Market Report 51

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MARKET REPORT

Em destaque

EMPRESAS PORTUGUESAS REGRESSAM

DA K’2025 COM OTIMISMO

E CONTACTOS PROMISSORES

EDIÇÃO 51

TRIMESTRAL SETEMBRO 2025

nesta edição

Empresas Portuguesas regressam da K’2025 com Otimismo e Contactos Promissores

Da feira à geopolítica: o duelo automóvel entre China e Europa

Moldes discutem Posicionamento e Relação com Clientes

Mobilidade elétrica representa oportunidades para fabricantes de moldes

«Acredito que, com visão e cooperação, a indústria de moldes pode prosperar no futuro»

Evolução dos mercados de exportação

PROPRIEDADE: CEFAMOL - Associação Nacional da Indústria de Moldes

REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO: Centro Empresarial da Marinha Grande Rua de Portugal, Lote 18, Fração A - 2430-028 MARINHA GRANDE

TELEFONE: 244 575 150

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EMPRESAS PORTUGUESAS REGRESSAM DA K’2025

COM OTIMISMO E CONTACTOS

PROMISSORES

A participação portuguesa na ‘K’2025’, a maior feira mundial do sector dos plásticos e da borracha, realizada entre 8 e 15 de outubro, revelou-se positiva e superou as expectativas das empresas nacionais. Apesar do contexto económico internacional marcado pela estagnação da economia alemã, as empresas regressaram de Düsseldorf com novas perspectivas de negócio e um sentimento de confiança reforçado.

A CEFAMOL promoveu o Pavilhão Nacional de Portugal, no âmbito do projeto ‘Engineering & Tooling from Portugal’, reforçando a visibilidade e a competitividade internacional do sector português de moldes. Com a associação, participaram na iniciativa 19 empresas nacionais: AES, Cheto, CR Moulds, Inautom, JDD, JPrior, Moldit, Moldoplástico, PJA Moldes, Reson, Ribermold, SET, Socem, Steelplus, Tecnifreza, Tecnimoplas, UEpro, VL Moldes e VSV Moldes.

De acordo com Patrício Tavares, da CEFAMOL, “as empresas fizeram, no final, um balanço positivo da sua participação”. “A feira ficou acima das suas expectativas porque, à partida, todas conheciam um pouco a realidade da economia alemã neste momento, marcada por uma fase de estagnação bastante visível”, explicou, adiantando que, “no entanto, os dias no certame possibilitaram o contacto com empresas de outros pontos da Europa, quer até de várias partes do globo e mercados muito interessantes para o sector de moldes nacional”.

O representante da Associação revela que “as empresas deram-nos nota de muitos e promissores contactos que aconteceram no decorrer da feira, manifestando o seu otimismo em relação ao certame”, com destaque para o interesse demonstrado por potenciais clientes oriundos “do Brasil, México, Colômbia, Chile, EUA, Médio Oriente ou África do Sul”.

“Para além dos atuais clientes alemães, que já contavam visitar a feira, foram surpreendidos por empresas que não estavam à espera, o que confirma a K como uma das principais feiras do sector, a nível mundial”, enfatizou, sublinhando que “isso notou-se, sobretudo, nos primeiros dias do certame, com visitas inesperadas que simbolizaram contactos muito promissores para as empresas nacionais”.

“É notório que a K mantém o seu peso inegável na indústria de plásticos mundial”, reforçou, enfatizando que nos dias de feira “foi visível a energia positiva e o otimismo em relação ao futuro”, o que permitiu às empresas regressarem “com boas perspetivas de negócio para este final de ano e, sobretudo, para o próximo”.

A participação portuguesa contou ainda com a visita do diretor da delegação da AICEP em Berlim, Rui Boavista Marques, e da Cônsul-Geral de Portugal em Düsseldorf, Elisabete Cortes Palma, que manifestaram a sua disponibilidade para apoiar as empresas nacionais e “transmitir-lhes uma mensagem de otimismo em relação ao futuro”.

Patrício Tavares destacou também que a feira K “mantém o seu carácter de ‘barómetro’ das expectativas do sector internacional, apesar das

indecisões que existem na indústria de plásticos, notórias, sobretudo no sector automóvel que é o principal cliente dos moldes nacionais”.

“Os novos contactos concretizados no decorrer do certame, a maior parte inesperados para as empresas nacionais, demonstraram o dinamismo que caracteriza, apesar de tudo, esta indústria. Foi um indicador de inquestionável vitalidade da indústria, deixando as empresas nacionais com um sentimento positivo em relação ao futuro”, concluiu.

Confiança

De acordo com a organização, a K2025 foi marcada por “oito dias intensos, superando as previsões iniciais, num cenário económico adverso”. É que, sublinham os responsáveis, apesar das preocupações prévias, o evento em Düsseldorf “transbordou otimismo e dinamismo, consolidando a imagem de um sector mais inovador, internacional e comprometido com a sustentabilidade”.

Sob o tema ‘O Poder dos Plásticos! Verde - Inteligente - Responsável’, a feira reuniu 3.275 expositores de 66 países, que apresentaram tecnologias e processos visionários em 18 pavilhões e áreas externas. O evento atraiu mais de 175.000 visitantes profissionais de cerca de 160 países, com

73% oriundos do exterior e uma forte presença de mercados como China, Índia, EUA e Brasil.

De acordo com Marius Berlemann, Chief Operating Officer da Messe Düsseldorf, “a K demonstrou, mais uma vez, a imensa força inovadora e o dinamismo deste sector”. O responsável sublinhou “o enorme interesse internacional, a elevada procura por informações e soluções, e a infinidade de conversas concretas sobre investimentos, incluindo muitos contratos fechados no local”. “A K funcionou como um ponto de lançamento para inúmeras inovações”, salientou.

A próxima edição da feira está agendada para ter lugar entre 18 e 25 de outubro de 2028, na cidade de Düsseldorf, na Alemanha.

DA FEIRA À GEOPOLÍTICA: O DUELO AUTOMÓVEL ENTRE CHINA E EUROPA

O IAA Mobility, feira automóvel que decorreu em Munique (Alemanha), transformou-se num palco de confronto. Mais do que uma montra de protótipos elétricos e SUVs de última geração, o evento revelou a tensão geopolítica crescente entre a Europa e a China, uma disputa que transcendeu o design e a inovação da indústria automóvel.

Um Palco de Demonstração e Poder

Com mais de 350 novos modelos diante de 748 expositores na presença de 37 países, a feira atraiu um público diversificado: fabricantes, fornecedores, investidores e, crucialmente, decisores políticos.

O chanceler alemão, Friedrich Merz, marcou a abertura da feira com o corte de fita, proporcio-

nando um momento simbólico. A sua presença verificou o que diversos analistas já teriam vindo a alertar: que a indústria automóvel europeia se encontra numa encruzilhada de poder e de sobrevivência competitiva face à China.

Questões Centrais do Confronto SinoEuropeu

Os bastidores da feira foram dominados por debates sobre:

• Subsídios Estatais Chineses: Pequim tem apoiado fortemente os seus fabricantes de veículos elétricos, permitindo-lhes oferecer produtos a preços altamente competitivos. Esta política levanta preocupações significativas na Europa, que a vê como uma potencial distorção da concorrência.

• Tarifas e Barreiras Comerciais: Bruxelas implementou recentemente taxas adicionais sobre veículos elétricos importados da China. A medida visa reequilibrar a balança comercial e salvaguardar os interesses dos produtores europeus.

• Localização da Produção e Soberania: O interesse chinês em instalações europeias, como potenciais aquisições ou adaptações de fábricas da Volkswagen na Alemanha, levanta questões prementes sobre emprego, soberania industrial e autonomia tecnológica.

Impactos e Riscos para a Europa

Os desafios para a indústria automóvel europeia são multifacetados:

• Competitividade de Custos: A disparidade nos custos de mão-de-obra, energia, componentes e cadeias logísticas ameaça a capacidade europeia de manter margens rentáveis e volumes de vendas face aos fabricantes chineses.

• Transformação Tecnológica: A inovação em software, autonomia elétrica e integração digital nos veículos evolui a um ritmo vertiginoso. As marcas chinesas têm investido fortemente nestas áreas, exigindo que a Europa vá além de apenas regulamentações e tarifas.

• Riscos Geopolíticos: As políticas públicas, os subsídios, as tarifas e a dependência de cadeias de fornecimento de matérias-primas e componentes vindos da China transformam os salões automóveis em autênticas arenas de diplomacia económica.

Reações e Caminhos Possíveis

No IAA, a Europa esforçou-se por demonstrar resiliência, exibindo tecnologias próprias, parcerias e reafirmando publicamente o compromisso com a sustentabilidade e o investimento na produção local.

A resposta chinesa aponta para uma estratégia de expansão nos mercados externos, oferecendo produtos com uma relação custo-benefício imbatível e utilizando as tarifas como instrumento de proteção dos seus próprios interesses.

Contudo, há caminhos intermédios que ganham relevância:

• Produção Híbrida e Joint Ventures: Para evitar taxas e reduzir barreiras.

• Fomento da Inovação Interna Europeia: Políticas industriais que impulsionem o desenvolvimento em áreas como software, baterias, infraestruturas de carregamento e materiais avançados.

• Avaliação Regulatória e Investimento Estratégico: Uma análise rigorosa dos subsídios externos e um investimento público direcionado para capacidades estratégicas, como a cadeia de produção de baterias, semicondutores e componentes elétricos.

MOLDES DISCUTEM

POSICIONAMENTO E RELAÇÃO COM CLIENTES

Empresários, gestores e quadros superiores da indústria de moldes reuniram-se, dia 25 de setembro, em Ílhavo, para debater o tema ‘Posicionamento e Relação com Clientes’, no arranque do projeto GEST.IM, dinamizado pela CEFAMOL. A sessão contou com cerca de quatro dezenas de participantes e destacou a importância da diversificação, inovação e modelos de negócio alternativos como essenciais para assegurar o futuro da indústria.

Manuel Oliveira, secretário-geral da CEFAMOL, apresentou o projeto GEST.IM, uma iniciativa concebida para analisar os fatores críticos da competitividade, estimular a partilha de ideias e inspirar a transformação da indústria de moldes. O projeto estrutura-se em duas vertentes principais: a realização de estudos e análises sobre estratégia, sustentabilidade, fontes alternativas de financiamento e progressão de carreiras, e a promoção de encontros de reflexão e capacitação, cujo primeiro se realizou nesta mesma sessão.

Depois deste, dedicado ao relacionamento com clientes, seguir-se-ão outros quatro: “Novos modelos de negócio” (7 de novembro), “Governance e sustentabilidade” (11 de dezembro), “Escala e

dimensão das empresas” (29 de janeiro) e “Integrar e gerir competências” (26 de fevereiro).

Manuel Oliveira apresentou também alguns dados sobre o posicionamento atual do sector, salientando que 78% das exportações de moldes portugueses têm como destino a União Europeia, com destaque para Espanha, França e Alemanha, que juntos absorveram metade das vendas em 2024. Nos primeiros meses deste ano, registou-se um ligeiro crescimento para Espanha, Alemanha, Polónia e Chéquia, enquanto França e EUA evidenciaram quebras.

O automóvel continua a ser o principal sector cliente, com 67% das encomendas, seguido pela embalagem (13%), eletrodomésticos (5%) e dispositivos médicos e defesa (2% cada). Entre os desafios, o responsável da CEFAMOL elencou, entre outros, a geopolítica, a sobre capacidade instalada, a necessidade de soluções de financiamento e capitalização, a complexidade dos projetos, a dificuldade de entrada em novos mercados e a atração de talento, reforçando que os clientes esperam fornecimentos mais rápidos, inovadores, mas com menores custos.

Desafios

O debate que se seguiu, assinalado pela partilha de experiências e visões estratégicas, realçou distintas abordagens para o futuro da indústria. Gonçalo Caetano (Simoldes) defendeu a evolução dos fabricantes de moldes de meros fornecedores para parceiros de soluções. Eduardo Oliveira (Epalfer), por seu lado, salientou a adoção de estratégias de valorização do serviço como chave para conquistar novos clientes. A complementar as discussões, Paulo Ferreira Pinto (Moldworld) sugeriu novos modelos de negócio, como o pagamento do molde por utilização.

Carlos Seabra (Simoldes) chamou a atenção para os custos não reconhecidos pelos clientes, defendendo a necessidade de as empresas apresentarem soluções diferenciadoras para conquistar mercado, enquanto Nuno Silva e Paulo Gaspar (Moldit) enfatizaram a importância da inovação e do trabalho em conjunto, de forma a fortalecer a imagem do setor como um todo.

Guida Figueiredo (Carfi) alertou para a urgência do time to market, considerando que é algo que o cliente valoriza cada vez mais e Tiago Cruz (Neckmolde) apelou à construção de uma estratégia comum que afirme a indústria nacional. Rui Tocha (CENTIMFE) reforçou a importância da marca coletiva, bem como da aposta no alinhamento e posicionamento estratégico e Rui Hernani (Moldoplástico) apelou à união para que se mantenha a imagem de qualidade da indústria nacional no panorama europeu.

A sessão contou ainda com a intervenção inicial de Nuno Barra (Vista Alegre), que partilhou a experiência da marca no segmento de luxo, sublinhando a importância que assume a ‘quota da carteira’ – colocando o foco no cliente e nas suas expectativas -, e destacando como essenciais fatores como a diferenciação e a consistência na construção de valor.

MOBILIDADE ELÉTRICA REPRESENTA OPORTUNIDADES PARA FABRICANTES DE MOLDES

A mobilidade elétrica está a transformar profundamente a indústria automóvel e, com ela, surgem novas oportunidades. Os fabricantes de moldes não são exceção. Esta foi uma das principais conclusões do webinar ‘Unboxing Markets: Indústria da Mobilidade’, promovido pela CEFAMOL, e que decorreu no dia 23 de outubro. O orador convidado, Miguel Araújo, diretor-geral da Mobinov, destacou que “a mobilidade elétrica veio para ficar” e que a indústria nacional tem condições para integrar cadeias de valor cada vez mais exigentes, desde que invista em “inovação, tecnologia e rapidez de resposta”.

Falando perante uma plateia virtual composta por cerca de três dezenas de profissionais do sector, o responsável começou por afirmar que “a indústria da mobilidade está em grande mudança e numa acelerada inovação”. Na sua perspetiva, “a mobilidade é, hoje, um tema incontornável”. O foco, adiantou, está cada vez mais na “mobilidade elétrica, autónoma e conectada”.

O principal objetivo desta transformação, sublinhou, é “melhorar a qualidade de vida cidadãos nas cidades”. Mas o impacto vai muito além das

alterações de hábitos: exige uma “reformulação profunda da indústria”, onde a tecnologia assume papel central, acrescentou.

Há, no entender do responsável, três razões principais a sustentar a transição elétrica são, segundo o responsável, três: “a regulação climática e a segurança, as dinâmicas de mercado e a tecnologia”. E, sublinhou, num contexto global de incerteza (resultante da pandemia, dos conflitos, das mudanças económicas e das prioridades ambientais), as empresas estão a redefinir estratégias para prosperar em cadeias de valor profundamente alteradas desde a era pós-Covid.

A transformação dos veículos está a reconfigurar toda a cadeia industrial. “Nos elétricos, as baterias representam hoje mais de um terço do valor final do produto”, referiu o orador, sublinhando que no curto prazo “todos os veículos serão dotados de atualizações, novos serviços e manutenção preditiva”. Daí, no seu entender, a importância de “redefinir materiais e componentes” e de que “os fornecedores consigam equilibrar material, processos e dados”.

Outro fator de mudança é a geopolítica. “A sustentabilidade passa também por privilegiar fornecedores regionais”, lembrou, frisando que “Portugal deve apostar em cadeias de abastecimento mais curtas e focar-se em qualidade, tecnologia e prazos de entrega”.

Oportunidades

A mobilidade elétrica, frisou Miguel Araújo, “traz desafios, mas também oportunidades”. Com a eletrificação, “cerca de 30% das peças convencionais vão desaparecer”, mas “outras novas vão surgir”, frisou. Isso significa, explicou, que é essencial “apostar na investigação e criar novas soluções”. As empresas que se adaptarem de forma mais rápida e investirem em inovação serão, no seu entender, as que melhor aproveitarão esta mudança de paradigma.

A transformação tecnológica não se limita à eletrificação. “A introdução da inteligência artificial (IA) na mobilidade vai ter um enorme impacto e todo o sector pode beneficiar com isso”, assegurou. A IA, acrescentou, “vai permitir mudanças desde o desenvolvimento até à venda do produto final”, e abrir “espaço na cadeia de abastecimento para novos players”.

Ao mesmo tempo, as novas gerações estão a acelerar a adoção do elétrico. “Os automóveis elétricos e híbridos são já a maior tendência nas opções dos consumidores”, disse, notando que a mudança é mais visível “nas grandes cidades”, enquanto fora delas “a evolução é mais lenta”. Com os veículos elétricos, salientou, “o time to market é mais curto”, o que “cria mais pressão sobre os fornecedores”.

Miguel Araújo comparou ainda os custos de produção entre Ásia e Europa, concluindo que “os custos asiáticos são muito mais baixos, e isso não se deve ao custo da mão-de-obra – ao contrário do que poderia pensar-se -, mas sim à eficiência do processo”. Ainda assim, acredita que “Portugal tem tempo e capacidade para ser competitivo, desde que invista e não se deixe ficar para trás”.

Futuro

Entre as tendências mais relevantes para a indústria de moldes, Miguel Araújo destacou uma certeza: “a mobilidade do futuro vai necessitar sempre de plástico: pela leveza, baixo custo e flexibilidade de design. E vai necessitar também de

moldes para assegurar bons produtos”. Por isso, enfatizou, “quem dominar os materiais certos e os dados estará mais bem posicionado para integrar cadeias de valor mais exigentes”.

“As oportunidades estão aí”, advertiu, apelando às empresas para que “andem rápido para não as perder”, admitindo ser “necessário haver incentivos, tanto à compra de novos veículos, como aos fabricantes” de forma a estimular a procura.

“A indústria automóvel não é feita apenas de grandes marcas”, sublinhou ainda, recordando que há espaço para explorar “projetos de menor dimensão com elevado valor acrescentado”.

Para Miguel Araújo, os fabricantes portugueses têm muito a ganhar se acompanharem o ritmo da mudança. “A mobilidade elétrica é uma oportunidade para reinventar o negócio e afirmar a indústria nacional num setor em transformação”, salientou.

«ACREDITO QUE, COM VISÃO E COOPERAÇÃO, A INDÚSTRIA DE MOLDES PODE PROSPERAR NO FUTURO»

ENTREVISTA A STEPHAN BERZ, PRESIDENTE DA ISTMA EUROPE

A indústria de moldes enfrenta um momento de grande instabilidade. De acordo com Stephan Berz, presidente da ISTMA Europe para o período 2025-2026, há todo um contexto de indefinição de tal forma instalado que considera que “confuso é o novo normal”. O sector, acentua, atravessa um período de oscilações bruscas, tornando difícil para as empresas planear o futuro. A indústria automóvel, tradicionalmente um cliente fiável, deixou de oferecer essa segurança, e a conjuntura política global agrava a incerteza. A guerra na Ucrânia e as políticas dos Estados Unidos dificultam os negócios internacionais, enquanto a evolução tecnológica da China acrescenta pressão às empresas europeias. Paralelamente, defende, a digitalização impõe novos desafios, sendo um tema ainda subestimado por algumas empresas.

Como avalia a situação atual do sector dos moldes, tanto na Europa como a nível mundial? Quais os principais desafios e tendências que identifica?

A indústria de moldes atravessa um momento difícil, com desafios globais e um instável ambiente de negócios. O sector automóvel, tradicionalmente um cliente fiável, deixou de ser previsível, dificultando o planeamento das empresas. A incerteza política também é um fator relevante, com situações como a guerra na Ucrânia e as políticas comerciais dos Estados Unidos a complicarem o acesso a mercados internacionais. Além disso, assistimos a um avanço significativo da China em termos industriais e tecnológicos, representando um novo desafio competitivo. Outro problema crítico é a alta de mão-de-obra qualificada, pois é necessário atrair uma nova geração para a indústria. Por fim, a digitalização está a transformar sector, mas muitas empresas ainda não a adotaram plenamente. Esta realidade global é marcada por instabilidade e por um ritmo acelerado de mudanças, tornando a adaptação uma necessidade constante. Diria, até, que está tudo muito confuso e ‘confuso’ é o novo normal.

A Alemanha tem sido historicamente o principal mercado para os moldes portugueses, sobretudo através da indústria automóvel. Como avalia a evolução deste mercado e quais os principais desafios que se colocam ao sector automóvel?

A indústria automóvel tem sido a principal cliente do sector de moldes, mas enfrenta desafios significativos. A transição para a mobilidade elétrica trouxe incertezas, pois, apesar do investimento, os consumidores ainda não aderiram totalmente a este modelo. Como resultado, as marcas precisam de manter também a produção de modelos a combustão, aumentando os custos e dificultando o planeamento.

O impacto na indústria de moldes é evidente, pois os fabricantes dependem da constante renovação dos modelos automóveis. No passado, novos modelos surgiam a cada três anos; hoje, os lançamentos são adiados ou cancelados, tornando o mercado imprevisível. Para agravar a situação, os produtores de moldes enfrentam aumentos de custos com matérias-primas e energia, enquanto os fabricantes de automóveis se recusam a ajustar os preços dos moldes, comprimindo as margens de quem produz. Esta pressão leva à procura de fornecedores mais baratos, com a China a consolidar-se como uma opção dominante. No entanto, há sinais de uma tendência de reaproximação local: o local to local está a ganhar importância. Durante a pandemia, quando a China encerrou temporariamente a sua indústria, muitas OEM procuraram fornecedores na Europa. Agora, com a instabilidade política e económica global, este movimento pode ganhar força, promovendo uma maior produção regional.

No seu entender, quais são os mercados (geográficos e sectoriais) em crescimento e aqueles que estão a enfrentar maiores dificuldades?

Atualmente, não há um sector ou um país que se destaque por um crescimento significativo. No melhor dos cenários, alguns mercados encontram-se estáveis, mas a maioria está sob pressão. O sector automóvel, em particular, protagoniza uma grande redução na sua procura por moldes. O mesmo acontece com os transportes e outras áreas industriais. Os fabricantes de moldes da Europa, como Portugal, Alemanha e Itália, sentem uma pressão crescente, especialmente aqueles mais dependentes do sector automóvel. Por outro lado, há indústrias que têm dado sinais de grande crescimento, como a médica, que tem

apresentado um desempenho mais estável, impulsionada pelo envelhecimento da população e pela necessidade crescente de dispositivos médicos.

Como está atualmente a indústria de moldes na Alemanha? Quais as principais preocupações e que soluções estão a ser debatidas?

Na Alemanha, a indústria de moldes enfrenta vários desafios. O aumento dos custos energéticos e de produção tem sido um obstáculo significativo. Além disso, o debate sobre o plástico tem sido conduzido de forma mais emotiva do que factual, o que pode desmotivar as novas gerações a ingressar na indústria.

A indústria automóvel também está a transferir parte da sua produção para o Leste Europeu, tornando o cenário ainda mais desafiador. No entanto, a esperança reside na capacidade de adaptação e na valorização da engenharia e da inovação alemãs, que podem ser fatores-chave para a revitalização do sector.

A nível europeu, que medidas considera essenciais para que a indústria de moldes continue a singrar?

Os moldes estão a ser cada vez mais vistos como uma commodity, quando, na verdade, são um produto de alto valor tecnológico e estratégico para diversas indústrias. É essencial reforçar a consciência sobre a sua importância e demonstrar como influenciam a eficiência e a rentabilidade da produção industrial. Os fabricantes de moldes podem apostar em novos modelos de negócio, como a proximidade com os clientes desde a fase de conceção, e na ampliação dos serviços prestados, incluindo suporte ao longo do ciclo de vida do molde. Além disso, é fundamental repensar o core business das empresas, avaliando o que pode ser produzido internamente e o que pode ter origem exterior, maximizando a eficiência operacional.

Qual o papel da ISTMA Europa neste contexto?

A ISTMA Europe tem que reforçar a consciencialização para a importância do sector. Precisamos de chamar a atenção e abordar a relevância da fabricação de moldes para a indústria europeia e explicar a situação crítica atual. Precisamos de aumentar a nossa interação com o poder político e, ainda mais importante, junto dos grandes players (OEM) e clientes.

A ISTMA Europe pode ainda promover a colaboração entre os fabricantes de moldes, incentivando compras conjuntas de matérias-primas, partilha de produção e otimização de recursos. A diversificação sectorial e geográfica também é essencial para reduzir riscos e criar novas oportunidades de negócio. A crise que enfrentamos não é apenas um período difícil, mas uma mudança estrutural na indústria. Acredito que, na Europa, temos todas as condições necessárias para prosperar. Então, por que tentar fazer tudo sozinhos? Será que não faz mais sentido unirmo-nos e trabalharmos em conjunto como fabricantes de moldes? Isso leva-nos às mudanças necessárias para o sector. Os fabricantes de moldes conseguirão cooperar dessa forma? E quais as áreas mais importantes?

Acredito que esse terá de ser o caminho. Na minha opinião, há três questões essenciais:

• As compras conjuntas - Todos precisam de aço. Por que não comprá-lo em conjunto? Esta pode ser uma solução eficiente.

• A partilha da produção - Se tenho capacidade excedente de produção, posso partilhá-la ou cooperar com outros. O mesmo acontece com as máquinas: se não estão em uso total, podemos adquiri-las em parceria e maximizar a sua utilização.

• A diversificação - Sair da zona de conforto é essencial. Estar dependente de um único sector ou cliente é demasiado arriscado. A diversificação sectorial e geográfica deve ser uma estratégia de longo prazo, com resultados que só se tornam evidentes após, no mínimo, três a cinco anos.

Para concretizar estas mudanças, é crucial ter um plano estratégico bem definido. As empresas devem estabelecer objetivos claros sobre onde querem estar e para onde querem ir. Neste caminho, temas como a digitalização e produtividade surgem, naturalmente, como prioridades.

A sustentabilidade é um dos temas centrais para a indústria. De que forma irá impactar a indústria de moldes e a sua posição nas cadeias de valor globais?

A sustentabilidade é uma questão incontornável. Cada vez mais, os clientes exigem provas concretas das práticas ambientais das empresas. Esta é uma exigência crescente e, se não lhe dermos resposta, perderemos competitividade. Mas a sustentabilidade também traz benefícios: a redução de desperdício, a otimização dos transportes, a poupança energética e a refrigeração eficiente são alguns dos exemplos de como estas medidas podem aumentar a eficiência operacional. A digitalização e a automatização também desempenham um papel-chave, pois permitem integrar processos e melhorar a produtividade. Todas elas são um desafio, mas também uma oportunidade para o setor de moldes se reinventar e crescer.

Sendo esta uma indústria mundial, como pode ser definida uma estratégia comum para garantir que todos seguem a mesma direção, apesar das diferentes prioridades de cada região do globo?

Este é um dos maiores desafios. Não existe uma harmonização global clara, pois cada região, como os EUA ou a China, adota os seus próprios regulamentos e regras. No entanto, estas decisões individuais têm um impacto ambiental significativo a nível global. Para alcançar resultados positivos, é essencial que haja uma maior uniformização de normas e procedimentos. Se cada país continuar a atuar isoladamente, os esforços de sustentabilidade serão limitados e pouco efeito surtirão.

Existe um modelo de negócio mais sustentável que possa garantir a resiliência da indústria?

A sustentabilidade financeira é uma preocupação crescente para as empresas. Sobretudo se estão mais ligadas à indústria automóvel. As condições de pagamento na Europa chegam a estender-se por dois ou três anos após o envio dos moldes, criando dificuldades financeiras para muitas empresas.

Os fabricantes de moldes necessitam de suporte financeiro para manter a tesouraria equilibrada e investir em tecnologia. Sem investimento em automatização e equipamentos modernos, a competitividade fica comprometida. Por isso, é essencial sensibilizar os governos e as instituições europeias para criarem mecanismos de apoio financeiro às pequenas e médias empresas do sector. Sem este suporte, será difícil garantir a sustentabilidade da indústria a longo prazo.

Como podem as empresas tornar-se mais atrativas para captar e reter talento?

As associações do sector têm um papel fundamental em tornar a indústria de moldes mais apelativa para os jovens. Muitos desconhecem o sector e não fazem ideia do seu nível de inovação e desenvolvimento tecnológico. Precisamos de iniciativas que aproximem as empresas das escolas e universidades, mostrando o potencial desta indústria. Os media também desempenham um papel essencial na mudança da perceção pública sobre a indústria. No entanto, tendo presente a dificuldade que é a mão-de-obra, torna-se ainda mais premente ponderar uma solução promissora que é a partilha de recursos. Faz sentido que as empresas colaborem e encontrem soluções conjuntas para otimizar os seus recursos humanos.

Evolução dos Mercados de Exportação

1.º semestre de 2025

EVOLUÇÃO DO VOLUME DE EXPORTAÇÕES

PESO DOS MERCADOS TRADICIONAIS

NAS EXPORTAÇÕES NACIONAIS”

EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES PARA MERCADOS TRADICIONAIS

EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES PARA PAÍSES EUROPEUS (EXCETO RÚSSIA)

EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES PARA MERCADOS AMERICANOS

EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES PARA ÁFRICA DO SUL, MARROCOS, TURQUIA E RÚSSIA

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