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Breves noções de nutrição em cuidados paliativos Susana Arranhado Nutricionista e docente na Escola Superior de Saúde do Politécnico de Leiria e na Escola Superior de Saúde Ribeiro Sanches
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Introdução
“(...) o fornecimento de alimentação e hidratação tem profundo significado emocional e social para o doente e família (...), mais que não seja pela natureza simbólica do alimento (...), com todas as representações e memórias associadas.”
Ao longo dos tempos assistiu-se a diversas alterações nos países industrializados. Os inegáveis avanços das ciências da saúde, potenciados pelos progressos técnico-científicos, contribuíram para o aumento da esperança média de vida dos cidadãos, espelhando-se num grandioso envelhecimento populacional e consequentemente numa maior prevalência de doenças crónicas, progressivas, incuráveis e incapacitantes. Paralelamente observaram-se mudanças dos paradigmas, nomeadamente no que concerne à relação médicodoente (ou melhor dizendo profissional de saúde-doente), passando-se de uma visão redutora do ser humano para uma visão holística. Estas alterações conduziram à emergência de novos dilemas éticos, mas também a novas e desafiadoras necessidades no contexto dos cuidados de saúde, evidenciando-se carências várias, as quais exigiram respostas eficazes e diversificadas. Concretamente no âmbito dos cuidados paliativos é notória essa mesma realidade. De acordo com a OMS1 (2002), os cuidados paliativos são uma abordagem que visa melhorar a qualidade de vida dos doentes e das suas famílias, que enfrentam problemas decorrentes de uma doença incurável e/ou grave e com prognóstico limitado, através da presença e alívio do sofrimento, com recurso à identificação precoce e tratamento rigoroso dos problemas físicos, psicossociais e espirituais. Trata-se essencialmente de garantir bem-estar e qualidade de vida, através de medidas de conforto, proporcionando um sistema de suporte para que os doentes vivam tão ativamente quanto possível. Todo o ser humano é único e deve ser entendido como uma multiplicidade de fatores, isto é, como uma unidade biopsicossocial, na
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www.who.int/cancer/palliative/definition/en/
qual a componente biológica é a sua interioridade e a componente psicossocial definese pelos fatores psicológicos em interação com o meio social, no qual se insere. Assim sendo, nenhuma destas componentes deve ser descurada, sob pena de não existir um controlo efetivo dos sintomas. Esta esfera de cuidados levanta desafios, aos quais apenas uma equipa multi e interdisciplinar consegue fazer face. Se o objetivo dos cuidados paliativos é melhorar a Qualidade de Vida (QdV) dos doentes (Acreman S, 2009), o que inclui o controlo de sintomas, então a nutrição tem um papel claro e pertinente (Benarroz MO, 2009). No doente paliativo, a intervenção nutricional contribui para a otimização do controlo de sintomas e para assegurar a melhor QdV (Manual de Cuidados Paliativos, Hospital Santo António, Porto). É aceite que a nutrição não consegue prolongar a vida dos doentes paliativos, mas pode permitir otimizar o estado físico, nomeadamente a força física, para realizar as últimas vontades, morrer dignamente e não por inanição, dar a sensação de controlo ao doente sobre o processo evolutivo da sua doença. Acreman afirma que a nutrição pode melhorar a QdV até ao momento da morte (Acreman S, 2009). O plano de cuidados nutricionais deve ser iniciado precocemente, isto é, aquando do diagnóstico e continuar ao longo da vida do doente. Mas é frequente a indicação para iniciar suporte nutricional, em particu-