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Ano 3 • Número 99

R$ 2,00 São Paulo • De 20 a 26 de janeiro de 2005

Governo argentino enfrenta credores A

Argentina propôs à banca internacional pagar só 25% do valor que cobram os credores. O país vizinho está em moratória desde 2001. A estratégia de Kirchner vai na contramão dos governos vizinhos, que priorizam o mercado financeiro, cujo maior temor é que outros sigam o exemplo argentino. Para o intelectual César Benjamin, o sucesso da Argentina pode colocar à prova a política do ministro Antonio Palocci, da Fazenda: nos últimos dois anos, o Brasil pagou a dívida religiosamente em dia, mas não a reduziu nem em 10%. Em 2004, gastou com esses pagamentos 160 vezes a mais do que investiu em habitação. Já a Argentina, não pagou nada, e poderá reduzir seu passivo em até 75%. Mais: a economia argentina cresceu 18% nos últimos dois anos, enquanto a brasileira ficou nos 5%. Págs. 2 e 9

Sabah Arar/AFP/AE

Néstor Kirchner só retoma o pagamento da dívida externa se banqueiros aceitarem reduzir o endividamento em 75%

Iraquianas passam diante de cartazes de vários candidatos, colados em muro no centro de Bagda. Campanha eleitoral não anima eleitores

Iraquianos vão boicotar eleição para presidente

Ao passar por cima de resolução do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, dia 17, o governo precisa de muito pouco para aprovar a transposição do Rio São Francisco. Agora, só falta a licença ambiental do Ibama. Mas a sociedade procura formas de reagir. Segundo o agrônomo

Hugo Jesus Filho, um dos criadores da Frente Nacional em Defesa do Rio São Francisco e Contra a Transposição das Águas, lançada dia 6, estão sendo usados todos os meios, inclusive jurídicos, para barrar a obra sem que o povo participe dos debates. Pág. 5

Se se tratassem só de parcerias com empresas privadas e levantar recursos para investir em infra-estrutura, leis e dinheiro não faltam. Mas a intenção das PPPs parece ser outra, dizem especialistas. A economista Ceci Juruá não é contra parcerias, mas contra a lei que as sanciona, que autoriza

João Zinclar

Marcada para o dia 30, a eleição presidencial pode se tornar um grande fracasso. A avaliação é de Juan Cole, professor de história da Universidade de Michigan (EUA), para quem mais de 500 mil eleitores devem boicotar o pleito. Um eventual fiasco enfraquece o domínio militar dos Estados Unidos, pois, segundo Cole, o presidente George W. Bush quer eleger um governo fantoche, que controle. A resistência não é apenas nas urnas: ataques contra soldados estadunidenses e iraquianos que apóiam a ocupação recrudescem em todo o país. Pág. 11

Sem aval da sociedade, Recursos públicos podem a transposição avança virar lucros privados

Nestlé explora ilegalmente água mineral Com a cumplicidade do governo estadual, a transnacional Nestlé criou uma zona franca em São Lourenço, Minas Gerais. Zona de impunidades. Na região, onde atua desde 1996, a empresa causou uma catástrofe ambiental, com a exploração predatória da água e a construção de uma fábrica sem autorização e sem estudo de impacto ambiental. Em defesa dos recursos naturais da área, onde várias fontes de água já secaram, entidades se mobilizaram e exigem que as atividades da transnacional sejam investigadas. Pág. 13

Bolivianos retomam as ruas de La Paz Estatização do petróleo, saída imediata da empresa espanhola de energia e o início do processo judicial do ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada. Eis as reivindicações dos bolivianos, que ocuparam as ruas, dias 16 e 17. Antes, após 80 horas de greve geral, 600 juntas vicinais de El Alto conseguiram o fim da privatização da água, com a expulsão da multinacional francesa Suez. Evo Morales defendeu nova legislação para o setor energético e a convocação de uma Assembléia Constituinte. Pág. 10

Uma das novidades do 5º Fórum Social Mundial, que começa dia 26, em Porto Alegre (RS), é o elevado número de atividades envolvendo comunicação, em especial a alternativa e compartilhada. O 1º Fórum Mundial da Comunicação, dia 25, que fará discussão política sobre o tema. O tema é destaque no momento em que, em crise e aproveitando uma emenda constitucional, conglomerados de mídia se fundem e vendem ações a empresas estrangeiras. Págs. 4 e 8

Pescadores de Rodeadouro (BA) desconhecem plano de transposição do Rio São Francisco

Missionários da CPT são perseguidos Pág. 3 Maringoni

Comunicação é destaque no 5º Fórum Social

a transformação de recursos públicos em lucros privados. Pior: nada garante que os lucros dos grupos privados sejam reinvestidos no país. Com o mercado interno retraído e sem controle de capitais, aqueles lucros tendem a ser remetidos para fora. Pág. 7

Dificuldades à vista na política agrária

EUA insuflam conflitos na América Latina

Pág. 6

Pág. 10

E mais: EFEITO ESTUFA – Conferência das Nações Unidas sobre o clima, em Buenos Aires (Argentina), não discutiu os padrões atuais de produção e consumo. Pág. 14 BRASIL-ÁFRICA – Governo brasileiro envia comitiva para estreitar relações comerciais com cinco países africanos (Senegal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Nigéria e República de Camarões). Pág. 12

Povos indígenas em luta contra o preconceito Vida difícil para os indígenas que moram em Manaus (AM). Apesar de sua cultura milenar, ainda são vistos como sinal de atraso, além de serem apresentados como atrativo exótico. O censo de 2000 informa que o Amazonas possui aproximadamente 18 mil indígenas morando nos centros urbanos. Para garantir o seu reconhecimento, eles enfrentam oposição tanto do poder público, como do próprio movimento indígena. “O movimento indígena ainda não se dispôs, verdadeiramente, a abrir uma agenda para a questão do índio urbano”, reconhece Francisco Loebens, coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Pág. 16


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