Poderá a impressão 3D influenciar a história do design das motos?

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Susana Fernandes Coordenadora e docente do Curso Técnico Superior Profissional em Design e Inovação Industrial do Instituto Politécnico da Maia – IPMAIA Docente na Licenciatura de Engenharia Mecânica no Instituto Superior de Engenharia do Porto – ISEP Investigadora no LAETA – Laboratório Associado de Energia, Transportes e Aeronáutica – INEGI

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Poderá a impressão 3D influenciar a história do design das motos?

Figura 1. Vista geral da moto BMW S1000RR (2016) [7].

A invenção da moto é considerada uma das mais importantes e significativas do século XIX, tendo revolucionado o seu tempo e aberto novos horizontes na mobilidade, e acabou por se tornar num dos meios de transporte mais utilizados e apreciados em todo o mundo. A moto surgiu em 1869, originalmente pensada pelo francês Louis Perreaux e pelo americano Sylvester Roper que, simultaneamente, e sem se conhecerem, tiveram a ideia de equipar numa estrutura tipo bicicleta com um motor a vapor (principal motorização disponível à época) [1]. Porém, “para muitos, a invenção da moto só aconteceu a partir do momento em que os veículos de duas rodas começaram a circular com motores de combustão interna” [1]. Os primeiros a fazê-lo, com sucesso, foram os alemães Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach, em 1885, com a instalação de um motor a gasolina de quatro tempos, de ciclo Otto, com um único cilindro que se encontrava montado no centro de uma “bicicleta de madeira adaptada”. A moto apresentava roda traseira e dianteira de igual dimensão e aros de madeira e ferro, mas também uma roda de mola em cada lado do veículo para atribuir uma maior estabilidade, assim como um chassis com uma armação em madeira, o que lhe conferia um design pesado, áspero e desconfortável. Tornou-se conhecida por “quebra-ossos” [1]. Desde então, foram inúmeras as evoluções no design da moto, mas foi o motor de combustão interna que possibilitou a produção de motos à escala industrial, embora dividisse a preferência dos utilizadores de motos com motores de dois tempos, os quais eram menores, mais leves e mais baratos. Uma das maiores dificuldades dos fabricantes de motos foi onde instalar o motor, se no selim, dentro ou sob o quadro da bicicleta, ou no cubo da roda dianteira ou traseira. Inicialmente não era consensual e todas as alternativas foram adotadas. Só no início do século XX, os fabricantes decidiram que o melhor local para colocar o motor seria na parte interna do triângulo formado pelo quadro, por motivos de segurança, ergonomia e funcionalidade, o que se mantém atual até aos dias de hoje [1].

A Hildebrand & Wolfmüller foi a primeira fábrica de motos (Alemanha, 1894). Logo no primeiro ano de laboração produziu mais de 200 veículos, o que foi considerado um sucesso comercial. Este fabricante viria a destacar-se pela criação de um sistema de arrefecimento do motor das motos [1]. Em 1895, surgiu o motor DeDion-Bouton que revolucionou a indústria motociclística à escala mundial. Este motor de quatro tempos de alta rotação, leve e com meio cavalo de potência, fez incrementar a potência e isso fez com que, à época, todos os fabricantes viessem a adotar esta motorização na construção dos seus modelos, como é exemplo o fabricante americano Harley Davidson [1]. É com a moto Harley-Davidson (desde 1903), considerada uma das marcas mais evocativas do mundo, que a moto adquire um valor superestimado, a preferida “dos rebeldes”, que vive e evolui na mente e nos corações dos utilizadores, permanecendo um ícone do motociclismo [6]. O início do século XX regista um enorme crescimento mundial na produção de motos. A Europa conta com 43 fábricas de motos, enquanto nos EUA (em 1900) as primeiras fábricas Columbia, Orient e Minneapolis, chegam a ter 20 empresas (em 1910) [1]. Após a Segunda Guerra Mundial, os fabricantes japoneses destacaram-se à escala mundial no fabrico de motos e na produção de novos modelos que revolucionaram o mercado. De certa forma, estes acabariam por introduzir uma nova visão na mente de todos os admiradores dos veículos de duas rodas. As motos passaram a estar dotadas de alta tecnologia e tinham motores cada vez mais leves e potentes. Também os designs modernos, de baixo custo e de elevado conforto, cativaram vários mercados, estando na origem do fecho de milhares de fábricas em todo o mundo, devido à forte concorrência [1]. Este foi um período de desenvolvimento onde se introduziram diversas inovações e aperfeiçoamentos. De todas as alterações introduzidas nas motos, a partir do século XX, destacam-se as seguintes: i) a evolução dos motores (de um a cinco cilindros e de dois a quatro tempos); ii) o aperfeiçoamento das suspensões, para proporcionar maior conforto e segurança (por exemplo, em 1914, a fábrica alemã NSU já oferecia a suspensão traseira do tipo mono choque, tal como é hoje utilizada); iii) a introdução de braços oscilantes na suspensão traseira; iv) o desenvolvimento de pneus mais resistentes; v) e a introdução de travões de disco [1]. Atualmente, o mercado está equilibrado quanto à oferta de opções de motos, sendo que aparecem constantemente novos modelos vanguardistas com o intuito de satisfazer todos os tipos de gostos e de preferências. Cada fabricante procura ser o mais original possível, e isso fez com que a produção de motos evoluísse para um patamar de excelência. Em 2016, a BMW desenvolveu um quadro e um braço oscilante para a supermoto S 1000RR (Figura 1 e 2). Desde então, a


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