Revista Móbile Ed. #28 | Cidades Resilientes

Page 1


Nelson Kon Fotógrafo especializado em arquitetura e cidades. Formado pela FAU/USP, atua profissionalmente desde 1985.

Foto: São Paulo, 2014

Sumário

Editorial

Expediente

O campo profissional e a resiliência das cidades brasileiras • Camila Moreno de Camargo

Cidades, espaço de viver e projetar • Patricia S. Herden

Contextualizando cidades inteligentes, sustentáveis e resilientes • Carolina C. M. A. Theodoro e Andrea R. Gomes

Geroarquitetura: cidades para um envelhecimento ativo e inclusivo • Iago Rodrigues Oliveira e Danilo Cândido Bulgo

Cidades médias do interior paulista: o que precisamos fazer para que se tornem mais resilientes? • Renata B. Peres

Planejamento permacultural para a mobilidade urbana socioambiental • Letícia A. de Paiva e Fernando S. Okimoto

Verdejando: o antes e o depois nas escolas municipais • Daniela F. Antunes

E da ponte pra cá? Capacitação em saneamento rural no município de Itatiba-SP • Isabella P. Bocaletto, Jean Pierre de M. Crété e Daniela Colin Lima

Cidades resilientes e os desafios das gestões políticas de 4 anos • Paulo Sérgio Pinhal

Pôr do sol • Verônica de Freitas

O mercado imobiliário e a memória afetiva da cidade • Selma C. de Sá M. Simões (CDP – CAU/SP)

Conceitos de resiliência aplicados aos impactos econômicos na cidade contemporânea • Ana Paula P. Rodrigues (CPFi – CAU/SP)

Tecnologias preditivas e cidades resilientes: benefícios nos processos de projeto e planejamento • Adriano C. Pita e Danila M. A. Battaus (CTIC-AU – CAU/SP)

Cidades resilientes e inclusivas para as crianças • Nadir Moreira da Silva e Tainã A. V. Dorea (CPAF – CAU/SP)

Berlim, cidade resiliente • Roberto Carlos Spina (CEP – CAU/SP)

A universidade na cidade: a curricularização da extensão no cerne formativo do arquiteto e urbanista • Ana Paula G. Pedro e Clarissa D. de C. Souza (CEF – CAU/SP)

Acessibilidade nas cidades: ruas e calçadas para todos • Fernando Netto, Mel G. de G. Pereira e Silvana S. Cambiaghi (CAC – CAU/SP)

A evolução da mobilidade urbana: a trajetória do CAU/SP na valorização da atuação dos arquitetos e urbanistas na construção de cidades conectadas • Wilton F. Camoleze Augusto, Maria Ermelina B. Malatesta (CMU – CAU/SP)

Móbile 10 anos: uma revista em constante mutação • Comitê Editorial

Móbile: o desafio da criação da revista • Marcos Cartum e Nancy Laranjeira (CCOM - CAU/SP)

O projeto editorial da Móbile: os primeiros 10 anos • Paula Rodrigues de Andrade (CCOM - CAU/SP)

Linha do Tempo

O tema da cidade na história da Móbile • Adriana Bighetti Cristofani (CCOM CAU/SP) e Lucas Ricardo Cestaro (CPUAT CAU/SP)

Habitação social e assistência técnica na Revista Móbile • Dânia Brajato e Mariana Cicuto Barros (CATHIS CAU/SP)

Capa, 02_ 10-11_ 25_ 45_ 76-77_ 110-111_ 123_

São Paulo, 2014 • Nelson Kon Rio de Janeiro, 2004 • Nelson Kon

Vila Guacuri, São Paulo • Tuca Vieira

Heliópolis, São Paulo • Tuca Vieira

Pelada series #312, 2012 • Leonardo Finotti

Paisagem urbana da Enba • Carlos Alberto Palladini Filho

Quimérico urbano, 2024 • Ysadora Lourenço

Esta edição nasceu assim, da necessidade de celebração da primeira década da revista - um marco importante para o Conselho e motivo de orgulho para arquitetos(as) e urbanistas. Com uma história consolidada, a Móbile já conquistou seu espaço, com muita gente que coleciona e aguarda as novas edições!

Para comemorar esses 10 anos, criamos uma seção especial com artigos que revisitam a história da revista sob diferentes perspectivas, registrando um pouco de sua trajetória. Aliás, o tema escolhido para esta 28ª edição, “Cidades resilientes”, é uma homenagem à primeira edição, “Cidades”, que é referenciada ao longo da revista.

Sobre o tema desta edição, selecionamos 16 trabalhos, sendo oito da Chamada Aberta e oito de conselheiros(as), que abordam o assunto sob diversas camadas, perspectivas e escalas. Os textos demonstram mais uma vez a importância da preservação do meio ambiente, da sustentabilidade e da capacidade de resiliência como pautas urgentes para a nossa sociedade. No campo da Arquitetura e Urbanismo, observamos que esses temas são cada vez mais presentes e fundamentais, provocando reflexões e criações em diversas esferas de nossa atuação.

Esperamos que esta edição seja mais uma contribuição do CAU/SP para a valorização e o aprimoramento profissional, bem como para a promoção da relevância da Arquitetura e Urbanismo para a vida das pessoas.

Comitê Editorial

REVISTA MÓBILE

E-mail revista.mobile@causp.gov.br

ISSN: 2448-3885

As opiniões publicadas nesta edição da revista Móbile refletem a visão de seus autores e não correspondem necessariamente à opinião do CAU/SP.

Fontes

Fold Grotesque Pro Regular

Fold Grotesque Pro Itálico

Px Grotesk Bold

Px Grotesk Regular

Papel

Capa: Couche Fosco Design 250g/m²

Miolo: Couche Fit Fosco 90g/m²

PRESIDÊNCIA DO CAU/SP

CAMILA MORENO DE CAMARGO, Presidente

ANDREIA DE ALMEIDA ORTOLANI, Vice-presidente

PRESIDÊNCIA DO CAU/BR

PATRICIA FIGUEIREDO SARQUIS HERDEN, Presidente

PAULO ELEUTÉRIO CAVALCANTI SILVA, 1º Vice-presidente

FABIO MULLER, 2º Vice-presidente

COMISSÃO DE COMUNICAÇÃO DO CAU/SP

PAULA R. DE ANDRADE, Coordenadora

ADRIANA B. CRISTOFANI, Coordenadora-adjunta

MAÍRA L. GEIA

MARCIA M. M. DE MOURA

MARCOS CARTUM

NANCY LARANJEIRA T. DE CAMARGO

EQUIPE DE COMUNICAÇÃO CAU/SP

ANTONIO DE OLIVEIRA BIONDI, Assessor-chefe de comunicação

BRUNO TRIPODE BARTAQUINI, Analista de comunicação

CAMILA SANTANA BARBOZA, Analista de comunicação

EPAMINONDAS NETO, Analista de comunicação

ADRIANO BATISTA BARBOZA, Assistente de comunicação

EWERTON LACERDA COSTA, Assistente de comunicação

JAQUELINE CHIESA SIQUEIRA, Estagiária de comunicação

JOAO VITOR ROSENBROCK, Estagiário de comunicação

JOSÉ GUILHERME MOURA CABRAL, Estagiário de comunicação

EDITADO POR AGÊNCIA LCR

EDIÇÃO, PROJETO GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO E IMPRESSÃO

AGÊNCIA LCR

REBECCA RAMOS, Coordenadora de projeto

LEO DE CARVALHO, Designer gráfico e diagramador

IMPRESSÃO: COAN INDÚSTRIA GRÁFICA LTDA

TIRAGEM: 16 MIL EXEMPLARES

COMITÊ EDITORIAL EXECUTIVO

PAULA RODRIGUES DE ANDRADE

NANCY LARANJEIRA T. DE CAMARGO

MARCOS CARTUM

CONSELHO EDITORIAL DA EDIÇÃO Nº 28

ADRIANA B. CRISTOFANI (CCOM-CAU/SP) / ANA PAULA GIARDINI PEDRO TREVISAN (CEF-CAU/SP) / ANA PAULA PRETO RODRIGUES (CPFiCAU/SP) / DANIA BRAJATO (CATHIS-CAU/SP) / DANILA MARTINS DE ALENCAR BATTAUS (CTIC-CAU/SP) / EDERSON DA SILVA (CTAPS-CAU/ SP) / EDUARDO SALGADO MARCONI (CF-CAU/SP) / FERNANDO NETTO (CAC-CAU/SP) / JOSÉ MARCELO GUEDES (CED-CAU/SP) / LUCAS RICARDO CESTARO (CPUAT-CAU/SP) / LUCIANA C. CERON (CCOM-CAU/SP) / LUCIANA RANDO DE MACEDO (CRI-CAU/SP) / MAÍRA DE CAMARGO BARROS (CPC-CAU/SP) / MARCIA M. M. DE MOURA (CCOMCAU/SP) / MARCOS CARTUM (CCOM-CAU/SP) / NADIR MOREIRA DA SILVA (CPAF-CAU/SP) / NANCY LARANJEIRA T. DE CAMARGO (CCOM-CAU/ SP) / PAULA R. DE ANDRADE (CCOM-CAU/SP) / RAFAELA ENGLER RIBEIRO (COA-CAU/SP) / ROBERTO CARLOS SPINA (CEP-CAU/SP) / SELMA CRISTINA DE SÁ MOREIRA SIMÕES (CDP-CAU/SP) / WILTON FLÁVIO CAMOLEZE AUGUSTO (CMU-CAU/SP)

PARECERISTAS DA EDIÇÃO Nº 28 ALINE ALVES ANHESIM, BÁRBARA CAETANO DAMASCENO, CAROLINA MRIA POZZI DE CASTRO, DENIS FERRI DA SILVA, KÁTIA DOLABELLA FERREIRA LUZ, MARCELO DE OLIVEIRA MONTORO, MARIA CRISTINA PINHEIRO MACHADO SANCHES, MARIA ENEIDA BARREIRA, MARIANA PETRUCCELLI PIRES WATZEL, MARINA MACHADO DE SOUZA CASTANHEIRA, MIRTES BIRER KOCH, PATRICIA CERONI SCARABELLI, SÔNIA CRISTINA BOCARDI DE MORAES, THAÍS BORGES MARTINS RODRIGUES E WESLEY CAFÉ CALAZANS

AUTORES SELECIONADOS DA CHAMADA ABERTA DE TRABALHOS DA EDIÇÃO Nº 28

CAROLINA C. MOINO A. THEODORO E ANDREA RIBEIRO GOMES/ DANIELA FARAH ANTUNES / IAGO RODRIGUES OLIVEIRA / ISABELLA PEREIRA BOCALETTO, JEAN PIERRE DE MORAES CRÉTÉ E DANIELA COLIN LIMA/ LETÍCIA APARECIDA DE PAIVA E FERNANDO SÉRGIO OKIMOTO / PAULO SÉRGIO PINHAL / RENATA BOVO PERES / VERÔNICA DE FREITAS / YSADORA LOURENÇO / CARLOS ALBERTO PALLADINI FILHO

Quer receber a Móbile?

Versão impressa (p/ estado de SP)

Preencha o formulário com o seu endereço. Entrega sujeita à avaliação da possibilidade de envio e à tiragem da revista.

Versão digital

Preencha o formulário com o seu melhor e-mail. Se você não é profissional da Arquitetura, também pode solicitar seu exemplar digital.

lança ferramenta para orientar escolha de CNAEs na abertura de empresas

*Esta ferramenta não substitui a consultoria de um contador para questões tributárias relacionadas aos CNAEs (Classificação Nacional de Atividades Econômicas).

CIDADES RESILIENTES

Receba do seu jeito. Leia à vontade. ↗ bit.ly/CadastroMobileCAUSP

Um recurso valioso

A ferramenta permite que você insira as atividades que pretende desenvolver e obtenha uma lista correspondente de CNAEs!

Eficiência e facilidade

A localização dos CNAEs corretos para sua empresa fica facilitada, e o processo de registro e planejamento empresarial é otimizado.

↗ bit.ly/FerramentaCnaesCAUSP SAIBA MAIS AQUI!

O campo profissional e a resiliência das cidades brasileiras

“Cidades” tem sido tema recorrente nas últimas edições da revista Móbile, o que possibilitou a ampliação do debate sobre escalas e objetos relacionados ao planejamento e projeto de espaços urbanos, além de contribuir com o resgate de conceitos e a avaliação quanto a atualidade das questões urbanas e seus marcos referenciais. O assunto torna evidente a importância da atuação de profissionais de Arquitetura e Urbanismo na formulação de soluções críticas e técnicas voltadas aos enfrentamentos necessários que surgem a partir dos novos contextos de crise urbana, ambiental e social. Temos observado e experimentado de perto os desafios imensos que as cidades contemporâneas apresentam em termos de resiliência e capacidade adaptativa, sobretudo, relacionadas aos impactos provenientes das mudanças climáticas, mas também aos processos mais complexos que envolvem dinâmicas territoriais expressos no aprofundamento das desigualdades que estruturaram a produção de cidades e o desenvolvimento urbano no Brasil.

Quanto às formas de intervir na cidade, combinadas à ação do Estado, é preciso destacar que o quadro de necessidades conformado já entre 1970 e 1990, apresenta a precariedade, a informalidade e a insustentabilidade da moradia como dimensões indissociáveis do padrão de urbanização brasileiro. Essa concepção de cidade ancorou-se fortemente em intervenções que prescindiram da cobertura vegetal e do ciclo hidrológico, e que modificaram excessivamente o relevo, substituindo as linhas de drenagem naturais por galerias pluviais projetadas

para conduzir os rios e córregos de forma rápida e invisível. Uma concepção que distanciou a experiência urbana da natureza e da relação com o verde e com a água.

Como efeito, tem-se uma constelação de setores descontínuos conformados pelo descompasso entre a urbanização e o suporte físico-ambiental, sobre estruturas urbanas que conjugam situações de moradia mal ajustadas junto aos fundos de vale e áreas de várzea, espaços livres mal acabados “conquistados” pelas urgências da vida cotidiana, obsolescência de edificações, desdobramentos dos processos mal acomodados de canalizações de corpos d’água sobrepostos a intervenções viárias desconectadas no tempo e no espaço, um passivo ambiental bastante agravado que se alastra pelos cíclicos processos de expansão da cidade.

Nesse enquadramento, aponta-se a ampla noção de “risco”, que cotidianamente se apresenta sob distintas faces junto aos territórios populares, expondo a severidade dos desdobramentos e do aprofundamento desse padrão de urbanização historicamente excludente e racialmente definido, nos apontando para a urgência em se estabelecer um novo quadro de legibilidade sobre as condições da desigualdade urbana no Brasil atual, que enquadre, de diferentes formas, os riscos a que estão submetidos grande parcela da população, em suas práticas relacionadas ao viver a e na cidade. Mais recentemente, como forma de atualização das chaves de leitura que se lançam sobre o padrão de urbanização brasileiro, diante da emergência climática que se estabeleceu globalmente, ressaltaram-se os nexos entre injustiça social e degradação ambiental. A “injustiça socioambiental” assumirá, assim, distintas dimensões nos territórios marcados pela presença de populações marginalizadas, grupos minoritários e vulnerabilizados que irão repercutir em formas contemporâneas de representação da cidade periférica, ressaltando as consequências das degradações ambientais e dos efeitos das mudanças climáticas, tais como escassez hídrica, enchentes, inundações, deslizamentos, falta de energia, insegurança alimentar, insegurança habitacional, prejuízos junto aos sistemas de mobilidade urbana, de produção de alimentos e de saúde humana, concentrados em territórios populares onde vivem, sobretudo, os pobres, os negros, os pardos, os indígenas e os quilombolas no Brasil. Nesse quadro de complexidades é que se ressaltam projetos de intervenção urbana estruturados a partir de uma visão sistêmica e um olhar integrado sobre os espaços livres públicos constituintes das cidades e estruturadores

da vida urbana, onde se combinam um olhar híbrido sobre a capacidade de suporte das redes de infraestrutura e ressignificações de práticas socioespaciais. Tais processos atravessam as intervenções que compreendem os projetos habitacionais, bem como implantação de infraestrutura básica e a integração de diversas políticas sociais no território voltadas à urbanização de assentamentos precários, como da consolidação de novas estratégias e metodologias voltadas à tipificação das necessidades habitacionais e urbanísticas das cidades brasileiras na contemporaneidade.

Alguns projetos decorrentes dessas estratégias se organizaram no Brasil buscando articular tecnologias, instrumentos e dispositivos urbanísticos voltados à ampliação ou reorganização da densidade habitacional, à otimização das redes de infraestrutura de transporte de alta capacidade, a ajustes e complementações das infraestruturas urbanas subterrâneas, superficiais e aéreas, à integração de equipamentos e serviços públicos, à recomposição do meio ambiental a partir de sistemas de espaços livres e públicos, dentre outros.

Diante desse novo cenário e do quadro de soluções técnicas e estratégicas que passam a fazer parte do fazer as cidades e a arquitetura de modo mais resiliente e justo socialmente nos dias de hoje, é que observamos o quanto se destaca a responsabilidade e o papel social dos profissionais de arquitetura e urbanismo, da sua importância na promoção de um olhar crítico, expressos na sua atuação em diversas esferas da profissão, tanto em seus trabalhos cotidianos, como no desenvolvimento de grandes planos e projetos urbanos, que costuram distintas escalas e dinâmicas voltadas a ampliar a capacidade adaptativa e a resiliência de cidades brasileiras.

Cidades, espaço de viver e projetar

Vivemos um período marcado por diversos desastres relacionados à ocupação humana e aos efeitos das mudanças climáticas. A resposta de arquitetos(as) e urbanistas, neste momento, é essencial para promover segurança e qualidade de vida para a população mais vulnerável e afetada.

Diante desse cenário, é importante destacar que a maior parte dos brasileiros não têm acesso ao trabalho de profissionais habilitados. Por essa razão, a missão “Arquitetura e Urbanismo para Todos” permanece como a principal motivação para os Conselhos de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, dos Estados e do Distrito Federal desenvolverem ações de fiscalização, orientação e valorização profissional.

Assim, fomentar o acesso da sociedade à Arquitetura e ao Urbanismo é fundamental para o desenvolvimento técnico e social do país. O CAU vem, desde 2018, aplicando um percentual obrigatório nessa área em seus planos de ação e orçamentos. Fruto disso, em 2025 foi lançado o Observatório da ATHIS, plataforma digital de controle social dos investimentos realizados pelos Conselhos de Arquitetura e Urbanismo em todo o território nacional, além de repositório que disponibiliza o material produzido como forma de difundir boas práticas voltadas à temática da Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social (ATHIS). A plataforma é aberta à inclusão de ações de parceiros.

Nesse mesmo sentido, em 2022, o CAU/BR lançou chamada pública com foco em ações de prevenção e mitigação de riscos climáticos e na recuperação de áreas degradadas por desastres ambientais no período pré e póspandemia.

Mais recentemente, em resposta aos danos causados pelas enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul, mais especificamente na Região Metropolitana de Porto Alegre, o CAU promoveu seu primeiro credenciamento de profissionais. Em projeto-piloto nos municípios de Canoas e São Leopoldo, os profissionais credenciados realizaram laudos de vistoria em edificações afetadas, com o objetivo de viabilizar a captação de recursos para a reconstrução. Por se tratar de usos diversos, foi adotado o modelo da Assistência Técnica de Interesse Público (ATIP). A proposta é expandir essa atuação em escala nacional e fomentar outras atividades técnicas. Além das respostas emergenciais, por meio do planejamento urbano das nossas cidades, os profissionais da Arquitetura e do Urbanismo podem atuar nos demais ciclos da Defesa Civil: prevenção, preparação e mitigação.

Parabéns à revista Móbile por seus 10 anos, fomentando o debate sobre Arquitetura e Urbanismo em todo o país. Que esse debate siga fortalecendo o papel dos arquitetos(as) e urbanistas como agentes essenciais na construção de cidades mais seguras, acessíveis e resilientes.

CASA DA ARQUITETURA E URBANISMO DE RIBEIRÃO PRETO

Descentralização e presença O CAU/SP agora conta com sede própria em Ribeirão Preto! É o Conselho mais perto de você.

Valorização profissional

Um espaço dedicado à valorização da Arquitetura, do Urbanismo e de quem constrói a história e o cotidiano da nossa profissão.

Patrimônio tombado

Projetada por João Batista Martinez Correa, a Residência Clotilde e Sérgio Ferreira, imóvel que agora abriga a Casa, é um marco da arquitetura modernista da cidade.

Contextualizando cidades inteligentes, sustentáveis e resilientes

As cidades modernas enfrentam desafios complexos relacionados ao crescimento populacional, mudanças climáticas e demandas de recursos. Três conceitos fundamentais de desenvolvimento urbano têm emergido como respostas a esses desafios: Inteligente, Sustentável e Resiliente. Este artigo visa esclarecer as definições de tais conceitos e suas diferenças no planejamento das cidades do futuro.

Diante do crescimento da população mundial, que chegou a 8 bilhões de habitantes em 2022, com uma previsão de que mais de 2 bilhões de pessoas viverão em áreas urbanas até 2050, as cidades enfrentam desafios crescentes relacionados à demanda por recursos e serviços. Ocupando menos de 2% da superfície terrestre, mas responsáveis por mais de 60% das emissões de gases de efeito estufa, as áreas urbanas precisam de estratégias de adaptação para melhorar a qualidade de vida e infraestrutura, enquanto mitigam os impactos ambientais (ONU, 2022).

1. CIDADE INTELIGENTE

Uma Cidade Inteligente é caracterizada pela integração de tecnologias avançadas para melhorar a eficiência dos serviços urbanos e a qualidade de vida dos cidadãos. Segundo a definição de Caragliu et al. (2011), uma Cidade Inteligente utiliza tecnologias da informação e comunicação (TIC) para otimizar operações urbanas e promover a inovação. A implementação de tecnologias como sensores, big data e Inter-

net das Coisas (IoT) está transformando a coleta e análise de dados urbanos em tempo real, permitindo um monitoramento contínuo das cidades, além de promover eficiência operacional em serviços como transporte, energia e segurança, através da automação e otimização de recursos. Paralelamente, o engajamento cidadão cresce com plataformas digitais que facilitam a participação ativa dos moradores na governança urbana, permitindo feedback e sugestões, promovendo uma democracia participativa e moldando as cidades de modo mais inteligente e inclusivo. Barcelona destaca-se com sua rede de sensores para monitoramento de tráfego e iluminação pública inteligente, utilizando plataformas digitais para engajamento cívico e otimização dos serviços urbanos. Songdo, na Coreia do Sul, foi projetada como uma cidade inteligente desde o início, integrando tecnologias de automação e TIC em sua infraestrutura, com sistemas de transporte inteligentes e gerenciamento de resíduos.

2. CIDADE SUSTENTÁVEL

As Cidades Sustentáveis buscam equilibrar o desenvolvimento urbano com a preservação ambiental e a equidade social. Conforme definido pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-Habitat), em 2016, é aquela que promove um crescimento urbano que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atenderem às próprias necessidades. A preservação ambiental, eficiência energética e equidade social são essenciais para o desenvolvimento urbano sustentável, o que inclui práticas que minimizam impactos ambientais, como áreas verdes e gestão de resíduos, uso de tecnologias para reduzir consumo de energia e promover fontes renováveis, além de garantir inclusão social e acesso equitativo a recursos e serviços urbanos. Curitiba, no Brasil, se destaca pela implementação do sistema de ônibus expresso, o Bus Rapid Transit (BRT), caracterizado por corredores exclusivos para esse meio de transporte, estações de embarque modernas e veículos de alta capacidade, o que melhora a eficiência da mobilidade urbana e reduz o tempo de viagem, além de políticas de reciclagem de resíduos e preservação de áreas verdes, como o Jardim Botânico (Theodoro, 2023).

3. CIDADE RESILIENTE

Quanto ao conceito de Resiliência Urbana, este tem sido até agora relacionado principalmente com adaptação às mudanças climáticas e perspectivas de gestão de desastres. Porém, além desses aspectos, tem-se a questão do abastecimento de água e de alimentos, (i)migração, habitação, desigualdade, pandemias, violência criminal, guerra, terrorismo, dentre outras, às quais as cidades são suscetíveis, mas apenas poucas encotram-se adequadamente equipadas para lidar com tais ameaças. É preciso prever possíveis choques e elaborar estratégias que possam suportar os acontecimentos sem fortes danos, podendo ainda se tornarem melhores e mais fortes do que anteriormente ao ocorrido. O Escritório das Nações Unidas para Redução de Riscos de Desastres (UNDRR) relata perdas anuais de mais de U$ 400 bilhões devido a desastres, incentivando líderes a priorizarem planos de resiliência urbana, os quais, segundo Romero (2022), incluem os seguintes sistemas e ações:

§ Sistemas alternativos à curto prazo: ações emergenciais, quando a catástrofe ou o problema estão próximos de ocorrem ou estão ocorrendo.

§ Sistemas redundantes: ações perenes de médio prazo, podendo considerar possíveis problemas e prever estratégias que, ou impeçam o evento de ocorrer ou minimizem seus impactos durante e depois

§ Ações mitigatórias: ações perenes a longo prazo, com a intenção de finalizar as possibilidades de determinado evento ou catástrofe ocorrerem.

Os sistemas urbanos devem focar em três aspectos principais: adaptabilidade, para ajustar e transformar estruturas e processos em resposta a novos desafios; recuperação, para retornar rapidamente ao funcionamento normal após um choque, com melhorias contínuas; e preparação, que envolve planos e infraestruturas para antecipar e mitigar os impactos de desastres. Após o furacão Sandy, Nova York implementou estratégias como construção de barreiras contra inundações, revitalização de áreas afetadas e sistemas de alerta precoce

REFERÊNCIAS

CARAGLIU, A. et al. Smart cities in Europe. In: CENTRAL EUROPEAN CONFERENCE IN REGIONAL SCIENCE, 3., 2009, Košice. Proceedings [...] [S. l.]: CERS, 2009. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. [S. l.]: ONU, 2015

ROMERO, M. A. Urban resilience: a methodological approach. arq.urb, [S. l.], n. 35, set./dez. 2022.

THEODORO, C. C. M. A. Proposta de resiliência em agricultura urbana para subprefeitura de Pinheiros na cidade de São Paulo. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2023. 300 f.

para evitar impactos semelhantes futuros (Romero, 2022).

Assim sendo, os conceitos de cidades têm evoluído significativamente à medida que elas enfrentam desafios emergentes, como a urbanização acelerada e as mudanças climáticas. Cidades inteligentes, sustentáveis e resilientes são abordagens distintas, mas inter-relacionadas e complementares, que visam promover a qualidade de vida urbanizada e a preparação para enfrentar os desafios urbanos contemporâneos.

CAROLINA CECI MOINO ALVES THEODORO

Doutora em Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP), mestra em Engenharia, engenheira civil e arquiteta urbanista (Unisanta), pós-graduanda em Educação (FESBA/SP). Docente e pesquisadora.

ANDREA RIBEIRO GOMES

Doutora em Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP), mestra em Arquitetura e Urbanismo (FAU/UnB), arquiteta urbanista (FAUS), pós-doutora (UF/ABC). Consultora de Planejamento e Gestão do Território. Docente, pesquisadora e consultora.

Geroarquitetura:

cidades para um envelhecimento ativo e inclusivo

As cidades resilientes são aquelas que conseguem se adaptar a desafios naturais, sociais ou econômicos, mantendo sua funcionalidade e coesão social. No contexto das "cidades amigas da pessoa idosa", essa resiliência ganha um novo significado, incorporando o conceito de geroarquitetura, termo que surgiu da combinação das palavras "gerontologia" e "arquitetura". A geroarquitetura se refere ao planejamento urbano que atende às necessidades do envelhecimento, criando ambientes que favoreçam a mobilidade, a acessibilidade e o bem-estar dos idosos. Esse conceito destaca a importância de projetar cidades com espaços que promovam o envelhecimento ativo, saudável e inclusivo, visando a autonomia e a inclusão social das pessoas idosas.

A ideia de cidades amigas da pessoa idosa, conforme explorado por Oliveira e Bulgo (2024), visa integrar o envelhecimento ativo e saudável nas políticas públicas urbanas, garantindo que a cidade seja acessível e inclusiva para todos. Esse conceito está em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente o ODS 11, que preconiza a criação de cidades e comunidades sustentáveis, promovendo acessibilidade, bem-estar e segurança para todos os cidadãos.

Para que uma cidade seja resiliente e amiga da pessoa idosa, sua morfologia urbana precisa ser planejada com foco na acessibilidade, mobilidade e inclusão social. Isso inclui a criação de espaços abertos para convivência, a promoção da caminhabilidade, a instalação de academias ao ar livre e o desenvolvimento de infraestruturas que facilitem a interação social. Tais estratégias não só adaptam a cidade ao envelhecimento acelerado da população,

como também garantem a qualidade de vida dos idosos, permitindo que permaneçam ativamente envolvidos nas comunidades, com mais oportunidades de socializar e de participar da vida urbana.

A ideia de cidades amigas da pessoa idosa [...] visa integrar o envelhecimento ativo e saudável nas políticas públicas urbanas, garantindo que a cidade seja acessível e inclusiva para todos.

A pandemia de covid-19 evidenciou a importância da resiliência urbana. Cidades que já haviam incorporado princípios de acessibilidade e proximidade, como no conceito da "cidade de 15 minutos", conseguiram se adaptar melhor às restrições impostas pela crise sanitária. Essas cidades pro-

movem um ambiente que reduz a necessidade de longos deslocamentos e facilita o acesso a serviços essenciais, o que também contribui para uma maior resiliência urbana e garante a continuidade da vida comunitária em tempos de crise.

Nesse contexto, a resiliência de uma cidade amiga da pessoa idosa está ligada à implementação de políticas públicas que promovam a autonomia, a independência e a justiça social. Isso envolve a criação de redes de apoio social, garantindo o acesso a serviços de saúde de qualidade e promovendo atividades que mantenham os idosos física e mentalmente ativos. A criação de espaços públicos seguros, de caminhos acessíveis e a integração de áreas verdes são componentes essenciais de uma cidade resiliente que prioriza o bem-estar da população idosa.

Além disso, as políticas públicas precisam ser adaptáveis. A resiliência urbana não é um estado fixo, mas um processo dinâmico que exige monitoramento constante e flexibilidade para responder rapidamente a novas demandas. A implementação de regulamentos de acessibilidade, a melhoria dos serviços de saúde e a manutenção de espaços públicos inclusivos são essenciais para garantir a qualidade de vida dos idosos. Cidades que investem em processos participativos, nos quais os próprios idosos podem contribuir com suas experiências e necessidades, tendem a ser mais eficazes em se adaptar às mudanças.

Além dos aspectos físicos e infraestruturais, a resiliência das cidades amigas da pessoa idosa também envolve um forte componente social. O fortalecimento dos laços sociais e a criação de redes de apoio são cruciais para

que os idosos possam contar com suporte em situações adversas. Comunidades coesas, onde os idosos são ativos e engajados, são mais resilientes, pois seus membros se ajudam mutuamente, reduzindo a dependência de intervenções governamentais. Projetos de convivência intergeracional, por exemplo, podem fortalecer esses laços e construir uma cidade mais solidária e resistente.

Exemplos de cidades que incorporam esses princípios incluem Copenhague, Dinamarca, com suas ruas seguras e espaços públicos acessíveis, e Curitiba, Brasil, que se destaca pela integração de transporte acessível e espaços verdes urbanos. Em Akita, Japão, a criação de comunidades intergeracionais fortalece os vínculos sociais, promovendo o envelhecimento ativo e reduzindo o isolamento.

As políticas públicas também devem se antecipar aos desafios futuros, como as mudanças climáticas. A infraestrutura urbana precisa ser projetada para resistir a eventos climáticos extremos, como ondas de calor e inundações, garantindo que as necessidades dos idosos sejam atendidas. Espaços verdes, sistemas de transporte acessíveis e abrigos seguros são componentes essenciais para garantir o bem-estar da população idosa em momentos de adversidade.

O papel do arquiteto e urbanista é crucial nesse processo. Esses profissionais são responsáveis por conceber e materializar os espaços urbanos onde a vida cotidiana acontece. Ao projetar cidades que favoreçam a mobilidade, a acessibilidade e a inclusão, os arquitetos e urbanistas criam ambientes que incentivam a participação ativa dos idosos na vida urbana. Além disso, garantem que as moradias, servi-

ços e infraestruturas atendam às necessidades específicas da população idosa, facilitando sua permanência nas comunidades e contribuindo para a qualidade de vida ao longo do envelhecimento. O trabalho dos arquitetos vai além do design de edifícios e ruas; eles atuam como agentes de transformação social, contribuindo diretamente para a resiliência das cidades e o bem-estar de todos os seus habitantes.

Portanto, cidades que adotam os princípios da geroarquitetura e do envelhecimento ativo

garantem qualidade de vida aos idosos e se posicionam como modelos de resiliência para o futuro. Elas integram as necessidades da população idosa em suas políticas urbanas, mostrando-se mais preparadas para enfrentar desafios demográficos, climáticos e sociais. O processo de tornar uma cidade amiga da pessoa idosa é, em última análise, um compromisso com o bem-estar de todas as gerações, promovendo um ambiente inclusivo, saudável e resiliente.

REFERÊNCIAS

GEHL, J. Cidades para Pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2015. JIMÉNEZ-VELÁZQUEZ, J. S. Geroarquitetura e Cidades Sustentáveis. Journal of Urban Studies, 2006.

ONU-HABITAT. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: relatório 2023. [S.I.]: ONU-Habitat, 2023.

OLIVEIRA, I. R.; BULGO, D. C. Cidade Amiga da Pessoa

Idosa: estratégias urbanas para o envelhecimento ativo. In: OLIVEIRA, S. F. P. et al. (Org.). Discursos Multimodais em Práticas Sociais Contemporâneas. Franca: Uni-FACEF, 2023. p. 28-41. ISBN 978-65-88771-53-2.

IAGO RODRIGUES OLIVEIRA

Graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Franca. Pesquisa mobilidade e acessibilidade de idosos e pessoas com deficiência, e a relação da promoção da saúde com conceitos arquitetônicos.

DANILO CÂNDIDO BULGO

Docente, pós-doc em Envelhecimento Humano (USP) e Linguística (UNIFRAN). Doutor e Mestre em Promoção de Saúde.

Cidades médias do interior paulista:

o que precisamos fazer para que se tornem mais resilientes?

POR RENATA BOVO PERES

OEstado de São Paulo caracteriza-se pela multiplicidade de paisagens, dinâmicas e contextos. Ao todo, são 645 municípios, que totalizam uma população de 46.024.937 pessoas (IBGE, 2022). Se desconsiderarmos a capital, São Paulo, e os 16 municípios da região costeira, temos um universo de 628 municípios do chamado “interior paulista”. Trata-se de um cenário inteiramente diverso, que envolve realidades que vão desde o município de Borá, com 877 habitantes, até Campinas ou Guarulhos, cidades que exercem fortes influências nas regiões onde estão inseridas. Dentro desse universo, as denominadas “cidades médias” são as que mais crescem nos últimos tempos e apresentam um conjunto de particularidades morfológicas, econômicas e socioespaciais. Contudo, ainda que haja distintas configurações e dinâmicas territoriais, seus processos de produção difundiram, ao longo do tempo, lógicas comuns, envolvendo canalização de rios; construção de avenidas marginais em fundos de vale; alta impermeabilização do solo; retirada da cobertura vegetal. Não foram medidas implementadas sem planejamento urbano. Ao contrário, muitas delas foram opções de planejamento pautadas por decisões

de engenheiros, arquitetos e urbanistas, construtores, políticos e demais atores urbanos. Esses processos de produção estiveram atrelados à ação do Estado com setores imobiliários e empresariais, que priorizaram direitos individuais em detrimento das funções sociais da cidade. Condicionaram, portanto, ausências sociais profundas, como falta de políticas habitacionais para menor renda, presença de assentamentos com oferta incompleta de serviços públicos, problemas fundiários que alteraram paisagens, comprometendo o atendimento de direitos coletivos fundamentais (Fernandes, 2021), e ganhando novos contornos relacionados à mercantilização e à financeirização do capital.

A consequência é o que vemos, historicamente e recorrentemente: inundações, ala-

Fonte: IBGE, 2022

gamentos, deslizamentos, áreas desmatadas, queimadas, ocupações em áreas de risco etc. E, mais recentemente, verificamos essas situações se agravarem, por conta dos eventos climáticos intensos.

O último Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC)1 destaca que, nas áreas urbanas, as temperaturas extremas se intensificaram, e a mudança do clima tem causado graves impactos na saúde humana, nos meios de subsistência e na infraestrutura. E esses efeitos adversos observados estão concentrados, sobretudo, entre os residentes urbanos economicamente e socialmente marginalizados.

Compreender, portanto, tais contextos e realidades faz-se necessário para tornar nossas cidades mais resilientes frente à intensificação dos eventos climáticos, que resultam em desastres e impactam profundamente territórios, sobretudo dos grupos sociais vulnerabilizados.

Para buscar superar tais desafios, esforços vêm sendo implementados visando a ampliação dos conhecimentos sobre o tema, bem como a sua assimilação técnica, científica, política e aplicada, para buscar caminhos de transição. Para tal, é de fundamental importância a parceria entre entidades educacionais, governamentais e sociais, com objetivo de criar uma visão sistêmica da ocupação urbana e, assim, poder atuar com soluções coerentes e com justiça climática.

Algumas soluções já vêm sendo implementadas. O Comitê de Bacia Hidrográfica Tietê-Jacaré (CBH-TJ) criou um programa para incentivar seus 34 municípios a submeterem projetos de drenagem e revitalização de rios urbanos

em bases mais sustentáveis e resilientes.

O município de Araraquara aprovou a Lei Complementar nº 1.008, de 31 de julho de 2024, que estabelece diretrizes para o Manejo Sustentável das Águas Pluviais, observando os princípios das Soluções baseadas na Natureza (SbN). Em São Carlos, estratégias e políticas de mitigação foram propostas (Caiche, Peres e Schenk, 2021; Peres; Schenk, 2021). Projetos como o Cidade Escola (CAU Educa) e o Cidade que Educa também desenvolvem ações de educação climática com escolas, promovendo espaços educadores e ações sobre cidade e natureza.

Todos os esforços acima destacados procuram tensionar o padrão vigente dos paradigmas atuais e os interesses que criam obstáculos diante de inovações ou mudanças culturais.

São Paulo, 2020

Foto: Mika Baumeister

Foto:

Nesse caminho, sugerem-se aqui, reflexões

para a ação:

§ Ampliar o debate e a conscientização pública sobre os riscos para que as cidades incluam a adaptação e a justiça climática em suas políticas.

§ Incorporar novos princípios e mudanças culturais, nos processos de planejamento, licenciamentos urbanísticos, projetos de loteamentos, criação de novas legislações e instrumentos normativos, bases para implantação de políticas públicas.

§ Propor políticas habitacionais diferenciadas, integradas às infraestruturas de mobilidade, gestão de águas e sistemas de espaços livres.

§ Promover o real envolvimento dos diferentes atores, como partes do processo de governança para garantir que valores e necessidades das comunidades sejam atendidos.

§ Compreender as realidades das comunidades urbanas que vivem em espaços vulnerabilizados e que desenvolvem lógicas e práticas próprias de organização da vida, configurando identidades e relações sociais diversas e coletivas.

Para superar as práticas vigentes e os limites que os novos princípios possam enfrentar, a abordagem das transições sociotécnicas pode contribuir nas análises. Transições sociotécnicas são mudanças tecnológicas de longo prazo, envolvendo também, mudanças nas legislações, nas infraestruturas e nas representações políticas, sociais e culturais (Moura et al., 2022). Ainda que vislumbremos transições de longo prazo, as respostas e ações, para um clima em total alteração, devem ser urgentes e de curto prazo. Neste contexto, os arquitetos e urbanistas, em suas mais diversas esferas de atuação, devem se atentar à função social da sua profissão, tendo um papel estratégico e ativo frente aos desafios contemporâneos, para fazer com que as cidades se tornem mais resilientes, sustentáveis e inclusivas.

REFERÊNCIAS

CAICHE, D. T.; PERES, R. B.; SCHENK, L. B. M. Floresta urbana, soluções baseadas na natureza e paisagem: planejamento e projeto na cidade de São Carlos (SP). LABVERDE, v. 11, n. 1, p. 121-149, 2021.

FERNANDES, E. 20 anos do estatuto da cidade: experiências e reflexões. Belo Horizonte: Gaia Cultural, 2021. E-book.

MOURA, R.; MORENO, R.; LAURA, R.; SULAIMAN, S.; ROSSETO, G.; POLLACHI, A.; VILLANOVA, L.; SANTOS, R.; CANIL, K.; TRAVASSOS, L.; MOMM, S. Da construção social dos riscos à transição sociotécnica: discutindo possibilidades de enfrentamento às inundações urbanas na MMP. In: JACOBI, P. R. et al. (Org.). Governança Ambiental na Macrometrópole Paulista Face à Variabilidade Climática. São Carlos: Rima, 2022. E-book.

PERES, R. B.; SCHENK, L. B. M. Planejamento da paisagem e mudanças climáticas: uma abordagem multidisciplinar em São Carlos. Ambiente & Sociedade, v. 24, p. e01772, 2021.

NOTAS:

1Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o Relatório de Síntese reúne os principais resultados das pesquisas realizadas ao longo de cada ciclo de avaliação. Criado em 1988, o IPCC é o órgão da ONU responsável por fornecer uma base científica sólida para orientar políticas climáticas e, atualmente, conta com 195 países membros, incluindo o Brasil.

Professora Associada (Universidade Federal de São Carlos – UFSCar), arquiteta e urbanista (IAU/USP). Especialista em urbanização e meio ambiente, políticas públicas e planejamento territorial, espaços verdes, soluções baseadas na natureza, justiça e adaptação climática.

Foto: Vila Guacuri, São Paulo. Tuca Vieira

Planejamento permacultural para a mobilidade urbana socioambiental

POR LETÍCIA A. DE PAIVA E FERNANDO S. OKIMOTO

Oartigo trata de uma proposta de requalificação da infraestrutura viária e urbana de um trecho da Avenida Orosimbo Maia em Campinas/SP, com foco na mobilidade socioambiental das cidades inteligentes contemporâneas planejadas sob a égide do planejamento permacultural urbano, o qual se utiliza de cartografias temáticas e instrumentos ambientais, sociais e técnicos para planejar e alcançar uma mobilidade eficaz e segura em um contexto de cidade humana, inteligente, resiliente e atrativa.

O recorte territorial é representativo das cidades contemporâneas, que expressam a insegurança viária aliada à produção de cidades inumanas e à segregação socioespacial, retrocedendo ao conceito de cidade sustentável que, segundo Macedo; Linden (2018), proporciona qualidade de vida aos cidadãos ao mesmo tempo que preserva o patrimônio físico, cultural e ambiental das gerações futuras. A conquista da mobilidade está sensivelmente associada à ressignificação da cidade como espaço público (Barbosa, 2016, p. 54).

A permacultura, de acordo com Holmgren (2007) apud Okimoto (2021), trata-se de um sistema de planejamento de assentamentos humanos mais eficientes e capazes de orientar a atuação humana e a produção e consumo das cidades, estando este alinhado aos processos naturais daquele contexto, pautando-se nas demandas básicas, nos potenciais e limites das pessoas.

Portanto, a metodologia do planejamento permacultural ocorre em 4 etapas segundo Okimoto (2021): setorização, demandas, zone-

amento e projeto. A setorização é a organização dos elementos naturais e antrópicos que são incontroláveis como insolação, ventos, ruídos e tráfego urbanos, por exemplo, para entendermos e nos adaptarmos a eles. Nas demandas, estabelecem-se as reais necessidades e suas priorizações, geralmente numa dialogicidade com os usuários. O zoneamento busca estabelecer em seis zonas onde deverão estar as “coisas” a serem implantadas (as diversas ambiências, os mobiliários, isto é, as atividades), baseando-se na eficiência da execução das atividades.

Portanto, a visão de cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis tornou-se um desejo universal e urgente (Gehl, 2010 apud Macêdo; Linden, 2018). Desse modo, para a produção de cidades mais humanas torna-se importante e necessária a participação dos usuários que habitam e se apropriam desses espaços. Somente dessa forma as cidades passarão a ser (re)desenhadas à escala do ser humano e promover uma efetiva integração social.

METODOLOGIA PERMACULTURAL

Por meio de cartografias, é possível realizar a leitura e identificação dos contextos, demandas, fraquezas e potencialidades dos espaços e, desse modo, apresenta-se o recorte e a setorização (figuras 1a e 1b) e, em seguida, as demandas administrativas, jurídicas e sociais da proposta. Em seguida, apresenta-se o zoneamento permacultural, de acordo com a metodologia da permacultura, e a cartografia com as ambiências e usos propostos (masterplan das

figuras 2a e 2b) que possibilita a produção de projetos de arquitetura e engenharia, os quais não foram desenvolvidos neste texto.

O recorte deste trabalho é a Avenida Orosimbo Maia na região central de Campinas, São Paulo.

A cartografia de setorização permacultural busca reunir diferentes elementos incontroláveis, como a incidência solar e de ventos, massas vegetais, questões de drenagem urbana,

Figuras 1a e 1b: Av. Orosimbo Maia, Campinas/SP: Recorte e Setorização

Fonte: Fernando S. Okimoto e Letícia A. de Paiva, 2024 DATUM SIRGAS 2000, Projeção UTM 22S

topografia, pontos possíveis de inundação, entre outros que permitem compreender as demandas dos usuários do espaço.

As demandas locais identificadas, em visitas e conversas com usuários, relacionam-se com a necessidade de infraestruturas que promovam a segurança viária no local, priorizando pedestres, ciclistas e o transporte coletivo, contrapondo-se à cidade para carros e permitindo a apropriação e mobilidade segura da po-

pulação. São exemplos dessas infraestruturas: calçadas acessíveis, de acordo com a ABNT NBR 9050:2020; inclusão do trecho cicloviário projetado no Plano de Mobilidade Urbana de Campinas, integrando esse novo trecho às diferentes rotas e modais; sinalização viária que promova conforto e segurança, reduzindo acidentes. Além disso, identificou-se a necessidade de uma faixa exclusiva para o transporte coletivo, de modo a priorizar esse modal.

Ainda nesse sentido, buscou-se identificar dificultadores da mobilidade e da segurança da população, como os impactos da drenagem das águas pluviais e as inundações ocorridas na área. Para isso, infraestruturas verdes podem ser posicionadas para essa função.

Outra demanda local é a requalificação dos espaços livres pensados para as pessoas, mais especificamente espaços colaborativos/compartilhados de permanência dos cidadãos, promovendo maior vivacidade local e, assim, maior segurança; e a requalificação das áreas verdes, redefinindo esses espaços de modo a torná-los autorreguláveis e sustentáveis.

O zoneamento permacultural busca definir áreas em que serão previstas diferentes atividades de acordo com a frequência de uso dos espaços, buscando-se maior eficiência. Para isso, Okimoto (2021) afirma que as atividades que precisam de maiores intervenções das pessoas devem ter fácil acesso, estando essas localizadas na zona 0, enquanto as atividades que necessitam de menor ação humana devem ser posicionadas na zona 5, pois demandam menor intervenção.

PLANEJAMENTO PERMACULTURAL E PROPOSTAS

A partir das etapas anteriores, é possível estabelecer medidas que busquem transformar os espaços da cidade tornando-os inclusivos e promovendo acessibilidade e segurança com as estratégias citadas. Além disso, destaca-se a promoção do convívio e da apropriação dos espaços pelas pessoas ao longo das áreas livres, bem como a requalificação das áreas verdes, de modo a redefinir esses espaços e torná-los autorreguláveis e sustentáveis.

O recorte da avenida será palco de atividades de lazer, de práticas físicas, de convívio social, de aprendizagem e de ações voltadas à resiliência urbana. A base permacultural garante as abordagens sociais, ambientais e econômicas nos levantamentos de contexto e de demandas, e sua metodologia promove eficiência no cumprimento das atividades.

Figura 2a: Av. Orosimbo Maia, Campinas/SP: Ambiências e Usos.

Fonte: Fernando S. Okimoto e Letícia A. de Paiva (2024)

Figura 2b: Av. Orosimbo Maia, Campinas/SP: Ambiências e Usos.

Fonte: Fernando S. Okimoto e Letícia A. de Paiva (2024)

REFERÊNCIAS

BARBOSA, J. L. O significado da mobilidade na construção democrática da cidade. In: Cidade e movimento: mobilidades e interações no desenvolvimento urbano. Brasília: Ipea: ITDP, 2016. p. 4346, cap. 2. Org: Renato Balbim, Cleandro Krause, Clarisse Cunha Linke. Disponível em: https://tinyurl. com/8jzp444j. Acesso em 20 ago. 2023.

FERREIRA, N. R. A.; OKIMOTO, F. S.; PAIVA, L. A. Permacultura e geotecnologias para o planejamento socioambiental urbano: parque do povo de Presidente Prudente/SP. Periódico Técnico e Científico Cidades Verdes, [s. l.], v. 12, n. 34, p. 127-143, jul. 2024.

MACEDO, L. F. de; LINDEN, J. C. de S. V. D. Cidades mais humanas e a percepção da identidade local. Linden, Júlio Carlos de Souza van der; Bruscato, Underléa Miotto; Bernardes, Mauricio Moreira e Silva (Orgs.). Design em pesquisa: vol 2. Porto Alegre: Marca visual, 2018. p. 81-94, 2018.

OKIMOTO, F. S. Permacultura urbana: políticas públicas para a produção e para a vivência nas cidades durante e pós-pandemia. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, 1., 2021. Anais [...]. [S.l.]: [s.n.], 2021.

LETÍCIA APARECIDA DE PAIVA

Graduanda em Arquitetura e Urbanismo na FCT/UNESP, pesquisadora CNPq e extensionista nas temáticas Permacultura e Mobilidade.

FERNANDO SÉRGIO OKIMOTO

Doutor pela USP. Professor de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Ambiental na FCT/UNESP. Especialista em Permacultura e Bioconstrução.

VERDEJANDO:

o antes e o depois nas escolas municipais

POR DANIELA FARAH ANTUNES

O projeto integra o Programa Ribeirão -3°C, que tem como objetivo tornar 30% da área urbana verde até 2030, visando uma redução média de 3°C na temperatura da cidade.

Oano de 2022 foi marcado por revoluções no Centro de Educação Infantil (CEI) Vítor Youssef Darkoubi, localizado no bairro Planalto Verde, zona Norte de Ribeirão Preto. A primeira delas foi física: a implantação de um “bosque” intramuros, com apiário, galinheiro, horta, árvores frutíferas, campinho de futebol gramado e um playground com brinquedos construídos só de materiais recicláveis.

Essa revolução foi possível graças ao projeto Verdejamento, por meio do qual a Prefeitura de Ribeirão Preto destinou R$5,4 milhões para 118 escolas públicas municipais – R$ 50 mil para cada uma – para a execução de projetos de ampliação da cobertura vegetal em seus espaços físicos. O objetivo principal do projeto, que é uma ramificação do Programa Ribeirão –3°C, é o de propiciar abrigo e alimentação para a fauna silvestre, tornando o ambiente escolar mais acolhedor e educando crianças e jovens para a preservação da natureza.

A segunda revolução foi consequência da primeira, responsável por levar as 130 crianças na faixa etária entre os 6 meses e os 3 anos e 11 meses de idade atendidas na escola a passarem mais tempo ao ar livre do que em salas de aula. De acordo com a diretora do CEI, Sônia Eurípedes da Costa Castro, essa mudança fez bem tanto aos alunos quanto aos professores.

“Porque quando a criança está confinada em um espaço fechado, o educador precisa, de 20 em 20 minutos, criar situações lúdicas que a façam aprender, se movimentar e não ficar triste por se sentir confinada. A liberdade do espaço aberto, por si só, já faz

Antes e depois na CEI Vítor Youssef Darkoubi. Foto: Divulgação

isso. Então a gente consegue ficar 50 minutos ou até mais com as crianças explorando a natureza”, explica a diretora.

No “bosque” da escola Vítor Darkoubi ocorrem piqueniques, leitura de livros, jogos de bola e, enquanto uma criança desce pelo escorregador, a outra se diverte no balanço; uma observa a dinâmica do galinheiro; outra, o trabalho da abelha no apiário. “Mesmo sem ter consciência, a criança pequena vai ‘criando’ na natureza, o que traz serenidade. O resultado é que as crianças gritam menos e ficam menos ansiosas e agressivas”, observa a diretora.

Também na Escola Municipal de Educação

Fundamental Dr. Júlio César Voltarelli, localizada no Parque dos Servidores, zona Leste de Ribeirão, a diretora Adriana Lúcia Capranica Vicentini se surpreende com o efeito do Verdejamento sobre os cerca de 700 alunos na faixa etária dos 4 aos 10 anos de idade – é a única da rede a atender tanto o segmento infantil (4 e 5 anos) quanto o fundamental 1 (de 6 a 10 anos, que frequentam do 1º ao 5º ano). “As crianças estão alucinadas. O verde não só embeleza, como traz um gostar de estar ali e desperta

Projeto de verdejamento incluiu a comunidade escolar Foto: Divulgação

uma preocupação de cuidado com o lugar, uma sensação de pertencimento”, traduz Adriana. O Verdejamento na escola incluiu a implantação de gramados, que acabou resolvendo um problema de fluxo de água nas calhas da escola (antes, sempre entupiam com a terra varrida através delas pelas chuvas); plantio de um canteiro de lírios-da-paz e poda das palmeiras já existentes na entrada dos alunos; plantio de folhagens de ambos os lados da rampa de acesso ao auditório; substituição de uma calçada dos fundos da quadra de esportes por gramado e seis lofânteras (planta típica do Cerrado que dá em cachos amarelos); criação de uma horta e, com o objetivo de trabalhar a questão da sustentabilidade, está sendo instalado um sistema de irrigação em todos os gramados e jardins, para evitar desperdício de água.Depoimentos como o dela e o da diretora Sônia soam como “música aos ouvidos” da engenheira sanitária e ambiental Mayra Mucha, integrante do Ribeirão –3°C, já que o sucesso do programa é medido pela observação de dois indicadores: a quantidade de tempo pedagógico a mais a criança passa ao ar livre e o índice de redução da violência escolar com a naturalização e qualificação dos pátios escolares.

Criar e executar um plano replicável para espaços verdes nas escolas integra a solução 12 do Programa Ribeirão –3°C, criado por um grupo de especialistas em áreas verdes motivados pela Agenda 2030 – plano de ação global firmado por 193 países membros da ONU com o objetivo de erradicar a pobreza e promover vida digna para todos no mundo, por meio

do cumprimento de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O programa objetiva tornar a área urbana de Ribeirão Preto 30% verde até o ano de 2030, o que deverá contribuir para a queda média de 3 graus Celsius na temperatura da cidade, atendendo ao ODS 13: “Combate às Alterações Climáticas”.

Para atingir o objetivo, o Ribeirão –3°C propõe a união de organizações não governamentais (ONGs), empresas, comunidade acadêmica, poder público e sociedade civil para aplicação de várias soluções ambientais na cidade. Representando o poder público municipal, a Prefeitura de Ribeirão Preto assumiu oficialmente, em 21 de setembro (Dia da Árvore) de 2021, o compromisso de verdejar as escolas. Em outubro do mesmo ano, já liberou R$2 milhões para 40 unidades iniciarem o projeto, e em janeiro de 2022 mais R$3,4 milhões para outras 68.

A profissional de arquitetura responsável pelo projeto escolhido trabalhou junto com biólogos e um engenheiro agrônomo para levantar com quais plantas seria feito o Verdejamento da unidade. “Porque não é qualquer planta que se deve plantar. Só podem espécies que

fazem parte do bioma de Mata Atlântica e Cerrado [vegetações nativas]. Então ela entregou um memorial com tudo sobre a escola e as intervenções propostas muito bem detalhadas”, conta a diretora.

Para garantir que as propostas pedagógicas fossem aliadas do Verdejamento, o Programa Ribeirão -3°C firmou parceria com o Escritório de Sustentabilidade da FEA-RP (Faculdade de Economia e Administração da USP Ribeirão Preto) para capacitar professores da rede municipal a desenvolverem material didático sobre questões climáticas, de modo a promover entre os alunos conhecimento científico sobre o tema. A capacitação ocorreu dentro do projeto “Letramento Climático para Educadores da Rede de Ensino Municipal”, contemplado com verba do Edital Climate-U, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.

DANIELA FARAH ANTUNES

Jornalista graduada pela Universidade de Ribeirão Preto, editora da revista Painel, da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP).

E da ponte pra cá?

Capacitação em Saneamento Rural no município de Itatiba-SP1

POR ISABELLA P. BOCALETTO , JEAN PIERRE DE M. CRÉTÉ E DANIELA COLIN LIMA

Adistribuição dos serviços de saneamento no Brasil revela um caráter concentrador, com um déficit que afeta predominantemente as áreas não urbanizadas. Segundo o Programa Nacional de Saneamento Rural (Funasa, 2019), 59,9% da população residente no meio rural enfrenta condições precárias ou a ausência de abastecimento de água. Em relação ao esgotamento sanitário, 79,4% dessa população encontra-se em situação semelhante, enquanto 76,4% enfrenta limitações no acesso à coleta e ao manejo de resíduos sólidos.

No planejamento territorial hegemônico, a ruralidade é frequentemente reduzida a uma oposição ao espaço urbano, confinada a uma condição transitória, a ser superada pela urbanização. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC), observa-se que a concentração do planejamento em áreas urbanas e zonas de expansão urbana gera fragilidades na formulação de políticas direcionadas às áreas rurais, demonstrando a fragmentação e o distanciamento das políticas setoriais, incluindo aquelas voltadas ao saneamento.

Como recorte territorial, destaca-se a sub-bacia do Rio Atibaia, inserida no conjunto das

Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), com papel estratégico no abastecimento hídrico de municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC) e da Grande São Paulo. Dentre esses municípios, Itatiba apresenta algumas particularidades. Cerca de 15% de sua população reside na zona rural, e o município está entre aqueles com maior proporção de habitantes rurais sem acesso adequado ao esgotamento sanitário, conforme apontado pelo Comitê das Bacias PCJ (2019).

Ao mesmo tempo, Itatiba se destaca por ser um dos poucos municípios em processo de aprovação de um Plano Municipal de Saneamento Rural (PMSR). A elaboração desse plano e a caracterização detalhada dos territórios rurais são essenciais para fundamentar intervenções alinha-

das às particularidades locais. Paralelamente, a capacitação de profissionais com ênfase em alternativas técnicas para o saneamento rural e a gestão de recursos hídricos é indispensável para promover o desenvolvimento sustentável das comunidades. Essa abordagem busca mitigar os impactos negativos gerados por soluções insuficientes e/ou inadequadas, que afetam tanto a qualidade de vida quanto o equilíbrio ambiental.

Para atender a essa demanda, o Coletivo

ATHIS na Baixada (AnB) e a Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Itatiba (AEAI), em parceria com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP), por meio do Edital CAU Capacita 2023, desenvolveram o projeto intitulado "Da Ponte pra Cá: Soluções Inovadoras e Sustentáveis de Saneamento Rural e Gestão Hídrica".

Fundado em 2019 na Baixada Santista, o AnB é composto majoritariamente por arquitetos e urbanistas, integrando também profissionais de outras áreas, bem como representantes de entidades e movimentos sociais. Com aproximadamente 20 colaboradores diretos, o cole-

tivo desenvolveu mais de dez projetos financiados pelo CAU/SP, com ênfase em editais voltados à Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (ATHIS) e à preservação do Patrimônio Cultural. Em decorrência da expansão territorial de suas atividades, adotou a denominação “Coletivo Ponte”.

O projeto em questão adotou como abordagem técnica central as Soluções Baseadas na Natureza (SbN), promovendo intervenções sustentáveis, acessíveis, inclusivas e adaptadas às necessidades das comunidades. Sua execução destacou-se pela ênfase em uma abordagem participativa, integrando o Poder Público, moradores rurais e profissionais técnicos.

A bacia hidrográfica do Córrego dos Pereiras foi definida como unidade de planejamento e estudo, devido ao seu elevado grau de degradação ambiental. Segundo o Plano de Gerenciamento dos Recursos Hídricos de Itatiba (2013), essa condição decorre da predominância de monoculturas e pastagens nas áreas rurais, combinada com a expansão urbana caracterizada pela implantação de loteamentos residenciais e pela concentração de atividades industriais, especialmente ao longo do trecho da Rodovia Dom Pedro I.

Foram promovidas ações de formação teórica com inscrições de abrangência nacional, realizadas em formato virtual. Essas atividades foram complementadas por uma imersão presencial, denominada "LabRural". Com duração de um final de semana, o Lab teve como objetivo a elaboração coletiva de diagnósticos e propostas voltadas para uma propriedade localizada na bacia em análise: a Fazenda Pereiras, produtora de alimentos orgânicos e composta por aproximadamente 20 unidades habitacionais.

A capacitação e a elaboração de projetos contaram com o engajamento, não apenas de estudantes e profissionais de arquitetura e urbanismo, mas também de engenheiros, biólogos, geógrafos e moradores de zonas rurais. Esse envolvimento diversificado ressaltou a importância da arquitetura e do urbanismo para

REFERÊNCIAS

proporcionar uma visão abrangente e integrada dos fenômenos e para promover um diálogo transdisciplinar. Reconhecer essa competência é fundamental, pois possibilita uma abordagem mais eficaz sobre os desafios territoriais e a formulação de soluções sustentáveis, especialmente em cenário de crise climática.

COMITÊ DAS BACIAS PCJ. Relatório síntese: Plano de Recursos Hídricos das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, 2020 a 2035. Porto Alegre: Consórcio Profill-Rhama PCJ, 2020.

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE (Brasil). Programa Nacional de Saneamento Rural. Brasília, DF: Funasa, 2019.

ITATIBA. Plano Municipal de Gerenciamento dos Recursos Hídricos. Itatiba, SP: Prefeitura Municipal de Itatiba, 2013.

COLETIVO PONTE. E da Ponte pra Cá? As Águas em Meio Rural e o Saneamento Básico no Município de Itatiba. Disponível em: https://tinyurl.com/bdhrufjb.

NOTAS:

1O título faz menção à canção dos Racionais MC’s, composta por Ice Blue e Mano Brown no álbum Nada como um Dia Após o Outro Dia (2002).

ISABELLA PEREIRA BOCALETTO

Arquiteta e urbanista, técnica na Fundação Clara de Assis (Funclar) e membro do ATHIS na Baixada/Coletivo Ponte.

JEAN PIERRE DE MORAES CRÉTÉ

Arquiteto e Urbanista, Mestre em Ecologia e membro fundador do ATHIS na Baixada / Coletivo Ponte.

DANIELA COLIN LIMA

Arquiteta e Urbanista, Mestre em Ecologia e membro fundador do ATHIS na Baixada / Coletivo Ponte.

Fazenda

Cidades resilientes e os desafios das gestões políticas de 4 anos

POR PAULO SÉRGIO PINHAL

Aconstrução de cidades resilientes tornou-se uma necessidade urgente em um mundo marcado por mudanças climáticas, crescimento urbano desordenado e crises econômicas (Holling, 1973). No entanto, a implementação eficaz de políticas públicas para a resiliência urbana enfrenta um grande desafio: a descontinuidade administrativa causada pelos ciclos políticos de quatro anos, típicos das gestões municipais. Este artigo explora as questões envolvidas na criação de cidades resilientes em um contexto de gestões políticas de curto prazo, propondo mecanismos para assegurar a continuidade dos projetos e a sustentabilidade das políticas públicas.

Cidades resilientes são aquelas que não apenas resistem a crises e desastres, mas também se adaptam e evoluem diante das adversidades, mantendo a qualidade de vida e a segurança de seus habitantes (Vale; Campanella, 2005). A resiliência urbana envolve uma abordagem integrada que considera infraestrutura, meio ambiente, economia e coesão social. Isso inclui desde a construção de infraestruturas resilientes, como sistemas de drenagem para inundações, até a criação de redes sociais robustas que apoiam as populações mais vulneráveis durante crises (Ahern, 2011).

O ciclo político de quatro anos é um dos principais obstáculos à implementação de políticas de resiliência urbana. Prefeitos e gestores públicos frequentemente priorizam projetos que possam ser concluídos dentro de seu mandato, buscando resultados rápidos para capitalização política. Isso gera descontinuidade, a partir da qual projetos de longo prazo, essenciais para cidades resilientes, são frequentemente abandonados ou alterados por gestões subsequentes (Ribeiro; Pena, 2019).

Essa descontinuidade é particularmente prejudicial em contextos de planejamento urbano, onde a resiliência depende de estratégias que requerem tempo para serem implementadas e surtirem efeito. Por exemplo, adaptar infraestruturas urbanas para mudanças climáticas, como elevar calçadas em áreas suscetíveis a inundações ou construir parques como áreas de amortecimento contra enchentes, são projetos que exigem anos ou até décadas para serem plenamente executados (Vale; Vale, 2013).

A falta de continuidade nas políticas públicas não apenas desperdiça recursos, mas também compromete a eficácia das estratégias de resiliência. Quando um projeto é interrompido, os investimentos já realizados podem ser perdidos, e as comunidades podem perder a confiança nas iniciativas do governo, dificultando a mobilização e a participação cidadã em projetos futuros. Além disso, a interrupção de projetos pode resultar em infraestruturas inacabadas ou mal projetadas, aumentando a vulnerabilidade das cidades a crises.

Para superar os desafios impostos pelo ciclo político de quatro anos, é fundamental desenvolver mecanismos que garantam a continuidade dos projetos e políticas voltados para a resiliência urbana. Algumas propostas para atingir esse objetivo incluem:

#1. Planos Diretores:

Instrumentos de planejamento que orientam o desenvolvimento urbano por períodos de 10 a 20 anos. Ao estabelecer metas claras e indicadores de desempenho, esses planos podem guiar gestões futuras, independentemente das mudanças políticas (Holling, 1973). A aprovação por lei tornaos obrigatórios para todas as gestões subsequentes, reduzindo a probabilidade de descontinuidade.

#2. Conselhos de Desenvolvimento

Urbano e Resiliência:

Compostos por representantes da sociedade civil, especialistas e membros do governo, esses conselhos atuam como guardiões das políticas públicas de longo prazo, monitorando a implementação dos planos e pressionando as gestões a seguirem as diretrizes estabelecidas (Vale; Campanella, 2005).

#3. Cláusulas de Irrevogabilidade:

Em contratos e leis municipais, essas cláusulas protegem projetos críticos de serem descontinuados por novas administrações, dificultando o cancelamento ou redirecionamento de recursos sem justificativa técnica sólida (Vale; Vale, 2013).

#4. Fundos Municipais

Específicos:

Criar fundos para projetos de resiliência e sustentabilidade, alimentados por impostos municipais, parcerias públicoprivadas e financiamentos internacionais, assegura os recursos necessários para a continuidade dos projetos (Ahern, 2011).

#5. Plataformas Digitais de Transparência:

Monitorar o progresso dos projetos e políticas em tempo real aumenta a pressão pública sobre os gestores para que cumpram os planos estabelecidos, permitindo que a população acompanhe o andamento dos projetos e cobre a continuidade das políticas públicas (Ribeiro; Pena, 2019).

#6. Capacitação Contínua:

Treinar gestores públicos e técnicos municipais sobre a importância da continuidade das políticas públicas e as melhores práticas em planejamento urbano sustentável é crucial para garantir que os projetos sejam implementados de forma eficaz e continuada (Vale; Campanella, 2005).

A construção de cidades resilientes é uma tarefa complexa que exige planejamento de longo prazo, continuidade das políticas públicas e um compromisso coletivo com o desenvolvimento sustentável. O ciclo político de quatro anos representa um desafio significativo, mas, com a adoção de mecanismos legais, conselhos permanentes, financiamentos condicionados e maior transparência e capacitação, é possível garantir que as cidades evoluam em direção à resiliência, independentemente das mudanças de gestão.

Somente através da continuidade e coesão política e social será possível construir cidades preparadas para enfrentar os desafios do futuro e garantir um ambiente seguro e sustentável para as gerações vindouras.

REFERÊNCIAS

HOLLING, C. S. Resilience and stability of ecological systems. Annual Review of Ecology and Systematics, v. 4, n. 1, p. 1-23, 1973.

VALE, L. J.; CAMPANELLA, T. J. The resilient city: how modern cities recover from disaster. Oxford: Oxford University Press, 2005.

AHERN, J. From fail-safe to safe-to-fail: sustainability and resilience in the new urban world. Landscape and Urban Planning, v. 100, n. 4, p. 341-343, 2011.

RIBEIRO, C. M.; PENA, C. R. M. Planejamento urbano e resiliência: caminhos para a sustentabilidade das cidades. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 21, n. 2, p. 244-263, 2019.

PAULO SÉRGIO PINHAL

Arquiteto e urbanista formado pela UMC, mestre em Engenharia de Produção pela Unifei - Itajubá, doutorando pela USP. Presidente do Colégio de Arquitetos e titular do escritório Pinhal Arquitetura.

Pôr do sol

Ah... o pôr do sol de hoje não é o pôr do sol de amanhã

hoje ele entra na casa nova pequena cheia...

A casa precisa medrar, multiplicar Inicia-se a construção um puxadinho na área de serviço cozinha e sala se ampliam novo dormitório surge uma luta permanente, sem fim...

Ah... o pôr do sol de hoje não é o pôr do sol de amanhã

surgem adversidades pessoas ficam sozinhas crianças viram adultos adultos mudam de cidade transfiguram-se

Ah... o pôr do sol de hoje não é o pôr do sol de amanhã

hoje ele adentra a casa grande mas o ninho se esvazia é preciso reduzir, dividir recursos precisam chegar casa e adultos envelhecem transformam-se

POR VERÔNICA DE FREITAS

Ah... o pôr do sol de hoje não é o pôr do sol de amanhã

a vida se encerra a casa fica sem vida cerram-se as portas da casa

Ah... o pôr do sol de hoje não é o pôr do sol de amanhã

crianças nascem osol entra na casa velha grande cheia a casa se adapta flexibiliza-se

Ah... o pôr do sol de hoje não é o pôr do sol de amanhã

segue-se a contínua evolução da casa, da família na eterna resiliência pela luta por moradia digna que atenda às necessidades imprescindíveis nem sempre o reflexo de sonhos e desejos...

Ah... o pôr do sol de hoje não é o pôr do sol de amanhã

VERÔNICA DE FREITAS

Doutora em Arquitetura e Urbanismo (IAU/USP) na área de Habitação e Infraestrutura Mestra e graduada pela UNESP, com atuação em transportes sustentáveis e habitação social. Professora no IFSP, com experiência em coordenação acadêmica e projetos de extensão e pesquisa.

↓ Foto: Heliópolis, São Paulo. Tuca Vieira

O mercado imobiliário e a memória afetiva da cidade

COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL (CDP – CAU/SP)

Em concordância ao tema abordado desta edição comemorativa da revista Mobile vale uma reflexão profunda sobre o tema e os impactos do mercado imobiliário na memória afetiva das cidades que se tornam profundos e muitas vezes ambíguos.

O crescimento urbano e a valorização imobiliária podem tanto preservar quanto apagar as histórias e identidades que dão vida a um lugar. As cidades, com seus bairros, ruas e praças, não são apenas espaços físicos; elas carregam lembranças coletivas, tradições e experiências que moldam a identidade de seus moradores. No entanto, a busca por modernização, desenvolvimento e lucro no mercado imobiliário pode gerar transformações que afetam diretamente essa memória afetiva.

Um dos principais impactos é a substituição de espaços históricos por novos empreendimentos. Bairros tradicionais, com suas construções antigas, comércios de longa data e paisagens urbanas familiares, frequentemente são alvo de especulação imobiliária. À medida que os preços dos terrenos aumentam, antigos edifícios são demolidos para dar lugar a arranha-céus e condomínios modernos. Essa transformação altera drasticamente a paisagem urbana e, com ela, a relação emocional dos moradores com o local. O desaparecimento de marcos históricos e arquitetônicos pode enfraquecer o senso de pertencimento e a identidade cultural de uma comunidade. Outro impacto importante está relacionado ao fenômeno da gentrificação, que ocorre quando áreas populares e culturalmente ricas são revitalizadas e, como resultado, tornam-se inacessíveis para seus antigos moradores. A valorização imobiliária expulsa a população original, substituindo-a por um novo perfil socioeconômico. Com isso, a memória afetiva de um bairro se dilui, já que os laços históricos e sociais que existiam en-

tre os moradores originais são rompidos. A nova dinâmica imposta pelo mercado imobiliário, embora traga modernização, cria uma desconexão entre o passado do bairro e seu presente.

Por outro lado, o mercado imobiliário pode também ter um papel positivo na preservação da memória afetiva das cidades, especialmente por meio de projetos de revitalização que respeitam a história local. Em vez de demolir, alguns projetos buscam restaurar e reaproveitar edifícios históricos, mantendo vivas as características arquitetônicas e culturais desses lugares.

Em São Paulo, temos o exemplo do Lapi, projeto de revitalização do Largo de Pinheiros pelo escritório Superlimão. O projeto é um exemplo de respeito pela memória local, atraindo possíveis investidores e moradores que desejam viver em áreas que mantêm sua identidade e legado.

Assim, o mercado imobiliário pode incentivar a criação de novos espaços públicos e culturais que fortaleçam a conexão emocional dos habitantes com a cidade. Praças, parques e centros comuni-

tários que promovem o encontro e a convivência são elementos que contribuem para a construção de novas memórias coletivas. Quando esses espaços são integrados de forma harmoniosa ao tecido urbano, podem revitalizar bairros e criar um novo senso de pertencimento, sem necessariamente apagar o passado. Em suma, os impactos do mercado imobiliário na memória afetiva das cidades variam entre a preservação e a destruição. O desafio está em encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento urbano e a manutenção da identidade cultural dos espaços, de modo que o crescimento econômico não sacrifique o vínculo emocional que as pessoas têm com o lugar onde vivem. Preservar a memória das cidades é também preservar a história de seus moradores e garantir que a transformação urbana não apague o passado, mas sim o integre de maneira respeitosa e sustentável.

Conceitos de resiliência aplicados aos impactos econômicos na cidade contemporânea

POR ANA PAULA PRETO RODRIGUES

COMISSÃO DE PLANEJAMENTO E FINANÇAS (CPF i – CAU/SP)

Para tanto, alguns conceitos estão sendo adotados na arquitetura e urbanismo na direção de explicar e entender os fenômenos transformadores da cidade atual. A resiliência urbana traduz a disposição que a cidade tem de suportar adversidades e passar pelas situações buscando novos caminhos no sentido do desenvolvimento sustentado e equilibrado, constituindo-se em um processo de transformação e adaptação.

De acordo Burayidi (2013) sobre a resiliência urbana é possível tentar entender que a expansão acelerada e desorganizada diminui a qualidade de vida, as condições de infraestrutura e equipamentos. Desde o nascimento, até hoje, a cidade foi suscetível a muitas transformações nas atividades terciárias. A evolução do sistema viário, os adventos da economia, o comportamento das pessoas e os novos centros de compras têm causado mudanças no desenho urbano contemporâneo. Assim, conforme Salgueiro (2011) resiliência refere-se ao processo de adaptação a situações que mudam constantemente.

O poder público mediante competências atribuídas pelo sistema de poderes executivo e legislativo pode influenciar o crescimento das cidades e orientar as mudanças desejáveis. As ações públicas podem injetar vitalidade ao espaço, cabendo ao Estado relacionar-se com os demais agentes (sociedade civil e empresariado), mantendo uma dinâmica favorável às iniciativas inovadoras de gestão urbana, articulando os diversos interesses políticos e econômicos que definem a dinâmica das áreas comerciais e dos bair-

ros, no âmbito das relações interativas entre o fenômeno urbano e o ambiente da cidade.

Desde que Holling propôs uma teoria geral, aplicável aos complexos sistemas socioecológicos e não apenas aos biossistemas (Chelleri, 2012), o novo modelo foi usado por muitas disciplinas, incluindo ecologia e paisagismo (Moritz et al., 2011), psicologia, ciências sociais e econômicas (Chelleri, 2012), indústria (Ashton, 2009), agricultura (Matthews; Selman, 2006), gestão (Mintzberg et al., 2009; Hahn et al., 2010; Hubbard; Paquet, 2011), desenvolvimento rural (Salvia; Quaranta, 2015) ou desenvolvimento urbano (Ernston et al., 2010).

FLUXOS METABÓLICOS

(Cadeias de produção, abastecimento, consumo)

De certo modo, “resiliência é uma síntese entre estabilidade e dinâmica, integrando as ideias de mudança e limites” (Buschbacher, 2014, p. 18). O entendimento desse conceito demanda, ainda, um discernimento entre o “estado” do sistema e de seu “regime”: “Estado refere-se às condições específicas em um dado momento, enquanto que regime refere-se às características gerais de estrutura e função do sistema”. Sendo que um sistema resiliente muda seu estado constantemente, no entanto, estas mudanças ocorrem dentro de um mesmo regime.

ESTRUTURAS DE GOVERNAÇÃO

(Organizações e instituições)

RESILIÊNCIA URBANA

DINÂMICAS SOCIAIS

AMBIENTE CONSTRUÍDO

(Serviços prestados pelos ecossistemas presentes nas paisagens urbanas)

Quadrantes da resiliência urbana. Fonte: adaptado de Resilience Aliance, 2007, p. 10

Deve-se compreender que ser “resiliente” não é obrigatoriamente um atributo positivo, por exemplo, uma “armadilha da pobreza” representa um sistema resiliente, porém, negativo. Nessa situação, uma mudança de regime seria positiva. O termo que se adota para mudança de regime, neste caso, é “transformação” (Holling; Gunderson, 2002)

Desta forma os sistemas menos resilientes são os que demoram mais tempo para retornar ao estágio inicial. Na teoria de Holling (1973), este conceito é validado no momento em que a pesquisa explica que o equilíbrio em sistemas ecológicos é válido apenas em escalas limitadas de tempo e espaço e alerta para mudanças não lineares que, também, ocorrem em sistemas ecológicos de acordo com estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea, 2014).

Neste contexto, é interessante observar a noção de equilíbrio como parte do conceito de resiliência, o que não necessariamente significa voltar à situação anterior, como no caso das áreas urbanas, onde é comumente observado. A introdução do quesito tempo, também, pode ser pa-

râmetro de análise das áreas urbanas em transformação.

No âmbito das ciências econômicas podem ser feitas duas análises distintas no que se refere à resiliência. A primeira delas refere-se à capacidade de resiliência do seu principal elemento constituinte, o capital. A segunda refere-se ao desenvolvimento econômico que incorpora a sociedade objeto de atuação do capital e que conduz à noção de desenvolvimento e sustentabilidade.

No caso do sistema capitalista, este tem se mostrado resiliente às crises, absorvendo-as e fortalecendo-se, mantendo as relações sociais de produção (Lefebvre, 1991). Pois, o termo resiliência refere-se à capacidade que os sistemas da cadeia produtiva de uma região possuem para absorver os impactos sejam políticos, econômicos ou sociais (Lebel, 2006).

Em um segundo momento, ampliando a visão do conceito de resiliência econômica (Lambin, 2005), a incorporação de uma abordagem conceitual integrada, colaborativa e interdisciplinar conduz o conceito para trajetórias de desenvolvimento mais sustentáveis.

Assim, estudar a resiliência na economia pode ser vista como avaliar a capacidade adaptativa dos sistemas no caminho do equilíbrio e sustentabilidade (Lebel, 2006). Isso indica que quanto mais resiliente aos impactos uma região se apresenta, mais fácil ocorre a adaptação às mudanças. Desta forma, o desenvolvimento regional sustentável da cadeia elege o termo resiliência para entender as diversas transformações e a capacidade de adaptabilidade.

Na opinião de Martin (2011) deve-se considerar pelo menos quatro dimensões para estudar resiliência econômica, ainda que em âmbito regional, aos choques impostos por períodos de recessão. O autor considera, para o efeito, a resistência, a recuperação, a renovação e a reorientação. Conceitos estes também trabalhados no caso urbano.

Se o desenvolvimento pressupõe esta capacidade da sociedade de se transformar, assumindo também uma função social significativa que é a promoção do bem-estar social, incluem-se aí, além da questão do crescimento da economia, outras variáveis. Entre aquelas propostas por Santos et al. (2012) e que se relacionam

diretamente ao nosso objeto de análise, a resiliência, destacamos: o desenvolvimento representa uma estratégia de reprodução do capital e de controle social, cuja finalidade consiste em reparar distorções econômicas, políticas e sociais do sistema capitalista; o desenvolvimento representa uma transformação nas formas convencionais de pensar e agir, as relações sociais de produção, distribuição e consumo numa determinada sociedade; o desenvolvimento é um termo multidimensional e interdisciplinar, portanto, não pode ser medido apenas na perspectiva de uma única dimensão – a econômica – representada pelo Produto Interno Bruto (PIB) e todos os indicadores derivados deste, necessitando de outra unidade de medida para expressar o caráter multidimensional e interdisciplinar do termo; o desenvolvimento demanda uma gestão participativa, em que a sociedade, a comunidade,

a família e o indivíduo sejam protagonistas e não espectadores da ação do Mercado ou do Estado.

Caminhando para o desenvolvimento sustentável, Lebel et al. (2006, p. 19), indicam que a sustentabilidade da sociedade envolve resiliência estratégica, a qual não se refere apenas à capacidade de suportar perturbações sem colapsar; é, antes, a capacidade de planejar e gerir essa adaptação no longo prazo. “Construir capacidades adaptativas para que as sociedades sejam resilientes é crítico para perseguir os objetivos do desenvolvimento sustentável”. Assim, sociedades resilientes incluem, como um dos seus requisitos, a capacidade de planejar e gerir. O modelo de sociedade atual requer mudanças no modo de produzir e consumir a cidade, seus recursos urbanísticos e

REFERÊNCIAS

bens de consumo coletivo, visando minimizar a segregação social arraigada na vida urbana e introduzir formas mais equilibradas de produção e manutenção dos atributos do espaço e de reafirmação da vocação cívica da cidade, recuperando formas de convívio. O que, a nosso ver, exige transformação.

Pensar sobre desenvolvimento sustentável, de certa forma, se assemelha ao conceito de resiliência que estamos perseguindo, uma vez que o território global é marcado por tantas crises e reestruturações em seu sistema. Neste sentido, o espaço urbano seria, então, um fiel retrato das contradições do sistema capitalista que também oferece capacidades de resistência e transformação em que o conceito de resiliência urbana tem lugar.

BURAYIDI, M. A. Resilient Downtowns. New York. NY, 2013.

HARVEY, D. A condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. Trad. de Adail Ubirajara Sobral e Maris Stela Gonçalves. 17.ed. São Paulo: LOYOLA. maio de 2008.

HOLLING, C. S. Resilience and stability of ecological systems. Annual Review of Ecology and Systematics, [S.l.], v. 4, p. 1-23, 1973.

LEBEL, L. et al. Governance and the capacity to manage resilience in regional socialecological systems. Ecology and Society, [S.l.], v. 11, n. 1, art. 19, 2006.

Tecnologias preditivas e cidades resilientes:

benefícios nos processos de projeto e planejamento

COMISSÃO DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

NA ARQUITETURA E URBANISMO (CTIC-AU-CAU/SP)

Cidades resilientes têm a capacidade (ou, ao menos, a pretensão) de resistir e adaptar-se a fenômenos como desastres naturais, mudanças climáticas e crises econômicas. Isto é, nessas cidades, os sistemas urbanos devem funcionar de forma rápida e eficaz diante de manifestações inesperadas.

Inaba & Inaba (2024, p. 2) afirmam que “a resiliência urbana não só simboliza a capacidade propulsora de um centro urbano de se recompor frente a um desastre, mas também a atuação dos agentes envolvidos no processo de análise de riscos e de prevenção de acidentes envolvendo comunidades vulneráveis.”

É importante destacar que o sentido de resiliência abordado deve ultrapassar as questões físicas, incluindo também os aspectos de organização de pessoas e comunidades envolvidas.

Nesse sentido, de que maneira as ferramentas tecnológicas de desenvolvimento de projetos de edificações e urbanos podem ser preditivas, minimizando impactos negativos e, consequentemente, facilitando a reconstituição de setores danificados?

A implementação das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) na gestão de cidades tem se constituído em elemento precedente dos processos de planejamento urbano: “a identificação, organização, análise e compartilhamento de dados e informações, juntamente com a

tecnologia, são ferramentas importantes para a gestão urbana, principalmente no tocante ao desenvolvimento de cidades mais sustentáveis e resilientes. Além de auxiliarem na observação e na melhor compreensão das estruturas urbanas e dos desafios existentes nas cidades, tais instrumentos também podem ser decisivos para apoiar a tomada de decisões e promover aperfeiçoamentos. As TICs têm potencial para desempenhar um papel protagonista no cenário de adaptações às mudanças climáticas nas cidades...” (Grando, 2024, p. 235).

Essa abordagem integrada inclui planejamento urbano inteligente, uso sustentável dos recursos e a promoção da coesão social. Tecnologias inovadoras como o BIM (Building Information Modeling)

e o conceito de Gêmeo Digital têm um papel crucial, pois permitem um planejamento mais eficiente e a simulação de cenários, ajudando a antecipar e mitigar problemas, com o objetivo de criar ambientes urbanos que garantam a segurança e a qualidade de vida de seus habitantes, mesmo diante de adversidades.

A metodologia BIM (Modelagem de Informação da Construção) consiste em um processo holístico de criação e gerenciamento de informações de um ativo construído, integrando dados estruturados e multidisciplinares em um modelo tridimensional (Imagem 2).

Já o gêmeo digital é uma representação eletrônica de um ambiente ou ativo físico, como um edifício, uma ponte ou um sistema de transporte.

Não é necessariamente um modelo 3D tradicional, mas sim um modelo de informações.

Gêmeos digitais são entidades dinâmicas e ativas que evoluem em tempo real e são abastecidos com informações provenientes de um modelo BIM e dos seus correspondentes físicos. Graças às tecnologias de inteligência artificial (Imagem 3), aprendizado de máquina e IoT (Internet of Things, ou Internet das Coisas), os gêmeos digitais aprendem, se atualizam e se comunicam com os correspondentes físicos por meio do intercâmbio de dados durante todo o ciclo de vida desses ativos.

Essa combinação de tecnologias pode subsidiar de forma significativa o desenvolvimento e a gestão de cidades na direção dos objetivos da resiliência urbana.

O uso do BIM permite, por exemplo, a criação de modelos digitais detalhados dos ativos construídos e a criação de um gêmeo digital da cidade (Imagem 4), abastecido com as informações provenientes desses modelos, que ajudam na visualização e no planejamento de projetos urbanos, facilitando a análise de diferentes cenários e a tomada de decisões mais assertivas para o desenvolvimento.

Essas tecnologias ou sistemas de desenvolvimento de projetos potencializam o trabalho entre diferentes profissionais, como arquitetos e urbanistas, engenheiros de distintas especialidades, técnicos e gestores. A plataforma tem natureza compartilhada e permite que todos os profissionais envolvidos trabalhem com as mesmas informações e atualizações em tempo real, reduzindo erros, retrabalho e,

consequentemente, os custos e o uso dos recursos.

Com o BIM, também é possível simular o desempenho energético dos edifícios e sistemas urbanos, o que pode otimizar o consumo de energia e a implementação de soluções sustentáveis, ajudando a reduzir a pegada ambiental das cidades. Além disso, a modelagem detalhada permite a análise prévia de aspectos de segurança, como a acessibilidade e a evacuação em casos de emergência, o que contribui para a criação de ambientes urbanos mais seguros. O conceito de resiliência abrange aspectos antrópicos e, neste contexto, as tecnologias interativas (como o BIM e os gêmeos digitais) são um importante meio de envolvimento da comunidade nos processos de projeto e planejamento urbano.

Imagem
Fonte:

Tais tecnologias reúnem informações detalhadas e atualizadas sobre os ambientes construídos, o que propicia a gestão eficiente e o prolongamento da vida útil dos mesmos, com uma documentação precisa e organizada de todos os aspectos dos projetos, o que pode facilitar o cumprimento de normas e padrões.

O uso destas novas tecnologias tem se disseminado de forma rápida e, inclusive, já foi conteúdo de edições anteriores da revista Móbile1.

Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação

Getulio Vargas (IBRE/FGV), a parcela de empresas de construção no Brasil que utilizam BIM atingiu 20,6% em março de 2024, ante apenas 9,2% em março de 2018. Com relação aos gêmeos digitais, a ABI Research estima que haverá mais de 500 gêmeos digitais de cidades inteligentes em operação até 2025.

O verdadeiro desafio é integrar informações não padronizadas que já foram implementadas e estão em operação, criando condições para desenvolver uma versão mais inteligente do mundo construído.

REFERÊNCIAS

ABI RESEARCH. Transformative Urban Digital Twin and City Modeling Deployments to exceed 500 by 2025. Disponível em: https:// abiresearch.com. Acesso em: 16 set. 2024.

GRANDO, Fabiane. Resiliência urbana e suas interfaces: caminhos para cidades sustentáveis. 2024. Tese (Doutorado) — Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, 2024.

IBRE. A digitalização na construção: o uso do BIM. Blog do IBRE. Disponível em: https://fgv. br/blog/ibre. Acesso em: 16 set. 2024.

INABA, Didiane; INABA, Maria Yumi. A construção de cidades resilientes: planejamento urbano, arcabouço legal e as comunidades no enfrentamento de desastres. Scientific Journal ANAP, [S. l.], v. 2, n. 11, 2024. Disponível em: https://tinyurl.com/yzxz78yc. Acesso em: 15 set. 2024.

NOTAS:

1 Por exemplo, artigo da edição n. 14 de 2018, disponível em: https://tinyurl.com/mwj5whue

Cidades resilientes e inclusivas para as crianças

Aconsolidação de cidades resilientes, isto é, cidades adaptáveis a situações adversas, implica diretamente em cidades inclusivas para as crianças. Essa abordagem torna-se de suma importância quando elas se tornam agentes ativos que vivenciam a cidade de maneira única. Dessa forma, o ambiente urbano configura-se como um espaço formativo, determinante para o desenvolvimento das crianças.

Tratar sobre a relação entre as cidades e as crianças nesta edição da Móbile evidencia e resgata a própria trajetória da revista. Ao observarmos a cidade pelos olhos de uma criança — sempre curiosa e ávida por aprender —, resgatamos a descrição da primeira edição da revista, em 2014, quando o tema também foi "cidades": “uma árvore ao vento das principais tendências da Arquitetura e Urbanismo e o vetor das principais transformações da sociedade”. Assim, este artigo não apenas estabelece um vínculo com essa edição inaugural, destacando que as problemáticas urbanas permanecem atuais após 10 anos, mas também reivindica o papel das crianças nos debates urbanos e no desenvolvimento urbano sustentável e resiliente.

A partir desse olhar, destaca-se a importância de se pensar a qualidade dos espaços urbanos e o direito à cidade, associados à resiliência

urbana, em contraponto à realidade das cidades, pautadas na emergência climática, na segregação socioespacial e no enorme déficit de infraestrutura urbana. Além disso, é fundamental entender o papel das crianças, tanto como participantes ativas quanto como usuárias das cidades, agora e no futuro, na construção de cidades resilientes.

Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), essas cidades devem ser inclusivas, adaptáveis às mudanças climáticas, socialmente justas, economicamente fortes e capazes de enfrentar crises de forma eficiente. Assim, considerar as crianças nesse contexto é essencial, já que elas contribuem para a consolidação de cidades que promovam coesão social, inclusão e sustentabilidade a longo prazo.

O conceito de “cidade para pessoas”, cunhado por Jan Gehl, é essencial para essa discussão, pois defende o direito à cidade por todas as idades e coloca as pessoas como papel-chave na consolidação do espaço urbano. As crianças ganham centralidade na discussão quando, conforme o autor, “a vida na cidade é um

processo de autoalimentação, de autorreforço. Algo acontece, porque algo acontece, porque algo acontece. Após iniciada, uma brincadeira de criança pode, rapidamente, atrair mais participantes.” Isso demonstra a importância da criação de espaços públicos que permitam o brincar e a integração de escolas e espaços educacionais com o tecido urbano de maneira orgânica. Ao criarmos cidades que são adaptadas às necessidades das crianças, consequentemente os espaços públicos reforçam a urbanidade e garantem sua apropriação e uso contínuo.

Essas iniciativas, no entanto, devem estar em consonância com as discussões sobre acessibilidade e mobilidade ativa. A implementação de ruas seguras — ou seja, o desenvolvimento de bairros com iluminação adequada, áreas de lazer monitoradas, calçadas bem planejadas e transporte público eficiente — é essencial para garantir que crianças e suas famílias se movimentem facilmente pela comunidade. Sob uma perspectiva sistêmica, ao priorizar rotas seguras, o ambiente urbano não apenas promove a mobilidade e a independência

infantil, mas também auxilia na mitigação dos impactos ambientais nas cidades.

A criação de espaços verdes é fundamental nesse debate, especialmente no contexto da resiliência urbana. Um desenho urbano que integra áreas verdes e espaços de lazer contribui diretamente para a qualidade de vida das crianças e a adaptação das cidades às mudanças climáticas e sociais. O acesso a parques e espaços naturais não só promove a saúde física, mas também fortalece a saúde mental, oferecendo um refúgio diante do ritmo acelerado das áreas urbanas. Parques infantis, ciclovias e espaços abertos proporcionam estímulos físicos essenciais para o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças e fortalecem a resiliência das cidades. Assim, esses espaços verdes são pilares na criação de cidades mais sustentáveis, inclusivas e preparadas para o futuro. Todas essas ações corroboram o que Jane Jacobs pontua acerca das relações entre espaço público, cidade e crianças: “Algumas calçadas são sem dúvida ruins para a criação das crianças (...) Em bair-

ros com tais deficiências, enxotar as crianças para parques ou playgrounds é, além de improdutivo, uma solução ainda pior para os problemas das ruas e para as crianças (Jacobs, p. 67, 2014)”. A autora ainda complementa: “A ideia de se livrar das ruas (...) e depreciar e menosprezar sua função social e econômica na vida urbana é uma das mais nocivas e destrutivas do planejamento urbano ortodoxo (Jacobs, p. 67, 2014).

Um exemplo prático de estratégias que colocam as crianças como centro norteador é o projeto participativo realizado com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Pau-

lo (FAU/USP) e os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Philó Gonçalves, denominado Ecoparque Educativo, em Perus, na zona oeste de São Paulo. O projeto contou com a participação colaborativa das crianças para o desenvolvimento do projeto paisagístico para a área verde atrás da escola, visando levar o uso cultural, recreativo e educacional para o espaço. Essa ação mostra que a presença de espaços ao ar livre e ambientes educativos estimulantes no tecido urbano promovem oportunidades de aprendizado contínuo.

Algumas das intervenções já podem ser observadas, como a Ekoteca e os troncos utilizados como mobiliário para a realização de uma sala de aula aberta.

O projeto participativo reforça a necessidade da voz e do espaço da criança no processo de constituição das cidades. O projeto arquitetônico, urbanístico e paisagístico inclusivo, no qual as crianças podem debater suas necessidades no espaço urbano, é capaz de criar espaços acessíveis e resilientes para todos. Isso não apenas fomenta um

Ekoteca do Ecoparque Philó Foto: autoras

senso de comunidade, mas também contribui para uma educação e saúde mais equitativas, garantindo que todas as crianças tenham voz e acesso igual a oportunidades e recursos.

Um exemplo notável é o trabalho da arquiteta e urbanista Ester Carro, por meio do Instituto Fazendinhando, que atua no Jardim Colombo, em Paraisópolis, também na zona oeste. A iniciativa, que começou em 2021 com o objetivo de transformar um antigo lixão

em um parque, hoje se expande para incluir a revitalização de espaços públicos degradados, reformas em habitações precárias, capacitação de mulheres por meio do do empreendedorismo social e ações voltadas à arte e à cultura, todas com o objetivo de fortalecer a integração comunitária. As crianças da comunidade sempre desempenharam um papel central nesse processo.

A concepção do parque Fazendinha foi feita em conjunto com a comunidade durante

o I Festival Fazendinhando, em 2018, no qual as crianças propuseram, por meio de desenhos, um espaço de brincadeiras idealizado por elas.

Em suma, essas ações mostram que o urbanismo eficiente não apenas molda o espaço físico ao redor das crianças, mas também estabelece as bases para uma educação de qualidade, saúde integral e um ambiente que favorece o desenvolvimento urbano sustentável e resiliente. Investir em um urbanismo centrado nas crianças é, portanto, um compromisso vital para construir uma sociedade mais saudável, justa e resiliente.

REFERÊNCIAS

GEHL, J. Cidades para pessoas. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2015.

INSTITUTO FAZENDINHANDO. Instituto Fazendinhando: arte, cultura e impacto social na periferia de São Paulo. Disponível em: https://www. fazendinhando.com.br. Acesso em: 19 set. 2024.

JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

Berlim, cidade resiliente

POR ROBERTO CARLOS SPINA

COMISSÃO DE EXERCÍCIO PROFISSIONAL (CEP – CAU/SP)

No século XV, durante o conflito conhecido como Guerra dos Trinta Anos (1618–1648), Berlim sofreu severos danos. A restauração teve início no final do século XVII e prosseguiu ao longo do século XVIII. Em 1910, foi promovido um concurso para um novo plano diretor, uma vez que a cidade se expandia de forma rápida e desorganizada desde 1870. Ao término da Primeira Guerra Mundial (a cidade foi pouco afetada), 17% das construções da capital alemã pertenciam ao estilo Gründerzeit (época dos fundadores) ou eram anteriores, enquanto quase 25% datavam das décadas de 1920 e 1930. Em 1931, após anos de adiamentos devido à crise global, a exposição Deutsche Bauausstellung apresentou propostas para a construção de habitações em massa a baixo custo.

A ascensão do nazismo interrompeu esse progresso e levou ao fechamento da Bauhaus em 1932, já que a nova ideologia buscava recuperar os valores clássicos da cultura alemã em oposição à crescente modernidade no Design e na Arquitetura. A arte contemporânea foi vinculada à democracia, ao pacifismo, e rotulada como "degenerada" devido a alegadas influências judaicas e comunistas.

Em 7 de fevereiro de 1933, milhares de cidadãos afluíram para o Reichstag (edifício do parlamento), que teria sido incendiado por um jovem comunista holandês. O evento foi utilizado por Adolf Hitler para persuadir o presidente a instaurar o estado de emergência, um golpe severo na democracia alemã. Em novembro de 1938, os nazistas realizaram a Noite dos Cristais. O termo se refere aos fragmentos de vidro que cobriram as ruas após a quebra das vitrines das lojas pertencentes a judeus. A brutalidade incluiu a destruição de sinagogas, cemitérios e estabelecimentos comerciais, além da prisão de milhares de indivíduos.

A arquitetura do regime nazista, associada ao planeja-

Resiliência

Capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.

(Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa - 2.fig)

mento urbano, foi implementada por Adolf Hitler e seu governo de 1933 até a sua derrota, em 1945. A principal realização desse movimento seria a Welthauptstadt Germania, a revitalização da capital alemã após a suposta vitória na Segunda Guerra Mundial. Isso envolvia a criação de uma vasta cidade neoclássica organizada em um eixo leste-oeste, com a Coluna da Vitória de Berlim no centro. Os edifícios mais importantes estavam situados ao longo de largas avenidas. O projeto foi praticamente concebido na íntegra por Albert Speer, o principal arquiteto do Reich. Entretanto, somente uma pequena fração da "Capital Mundial" foi efetivamente construída entre os anos de 1937 e 1943; mesmo assim, resultando na demolição de muitos edifícios históricos nas áreas destinadas às obras.

Ao término da guerra, cerca de um terço da cidade já havia sido devastado por bombardeios aliados, pela artilharia soviética e por combates urbanos. O que é conhecido como a "zero hora" simbolizou um novo início. Os soviéticos, que saíram vitoriosos da Batalha de Berlim, tomaram a cidade imediatamente, e posteriormente, a Grande Berlim foi dividida em quatro setores: soviético, americano, britânico e francês.

Durante o período entre maio e julho de 1945, os soviéticos aproveitaram para desmantelar a indústria, os meios de transporte e outras instalações em Berlim Ocidental, removendo até trilhos de trem, em reparação pelos danos causados pela guerra na União Soviética. Essa prática continuou em Berlim Oriental e na zona de ocupação soviética após 1945.

A situação única de Berlim, sendo uma cidade parcialmente controlada por potências ocidentais em meio à Zona de Ocupação Soviética da Alemanha, transformou-a em um ponto central na Guerra Fria a partir de 1947. Em resposta às tentativas dos aliados de unificar os setores americano, francês e britânico em um estado federal, os soviéticos bloquearam o acesso terrestre a Berlim Ocidental em 26 de junho de 1948, evento que ficou conhecido como o "Bloqueio de Berlim". A intenção da União Soviética era assumir o controle total da região. As forças aéreas dos Estados Unidos e do Reino Unido realizaram um extenso esforço logístico para fornecer suprimentos aos se-

tores ocidentais da cidade por meio de uma ponte aérea. Esse bloqueio perdurou por quase um ano.

Durante as décadas de 1950 e 1960, muitos prédios que resistiram no lado ocidental foram demolidos. A maior parte dessas demolições foi impulsionada por programas municipais voltados para a construção de novas residências, comércios e infraestrutura viária.

A inauguração da Interbau, a exposição internacional de construção, em 1957, na área de Hansa-Viertel, que havia sofrido severos danos devido à guerra, simboliza o retorno da Alemanha Ocidental ao cenário da arquitetura moderna mundial, com a presença de renomados arquitetos. Isso

contrasta com a reconstrução de áreas residenciais na Berlim Oriental, caracterizadas por blocos de edifícios, lojas e escolas, projetadas em proporções fixas para atender ao número de moradores, conhecidos como Plattenbauten.

No dia 13 de agosto de 1961, o Muro de Berlim foi erguido após uma decisão conjunta dos governos da Alemanha Oriental e da União Soviética, visando impedir que os cidadãos do leste continuassem a migrar para o oeste, em função das diferenças nos níveis de desenvolvimento entre os dois lados. Por quase 30 anos, o muro dividiu não apenas uma cidade, mas também separou incontáveis famílias.

Na década de 1970, o abandono das áreas centrais levou

a uma mudança nas políticas urbanas. Na Internationale Bauausstellung (IBA) de 1987, cujo lema era “o centro da cidade como um lugar para viver”, iniciou-se uma revitalização cuidadosa. Novos projetos, fortemente influenciados pelo pós-modernismo, incentivaram os moradores a retornarem a essas regiões. As áreas ao longo do Muro de Berlim receberam prioridade. Tegel, Prager Platz, as partes sul do Tiergarten e Friedrichstraße seguiram princípios de reconstrução crítica e novos projetos, enquanto Kreuzberg focava na revitalização de suas edificações.

Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, o programa foi interrompido e as atenções se voltaram para a revitalização da parte oriental da cidade. Berlim tornou-se novamente a capital da Alemanha unificada, com a construção de novos edifícios institucionais, embaixadas, sedes de empresas e diversas outras construções de altíssima qualidade, projetadas por arquitetos do mundo todo.

O Senado de Berlim recentemente tornou pública a sua intenção de organizar outra exposição internacional de

construção, não só dentro dos limites da cidade, mas também incluindo toda a área metropolitana. Espera-se que os principais temas da nova edição sejam as alterações climáticas, a mobilidade, as alterações demográficas e a crise energética. Ao contrário do passado, não seria apenas sobre o tema da construção, mas sim sobre como as áreas urbanas e rurais podem ser interligadas e transformadas de

uma forma sustentável e resistente ao clima.

O IBA Berlim Brandemburgo: Conectando Áreas Urbanas e Rurais pretende avaliar tendências sociais que começaram há muito tempo, levantar (e, em última análise, responder) questões que dizem respeito não apenas aos residentes da região da grande Berlim, mas também às áreas metropolitanas de todo o mundo.

REFERÊNCIAS

CIVITATIS BERLIM. História de Berlim. [S.l.]: Civitatis, [2024]. Disponível em: https://www.tudosobreberlim.com/historia. Acesso em: 19 ago. 2024.

INTERNATIONALE BAUAUSSTELLUNGEN. IBA 1987: Internationale Bauausstellungen. [S.l.]: IBA, [2025]. Disponível em: https://tinyurl.com/yecam8df. Acesso em: 19 ago. 2025.

ENTWICKLUNGSSTADT. IBA 2034: Internationale Bauausstellung im Metropolraum Berlin ab 2034 geplant. [S.l.]: Entwicklungsstadt, [2025]. Disponível em: https://tinyurl.com/y5kanh4n. Acesso em: 19 ago. 2025.

Berlim. Por Alexander Platz. Fonte: domínio público

A Universidade na Cidade:

a curricularização da extensão no cerne formativo do arquiteto e urbanista

DE ENSINO E FORMAÇÃO (CEF-CAU/SP)

Há 6 anos, foi homologada a Resolução CNE/CES nº 7, que trata de uma importante estratégia didático-pedagógica: as Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira, entendidas enquanto “processo interdisciplinar (...) que promove a interação transformadora entre instituições de ensino superior e outros setores da sociedade” (Art. 3º)1.

No campo da Arquitetura e Urbanismo (AeU), essas demandas se tornam explícitas, afinal, o campo trata de pensar e transformar o espaço para abrigar todas as atividades da vida humana.

Na área da AeU, compete destacar três aspectos preconizados nestas diretrizes, que estão em estreito alinhamento com a formação e a atuação na área, conforme previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) específicas: “processo interdisciplinar”; “interação transformadora entre ensino e a sociedade”; e a “produção e aplicação do conhecimento”.

As DCNs regulam a formação profissional, incluindo história das artes e estética e estudos socioeconômicos, além das matemáticas de cálculos e dimensionamentos técnicos, geometria e até mesmo estudos do ambiente natural e das implicações sanitárias, individuais e públicas, atreladas ao arranjo interno e/ou justaposição das construções – o que é sintetizado na “sólida formação de profissional generalista”.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e

Enquanto responsáveis pela transformação do ambiente natural para adequada acomodação de todas as atividades humanas, arquitetos e urbanistas apenas alcançam o justo exercício da profissão através das relações de alteridade, do olhar atento às necessidades de outrem, do indivíduo e da sociedade.

a União Internacional dos Arquitetos (UIA) prescrevem: “a Arquitetura deve ser uma disciplina que recorre a conhecimentos das Humanidades, das Ciências Físicas e Sociais, das Tecnologias, das Ciências Ambientais, das Artes Criativas e das Artes Liberais.” Todos esses saberes devem ser mobilizados para análise, diagnóstico e proposição de soluções para o habitat humano qualificado.

Já na teorização mais antiga sobre o campo disciplinar que chega aos nossos dias, o tratado “De Architectura”, de Vitrúvio (c. 26 a.C.), apontava a formação plural, ou enciclopédica, necessária ao arquiteto e incluía: literatura, história,

filosofia (ética), direito, medicina, astronomia (incidências climáticas), música, desenho, geometria, aritmética: saberes interdependentes e indissociáveis no processo de concepção em AeU. Logo, estratégias didático-pedagógicas interdisciplinares são basilares na formação de futuros profissionais.

Também a “interação transformadora entre ensino e a sociedade” se verifica no âmago do campo disciplinar da AeU. Não à toa, nas DCNs, o § 1º do Art. 5º – sobre competências e habilidades necessárias à formação do Arquiteto e Urbanista – arrola “o conhecimento dos aspectos antropológicos, sociológicos e econômicos re-

levantes e de todo o espectro de necessidades, aspirações e expectativas individuais e coletivas quanto ao ambiente construído”, incluindo, como perfil do egresso, a “aptidão de compreender e traduzir as necessidades de indivíduos, grupos sociais e comunidades, com relação à concepção, organização e construção do espaço (...)”.

Na mesma direção, a UNESCO-UIA inclui, entre os objetivos da formação em Arquitetura, a compreensão das relações entre as pessoas e as criações arquitetônicas, seu ambiente e as necessidades humanas, e indica como função do arquiteto na sociedade a elaboração de projetos atentos às questões sociais, sempre ciente das responsabilidades frente aos valores humanos e culturais.

Enquanto responsáveis pela transformação do ambiente natural para adequada acomodação de todas as atividades humanas, arquitetos e urbanistas apenas alcançam o justo exercício da profissão através das relações de alteridade, do olhar atento às

necessidades de outrem, do indivíduo e da sociedade.

Trata-se de uma formação cujo objetivo primeiro é atender às necessidades da sociedade, e, assim, depende dessa interação para se perfazer de forma integral, inserida e em contato com a cidade.

No que concerne à “produção e aplicação do conhecimento”, cabe lembrar que as DCNs definem os núcleos de conteúdos da formação do arquiteto e urbanista em “atividades práticas e teóricas”.

Entre as atividades práticas, listam-se: produção em ateliê, experimentação em laboratórios, viagens de estudo, elaboração de modelos e visitas a canteiros de obras, sem excluir a realização de Estágio Curricular Obrigatório, para assegurar a “consolidação e a articulação das competências estabelecidas”.

Um processo de ensino-aprendizagem que, conforme a UNESCO-UIA, deve manter o equilíbrio entre teoria e prática. Como já ditava Vitrúvio, a atividade do arquiteto nasce da prática (fabrica) e da teoria (ratiocinatio), alertando:

quem se forma apenas pela experiência das mãos não alcança autoridade com seus trabalhos e, por outro lado, os que se baseiam apenas em teorias e letras podem ser considerados perseguidores de sombras, e não de realidades.

Arquitetura e Urbanismo perfazem o sentido exato de uma ciência social aplicada.

A despeito das dificuldades enfrentadas no processo de implementação da curricularização da extensão, assim como os atuais desafios, e à luz de uma atividade (arte, ciência ou profissão) que, desde sua origem, sempre formou arquitetos a partir da conjugação de processos interdisciplinares, na produção e aplicação do conhecimento em prol e no estreito vínculo com a sociedade, fica o convite para aprender com o passado e, atentos às demandas atuais, formular propostas que transformem as condições de vida, qualificando-as hoje e no futuro.

Resta-nos o desafio de assegurar que tal instrumento –a curricularização da extensão – corrobore para uma forma-

ção qualificada de arquitetos e urbanistas atentos e críticos diante dos problemas complexos relativos às demandas e aos contextos específicos, a fim de formular soluções voltadas às necessárias preservações, manutenções, correções e transformações que garantam uma vida digna, cômoda e segura nas cidades ou fora delas.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução nº 2, de 17 de junho de 2010. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo e dá outras providências. Brasília, DF: CNE/CES, 2010.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução nº 7, de 18 de dezembro de 2018. Estabelece as Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira e regimenta o disposto na Meta 12.7 da Lei nº 13.005/2014. Brasília, DF: CNE/CES, 2018.

UNESCO; UIA. Carta para a Formação em Arquitetura. Tradução: CIALP. [S. l.]: UNESCO; UIA, 2017.

VITRÚVIO. Tratado de Arquitectura [De Architectura]. Tradução: M. Justino Maciel. Lisboa: IST Press, 2006.

NOTAS:

1 A referida resolução está em processo de revisão conforme Parecer CNE/CES nº 438/2020, que está aguardando homologação.

Acessibilidade nas cidades:

ruas e calçadas para todos

POR FERNANDO NETTO, MEL GATTI DE GODOY PEREIRA E SILVANA SERAFINO CAMBIAGHI

COMISSÃO DE ACESSIBILIDADE (CAC-CAU/SP)

Aacessibilidade nas cidades é um conceito que vai muito além da simples adequação de espaços para pessoas com deficiência. Trata-se de criar um ambiente urbano que seja verdadeiramente inclusivo, onde todos os indivíduos, em qualquer momento de suas vidas, possam se movimentar com segurança, autonomia e dignidade.

O termo "acessibilidade" abrange não apenas as pessoas com deficiência física, mas também qualquer pessoa que possa enfrentar barreiras temporárias ou permanentes de mobilidade, como idosos, gestantes, pessoas com carrinhos de bebê, ciclistas, entre outros.

Quando falamos em acessibilidade, estamos abordando uma série de adaptações e projetos que visam transformar o espaço urbano em um ambiente mais democrático. Garantir acessibilidade não significa apenas remover barreiras físicas. O ambiente precisa ser projetado para atender a todas as pessoas, independentemente de suas limitações físicas, sensoriais, cognitivas ou temporárias.

O papel do arquiteto e urbanista

Para o profissional de Arquitetura e Urbanismo, a acessibilidade deve ser encarada como uma responsabilidade primordial e intrínseca à sua prática. Não se trata apenas de implementar soluções pontuais, como rampas de acesso ou banheiros adaptados, mas de integrar soluções desde o planejamento inicial de projetos urbanos e edificações.

É fundamental que o arquiteto trabalhe com o conceito de Desenho Universal, que busca criar espaços e produtos que possam ser utilizados por todas as pessoas, sem a necessidade de adaptações posteriores.

Uma das questões centrais para as cidades é a qualidade das calçadas, que desempenham um papel crucial na mobilidade urbana. A calçada acessível deve ser contínua, sem desníveis, buracos ou obstáculos que possam dificultar o deslocamento de pedestres ou de pessoas que utilizam dispositivos de mobilidade, como cadeiras de rodas, andadores ou bengalas.

Além disso, a largura mínima da calçada precisa ser suficiente para garantir o trânsito confortável e seguro de todos os cidadãos, com especial atenção para aqueles com mobilidade reduzida.

Calçadas bem projetadas são essenciais não apenas para pessoas com deficiência. Um piso adequado, com características antiderrapantes, sem degraus ou buracos, e com inclinação transversal máxima de 3%, é fundamental para garantir a segurança de todos.

Em áreas de grande circulação em grandes centros urbanos, a ausência de uma calçada adequada pode desencorajar a mobilidade a pé, o que tem impactos negativos na saúde pública e na qualidade de vida.

Outro elemento essencial para a acessibilidade é o piso tátil, utilizado para orientar pessoas com deficiência visual ao longo das calçadas. Composto por relevos específicos, o piso tátil deve ser instalado de forma padroni-

A importância de calçadas acessíveis e de um espaço urbano bem projetado vai além da questão da mobilidade individual.

zada, garantindo que as informações transmitidas sejam claras e compreensíveis para os usuários.

No entanto, não deve ser visto como uma solução isolada, mas como parte de um conjunto de medidas para garantir a mobilidade segura. É importante que não seja instalado de maneira que se torne um obstáculo para outros pedestres, o que pode ocorrer quando ele é mal posicionado ou utilizado em excesso.

Acessibilidade e inclusão social: muito além da mobilidade

A importância de calçadas acessíveis e de um espaço urbano bem projetado vai além da questão da mobilidade individual. As calçadas acessíveis são essenciais para a coesão social e para o dinamismo das cidades.

Em uma cidade que oferece infraestrutura adequada, todos os cidadãos têm acesso facilitado a serviços básicos, como trabalho, lazer, educa-

ção e saúde, o que contribui para a criação de ambientes mais inclusivos nos quais todas as pessoas têm a oportunidade de participar ativamente da vida urbana.

A acessibilidade também tem um papel importante no fortalecimento da qualidade de vida. Quando as pessoas se sentem seguras e confortáveis para se deslocar pelas cidades, elas tendem a utili-

zar mais os espaços públicos, promovendo interações sociais e fortalecendo o sentimento de pertencimento.

Cidades acessíveis também são mais inclusivas do ponto de vista econômico, pois permitem que todos os cidadãos tenham as mesmas oportunidades de acesso ao trabalho e a outras atividades que geram renda.

Legislação e normas técnicas

No Brasil, há uma série de regulamentações e normas técnicas que orientam o planejamento e a construção de espaços urbanos e edificações acessíveis.

A ABNT NBR 9050 é a norma técnica que estabelece os critérios de acessibilidade, incluindo as especificações para calçadas, rampas, ba-

nheiros, pisos, entre outros. Estabelece, por exemplo, que a largura mínima das calçadas deve ser de 1,20m, de forma a permitir o trânsito seguro de cadeirantes.

Além da NBR 9050, o Brasil conta com a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), instituída pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015),

que define diretrizes para a inclusão social de pessoas com deficiência.

A LBI é um marco legal importante, pois amplia a visão sobre acessibilidade, contemplando não apenas a questão física, mas também a acessibilidade nas comunicações, nos transportes e na educação.

Desafios culturais e técnicos

Apesar da existência de legislação específica e de normas técnicas bem definidas, o desafio de criar calçadas acessíveis e cidades inclusivas não é apenas técnico, é cultural.

Muitos espaços urbanos ainda são projetados de forma fragmentada. Cada proprietário é responsável pela calçada em frente à sua propriedade, o que gera uma "colcha de retalhos" de soluções desconexas que não atendem às necessidades dos pedestres.

Para que as cidades brasileiras se tornem mais acessíveis, é necessário um esforço conjunto entre os profissionais de Arquitetura e Urbanismo, o poder público e a sociedade civil.

O arquiteto e urbanista, com seu papel de mediador entre o espaço construído e as necessidades humanas, deve atuar com sensibilidade e conhecimento técnico, planejando cidades inclusivas e resilientes.

O futuro das cidades depende da criação de espaços verdadeiramente inclusivos.

É fundamental que os arquitetos e urbanistas continuem a trabalhar em parceria com a sociedade, incorporando as demandas de acessibilidade nos seus projetos e incentivando a participação cidadã na construção de um ambiente urbano mais equitativo. Somente assim será possível garantir que todos possam desfrutar da cidade em sua plenitude.

A evolução da mobilidade urbana:

a trajetória do CAU/SP na valorização da atuação dos arquitetos e urbanistas na construção de cidades conectadas

POR WILTON F. CAMOLEZE AUGUSTO E MELI MALATESTA

COMISSÃO DE MOBILIDADE URBANA (CMU-CAU/SP)

Ao longo de dez anos da revista Móbile, o tema mobilidade urbana nem sempre esteve presente em todas as edições, pois um grupo dedicado a esse tema não surgiu imediatamente após a criação do CAU/SP. Contudo, muitos arquitetos e urbanistas já atuavam nessa área há tempos, explorando diversos aspectos da área, a qual trata do deslocamento de pessoas e bens no espaço urbano, assegurando o acesso às oportunidades e aos serviços da cidade.

Com o crescimento das áreas urbanas e a maior concentração de pessoas nas cidades, esse tema tornou-se central no planejamento urbano, por definir ações referentes à eficiência do deslocamento, à integração dos diferentes meios de transporte, à redução de impactos ambientais e à promoção da qualidade de vida.

Este texto revisita as edições da revista para analisar a atuação do CAU/SP na mobilidade urbana e destacar o papel dos arquitetos e urbanistas na área. Essa análise certamente mostra o reflexo de ações e iniciativas deste Conselho sobre sua visão de reconhecimento da importância da atuação profissional do arquiteto e urbanista dentro da mobilidade urbana, assegurada pela promulgação da Lei Federal nº 12.587, que institui diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana e passa a exigir que os municípios brasileiros com mais de 20 mil habitantes elaborem seus Planos de Mobilidade, à semelhança dos Planos Diretores instituídos pelo Estatuto da Cidade, Lei Federal nº 10.257/2001.

A edição de agosto de 2016 da revista destacou a importância das pesquisas, como a Pesquisa Destino-Origem, no desenvolvimento de projetos de Mobilidade Urbana. O CAU/SP também abordou o tema em Grupos de Trabalho, nos quais ações foram registradas, por meio de discussões sobre o direito de ir e vir e a necessidade de que os Planos de Mobilidade não se tornem "pro forma", ou seja, por pura formalidade. Em edições subsequentes, o planejamento da Mobilidade como ferramenta para cidades mais acessíveis e sustentáveis foi enfatizado, considerando a integração dos diferentes modais e a necessidade de redes de mobilidade eficazes.

Em outras edições, temas como a acessibilidade, a adequação de planos de mobilidade e a melhoria de calçadas, seguindo os princípios do desenho universal, foram abordados. A inclusão social e a acessibilidade surgiram como tópicos fundamentais, reforçando a importância de um planejamento que considere todos os cidadãos. Em 2017, discutiu-se o desenvolvimento urbano e a importância

da Política Nacional de Mobilidade Urbana para o crescimento ordenado das cidades. O papel dos arquitetos e urbanistas, bem como as ações do CAU/SP nessa área, foi destacado em várias edições, como no seminário de Mobilidade Urbana Sustentável realizado em 2018.

Outros temas como a reestruturação de vias urbanas para melhorar a mobilidade, o incentivo ao uso de transportes sustentáveis e ativos, como bicicletas, além da promoção de caminhabilidade em cidades, foram frequentemente debatidos nas edições. Exemplos de boas práticas, como o uso de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas em diversas cidades, foram apresentados, reforçando a importância do transporte não poluente e ativo.

A mobilidade urbana e a acessibilidade continuaram a ser abordadas em iniciativas locais, como as da Prefeitura de São Paulo em relação às calçadas e ao uso de grafites para conscientizar sobre a necessidade de rampas em pontos estratégicos. Em 2020, com a pandemia, o CAU/SP promoveu debates online para

discutir esses temas, reforçando seu compromisso com a mobilidade acessível e inclusiva.

No entanto, uma crítica foi feita em relação à formação e às atribuições profissionais, já que um gráfico publicado em 2022 sobre as áreas de atuação dos arquitetos e urbanistas não mencionava a mobilidade urbana, desconsiderando a atuação significativa desses profissionais nesse campo.

Em resumo, apesar de a mobilidade urbana ser um componente essencial para o desenvolvimento de cidades sustentáveis, acessíveis e equitativas, onde arquitetos e urbanistas têm papel crucial na definição de políticas públicas, planejamento e desenvolvimento de programas e projetos que promovam e favoreçam redes mais eficientes, inclusivas e sustentáveis, a abordagem integrada e multidisciplinar do tema e de seus profissionais, por parte do CAU/SP, nem sempre foi considerada fundamental para enfrentar os desafios das cidades contemporâneas.

Apenas em 2018 foi criada a Comissão Temporária de Mobilidade Urbana, que funcio-

nou até 2022. Mesmo assim, seus membros trabalharam para justificar a criação de uma comissão permanente, ressaltando o papel vital dos arquitetos e urbanistas na concepção de soluções para a mobilidade urbana, integrando transporte e planejamento

Arquitetos e urbanistas trabalham não apenas os aspectos técnicos da mobilidade, mas também impactos sociais e ambientais.

territorial, e desenhando cidades mais compactas, diversas e conectadas.

Arquitetos e urbanistas trabalham não apenas os aspectos técnicos da mobilidade, mas também os impactos sociais, econômicos e ambientais, e, da mesma forma, são responsáveis pelo planeja-

mento e desenho de infraestruturas que suportam diferentes modais de transporte. Isso inclui a criação de redes de ciclovias, calçadas acessíveis e seguras e espaços urbanos que incentivem o uso do transporte ativo e coletivo. Na gestão iniciada em 2024, foi criada a Comissão Especial de Mobilidade do CAU/ SP, com o intuito de enfrentar um dos maiores desafios do desenvolvimento urbano sustentável. Com o crescimento acelerado das cidades, essa comissão representa um passo importante para a Arquitetura e o Urbanismo no estado de São Paulo. O CAU/ SP, comprometido com a promoção de ambientes urbanos mais eficientes e inclusivos, reconheceu a necessidade de uma abordagem mais especializada e integrada para lidar com as questões de mobilidade. Assim, a comissão visa promover estudos, análises e propostas para melhorar os sistemas de transporte e acessibilidade nas cidades paulistas.

Essa comissão é composta por profissionais experientes em planejamento urbano, transporte, engenharia e arquitetura. Entre suas princi-

pais atribuições, destacam-se a formulação de diretrizes e recomendações para projetos de mobilidade urbana, a promoção de debates e eventos sobre o tema e a colaboração com outras instituições e órgãos públicos envolvidos na temática.

A criação desta comissão não só visa aprimorar as soluções existentes, mas também fomenta a inovação no campo da mobilidade. A ideia é pensar fora dos padrões convencionais e explorar novas tecnologias e métodos que possam ser aplicados às cidades, considerando não apenas a eficiência dos sistemas de transporte, mas também a in-

REFERÊNCIAS

clusão social e a sustentabilidade ambiental.

A comissão também atua como uma ponte entre os profissionais de arquitetura e as políticas públicas de mobilidade, assegurando que as diretrizes propostas estejam alinhadas com as necessidades das cidades e as tendências globais. Assim, a criação dessa comissão é uma iniciativa de grande importância para o futuro das cidades no estado de São Paulo e reforça o compromisso do CAU/SP com a melhoria da qualidade de vida nas cidades paulistas, promovendo ambientes urbanos mais conectados, acessíveis e sustentáveis.

BRASIL. Lei nº 10257, de 10 de julho de 2001. Estabelece diretrizes gerais da política urbana. Brasília, DF, 11 jul. 2001. Disponível em: https://tinyurl.com/5fvpfj7t. Acesso em: 10 set. 2024.

BRASIL. Lei nº 12587, de 3 de janeiro de 2012. Institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Brasília, DF, 4 jan. 2012. Disponível em: https://tinyurl.com/3cddjjsb. Acesso em: 10 set. 2024.

10 anos

Uma revista em constante mutação

POR COMITÊ EDITORIAL

Em 2024, a revista Móbile completou 10 anos! Teve sua 1ª edição lançada em junho de 2014, e em breve chegará à sua 30ª edição. Uma revista que se consolidou como um importante veículo de comunicação do CAU/ SP com os profissionais de Arquitetura e Urbanismo, se tornando um orgulho e objeto de constante desafio para aqueles que passaram pelo CAU/SP. Uma história que precisa ser contada e celebrada por todos nós!

A Móbile se tornou um periódico que tem como marca peculiar o dinamismo e, como expressa seu nome, o movimento. Sua trajetória explicita fortemente essa identidade, como diria Raul Seixas, de “metamorfose ambulante”, uma vez que, ao longo dos seus primeiros 10 anos, transformou-se inúmeras vezes.

Em comemoração ao seu décimo aniversário, o CAU/SP traz, nesta seção especial de homenagem, alguns trabalhos que contam a trajetória da revista através de diferentes abordagens e pontos de vista, iniciando por um artigo que conta um pouco da história da criação da Revista Móbile, em seguida, temos uma análise a respeito do seu projeto editorial ao longo dos anos, os resumos de todas as edições e, por fim, duas propostas de leitura da revista que procuram identificar como os temas da Cidade e da Habitação de Interesse Social tem se destacado na última década.

MÓBILE: O

desafio da criação da revista

POR MARCOS CARTUM E NANCY LARANJEIRA

COMISSÃO DE COMUNICAÇÃO (CCOM CAU/SP)

Em 2014, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP) lançou a revista Móbile, uma publicação que se tornaria um importante veículo na comunicação da entidade com os arquitetos, urbanistas e a sociedade. Conversamos com alguns de seus idealizadores a fim de entender o processo de criação e as motivações por trás dessa iniciativa: Eder Roberto da Silva (ex-diretor financeiro do CAU/SP), Victor Chinaglia Junior (coordenador da primeira Conferência Estadual de Arquitetos e da primeira edição da revista), Afonso Celso Bueno Monteiro (Presidente do CAU/SP na época) e com Rafic Farah (integrante do Grupo de Trabalho montado para as primeiras edições), que compartilharam os detalhes sobre os desafios, as motivações e as expectativas quando do desenvolvimento do periódico.

Segundo seus idealizadores, a ideia da criação da Móbile surgiu durante a Primeira Conferência Estadual de Arquitetos, realizada nos dias 1º e 2 de agosto de 2013, no Memorial da América Latina em São Paulo. Eder Silva, autor da proposta explica: “Percebemos que o sucesso da conferência não poderia terminar ali, precisávamos de um canal contínuo para dar voz ao Conselho e aos arquitetos. A proposta foi rapidamente apoiada pelo presidente da época, Afonso Celso Bueno Monteiro, e uma comissão editorial foi formada para dar continuidade à ideia”.

O nome da revista foi sugerido por Victor Chinaglia em referência e homenagem à obra de Alexander Calder, criador das esculturas móveis que foram batizadas de “Móbiles” por Marcel Duchamp. Uma delas, muito conhecida pelos arquitetos, é a “Viúva Negra”, exposta desde 1954 na sede paulistana do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/SP). Outra referência para a criação do nome foi sua semelhança com o de uma das mais importantes revistas brasileiras de arquitetura, a “Módulo”, criada por Oscar Niemeyer em 1955. “A palavra ‘Móbile’, que significa movimento, representava exatamente o que queríamos para a revista: dinamismo e transformação contínua na Arquitetura e Urbanismo”.

O conceito editorial da Móbile foi estruturado para refletir o sucesso da primeira Conferência do CAU/SP e a importância de dar continuidade na interação com a sociedade. A revista foi idealizada tendo como foco a Arquitetura e o Urbanismo enquanto atos sociais, a partir de conceito editorial cuidadosamente elaborado para refletir a importância da profissão e o papel do CAU/ SP na defesa dos arquitetos e urbanistas: um canal de comunicação independente, com forte presença institucional ecom ênfase no

exercício da profissão. Diferentemente dos periódicos comerciais, a Móbile, financiada inteiramente pelo Conselho e sem patrocínios, nasceu com o intuito de destacar a produção arquitetônica como um todo sem promover profissionais individualmente.

O conceito envolvia a participação direta de arquitetos em todas as etapas da produção. “A revista era feita por arquitetos”, sendo que os textos, as artes e até as charges da última página eram contribuições de profissionais da área, criando uma conexão íntima entre a prática da Arquitetura e do Urbanismo e o conteúdo da revista.

A primeira edição da Móbile foi fruto de um extenso trabalho inspirado pelo “Caderno da Primeira Conferência dos Arquitetos e Urbanistas do CAU/SP”. Com a criação de uma comissão editorial, o processo de elaboração envolveu a contratação de profissionais especializados, privilegiando o uso de recursos gráficos, como a inclusão de uma charge na última página, desenhada pelo cartunista Pelicano, o que trouxe um toque de humor e reflexão ao conteúdo da revista.

Na primeira edição, a revista trouxe o debate sobre se a Arquitetura era arte ou tecnologia – um tema polêmico entre os profissionais – e a seção “pinga-fogo”, na qual dois arquitetos discutiam temas controversos. Além disso, trazia entrevistas com nomes de destaque, como Paulo Mendes da Rocha e Ermínia Maricato, e artigos analíticos como o de Sérgio Ferro sobre a exploração do trabalho por trás dos tapumes dos canteiros de obra.

Tendo o propósito de divulgar o CAU/SP e sua relevância para os arquitetos e urbanistas, além de educar a sociedade sobre o papel fundamental da Arquitetura e do Urbanismo na vida das cidades, a Móbile teve também como preocupação inicial a abordagem de temas

relevantes com a participação de conselheiros e convidados externos, como forma de trazer diferentes perspectivas sobre os desafios da área.

Foi concebido como um periódico que se destacasse dos demais com o compromisso de ser “uma voz institucional forte, focada na produção arquitetônica coletiva e sem patrocínios externos, para não ficar refém de anunciantes”. A participação de arquitetos reforçava o caráter único da publicação: “A revista foi pensada como um ato de arquitetura em si. Convidamos arquitetos para todas as etapas de produção: textos, fotografias, design, até mesmo as charges eram feitas por colegas da área”.

O primeiro número da revista buscava assim, diferenciar-se das revistas tradicionais de arquiteturada época que eram distantes da realidade social. “Queríamos que a sociedade lesse a revista, que soubesse quem são os arquitetos e urbanistas e entendesse seu papel na construção de cidades mais justas e democráticas”. A Móbile buscava preencher essa lacuna, abordando temas urbanos e sociais, refletindo sobre o impacto da Arquitetura na vida das pessoas. Além disso, a participação de Miguel Pereira, conselheiro federal e uma das figuras centrais na fundação do CAU, deu um peso histórico à publicação, reforçando seu caráter institucional.

O artigo principal da 1ª edição trazia forte conteúdo crítico. Intitulado “Metrópoles, o que nos une?”, compunha um amplo e panorâmico dossiê para discutir como andavam naquele momento as políticas públicas para as cidades brasileiras. Ao apresentar suas contradições, desigualdades e contrastes, destinava-se a questionar se poderíamos alterar a rota de de-

sastre e caos devido aos problemas de mobilidade, da especulação imobiliária e da inexistência de políticas públicas adequadas. E concluía que, com a precariedade – ou mesmo ausência – de projetos urbanísticos, as cidades continuariam a perpetuar a opressão – configurando “um caos muito bem planejado”, uma vez que “a política urbana é desenhada pelo clientelismo e pelos capitais que tomam conta da cidade”. A revista propunha artigos denominados “Observatórios”, destinados a “acompanhar temas sobre questões de interesse da profissão e dos cidadãos em geral, da prática profissional, com o objetivo de analisar, em diferentes dimensões, quais as novidades, permanências e desafios para a atuação do arquiteto e urbanista”. Essa seção permaneceu apenas nas duas primeiras edições.

A evolução da revista em parte deixou de pautar-se pelos princípios críticos colocados na primeira edição, que pretendiam ser norteadores das futuras edições. Um dos desafios era o de não ser uma publicação “chapa branca”, o que a tornaria desinteressante, “a Móbile deveria ser um canal de comunicação com um público maior, não só arquitetos, mas leigos em Arquitetura. E também para arquitetos leigos em Arquitetura, num país com centenas de escolas de arquitetura de má qualidade. O conteúdo da revista deveria ser a cidade e a arquitetura como direito humano, tendo uma aparência bem popular”.

Os conteúdos que marcaram as duas primeiras edições da revista equilibravam ideias

e estimulavam debates. Com o tempo, a Móbile passou a enfatizar as demandas profissionais, as atividades do CAU/SP e sua relação com outras instituições de Arquitetura e Urbanismo, consolidando e tornando mais visíveis redes e estruturas coletivas ligadas ao exercício da profissão.

A Móbile não foi apenas uma resposta ao sucesso da Primeira Conferência Estadual de Arquitetos, mas um esforço contínuo para manter o debate sobre arquitetura e urbanismo vivo. O objetivo era que a revista fosse trimestral e, eventualmente, tivesse periodicidade ainda menor, com edições eletrônicas e impressas. Representava mais do que uma revista: “Era a

continuidade da conferência, um espaço para discutir os temas mais relevantes da cidade e da profissão”, disse Victor Chinaglia.

Surgiu como uma ferramenta institucional de comunicação inovadora e sólida para criar uma ponte entre o CAU/SP e a sociedade, além de fonte de referência para arquitetos e urbanistas. Com uma linha editorial participativa e focada na relevância social da Arquitetura, a Móbile marcou o início das atividades do CAU/SP, refletindo o compromisso com a construção de cidades mais democráticas e acolhedoras, buscando ser uma plataforma para o debate sobre os desafios urbanos e o papel da Arquitetura na sociedade.

O projeto editorial da Móbile:

os primeiros 10 Anos

POR PAULA RODRIGUES DE ANDRADE

COMISSÃO DE COMUNICAÇÃO (CCOM CAU/SP)

Como o próprio nome diz, a Móbile tem na sua criação a ideia de movimento e equilíbrio, como “uma árvore ao vento”, disse o 1º presidente do CAU/SP, Afonso Celso Bueno Monteiro, no editorial da 1ª edição da revista. De fato, apesar de identificarmos certa continuidade na apresentação de conteúdos e na sua linguagem, a revista Móbile vem se apresentando em diferentes formas ao longo desses últimos 10 anos.

Diferente do que comumente acontece em uma editora especializada em periódicos, a Móbile é uma revista que nasceu sem um projeto editorial definido, escrito. Apesar de seus objetivos terem sido largamente divulgados a época, as edições subsequentes foram se modificando em forma, conteúdo, periodicidade, como da participação de arquitetos e jornalistas na sua produção.

As mudanças no projeto da revista são fruto de diversos fatores, o principal deles é o fato de o Conselho se renovar a cada 3 anos, o que implica na reformulação de projetos em andamento e na criação de outros de interesse do novo grupo de conselheiros. Além dos membros do Conselho, o corpo funcional e os contratos com agências de comunicação também impactam na produção da revista, no seu projeto editorial, conteúdo, na forma e periodicidade, e que mudam de tempos em tempos.

Pretendemos trazer aqui um pouco do que compreendemos ter sido adotado como projeto editorial da Móbile nas suas primeiras edições. Importante apontar, que quando falamos em analisar as linhas editoriais da revista, não estamos falando em uma análise dos documentos que registraram esses projetos, mas sim de uma leitura a partir do próprio objeto, do resultado final dessas edições, assim como, de uma leitura feita a partir do ponto de vista de uma conselheira que faz parte da realização da Revista Móbile desde 2021, e que cujo intuito principal aqui é de deixar registrado parte dessa experiência, de uma percepção particular dessa história, e assim, contribuir para preservar a memória da revista e subsidiar outras análises e projetos que virão!

MÓBILES 1-2

(GESTÃO 2010-2014)

A primeira edição da Móbile (“Cidades”, junho 2014) foi fruto dos desejos e do trabalho dos conselheiros já na 1ª gestão do Conselho, do presidente Afonso Celso Bueno Monteiro, ou seja, a revista é um desejo dos fundadores do CAU/SP, cujo êxito e qualidade editorial da 1ª edição são reconhecidos até os dias de hoje. Destacamos nesta a edição, a participação de diversos arquitetos na sua elaboração, com contribuições de texto, entrevista, charges, desenhos, fotografias etc. A Móbile “Cidades” é considerada por muitos como uma importante referência, tanto de conteúdo, como de design. “Uma revista desenhada para arquitetos, feita por arquitetos”, como ainda diz com frequência nos corredores do CAU/SP, um dos seus idealizadores, o conselheiro Victor Chinaglia.

Identificamos que, de alguma maneira, o sucesso inicial fez com que o editorial da revista Móbile dessas primeiras edições (nº1 e 2), se tornasse uma espécie de guia, dando um tom geral da estrutura da revista, da sua forma, o que conduziu a algum tipo de continuidade nas edi-

EDITORIAL PRESIDENTE

DOSSIÊ

EM DEBATE

2 autores/arquitetos debatem um tema em 2 artigos pequenos

TAPUME

Matéria de capa

Ensaio “Manifesto” com autor convidado

CURTAS DO CAU

ções seguintes. Percebemos que tal homenagem, ou “resgate” dessa origem, é um exercício recorrente daqueles que trabalham com a revista. Como o que fazemos nesta edição...

Com uma estrutura que buscou dar conta de abordar temas do campo arquitetura e do urbanismo, da atividade profissional do (a) arquiteto (a) e urbanista no seu dia a dia, como de divulgar assuntos e atividades desenvolvidas no âmbito da atuação do Conselho, e ainda, identificamos que a revista Móbile vem se apresentando a partir principalmente a partir de três eixos temáticos, desde sua primeira edição: o exercício profissional, o campo da arquitetura e urbanismo, e as atividades e serviços do CAU/SP.

No sentido de explorar os conteúdos relativos ao campo da arquitetura e urbanismo, as primeiras edições problematizaram temas que estabelecem o diálogo da atuação profissional com os problemas da sociedade a partir principalmente do olhar sobre a cidade: Móbile nº1 “Cidades” (junho, 2014) e Móbile º2 “Arquitetura Pública” (outubro, 2014).

REVISTA MÓBILE

OBRAS PÚBLICAS

OBSERVATÓRIO ENSINO

MÓBILE

#1 CIDADES

SERVIÇOS, PERGUNTAS E RESPOSTAS

DIREITOS URBANOS

CIDADES

CONSTRUÇÃO

MERCADO IMOBILIÁRIO

VERDE

ENTREVISTA

Arquiteto/Urbanista conhecido

NORMAS E PROCEDIMENTOS

REVISTA MÓBILE

EDITORIAL PRESIDENTE

DOSSIÊ

EM DEBATE

TAPUME

OLHAR URBANO

Ensaio crítico de autor convidado

CURTAS DO CAU

MÓBILE #2

ARQUITETURA PÚBLICA

SERVIÇOS, PERGUNTAS E RESPOSTAS

Nessas edições nos chama a atenção o foco na exposição de um pensamento, da abordagem teórica e política, provocando à reflexão a partir de contextos de gravidade, vulnerabilidade, escassez, estimulando o debate sobre o papel da arquitetura e do papel social do (a) arquiteto (a) na sociedade. Destacamos a colaboração de profissionais que já possuíam alguma visibilidade em suas áreas, e muitos dos participantes, entre conselheiros e convidados, eram também professores na universidade ou tinham uma atuação de caráter multidisciplinar.

Para o envolvimento dos conselheiros na realização das duas primeiras edições, foram criados dois grupos: a “Comissão Especial de Formatação do Projeto Editorial da Revista do CAU/ SP” e o chamado “Grupo de Trabalho”. Nos dois primeiros números, os temas de capa tiveram bastante espaço a revista, e apresentado em seções como “Dossiê”, “Em debate”, “Tapume”, “Entrevista”, “Olhar do Arquiteto”, “Crônica”, por diversos pontos de vista.

OBSERVATÓRIO ENSINO OBRAS PÚBLICAS CIDADES

VERDE DIREITOS URBANOS

ENTREVISTA

CRÔNICA

2 Ensaios-homenagem

NORMAS E PROCEDIMENTOS

Dentro dessa mesma abordagem, identificamos nas duas primeiras edições uma seção destinada a trazer um panorama de boas práticas e problemáticas de cada área, no sentido de sua atualização. É o caso da Seção “Observatório”, que apresentou em textos curtos, temas como: Cidades, Direitos Urbanos, Verde, Obras Públicas, Construção, Ensino, Mercado Imobiliário, dentre outros. Identificamos ainda um terceiro grupo de conteúdos, que dizem respeito a temas mais institucionais, diretamente relacionados à atuação profissional do arquiteto no seu dia a dia, assim como, às atividades do CAU/ SP. Assuntos como legislação, procedimentos, serviços e atividades dos conselheiros e os trabalhos das comissões foram apresentados em seções como: “Curtas do CAU”, “Serviços – Perguntas e Respostas”, “Normas e Procedimentos”.

MÓBILES 3-11

(GESTÃO 2015-2017)

“Uma nova revista” é o título da “Palavra do presidente” da edição nº3 (“Vilanova Artigas”, agosto, 2016), a primeira revista da segunda gestão, após um ano sem publicações (2015). O então presidente Gilberto Belleza, justificou o atraso e anunciou a nova linha editorial: Depois de muitas dificuldades nos processos licitatórios, conseguimos finalmente finalizar o primeiro número de nossa revista do CAU/SP em nossa gestão, a Móbile. A revista pretende levar a todos os profissionais um pouco do trabalho realizado pelo Conselho, além de outros assuntos de interesse da Arquitetura e Urbanismo, do ponto de vista do exercício profissional e da questão cultural desse exercício (Gilberto Belleza, Móbile nº3, 2016, p.3).

O Coordenador da Comissão Especial de Comunicação na época (2015-2017), o arquiteto e urbanista Antônio Celso Marcondes Pinheiro, nos disse que, na ocasião houve um “ajuste” no projeto editorial da revista, o que, como observamos, se tornou comum na transição das gestões.

Focamos na Arquitetura e nos arquitetos. Uma revista como veículo de divulgação efetiva através, de agendas, temas relevantes e contemporâneos, [...] Definimos periodicidade, reformulamos a capa, definição de seções, número de páginas, diagramação, tudo com a participação dos colegas membros da Comissão, André, Anita, Eduardo e Cortez, e do Departamento de Comunicação do CAU/SP.” (Antônio Celso Marcondes Pinheiro, agosto de 2024)

O que observamos de diferente, é que a partir dessa edição os temas são mais focados na atuação do Conselho e no apoio direto ao profissional. Dos poucos temas que foram abordados para fora desse contexto, destacamos a preservação da seção “Em debate”, que trouxe o tema polêmico do destino do Minhocão, onde foram apresentadas duas opiniões divergentes. Muito interessante também foi a criação da seção para receber fotografia de arquitetos, “Olhar do arquiteto”, que seguiria inclusive até a próxima gestão.

Nas edições seguintes esse modelo se repetiu, as seções “Em debate” e “Capa” que ficaram com os temas do campo da arquitetura e urbanismo, e todo o restante da revista ficou dedicado aos temas mais diretamente ligados à atuação do Conselho e aos serviços profissionais. É notória a mudança do grupo de conteúdos voltados ao debate do campo da arquitetura e urbanismo, que muda seu caráter, abordagem, aprofundamento e se reduz. A partir da 3ª edição, são apresentadas as seções “Administração”, “Financeiro”, “Ouvidoria”, “Institucional”, “Regionais”, “Concurso”, “Exercício Profissional” etc. Aproveitamos a semente e fizemos uma revisão no seu projeto editorial e gráfico. O resultado foi uma revista com uma cara nova, uma vida nova, com conteúdo antenado com o mercado, com assuntos e temas importantes aos arquitetos e urbanistas do Estado de São Paulo. Abrimos mais espaço para que Diretorias, Comissões e Grupos de Trabalho divulguem suas ações e suas atividades. É o Conselho mais próximo dos profissionais de Arquitetura e Urbanismo” (Editorial Móbile nº3, grifo nosso).

Nessa gestão, observamos uma forte preocupação em utilizar a Móbile para atualizar o profissional sobre eventos, concursos, questões de registro, da legislação, das atividades do CAU, da conscientização sobre assuntos da ética, da fiscalização etc. A revista se consolida como meio de comunicação principal do Conselho, o que se reflete também na adoção de uma periodicidade bimestral. Em 2 anos, a gestão entregou 9 edições, o que investiu na publicação um caráter de periódico de notícias e apoio nos serviços oferecidos pelo CAU/SP.

OLHAR DO ARQUITETO

CONCURSO

CAU/BR HOMENAGEM

PONTO DE VISTA

Ensaio de especialista convidado

OUVIDORIA

CURTAS DO CAU

REGIONAIS

Por fim, destacamos que nessa gestão foi criada a Comissão Especial de ComunicaçãoCCOM, que dentre as suas atribuições, se torna a responsável pela realização da Móbile, consolidando a revista como um compromisso permanente do Conselho.

EXERCÍCIO PROFISSIONAL

FIQUE ATENTO

PATRIMÔNIO HISTÓRICO

ARQUITETURA DE INTERIORES

GT ARQUITETURA PAISAGÍSTICA

MÓBILE #3 ARTIGAS

PRESIDÊNCIA

Atendimento

ADMINISTRAÇÃO

FINANCEIRO

INSTITUCIONAL

CAPA

ENSINO ENTREVISTA EM DEBATE

TÉCNICA

CF - Fiscalização

SICCAU Anuidades CEF - Eventos, atuação do CAU, debate atual

MÓBILES 12-22

(GESTÃO 2018-2020)

BATE PAPO

REPORTAGEM ESPECIAL

ARQUITETURA PAULISTA EM DEBATE

CURTAS DO CAU

CONCURSO

MÓBILE #14

ARQUITETURA

DIGITAL

EXERCÍCIO PROFISSIONAL

ARQUITETURA NO MUNDO LEGISLAÇÃO E ÉTICA

OLHAR DO ARQUITETO

FIQUE ATENTO

CAU EM AÇÃO PONTO DE VISTA

PRESIDÊNCIA OUVIDORIA CAU/SP NA MÍDIA

CHARGE

NA PONTA DO LÁPIS

A partir da edição nº12, a primeira da gestão do então presidente José Roberto Geraldine Júnior, observamos uma nítida intenção de mudança na periodicidade, agora trimestral, como também no conteúdo da revista. A intenção expressa no Editorial da 1ª edição da gestão aponta para uma necessidade de “elevar o nível da comunicação a um patamar mais ousado, mais atual, expondo novas ideias, projetos e reportagens do cotidiano da profissão com uma linguagem atual, conectada às novas gerações”. Questionada sobre as mudanças no editorial, a então coordenadora da CCOM, Nancy Laranjeira destacou a necessidade de reduzir a quantidade de conteúdos institucionais, que na gestão anterior ocupavam mais da metade da revista.

A preocupação principal foi analisar se o projeto editorial da Revista Mobile estava atendendo ao público alvo do CAU/SP que é o Arquiteto e Urbanista e a sociedade. Conhecendo o público alvo, partimos para reestruturar o projeto gráfico existente com um novo olhar que, de forma mais ampla, pudesse elevar o nível da comunicação a um patamar mais ousado, expondo projetos e reportagens que refletissem o cotidiano da Arquitetura e Urbanismo. Com esse foco decidimos em Comissão, reduzir a carga institucional, que no projeto editorial anterior representava 60% das matérias para 40%, resultando em um projeto mais voltado para os interesses e desejos dos Arquitetos e Urbanistas. (Nancy Laranjeira Tavares de Camargo, agosto de 2024)

Esse novo olhar se refletiria de fato em mudanças a partir da edição nº14, quando se anunciou um “Novo Projeto Gráfico e Editorial”. Entre as seções propostas, destacamos “Na ponta do lápis”, “Arquitetura no mundo” e “Arquitetura Paulista”, além da charge no final da edição.

Como novidade editorial da nossa gestão, foram propostas novas seções tais como: “Arquitetura Paulista”, sessão “Bate-Papo” que trazia uma entrevista com profissionais, e a sessão “Arquitetura no Mundo” onde a cada trimestre procuramos trazer visões e experiências internacionais (...)

Também iniciamos a sessão “Na Ponta do Lápis”, na contracapa da revista onde trazíamos croquis de arquitetos renomados, além de mantermos as charges na última contracapa. (Nancy Laranjeira Tavares de Camargo, agosto de 2024)

Notamos também, que a antiga seção “Entrevista” tomou nome de “Bate Papo”, e que a seção “Curtas do CAU” mudou para “CAU/SP em ação” e “Curtas do CEAU”, e a manutenção de seções como: Olhar do Arquiteto, Ouvidoria e Ponto de Vista. O novo conteúdo aponta maior ênfase para os assuntos do campo da arquitetura e urbanismo que tangem a sociedade, e menos espaço para o institucional, o que acaba perdendo um pouco de força nas edições seguintes, o que se observa principalmente a partir da pandemia da covid-19. A edição nº20, de 2020, que trata da aquisição da sede do CAU/ SP, é uma revista bastante institucional, embora tenha mantido as seções da anteriores, deu maior destaque para dentro e para o exercício profissional.

Reunião do Conselho Editorial da Revista Móbile nº 28 (3ª Reunião Extraordinária da Comissão de Comunicação – CCCom)

MÓBILES 23-26 (GESTÃO 2021-2023)

Logo no início da gestão 2023-2026, da presidente Catherine Othondo, houve diversos questionamentos, no âmbito do Conselho, sobre a realização da revista Móbile, tudo a seu respeito foi questionado, a produção, a distribuição, se ela deveria continuar impressa, se deveríamos distribuir para todos os arquitetos cadastrados, e até, se a revista deveria continuar a ser produzida, já que tínhamos outros meios de comunicação digitais que estavam em alta no momento, , da consolidação do uso das redes sociais pelas instituições etc. Quando questionada sobre as expectativas em relação à Móbile naquele momento, Samira Rodrigues de Araújo Batista, então coordenadora da CCOM (20212023), nos relembrou que:

Existia uma demanda da gestão em avaliar a necessidade de manutenção da revista. Esse debate dividia a gestão sobre a importância de um Conselho profissional manter uma revista própria e principalmente, impressa. Ficava clara a necessidade de mudança que estava posta para a revista naquele momento (Samira Rodrigues de Araújo Batista, agosto de 2024)

O debate trouxe à tona também questões de sustentabilidade, que estavam cada vez mais latentes e nos cobrando de atitudes mais responsáveis com o meio ambiente, como a geração de resíduos. Na época, a distribuição havia atingido perto de 60 mil exemplares, onde foram detectamos também problemas no cadastro, muitos arquitetos recebiam duas vezes, outros nunca recebiam, enfim, diante dos questionamentos e

Móbile 24, premiada pela Bienal Panamericana de Arquitectura de Quito. Foto: site BAQ2022. Disponível em: https://tinyurl.com/3mztxr5z

ARTES VISUAIS (FOTOGRAFIAS, COLAGENS)

ARTIGOS PROFISSIONAIS/ EDITAL PÚBLICO

PARTICIPAÇÃO EXTERNA/ PROCESSO SELETIVO

CONSELHO EDITORIAL

PARTICIPAÇÃO INTERNA/ CONSELHEIROS

CHAMADA ABERTA

CAMPO ARQUITETURAE URBANISMO

ATUAÇÃOE

MÓBILE #24

DEMOCRACIA

VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL DOARQUITETOE URBANISTA

ARTIGOS COMISSÕES

CONSELHO EDITORIAL

CURTAS CAU/SP

PRESIDENTE CAU/BR

PRESIDENTE CAU/SP

INSTITUCIONAL CAU/SP

das opiniões diversas, da falta de consenso sobre o que fazer com a Móbile, a CCOM se debruçou sobre a tarefa de repensar a revista em todos os seus aspectos. Foram feitas pesquisas online sobre a opinião dos profissionais, o Conselho foi consultado, e foi definido um Comitê Editorial Executivo que faria o novo Projeto Editorial para a revista, dessa vez um documento que serviria como guia.

Com a nova Política Editorial da Revista Móbile aprovada (2021), foi dado início o processo de seleção de trabalhos da edição nº23, criado a partir de um edital de Chamada Aberta que convidou arquitetos e estudantes para que enviassem textos e trabalhos visuais, dando início a um processo participativo que envolveu profissionais e o Conselho na sua realização, atra-

vés da participação no Conselho Editorial e no desenvolvimento de textos para a revista.

Desde então, a Chamada Aberta tem ocupado quase que a metade da revista, e a outra parte, ficou dedicada à produção interna. Segundo o documento, a revista passaria a ter como foco “três eixos temáticos principais: (1) o campo da arquitetura e do urbanismo; (2) a atuação profissional do (a) arquiteto (a) urbanista; (3) as atribuições, ações e projetos do Conselho de Arquitetura e Urbanismo”.

Um marco dessa nova fase da revista foi o Premio Publicaciones na Bienal Panamericana de Arquictetura de Quito (BAQ 2022) que a edição nº24 “Democracia” (2022) ganhou “por sua excelência de conteúdo e projeto gráfico”.

MÓBILES 27-29

(GESTÃO 2024-2026)

A Política Editorial seguiu sendo adotada na gestão da então presidente Camila Moreno de Camargo, no entanto, observamos que na edição nº27 (“Os ecos do Eco”), para além dos trabalhos da Chamada Aberta e das Comissões, temos a volta da seção Entrevista e uma matéria de convidada, refletindo o desejo da nova Comissão de Comunicação de arejar o formato, recuperar seções interessantes e trazer novidades.

Como observamos, a Móbile tem sido um campo de experimentações e desafios a cada nova gestão. Contratos, participação do Conse-

ARTES VISUAIS (FOTOGRAFIAS, COLAGENS)

ARTIGOS PROFISSIONAIS/ EDITAL PÚBLICO

PARTICIPAÇÃO EXTERNA/ PROCESSO SELETIVO

CONSELHO

PARTICIPAÇÃO INTERNA/ CONSELHEIROS

ENTREVISTA TEMA

CONVIDADO EXTERNO

CHAMADA ABERTA

lho, dos profissionais, de convidados, a equipe de Comunicação, o Plano Estratégico, tudo isso influencia em menor ou maior grau na sua realização. O fato é que ela se tornou um periódico que registra a história do CAU/SP, acompanha os principais temas do campo da Arquitetura e Urbanismo e colabora com desenvolvimento profissional do (a) arquiteto (a) e urbanista, se consolidando importante referência e motivo de orgulho para o Conselho. Como “uma árvore ao vento”, a Móbile está em constante movimento, buscando o equilíbrio e agora, já com as raízes profundas!

ARTE DA CAPA

CONVIDADO EXTERNO

TAPUME

EDITORIAL ARTIGOS COMISSÕES CAPA

ARTIGO TEMA CAPA

MÓBILE #27 OS ECOS DO ECO

TAPUME TAPUME

PRESIDENTE CAU/BR

PRESIDENTE CAU/SP

INSTITUCIONAL CAU/SP

CONSELHO EDITORIAL

CURTAS CAU/SP

BIBLIOTECA CAU/SP

CONTATOS CAU/SP

#01

Cidades junho, 2014

A 1° edição da revista Móbile abordou o tema “Cidades”, abrindo um diálogo essencial sobre a transformação urbana. Com entrevistas como a de Paulo Mendes da Rocha, que criticou a infraestrutura urbana e sugeriu mudanças para evitar o colapso das metrópoles, e Sérgio Ferro, que expôs as realidades ocultas dos canteiros de obras. A revista introduziu seções regulares como “Curtas do CAU”, apresentando informações e eventos do período, e “Normas e Procedimentos”, que discutia a regulamentação e os desafios da profissão. “Saberes e Fazeres” trouxe reflexões sobre a interseção da arte e arquitetura, enquanto o dossiê sobre políticas urbanas abordou as contradições e desafios das grandes cidades brasileiras, questionando a eficácia das políticas públicas vigentes.

#03

Vilanova

Artigas agosto, 2016

A 3ª edição da revista Móbile homenageia o centenário de Vilanova Artigas, destacando sua obra residencial e impacto na arquitetura moderna de São Paulo. A nova gestão do CAU/SP revisou o editorial, ampliando a participação de comissões e grupos de trabalho, visando aproximar o Conselho dos arquitetos. Na seção “Em Debate”, discute-se o futuro do Minhocão, com Anne Marie Summer defendendo a demolição e Fernando Serapião propondo sua transformação em parque urbano. A edição também traz uma entrevista com Haroldo Pinheiro, presidente do CAU/BR, abordando os desafios da profissão. Além disso, destaca os vencedores do Concurso de Arquitetura da Casa da Sustentabilidade, promovido pelo IAB Campinas.

#02

Arquitetura

Pública

outubro, 2014

A 2ª edição da revista Móbile, “Arquitetura Pública”, reflete sobre as demandas de infraestrutura e a responsabilidade social no crescimento urbano. Leonardo Finotti, destaca a contribuição de João Filgueiras Lima (Lelé), Miguel Alves Pereira e Jorge Wilheim para a arquitetura pública. A entrevista com Ermínia Maricato critica as políticas urbanas e defende uma arquitetura mais inclusiva. Já o artigo de Silke Kapp questiona a noção de “boa arquitetura”, propondo uma prática mais criativa e prática. A edição também aborda remoções forçadas, infraestruturas verdes e o papel do arquiteto no serviço público.

Patrimônio

Histórico outubro, 2016

A quarta edição da revista Móbile foca no tema “Patrimônio Histórico”, destacanro a preservação de bens culturais como uma questão central de cidadania. A matéria principal aborda a importância de conservar o patrimônio artístico, histórico e arquitetônico, com exemplos de edificações restauradas em São Paulo. A edição inclui uma entrevista com Nestor Goulart Reis Filho, que discute o papel do patrimônio na construção da identidade cultural. Na seção “Universidade”, a revista conecta a história de São Paulo às suas antigas fazendas históricas. No “Em Debate”, Fernanda e Lívia Vierno discutem intervenções como restauro e retrofit, destacando os desafios na preservação de edifícios históricos. A edição também celebra a inauguração da nova sede do CAU/SP em Santos e apresenta o “Concurso para o Parque do Mirante em Piracicaba”.

#06 #05

Arquitetura e Sustentabilidade

dezembro, 2016

A 5ª edição da revista Móbile explora o tema da Arquitetura e Sustentabilidade, discutindo como os projetos arquitetônicos podem ser sustentáveis desde sua concepção. A edição destaca importantes exemplos de projetos sustentáveis, como o Auditório Ibirapuera, projetado por Oscar Niemeyer, e o Parque Madureira no Rio de Janeiro. A seção “Em Debate” traz uma reflexão sobre o adensamento urbano e sua relação com o planejamento das cidades. Além disso, há uma entrevista com seis profissionais da arquitetura sobre o futuro da profissão.

Arquitetura de Interiores

fevereiro, 2017

A 6ª edição da revista Móbile foca na Arquitetura de Interiores, explorando a qualificação dos espaços em ambientes públicos e corporativos. A revista apresenta projetos discutidos no Seminário do Grupo de Trabalho de Arquitetura de Interiores. A edição destaca a regulamentação da profissão de Designer de Interiores e Ambientes, diferenciando-a da arquitetura. A seção “Em Debate” aborda o planejamento urbano, com depoimentos de arquitetos e prefeitos, e a edição também inclui uma entrevista com Elisabete França, que reflete sobre os desafios das cidades

A Construção do CAU/SP agosto, 2017

A 9ª edição da revista Móbile explora o papel do CAU/SP na promoção de boas práticas no exercício da arquitetura e urbanismo. A edição destaca a importância de concursos públicos para garantir igualdade de oportunidades entre arquitetos, com um enfoque especial no Centro de Cultura Judaica, projeto de Roberto Loeb. A revista também apresenta uma entrevista com cinco arquitetos e urbanistas, que discutem suas expectativas e experiências em relação ao CAU/SP. A seção de fiscalização traz informações sobre a atuação do Conselho na proteção dos direitos da profissão.

A paisagem da Cidade outubro, 2017

A 10ª edição da revista Móbile traz como tema central o papel dos arquitetos na melhoria da qualidade urbana, destacando a importância da arquitetura paisagística e seu impacto no ambiente urbano. A matéria de capa aborda a relevância das áreas verdes nas cidades, com base no Seminário de Paisagismo promovido pelo CAU/SP. A edição também apresenta uma entrevista com o arquiteto Siegbert Zanettini, conhecido por sua atuação em projetos sustentáveis e no uso do aço. Além disso, a revista discute a terceirização das áreas verdes em São Paulo e o impacto dessa prática.

#10 #09

#07

Arquitetura

Efêmera

abril, 2017

A 7ª edição da revista Móbile tem como tema principal a Arquitetura Efêmera, discutindo o crescente mercado de feiras e eventos, que oferece novas oportunidades para os arquitetos. A edição destaca a necessidade da fiscalização do CAU/SP nesse campo, reforçando a importância da presença de arquitetos no planejamento desses projetos. Também apresenta a entrevista com o artista e arquiteto Guto Lacaz, que reflete sobre sua carreira. O debate sobre o Ensino à Distância em Arquitetura e Urbanismo também é abordado, levantando questões sobre a qualidade da formação nessa modalidade.

11 #08

Arquitetura Limpa junho, 2017

A 8ª edição da revista Móbile aborda a importância das práticas de fiscalização realizadas pelo CAU/SP, com foco na garantia de um exercício profissional qualificado. A edição apresenta os principais relatórios de gestão e auditorias externas, destacando o papel do Conselho na estruturação de políticas e normas para a profissão. Outro destaque é a seção sobre Concursos Públicos, que explora a relevância de garantir oportunidades iguais aos arquitetos por meio de processos transparentes. Além disso, há discussões sobre o projeto do Centro de Cultura Judaica em São Paulo.

Espaço Integrado dezembro, 2017 #12

A 11ª edição da revista Móbile destaca o papel da arquitetura cultural no Brasil, com ênfase nos projetos das unidades do SESC, que unem cultura, esporte e lazer em espaços integrados. A edição também traz uma entrevista com o arquiteto Paulo Bruna, que discute sua trajetória profissional e a herança do arquiteto Rino Levi, além de seu trabalho na recuperação do Teatro Cultura Artística. Outro destaque é a reflexão sobre a troca de piso de pedra portuguesa em São Paulo, abordando questões de acessibilidade e urbanismo

Habitação Social março, 2018

A 12ª edição da revista Móbile destaca a importância da Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social (ATHIS), com foco nas ações para ampliar o acesso à arquitetura para populações de baixa renda. A edição apresenta iniciativas do CAU/BR e CAU/UF para fortalecer essa frente, incluindo depoimentos de profissionais e exemplos práticos de projetos bem-sucedidos, como as Casas Cubo em Diadema. Além disso, a revista traz uma entrevista com Luciano Guimarães, presidente do CAU/ BR, que discute os desafios e objetivos de sua gestão.

#13

Moradia popular

junho, 2018

A 13ª edição da revista Móbile tem como foco questões urgentes de habitação social e preservação do patrimônio histórico, destacando o incêndio e colapso do Edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo. A edição reflete sobre o déficit habitacional no Brasil, com destaque para uma entrevista com o arquiteto Pedro Fiori Arantes, que aborda soluções para moradia popular. Além disso, o projeto de retrofit do Edifício Dandara exemplifica a recuperação de imóveis abandonados para moradia social. Também traz os vencedores do concurso para o Memorial às Vítimas da Boate Kiss.

#14

A 14ª edição da revista Móbile traz como tema principal a Arquitetura Digital, com destaque para o impacto do BIM (Building Information Modeling) no mercado da construção, explorando suas vantagens em termos de eficiência e sustentabilidade. A edição inclui uma entrevista com o arquiteto Nelson Dupré, que discute sua carreira e projetos de restauração, como a Sala São Paulo. Também aborda o Teatro Oficina, com reformas lideradas por Lina Bo Bardi e Edson Elito, e traz debates sobre jardins suspensos como soluções urbanas.

Arquitetura digital setembro, 2018 #17

Projeto bem estudado

Junho, 2019

A 17ª edição da revista Móbile destaca o papel da Arquitetura Escolar, discutindo a importância de projetos bem elaborados para melhorar o ambiente de ensino e estimular a aprendizagem. Em entrevista, o arquiteto Ruy Ohtake fala sobre seu processo criativo, marcado por curvas e cores ousadas. A edição também explora os desafios da Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (ATHIS), abordando questões como o déficit habitacional e o papel dos arquitetos na melhoria de moradias populares. Além disso, apresenta o Concurso do Centro Administrativo de Ribeirão Preto, destacando os projetos vencedores.

Memorial da América Latina setembro, 2019

A 18ª edição da revista Móbile celebra os 30 anos do Memorial da América Latina, projetado por Oscar Niemeyer com uma visão de integração sociocultural latino-americana. A edição traz uma análise sobre o papel do Memorial como ícone cultural e sua relevância no contexto arquitetônico e político. Em “Bate-Papo”, a trajetória do arquiteto Fernando Brandão, que se destacou na China, é discutida. A seção “Em Debate” aborda a caminhabilidade nas cidades, incentivando o planejamento urbano voltado para pedestres. Além disso, a edição apresenta os vencedores do concurso para a nova sede da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Sorocaba, com foco em modernidade e sustentabilidade.

#18

#15

Arquitetura inclusiva

dezembro, 2018

A 15ª edição da revista Móbile tem como tema central a Arquitetura Inclusiva, abordando a importância de projetos acessíveis para pessoas com deficiência, mobilidade reduzida, idosos e gestantes. A edição destaca o papel dos arquitetos na criação de espaços culturais que promovem acessibilidade para todos. Em “Bate-Papo”, há uma entrevista com Tais Cristina da Silva, vencedora do concurso para a nova sede do CAU/BR, que fala sobre sua trajetória e a importância dos concursos públicos. Outro destaque é a seção “Em Debate”, com Álvaro Puntoni e Ricardo Pradas, discutindo a zeladoria urbana e melhorias para as cidades.

#16

UIA 2020 RIO fevereiro, 2019 #19

fiscalização dezembro, 2019

A 19ª edição da revista Móbile traz como destaque o tema da fiscalização no exercício profissional, ressaltando o papel do CAU/ SP em promover boas práticas e assegurar a qualidade dos serviços prestados. A edição também apresenta um bate-papo com o arquiteto Marcos Boldarini, que discute a urbanização em áreas carentes e a transformação do espaço público. A seção “Em Debate” aborda o impacto das mudanças climáticas nas cidades e como a arquitetura pode contribuir para mitigá-las. Outro destaque é o Concurso de Ideias para o Vale do Rio Jundiaí, promovido pelo IAB e a Prefeitura de Jundiaí, focado em soluções para integrar a área com os bairros ao redor. A edição ainda celebra o Dia do Arquiteto e Urbanista com a realização da Semana de Arquitetura e Urbanismo do CAU/SP, marcada por palestras e oficinas.

A 16ª edição da revista Móbile aborda a preparação do Brasil para sediar o 27º Congresso Mundial de Arquitetos (UIA 2020) no Rio de Janeiro, explorando o impacto desse evento no cenário arquitetônico global. A edição também apresenta uma entrevista com a arquiteta Elisabete França, que discute a organização do congresso e suas expectativas. Além disso, temas como mobilidade urbana e preservação do patrimônio cultural em São Paulo recebem atenção especial nesta edição, destacando iniciativas como a parceria entre o CAU/SP e a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo para melhorar a fiscalização de bens tombados

Sede própria abril, 2020

A 20ª edição da revista Móbile destaca a aquisição do prédio histórico, projetado por Ramos de Azevedo, como a nova sede do CAU/SP, um marco para a valorização do patrimônio arquitetônico e a história do CAU no estado de São Paulo. Além disso, a edição aborda as ações do CAU durante a pandemia de covid -19, com a adaptação ao regime de teletrabalho e a manutenção dos serviços essenciais aos arquitetos. Também apresenta uma entrevista com Cecília Carrapatoso, que discute a importância da fiscalização e o papel das mulheres na arquitetura.

#21

Desafios na Pandemia

julho, 2020

A 21ª edição da revista Móbile aborda os desafios trazidos pela pandemia da Covid-19 e as contribuições da arquitetura e urbanismo no enfrentamento de crises sanitárias. A matéria de capa discute iniciativas desenvolvidas pelo CAU/SP durante a pandemia, como a criação da Comissão Temporária de Ações Emergenciais. A revista também destaca a Arquitetura Hospitalar, abordando a adaptação de hospitais para o “novo normal” e traz de- poimentos de profissionais como Ésio Glacy e Dr. José Davantel sobre os desafios enfrentados na construção e adaptação de hospitais. Além disso, a sessão “Arquitetura no Mundo” apresenta um panorama dos estilos arquitetônicos das universidades de arquitetura.

#25

cotidiano

abril, 2023

A 25ª edição da revista Mobile tem como tema central o cotidiano da profissão, destacando experiências diárias dos profissionais, desde os desafios enfrentados até a questão sobre a responsabilidade de projetar espaços urbanos. Entre os destaques, o poema “Você tem cara de arquiteta?” de Tatiana Reis Pimenta traz uma reflexão crítica sobre as questões de gênero e desigualdade no campo. A edição também aborda a verticalização de São Paulo e suas implicações, além de trazer discussões sobre fiscalização, ética, e o papel do CAU/SP na valorização da profissão.

Arquitetura dos espaços de saúde

outubro, 2020

A 22ª edição da revista Móbile tem como foco principal a arquitetura na área da saúde. A matéria de capa discute a importância da humanização, tecnologia e versatilidade nos projetos de saúde, destacando como esses fatores impactam a experiência dos usuários. A edição também inclui uma entrevista com Pablo Hereñú, responsável pelo projeto de reforma do Museu do Ipiranga. Outros destaques incluem um debate sobre o uso de fachadas de vidro e o concurso para o Museu da Água.

#26

futuro outubro, 2023

A 26ª edição da revista Móbile aborda o tema do futuro da arquitetura e urbanismo, trazendo questões como Arquitetura de Interesse Social (ATHIS) e reflexões sobre o papel das políticas públicas. O conteúdo inclui análises sobre inovações tecnológicas na profissão, preservação do patrimônio arquitetônico, além de um mapeamento da ATHIS no território paulista. Também se destacam discussões sobre o papel das mulheres na arquitetura, um diagnóstico da profissão em São Paulo e temas ligados à ética e novas tecnologias aplicadas à prática arquitetônica.

#23

in(visibilidade) março, 2022

A 23ª edição da revista Móbile, com o tema “(in)visibilidade”, traz contribuições de diversos autores e pareceristas que refletem sobre a inclusão social e os desafios da arquitetura contemporânea. Entre os autores estão Caroline Alves de Oliveira, com uma abordagem sobre a autoprodução nas periferias, e Júlia Solér Marconi, que discute o ativismo feminista nas periferias de São Paulo. Valéria Nagy que faz uma análise sobre a acessibilidade nas cidades, enquanto Vladimir Bartalini traz uma reflexão sobre a invisibilidade na paisagem urbana.

#24

democracia setembro, 2022

A 24ª edição da revista Móbile aborda o tema da democracia, explorando pontos como justiça espacial, direitos urbanos e participação social. A edição discute a relação entre arquitetura e urbanismo na construção de cidades inclusivas e sustentáveis, com reflexões sobre políticas públicas, preservação de patrimônio cultural e o impacto das mudanças climáticas. Casos como a preservação da Grota do Bixiga e a revisão de planos diretores durante a pandemia exemplificam a importância da participação cidadã e o papel social da arquitetura no desenvolvimento urbano.

#27

Os ecos do eco abril, 2024

Essa edição trouxe a reflexão sobre o papel da Arquitetura e do Urbanismo na preservação da vida, da cultura e dos lugares, além de trazer aos profissionais e à sociedade as novas ideias, soluções e tecnologias que contribuem para as nossas melhores decisões frente ao contexto de destruição ambiental e de mudanças nas condições de vida na terra. A edição 27 contou com a participação de arquitetos(as) e urbanistas através da Chamada Aberta e de conselheiros (as) que atuaram no Conselho Editorial, abordando o tema do Eco a partir de diferentes aspectos. Destacamos nesta edição a participação dos convidados, o arquiteto e urbanista João Rovati em uma entrevista sobre os aspectos da intervenção humana no agravamento da tragédia no Rio Grande do Sul, e da professora e crítica de arte Magnólia Costa que abordou a obra e a trajetória do artista Frans Krajcbereg, autor da obra da capa.

#28

cidades resilientes outubro, 2025

Você está aqui!

O tema da cidade na história da Móbile

POR ADRIANA BIGHETTI CRISTOFANI

E LUCAS RICARDO CESTARO

COMISSÃO DE COMUNICAÇÃO (CCOM CAU/SP)

E COMISSÃO DE POLÍTICA URBANA, AMBIENTAL E TERRITORIAL (CPUAT CAU/SP)

Arevista Móbile completa dez anos de seu lançamento, ocorrido em junho de 2014. Esta edição comemorativa, que marca a primeira década de circulação da revista, traz uma retrospectiva das edições da revista, resgatando a importância dos principais temas dos setores urbanos, da profissão de arquiteto urbanista e o diálogo do meio técnico profissional com a sociedade. Além disso, a edição comemorativa traz como tema as cidades resilientes e aproxima assim o resgate da temática da cidade na história da revista Móbile.

Na edição de lançamento da revista (#1, jun./2014), o então presidente do CAU, arquiteto Afonso Bueno Monteiro (2010-2013), iniciava a história da Móbile apresentando o conceito caldeiriano de Arte Cinética como fonte de inspiração para a revista Móbile. Afinal, o CAU/SP almejava ser vetor das transformações que ocorrem a todo o momento na sociedade, comportando-se como uma árvore ao vento, exposta as principais tendências da Arquitetura e Urbanismo brasileiro e, ao mesmo tempo, equilibrando as múltiplas ideias e opiniões dos profissionais da categoria.

Entre o marco inicial e a homenagem dos mais de dez anos da revista Móbile o conselho editorial da atual gestão propõe o resgate do tema Cidades, mas ciente dos desafios que envolvem a profissão e a sociedade quanto à manutenção da vida humana no planeta frente às mudanças climáticas, tem como foco central o subtema das cidades resilientes. A palavra resiliente remonta à capacidade de se adaptar em situações difíceis.

Como bem enunciado no edital da chamada aberta para a Móbile #28, “a resiliência de uma cidade é medida por sua capacidade adaptativa em prever desastres naturais e em se preparar para enfrentá-los mediante monitoramento, análise, conhecimento técnico e planos de ação.” Neste sentido, tanto a vida nas cidades – marcada por paisagens tão contrastantes –, quanto a emergência das mudanças climáticas impõem à sociedade e aos profissionais de arquitetura e urbanismo a constante necessidade de adaptação e de revisão de paradigmas e conceitos históricos. Assim, encarar as mudanças climáticas e buscar soluções para resiliência e adaptabilidade das cidades faz-se urgente!

Embora o tema desta edição da Móbile #28 pareça urgente em um ano em que está sendo marcado por catástrofes ambientais decorrentes das mudanças climáticas, que atingiram diferentes cidades no país, bem como várias regiões do estado do Rio Grande do Sul, a discussão não é inédita na revista. Desde a criação da revista, em junho de 2014, o tema cidade vem sendo discutido em diferentes edições. Na Móbile #1, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha apontava como evitar o desastre nas cidades, enquanto os professores Alexandre Delijaicov, Ciro Pirondi e Ermínia Maricato discutiam possíveis soluções para incluir metrópoles mais democráticas. Paulo Mendes da Rocha apontava que “transformar a natureza e torná-la

habitável” era a questão da arquitetura, e, portanto, vendo “a arquitetura, as universidades, o país atrasado, a América, o colonialismo, o rio Amazonas” temos a “obrigação de influir politicamente para inverter essa rota de desastre e fazer brilhar o êxito da técnica”.

Frente a cenários econômicos, ambientais e sociais tão diversos, a construção da agenda metropolitana voltou a ser discutida na revista

A

vida nas cidades e a emergência das mudanças climáticas impõem à sociedade e aos profissionais a constante necessidade de adaptação e de revisão de paradigmas e conceitos históricos.

Móbile #4, em setembro de 2016, momento em que os cidadãos escolhiam os prefeitos para o mandato de 2017-2020, na gestão do presidente Gilberto Belleza (2014-2017). A edição #4 apresenta o artigo “Melhorando e preservando as áreas públicas”, escrito por Fábio Silveira Bernils, José Xaides de Sampaio Alves, Maria José Gomes Feitosa, Mario Yoshinaga e Rodrigo Fernandes Michelin, que apresenta a ideia de que “a expansão urbana ultrapassa os limites dos municípios e se traduz em uma mancha urbana contendo relações em todo o território. Formam aglomerados de municípios interagindo, adensando e expandindo a mancha urbana com as relações de produção de riqueza e trabalho, moradia, cultura, lazer, entre outros”. A mesma edição trouxe ainda matéria escrita pelos

conselheiros Aurea Lopes Machado, Juan Luis Rodrigues Gonzalez, Luiz Felipe Xavier, Mariângela Portela da Silva e Paula Siqueira sobre “a construção da nova agenda metropolitana”.

A temática das mudanças climáticas e da sustentabilidade ambiental, pautada pelas eleições municipais de 2016, também se fez presente na Móbile #5, destacando o texto sobre a conferência realizada pela ONU, a Habitat III, que ressalta a responsabilidade dos prefeitos no planejamento urbano e na Móbile #6 com o artigo “Prefeitos arquitetos e o planejamento urbano”.

Além destas matérias, os arquitetos Candido Malta Campos Filho e Daniel Todtmann Montandon debateram sobre a capacidade do sistema de circulação e do adensamento urbano, a partir de análise sobre o Plano Diretor e as indicações da Conferência Habitat III.

Na Móbile #6 as preocupações com a cidade e o meio ambiente foram abordadas na matéria “prefeitos arquitetos e o planejamento urbano”, em que o arquiteto e professor Lacir Baldusco (ex-prefeito de Itapecerica da Serra entre 19972004) alertava que “a agenda para restruturação e recuperação do meio ambiente urbano” não se realizava por falta de interesse político”. A edição entrevistou a arquiteta Elisabete França sob o título “cidades em xeque”, debatendo políticas públicas, inclusão social e habitação de interesse social. Sob abordagem prática e de inserção dos profissionais de arquitetura em meio aos desafios das gestões municipais, a professora Maria Lúcia Martins Refineti, destacou os “desafios e inovações da residência em arquitetura e urbanismo”, discutindo os resultados alcançados pelo programa de residência, que em sua primeira edição formou 32 jovens arquitetos urbanistas, numa parceria de mestrado profissional entre a FAU USP e a Prefeitura de São Paulo. Os conselheiros Silvana Cambiaghi, Mel Gatti de Godoy Pereira, Douglas Ellwanger, Ludimila de Fátima Biussi Afonso e

Maria do Carmo Cassani Lopes Soeiro, apresentaram texto sobre a Lei Federal 13.462/2015, que trata da inclusão, obrigando os municípios, governos estaduais e a união a se articularem para melhorar as condições de acessibilidade nas cidades.

As preocupações com a sustentabilidade ambiental no CAU/SP se refletem na Móbile #8 a partir de matéria assinada por George Alonso, sobre o “entulho zero”, apontando para a importância da reciclagem dos resíduos gerados pela construção civil e apresentando a aplicação destes resíduos na implantação do Parque do Povo, em São Paulo. Já a Móbile #9 apresentou matéria sobre o projeto “Rios + Cidades”, cujo objetivo unificar os movimentos sociais à frente da defesa dos rios e águas, visando a recuperação dos rios para as cidades. A Móbile #17 trouxe a entrevista com o arquiteto Roberto Simon sobre a 27ª edição do Congresso da UIA, que ocorreu no Rio de Janeiro, em 2020, defendendo a cidade para as pessoas. A mesma edição apresenta matéria sobre “o triunfo das bicicletas”, tecendo análises sobre o avanço deste modal em diferentes regiões do mundo e a contribuição deste meio de transporte para a melhoria do meio ambiente.

De forma mais direta, na Móbile #19, as mudanças climáticas foram abordadas destacando o texto da arquiteta Daniela Werneck “breve contribuição sobre as mudanças climáticas: o papel das cidades” e o texto “oásis urbano: o papel da arquitetura e urbanismo na adaptação ao aquecimento nas cidades” escrito pela professora Denise Silva Duarte sobre as mudanças climáticas e o papel da arquitetura na adaptabilidade das cidades, publicado sob o título. A contribuição do engenheiro e professor da Politécnica Alex Abico, foi publicada no artigo “como avaliar a sustentabilidade ambiental de uma cidade?” na edição que também contou com texto do arquiteto Afonso Risi, ouvidor

à época, sobre a oportunidade oferecida pela assistência técnica na construção das cidades. Para além da revista, estas preocupações com um tema tão urgente e necessário renderam resultados práticos na atuação do CAU/SP. Na gestão de José Roberto Geraldine Junior (20182020), foi instituído o projeto “CAU na Cidade”. Em meio a um dos maiores desafios vivenciados pela humanidade neste século – a pandemia de covid-19 –, a Revista Móbile #21 mostra-se necessária na vida profissional de arquitetos e urbanistas. O artigo “o papel do arquiteto no mundo pós-pandemia” de Silvia Lakatos, discutia a relação dos espaços públicos e privados com a saúde e o bem-estar coletivo. Ao mesmo tempo, em que a pandemia era enfrentada, uma nova gestão foi eleita para o CAU/SP, tendo Catherine Otondo, a primeira arquiteta na presidência do conselho (20212023). A sobreposição destes dois fenômenos revisitou a promoção de uma significativa renovação, mobilizando um coletivo plural como expressou Catherine Otondo no texto “Visibilizar e fazer juntos”, edição inaugural por maior representatividade e mudanças de cenário do CAU, conjuntura de inédito cenário, formado por um grupo plural, que ocupam historicamente uma liderança institucional. Contudo, esta

mudança de paradigma se apresenta como fonte de reflexão.

Na Móbile #24 os desdobramentos em ações voltadas a preservação do meio ambiente, pode ser conferido no artigo “Direito à cidade”, escrito pelas conselheiras Danila Battaus, Mônica Viana e Vera Blat Migliorini, publicado na edição #24, sobre as mudanças de paradigmas necessárias à vida urbana com segurança, em cidades inclusivas, sustentáveis e resilientes, que resultou na construção de uma Agenda Urbana e Ambiental (2023).

Desta forma, a revista Móbile #28 convida seus leitores, através de suas páginas, a conhecer Arquitetura e Urbanismo na vida, no comportamento social e humano dentro das próximas edições, assim como entender a estrutura do Planejamento Estratégico do CAU/SP para a gestão 2024-2026 composto por programas e projetos que se articulam de modo transversal, constituindo uma matriz de convergências e sobreposições e que a Revista Móbile se propõe a decifrar, saudando aos atores que contribuíram nesta edição para o incremento da discussão sobre cidades resilientes e a arquiteta Camila Moreno Camargo (presidente na gestão 20242026) na condução desta nova agenda!

Habitação social e assistência técnica na revista Móbile

COMISSÃO DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA HABITAÇÃO

DE INTERESSE SOCIAL (CATHIS CAU/SP)

Amaioria dos municípios brasileiros presencia a precariedade nas moradias e nos serviços urbanos, além da irregularidade fundiária em diferentes territórios. No Estado de São Paulo, o déficit habitacional totaliza 1.250.419 domicílios, sendo 638.916 na Região Metropolitana de São Paulo. A inadequação habitacional também está presente nas favelas e comunidades urbanas e demanda a execução e/ou complementação de infraestrutura, melhoria habitacional e regularização fundiária.

A assistência técnica em habitação de interesse social (ATHIS) é uma das possibilidades de enfrentamento desse quadro. A ATHIS pode ser definida como um campo de trabalho interdisciplinar em que entidades, grupos e coletivos atuam junto à população de baixa renda e movimentos sociais na solução de suas necessidades habitacionais através de processos participativos.

A Lei de ATHIS aprovada em 2008, pouco conhecida e aplicada, garante a famílias com renda de até 3 salários-mínimos assistência técnica pública e gratuita para a elaboração de projetos, acompanhamento e execução de obras para edificação, reforma, ampliação ou regularização fundiária de moradias.

Neste contexto, as práticas em ATHIS, previstas em lei, são um elemento estratégico na reivindicação da construção de territórios mais justos e menos desiguais.

Nos últimos anos, o CAU/SP tem se destacado como um agente institucional importante no fomento de ações voltadas à promoção de ATHIS, permitindo que arquitetas, arquitetos e urbanistas vivenciem os desafios e as oportunidades neste campo de atuação no território paulista.

Nesta edição comemorativa de 10 anos da Móbile, a Comissão Ordinária de Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (CATHIS) se propôs a realizar um levantamento quantitativo seguido de uma análise dos conteúdos relacionados ao tema da ATHIS abordados nas 26 edições (Quadro 1), com o objetivo

de compreender com qual enfoque e frequência esse tema foi tratado na revista.

Com base na análise das 33 publicações, foi possível recuperar a trajetória e o aprimoramento das ações do CAU/SP, a partir de um ponto de inflexão: a deliberação pelo CAU/BR, em 2016, da destinação obrigatória de 2% do total da receita de arrecadação dos CAU/UFs para apoiar e incentivar ações em ATHIS.

DO GT DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA À COMISSÃO ORDINÁRIA DE ATHIS

Durante a gestão 2015-2017, foram instituídos grupos de trabalho (GT) temáticos, entre os quais o GT de Assistência Técnica, no qual o tema da ATHIS passou a ser discutido.

Em resposta à necessidade da destinação compulsória de recursos, o CAU/SP promoveu o Seminário “ATHIS, caminhos do CAU”, que contou com a participação do arquiteto e urbanista Clovis IIgenfritz da Silva, autor do projeto que resultou na Lei de ATHIS. No seminário, registrado na edição 11, discutiu-se: origens da Assistência Técnica, famílias em situação de déficit, programa federal Cartão Reforma, editais de parcerias e experiências no campo da ATHIS no Brasil.

A partir da gestão 2018-2020, após a formação de uma Comissão Temporária em Habitação de Interesse Social e o reforço no lançamento de editais de fomento direcionados a ATHIS, as publicações passaram a ser mais frequentes e o tema foi capa em duas edições seguidas. Quadro 1: adaptado de quadro elaborado pelas autoras

A primeira delas – “Habitação social. CAU convida profissionais a contar suas histórias de trabalho com Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social” – traz um panorama sobre esse campo de atuação, com o registro do trabalho de assessorias técnicas e de escritórios modelos ligados a universidades, dos desafios da implementação da ATHIS e do potencial para o enfrentamento do déficit e da inadequação habitacional no país, através de práticas autogestionárias e ações de melhoria habitacional, além de entrevistas com especialistas. A segunda matéria de capa foi publicada logo após o incêndio e desmoronamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo Paissandu, centro da capital paulista, ocorrido em 1º de maio de 2018, que encontrava-se ocupado por famílias sem teto. Dois artigos com diferentes enfoques sobre edifícios abandonados – “Preservar para evitar novas tragédias” e “Recuperar e Ocupar. O que pode ser feito para que o

patrimônio construído e abandonado volte a servir à população” – abordam a ausência de políticas públicas para a preservação do centro histórico e o potencial desses edifícios para a reconversão de uso e ocupação residencial, respectivamente, ilustrados pelo caso do edifício Dandara, primeiro prédio reformado pelo programa federal Minha Casa Minha Vida Entidades (Figura 1).

Outras edições publicadas nesta gestão trazem reflexões de como a ATHIS pode oferecer um novo campo de trabalho aos arquitetos e urbanistas, destacando-se o depoimento de Fabricia Zulim, co-autora da “Casa Cubo” (Figura 2) e os artigos de Mariana Estevão, idealizadora do Projeto Arquiteto da Família, do CAU/RJ, e Affonso Risi, sobre a divulgação da “Casa da Dona Dalva”, na Vila Matilde/SP, do escritório Terra e Tuma Arquitetos (Figura 3).

Na gestão 2021-2023, a Comissão Temporária passou à Comissão Especial, avançando-se

Figura 1: Edifício Dandara, antes e depois Fonte: Móbile, edição 13

3: Casa da Dona Dalva, Vila Matilde. Fonte: CAU/BR - Dia do Arquiteto e Urbanista, 2015 mais um passo na estruturação do Conselho no campo da ATHIS, que pode ser medida tanto pelo aumento e diversificação dos editais de fomento quanto pelo conteúdo das publicações nas quatro edições da Móbile do período. Destacam-se os artigos “Direito à Cidade: Ações de ATHIS pelo CAU/SP” e “O mapeamento de ATHIS no território paulista”, de autoria da Comissão Especial de ATHIS, que trazem os resultados das parcerias com as Organizações da Sociedade Civil, além de outras iniciativas, como a realização de um mapeamento da atuação e participação de arquitetas, arquitetos e urbanistas em ações de ATHIS no território paulista.

A partir de 2024, já na condição de Comissão Ordinária, a atuação da CATHIS tem sido pautada pela ampliação do alcance das ações do CAU/SP no campo da ATHIS. Diversos arranjos institucionais têm sido formalizados com o objetivo de articular o investimento de recursos em novas parcerias, via fomento a Acordos de Cooperação Técnica, a exemplo da Secretaria Nacional de Periferias e ONU-Habitat. Essas novas parcerias permitirão avanços na capacidade técnica dos profissionais da arquitetura e urbanismo, a ampliação do campo de atuação em ATHIS, além da aproximação com políticas públicas voltadas à garantia da moradia adequada e à melhoria da qualidade de vida da população nos municípios paulistas.

Figura 2: Casa Cubo, Diadema. Fonte: Móbile, edição 13
Figura

Carlos Alberto Palladini Filho é arquiteto e urbanista formado na Escola Nacional de Belas Artes (Enba) (1975) e no Bennett (1980), ambas instituições localizadas no Rio de Janeiro.

Desenho: paisagem urbana da Enba (1890–1971) e seu entorno

Curtas

“Carta” traz reflexões sobre justiça climática

Gestão democrática da terra, Infraestruturas verde e azul, Mobilidade urbana sustentável e Tecnologias de baixo carbono são os quatro eixos temáticos fundamentais da “Carta” a ser enviada para autoridades na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – COP30. A “Carta da Terra e da Cidade”, a contribuição do CAU/SP para este evento, foi idealizada pela Comissão de Política Urbana, Ambiental e Territorial (CPUAT) a partir dos debates do “Seminário Justiça Climática e Adaptabilidade das Cidades” realizado em junho.

Leia a versão integral da “Carta da Terra e da Cidade”: ↗ https://tinyurl.com/Carta-causp-2025

Veja

Foram mais de 21 mil atendimentos realizados por diversos canais, como WhatsApp, e-mail e telefone, prestando suporte em temas como a emissão de RRTs, anuidade e registros de pessoa física e jurídica. Na fiscalização do exercício profissional, foram executadas 983 ações programadas e 283 motivadas por denúncias. Como resultado, foram lavrados 159 autos de infração. A Comissão de Exercício Profissional (CEPCAU/SP) recebeu 131 processos administrativos e julgou 200 no período, resultando na manutenção de 191 autos de infração. O CAU/SP atende à maior população de arquitetos(as) e urbanistas do país, com 74,6 mil profissionais registrados e cerca de 11,4 mil empresas ativas no estado.

E tem muito mais. Confira: ↗ https://tinyurl.com/Acoes-causp-1sem25

Defesa da categoria em concursos públicos

Em diversos concursos públicos, muitas vezes é vedada ilegitimamente a participação de arquitetos(as) e urbanistas, ou é oferecido salário abaixo do piso profissional. Neste semestre, o Conselho agiu frequentemente para coibir estas irregularidades, com diversas vitórias. A Prefeitura de Santana de Parnaíba alterou o edital de certame para a área de Engenharia de Segurança do Trabalho, permitindo a participação de arquitetos(as) e urbanistas após ação pública do CAU/SP. Para a mesma área, o CAU/SP conquistou a retificação do edital nº 234/2025 da Famesp, garantindo que arquitetos(as) e urbanistas possam concorrer à vaga antes de concorrência exclusiva para engenheiros(as). Via decisão judicial obtida pelo Conselho, houve a retificação dos concursos do município de Caconde/SP e da empresa pública Prodesan para garantir o cumprimento do Salário Mínimo Profissional para arquitetos e engenheiros, conforme a Lei Federal nº 4.950-A/1966.

o balanço de ações do CAU/SP no semestre

Apoio à regularização fundiária nos municípios

Aprovada pelo Plenário em julho, a Nota Técnica CATHIS-CAU/SP nº 01/2025, proposta pela Comissão de ATHIS, cumpre dois papéis. Traz a recomendação do CAU/SP para que os municípios paulistas reconheçam os assentamentos informais de baixa renda em seus territórios, uma etapa fundamental para o procedimento de regularização fundiária. Também sugere um modelo de “Certidão de existência para Núcleos Urbanos Informais Consolidados” para facilitar este reconhecimento.

Leia a versão integral da Nota Técnica: ↗ https://tinyurl.com/Nota-causp-regularizacao

O CAU/SP lançou uma ferramenta online para auxiliar arquitetos(as) e urbanistas na correta identificação dos CNAEs (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) relevantes para suas empresas. Com base nas atividades técnicas da Resolução nº 21 do CAU/BR, este recurso permite que (o)a profissional insira as atividades que pretende desenvolver e obtenha uma lista correspondente de CNAEs. A correta identificação pelo CNAE pode evitar várias dores de cabeça para os(as) profissionais, facilitando o acesso a crédito, e permitindo a tributação adequada e a definição correta das regulamentações e licenças.

Saiba mais e acesse esta ferramenta:

↗ https://tinyurl.com/cnae-causp

Editais: iniciativas inéditas desbravam novos caminhos

Os editais de fomento lançados pelo CAU/SP neste ano exploraram novos ângulos em temas conhecidos como patrimônio arquitetônico e assistência técnica para habitação social. O Edital de Chamamento Público 02/2025, para iniciativas de capacitação para patrimônio cultural, teve foco em uma localidade específica, o Sítio Santo Antônio, em São Roque/SP. O Edital 003/2025 (ATHIS) destinou R$ 2 milhões a projetos que visam melhorar as condições habitacionais e também promover a regularização fundiária. E o Edital 04/2025 (CAU Educa) favoreceu a intersecção de projetos pedagógicos em Arquitetura e Urbanismo com a conscientização ambiental e urbanística.

Saiba mais:

↗ https://tinyurl.com/causp-editais-fomento

Ferramenta para selecionar CNAEs na abertura de empresas

Curtas

Parceria com a Associação Paulista de Municípios

O Acordo de Cooperação Técnica com a APM prevê a realização e oficinas e cursos de aprimoramento com servidores e gestores públicos municipais; valorização das boas práticas municipalistas em Arquitetura e Urbanismo; e a publicação de artigos na Revista Municípios de São Paulo. O intercâmbio e trabalho conjunto é considerado estratégico pelas duas entidades e levará soluções, inovações e orientações técnicas aos 645 municípios paulistas.

Saiba mais:

↗ https://tinyurl.com/causp-apm-2025

Parceria para divulgar legislação ambiental de SP

Por meio de Acordo de Cooperação Técnica (ACT), foi firmada uma parceria entre o CAU/ SP e a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (SEMIL) e a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). Este Acordo vai permitir a conjugação de esforços para atualizar e divulgar a publicação “Instrumentos de Planejamento, Licenciamento e Gestão Ambiental no Estado de São Paulo – Caderno de Apoio para Profissionais”. O “Caderno”, editado desde 2017, compila as políticas públicas em meio ambiente, a legislação da área e estrutura da gestão ambiental, e traz dados sobre o bioma do Estado, áreas protegidas entre outros.

Saiba mais:

↗ https://tinyurl.com/causp-semil-cetesb-25

Parcerias com associações da construção civil

O CAU/SP firmou acordos de cooperação com quatro importantes entidades da cadeia da construção civil: Associação Brasileira da Construção Metálica (ABCEM); Associação Brasileira da Construção Leve e Sustentável (ABCLS); Associação Brasileira de Distribuidores e Processadores de Vidros Planos (Abravidro); Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (AFEAL). Estes acordos, com duração média de 24 meses, vão permitir o intercâmbio de informações, a participação e o apoio a eventos destas associações e a publicação de material técnico produzido por estas associações.

Saiba mais:

↗ https://tinyurl.com/causp-assoc-constr-25

Parceria para promover software livre

O CAU/SP e a Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) firmaram um Acordo de Cooperação Técnica no primeiro semestre. Por meio desta parceria, o Conselho vai participar do projeto Solare, que já inclui diversos outros CAU/UFs, e que promove o uso e desenvolvimento de softwares livres necessários à prática da arquitetura, urbanismo e engenharia.

Saiba mais:

↗ https://tinyurl.com/causp-software-mobilidade-2025

Cooperação na área de mobilidade urbana

Entidade de 48 anos, Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) vai trabalhar em conjunto com o CAU/SP no âmbito do desenvolvimento urbano sustentável. Os resultados esperados desta parceria são a difusão de práticas inovadoras em mobilidade; o desenvolvimento de manuais, cartilhas e artigos na área de mobilidade urbana entre outros.

Saiba mais:

↗ https://tinyurl.com/causp-software-mobilidade-2025

Orientação e mentoria no interior do estado

Araçatuba, Assis, Bauru, Botucatu, Bragança Paulista, Campinas, Guaratinguetá, Mogi das Cruzes, Ribeirão Preto, São José dos Campos, São Roque, Sorocaba e Votuporanga foram os municípios incluídos na série de ações de acolhimento, orientação e mentoria profissional realizadas pelo CAU/SP no primeiro semestre. Estas ações vão ter continuidade nesta segunda metade do ano, renovando eventos em alguns municípios e alcançando localidades novas.

APCA premia ação do Conselho em assistência técnica

A atuação do CAU/SP para a promoção da Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social (ATHIS) foi reconhecida em uma noite de gala no palco do Teatro Sérgio Cardoso, na capital paulista em junho. A presidente do CAU/SP, Camila Moreno de Camargo, e a ex-presidente Catherine Otondo (gestão 2021-2023), em nome do Conselho, receberam o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) na categoria “Arquitetura – Política institucional”.

Saiba mais:

↗ https://tinyurl.com/APCA-causp-2025

Biblioteca

CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA PARA ARQUITETOS E URBANISTAS – ED. 2022

Compilado de princípios, regras e recomendações para a conduta ética dos(as) profissionais de Arquitetura e Urbanismo.

Total de páginas: 40.

↗ https://bit.ly/3vVBhpj

AGENDA URBANA E AMBIENTAL PARA O TERRITÓRIO PAULISTA

E-book que reúne eixos temáticos, diretrizes e ações estratégicas para promover cidades e regiões inclusivas, sustentáveis e resilientes.

Total de páginas: 48.

↗ https://bit.ly/3qRQJ3m

GUIA PARA DIVULGAÇÃO PROFISSIONAL E BOAS PRÁTICAS EM MÍDIAS SOCIAIS

E-book sobre as atividades da Fiscalização, as responsabilidades de arquitetas, arquitetos e urbanistas, o uso das redes sociais e a divulgação online de trabalhos; traz exemplos práticos e sugestões.

Total de páginas: 16.

↗ https://bit.ly/4dXOSNy

VIVENCIANDO ATHIS: CAU/SP 2021-2023

Publicação que apresenta os resultados alcançados pelos projetos de ATHIS fomentados pelo Conselho desde o início da Gestão 2021-2023

Total de páginas: 148.

↗ https://tinyurl.com/59bvzcvz

FISCALIZAÇÃO – GUIA RÁPIDO

2023

E-book que apresenta os principais fluxos de trabalho do setor de fiscalização do CAU/SP.

Total de páginas: 48.

↗ https://bit.ly/46WONrd

FISCALIZAÇÃO - ARQUITETURA DE EVENTOS

E-book de orientação para organizadoras de eventos, montadoras e profissionais de Arquitetura e Urbanismo.

Total de páginas: 24.

↗ https://bit.ly/3SmkQK2

GUIA DE ATHIS PARA OS MUNICÍPIOS

E-book com os conceitos e bases atualizados e necessários à estruturação de instituições locais voltadas à promoção e valorização da assistência técnica para habitação de interesse social.

Total de páginas: 44.

↗ https://bit.ly/3C8xAwH

ATLAS DA ARQUITETURA E URBANISMO NO ESTADO DE SÃO PAULO

Desenvolvido pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento –CEBRAP, e-book traz informações sobre a população profissional, mercado de trabalho, ensino, políticas públicas entre outras.

Total de páginas: 121.

↗ https://tinyurl.com/mr36j68j

PROFISSIONAIS DE ARQUITETURA E URBANISMO NO ESTADO DE SÃO PAULO

E-book produzido pelo CEBRAP, contém informações sobre perfil socioeconômico dos(as) arquitetos(as) e urbanistas, sistema de trabalho, ganhos etc.

Total de páginas: 43.

↗ https://tinyurl.com/2sbarpmx

INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR COM CURSOS DE ARQUITETURA E URBANISMO NO ESTADO DE SÃO PAULO

Publicação com dados sobre perfil de coordenadores(as), aspectos dos cursos, parâmetros curriculares e muito mais.

Total de páginas: 30.

↗ https://tinyurl.com/2jp5a5sm

CONSELHO

DE ARQUITETURA E URBANISMO DE SÃO PAULO (CAU/SP) | Gestão 2024-2026

CONSELHO DIRETOR

Camila Moreno de Camargo Presidente do CAU/SP

Andreia de Almeida Ortolani

Vice-presidente do CAU/SP

Viviane Manzione Rubio (Coordenadora)

Clarissa Duarte de Castro Souza (Coordenadora-Adjunta)

Comissão de Ensino e Formação do CAU/SP (CEF – CAU/SP)

Gilberto Silva Domingues de Oliveira Belleza (Coordenador)

Ricardo Aguillar da Silva (Coordenador-Adjunto)

Comissão de Ética e Disciplina do CAU/SP (CED – CAU/SP)

Renata Ballone (Coordenadora)

Roberto Carlos Spina (Coordenador-Adjunto)

Comissão de Exercício Profissional do CAU/SP (CEP – CAU/SP)

Eduardo Salgado Marconi (Coordenador)

Nallígia Tavares de Oliveira Tavares (Coordenadora-Adjunta)

Comissão de Fiscalização do CAU/SP (CF – CAU/SP)

Hainra Asabi Alves Costa (Coordenadora)

Amanda Rosin de Oliveira (Coordenadora-Adjunta)

Comissão de Organização e Administração do CAU/SP (COA– CAU/SP)

Adriano Cotrim Pita (Coordenador)

Aline Alves Anhesim (Coordenadora-Adjunta)

Comissão de Planejamento e Finanças do CAU/SP (CPFi –CAU/SP)

Tatiana Reis Pimenta (Coordenadora)

Dânia Brajato (Coordenadora-Adjunta)

Comissão de Athis do CAU/SP (CATHIS – CAU/SP)

Paula Rodrigues de Andrade (Coordenadora)

Adriana Bighetti Cristofani (Coordenadora-Adjunta)

Comissão de Comunicação do CAU/SP (CCom – CAU/SP)

Melyssa Maila de Lima Santos (Coordenadora)

Nadir Moreira da Silva (Coordenadora-Adjunta)

Comissão de Políticas Afirmativas do CAU/SP (CPAF – CAU/SP)

Rafael Paulo Ambrósio (Coordenador)

Vera Lúcia Blat Migliorini (Coordenadora-Adjunta)

Comissão de Relações Institucionais do CAU/SP (CRI – CAU/SP)

PLENÁRIO

Luciana Bongiovanni Martins Schenk - Titular Federal

Rosella Rossetto - Suplente Federal

Adriana Bighetti Cristofani - Titular

Luís Fernando Cardoso - Suplente

Adriana Corsini Menegolli - Titular

Michelle da Silveira Rosa - Suplente

Adriano Cotrim Pita - Titular

Gabriel Manzi Frayze Pereira - Suplente

Afonso Celso Bueno Monteiro - Titular

Fabiana Zanquetta de Azevedo - Suplente

Airlana Fernandes Silva Polzatto - Titular

Frederico da Costa Marins - Suplente

Alda Paulina dos Santos - Titular

Dawerson da Paixão Ramos - Suplente

Aline Alves Anhesim - Titular

Marina Machado de Souza Castanheira - Suplente

Amanda Rosin de Oliveira - Titular

Lucas Ricardo Cestaro - Suplente

Ana Maria de Biazzi Dias de Oliveira - Titular

Denis Oliveira de Souza Neves - Suplente

Ana Paula Giardini Pedro Trevisan - Titular

Luís Alexandre Amaral Pereira Pinto - Suplente

Ana Paula Preto Rodrigues - Titular

Patrícia Rodrigues Quesada - Suplente

André Gonçalves dos Ramos - Titular

Natalia Corbett Geretto - Suplente

Andreia de Almeida Ortolani - Titular

Franciele Amaral de Oliveira - Suplente

Angela Hiromi Kamogari Baldan - Titular

Maria Ligia Nakamura Guillen Vianna - Suplente

Arlete Maria Francisco - Titular

Ricardo Zammarian - Suplente

Bárbara Maria Francelin - Titular

Jeferson Cristiano Tavares - Suplente

Bruna Beatriz Nascimento Fregonezi - Titular

Tainã Antunes Valgas Dorea – Suplente

Camila Moreno de Camargo - Titular

Carina Serra Amancio – Suplente

Clarissa Duarte de Castro Souza - Titular

Adriel Fernandes Passos Neto – Suplente

Dânia Brajato - Titular

Claudia Bastos Coelho – Suplente

Daniel Passos Proença - Titular

Alessandra Curadi Joazeiro Cucorocio – Suplente

Danielle Skubs - Titular

Camila Martins Mastrorocco – Suplente

Danila Martins de Alencar Battaus - Titular

Maurílio Ribeiro Chiaretti – Suplente

Eder Roberto da Silva - Titular

Paula Katakura – Suplente

Ederson da Silva - Titular

Anita Affonso Ferreira – Suplente

Edison Borges Lopes - Titular

Júlia Mattos de Castro – Suplente

Eduardo Salgado Marconi - Titular

Luiz Antonio Nigro Falcoski – Suplente

Fernanda de Macedo Haddad - Titular

Fernanda Amorim Militelli – Suplente

Fernando Netto - Titular

Linda Teresinha Saturi – Suplente

Francisco Otaviano Merli do Amaral - Titular

Ana Paula Koury – Suplente

Gilberto Silva Domingues de Oliveira Belleza - Titular

Lúcio Gomes Machado – Suplente

Hainra Asabi Alves Costa - Titular

Felipe Garcia de Sousa – Suplente

Iara Ribeiro de Barros Camacho - Titular

Rafaela Engler Ribeiro – Suplente

Jane Marta da Silva - Titular

Kedson Barbero – Suplente

José Antonio Lanchoti - Titular

Mirtes Birer Koch – Suplente

José Borelli Neto - Titular

Violeta Saldanha Kubrusly – Suplente

José Marcelo Guedes - Titular

Maria Eneida Barreira – Suplente

Leticia Rocco Kirchner - Titular

Karina Andrade Mattos – Suplente

Luciana Cristina Ceron - Titular

Gabriela Gonzalez Peronti – Suplente

Luciana Rando de Macedo - Titular

André Rogério de Santana – Suplente

Luiz Antonio Cortez Ferreira - Titular

Nathalia Hartung Carvalho – Suplente

Maíra de Camargo Barros - Titular

Marco Antonio D’Elia Junior – Suplente

Maíra Laurença Geia – Suplente

Marcelo de Oliveira Montoro - Titular

Selma Cristina de Sá Moreira Simões – Suplente

Márcia Mallet Machado de Moura - Titular Gustavo Ramos Melo – Suplente

Marcos Cartum - Titular

Igor Cortinove – Suplente

Maria Cristina Pinheiro Machado Sanches - Titular

José Quirino de Arruda – Suplente

Maria Ermelina Brosch Malatesta – Titular

Maria Isabel Rodrigues Paulino – Titular

Flávia Santos Santana – Suplente

Maria Jocelei Steck - Titular

Eduardo Nogueira Martins Ferreira – Suplente

Mariana Cicuto Barros - Titular

Ana Carolina Alencar Nunes – Suplente

Mariângela Portela da Silva – Titular (até 22/04/2025)

Wesley Café Calazans – Suplente (até 23/04/2025)

Marineia Lazzari Chiovatto - Titular

Marco Antonio Teixeira da Silva – Suplente

Melyssa Maila de Lima Santos - Titular Jéssica Aparecida da Silva Oliveira – Suplente

Monica Antonia Viana - Titular

Denis Ferri da Silva – Suplente

Nadir Moreira da Silva - Titular

Cristiane Lopes dos Santos – Suplente

Nallígia Tavares de Oliveira Tavares - Titular

Bárbara Caetano Damasceno – Suplente

Nancy Laranjeira Tavares de Camargo - Titular

André Luís Avezum – Suplente

Nilce Cristina Aravecchia Botas - Titular

Carolina Maria Pozzi de Castro – Suplente

Paula Rodrigues de Andrade - Titular

Fernanda Craveiro Cunha – Suplente

Paulo André Cunha Ribeiro - Titular

Aline Marques Analha – Suplente

Rafael Paulo Ambrósio - Titular

João Sette Whitaker Ferreira – Suplente

Reginaldo Peronti - Titular Luiz Fisberg – Suplente

Renata Ballone - Titular

Paula Francisca Ferreira da Silva – Suplente

Ricardo Aguillar da Silva - Titular

Tomas Gioia Brunoro – Suplente

Roberto Carlos Spina - Titular

Ana Maria Leão Wey – Suplente

Rosana Ferrari - Titular

Ronaldo Jose da Costa – Suplente

Ruth Cristina Montanheiro Paolino - Titular

Wilton Flávio Camoleze Augusto – Suplente

Samira Rodrigues de Araujo Batista - Titular

Dante Nabuco Leva – Suplente

Silvana Serafino Cambiaghi - Titular

Patrícia Ceroni Scarabelli – Suplente

Soriedem Rodrigues - Titular

Iracy Fortes Squillaro – Suplente

Tatiana Reis Pimenta - Titular

Mel Gatti de Godoy Pereira – Suplente

Thais Borges Martins Rodrigues - Titular

Leticia Faidiga – Suplente

Vera Lúcia Blat Migliorini - Titular

Catherine D’Andrea – Suplente

Victor Chinaglia Júnior - Titular

Daniella Farias Scarassatti – Suplente

Viviane Leão da Silva Onishi - Titular

Thaís Vicente Santos – Suplente

Viviane Manzione Rubio – Titular

Elué Eatoni – Suplente (até 23/08/2024)

Escritórios Descentralizados

SEDE

(11) 3014-5901 (Telefone e WhatsApp)

E-mail: regionalabc@causp.gov.br

Coordenador: Danilo Costa de Oliveira

S 2 6 3 7 4 4 8 9 10 1 5

BAURU

(11) 3014-5902 (Telefone e WhatsApp)

E-mail: regionalbauru@causp.gov.br

Coordenadora: Ludmilla Sandim Tidei de Lima Pauleto

CAMPINAS

(11) 3014-5903 (Telefone e WhatsApp)

E-mail: regionalcampinas@causp.gov.br

Coordenadora: Elaine Pereira da Silva

MOGI DAS CRUZES

(11) 3014-5904 (Telefone e WhatsApp)

E-mail: regionalmogidascruzes@causp.gov.br

Coordenadora: Samira Manoel dos Santos Lima

PRESIDENTE PRUDENTE

(11) 3014-5905 (Telefone e WhatsApp)

E-mail:regionalpresidenteprudente@causp.gov.br

Coordenadora: Jacqueline Sana

RIBEIRÃO PRETO

(11) 3014-5906 (Telefone e WhatsApp)

E-mail: regionalribeiraopreto@causp.gov.br

Coordenadora: Vanilde de Castro

SANTOS

(11) 3014-5907 (Telefone e WhatsApp)

E-mail: regionalsantos@causp.gov.br

Coordenador: Gustavo Teixeira de Miranda

ABC

(11) 3014-5901 (Telefone e WhatsApp)

E-mail: regionalabc@causp.gov.br

Coordenador: Danilo Costa de Oliveira

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

(11) 3014-5908 (Telefone e WhatsApp)

E-mail: regionalsjcampos@causp.gov.br

Coordenador: Paulo Romano Reschilian

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

(11) 3014-5909 (Telefone e WhatsApp)

E-mail: regionalsjriopreto@causp.gov.br

Coordenadora: Maria Heloisa Maltarolo

SOROCABA

(11) 3014-5910 (Telefone e WhatsApp)

E-mail: regionalsorocaba@causp.gov.br

Coordenador: André Luiz Siqueira de Oliveira

Atendimento remoto: 9h às 12h e 13h às 16h (segunda a sexta-feira)

Atendimento presencial: 9h às 12h e 13h às 16h em todos os escritórios, mediante agendamento (quartas e sextas-feiras)

Acesse aqui para saber qual é o seu Escritório Descentralizado → S 6 3 7 8 9 10 2 1 5

Contatos

CENTRAL DE ATENDIMENTO CAU/SP

Telefone (11) 3014-5900

Whatsapp (11) 94957-3809

E-mail atendimento@causp.gov.br Prazo de respostas em até 5 dias úteis

CHAT • Atendimento online ↗ https://bit.ly/ChatCAUSP

Horários de atendimento: 9h às 18h (segunda a sexta-feira)

COLETA BIOMÉTRICA

Os arquitetos e urbanistas que possuem registro definitivo e ativo no CAU, e cadastraram a solicitação de Carteira de Identidade Profissional, devem solicitar o agendamento da coleta de dados biométricos (foto, assinatura e digital).

E-mail: carteira.profissional@causp.gov.br

CENTRAL DE ATENDIMENTO CAU/BR

Ligação gratuita 0800 833 0113

Ligação de celular 4007-2613

Horário de atendimento 9h às 19h (segunda a sexta-feira)

Ysadora Lourenço é artista visual, pesquisadora e arquiteta de formação. Atua como professora de Arte e História da Arte e tem como foco de estudo a fragmentação de imagem.

Colagem: Quimérico urbano, 2024

revista do CAU/SP

ISSN: 2448-3885

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.
Revista Móbile Ed. #28 | Cidades Resilientes by CAU/SP - Issuu