidade do mundo atual é transversal a todas as camadas da sociedade pósmoderna. O nosso tempo é a era do vazio de Gilles Lipovetsky, fecunda de narcisismo coletivo. Contudo, há movimentos dentro da Saúde que se opõem a estes valores. A visão unidimensional e biomédica da Medicina está a tornar-se progressivamente caduca

e anacrónica. A arte de cuidar nos dias de hoje completa-se num cuidado integral e total da pessoa adoecida. A pessoa não é mais objeto da sua doença; a pessoa é o sujeito da sua doença na relação com o seu corpo, as suas emoções, a sua família, o seu papel na sua comunidade e o sentido que ela mesma tece e transforma ao longo do seu caminho. Quando Cicely Saunders afirmou que Todo o sofrimento é intolerável quando ninguém cuida, já anunciava que uma nova inteligência e uma nova sensibilidade precisavam de renascer nos cuidados de saúde, e consequentemente, na sociedade em geral. Cicely Saunders foi a fundadora do movimento do hospice moderno e uma mulher eclética - pois foi médica, enfermeira e assistente social - o que lhe permitiu integrar a complexidade do ser humano nos cuidados de saúde, especialmente, no âmbito dos cuidados paliativos. Os cuidados paliativos são um exemplo paradigmático de uma medicina que se contrapõe ao individualismo contemporâneo e cuja prioridade é melhorar a qualidade de vida da

“Todo o sofrimento é intolerável quando ninguém cuida (...)”


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