renovar velhas soluções

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luzes

renovar velhas soluções É opinião quase unânime, que num futuro próximo a produção de energia elétrica passa pelo aumento da incorporação de diferentes fontes de energia renovável no mix energético, para podermos abandonar formas de produção mais poluentes. Contudo, sabemos que as fontes renováveis têm intrinsecamente o problema da sua disponibilidade, umas são menos previsíveis a médio prazo, outras possuem um caráter muito intermitente, outras, ainda, só estão disponíveis quando há menos procura de energia elétrica. Estas caraterísticas poderão provocar instabilidade no funcionamento das redes elétricas, a menos que se consiga armazenar grandes quantidades de energia elétrica, de forma a estabilizar as redes, armazenando energia quando a produção é excedente e devolvendo energia à rede quando a produção não é suficiente para alimentar as cargas. No atual estádio do desenvolvimento tecnológico o armazenamento de grandes quantidades de energia elétrica sob a forma elétrica não é uma tarefa fácil. A utilização de baterias elétricas para o armazenamento é, ainda, uma solução cara e que, dada a quantidade de baterias necessárias, a médio e longo prazo acabará por ter algum impacto ambiental e/ou custos de acondicionamento no fim da vida, que acabarão por encarecer ainda mais esta solução. Para ultrapassar esta dificuldade têm sido procuradas alternativas para o armazenamento da energia elétrica, sob a forma de energia não elétrica, que sejam, simultaneamente, fiáveis, de baixo custo e com elevado rendimento. É neste esforço de procura de alternativas que surge o assunto deste editorial. Uma forma muito antiga de armazenamento de energia, sob a forma de energia mecânica, mais concretamente energia cinética, é a utilização de volantes com massa de valor muito elevado, que são colocados a girar pelo aproveitamento de uma fonte de energia primária e que, na falta desta, continuam a girar, devolvendo a energia armazenada na massa em movimento até que essa energia se esgote. Trata-se de uma solução simples, fiável, de baixo custo, mas que tem como grande desvantagem as perdas de energia que acarreta devido ao atrito do volante em rotação, ou do seu veio, com outras massas fixas. Esta desvantagem teve como consequência o abandono progressivo desta solução à medida que a tecnologia foi evoluindo e outras soluções, até então inexistentes, foram surgindo, revelando-se mais vantajosas. Acontece que o desenvolvimento tecnológico atual também permite repensar a velhinha solução do volante rotativo, mantendo o mesmo princípio, mas renovando a forma como é aplicado. Segundo os investigadores de um projeto, em curso, a utilização de ligas metálicas de elevada resistência e de materiais compósitos permite obter volantes com velocidade de rotação muito elevada, mas a evolução mais importante verifica-se ao nível dos atritos, já que o sistema é mantido na sua posição através de levitação magnética, concretizada através da utilização de supercondutores de alta temperatura. Utilizando as possibilidades da atual tecnologia foi construído um protótipo para o armazenamento de 100 kWh, que tem perdas de apenas 50 W, que no caso de um volante tradicional seriam de cerca de 1000 W, o que representa um ganho de eficiência notável. Desta forma consegue-se um sistema com um custo muito aceitável, com uma longevidade de várias décadas, que pode carregar e descarregar sistematicamente durante todo o dia sem perda de eficiência e mantendo a totalidade da sua capacidade de carga, com perdas energéticas muito reduzidas. Parece, por isso, que esta solução de armazenamento poderá ter um futuro muito promissor.

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Custódio Pais Dias, Diretor


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