Ano 2 • Número 96
R$ 2,00 São Paulo • De 30 de dezembro de 2004 a 5 de janeiro de 2005
Daniel Garcia/AE/AE
Contra o egoísmo, a solidariedade Para o teólogo Leonardo Boff, os ditames do mercado isolam o homem, que precisa recuperar valores como cooperação e paz
S
Órfãos de Arafat, palestinos mantêm luta palestinos, promovida pelo líder israelense Ariel Sharon. E denuncia a intervenção estadunidense no Oriente Médio: “A guerra permanente de Sharon é um elemento da guerra permanente de Bush. Por que este a deteria?” Pág. 9
Ferréz: a voz da periferia e do hip hop
América Latina freia avanço de neoliberalismo
O escritor e rapper Ferréz prepara mais uma obra, a partir do cotidiano da periferia. Desta vez, junto com outros “escritores marginais”. O autor de Capão Pecado e Manual Prático do Ódio fala da importância dos 20 anos de movimento hip hop e espera que a produção da periferia conquiste seu espaço nas escolas. Pág. 16
Na América Latina, o espírito da revolução avança, na mesma medida que retrocede a dominação neoliberal. É o que afirma a cientista política chilena Marta Harnecker. A luta, diz, não é fácil, mas “o revolucionário é aquele que sabe que não tem força, mas se coloca de forma a criar as condições para a mudança”. Pág. 11
As vitórias das quebradeiras de coco babaçu Há uns 20 anos, ou as quebradeiras de coco brigavam contra a derrubada e a queima das palmeiras, ou morriam. Elas lutaram, se organizaram e atingiram seus objetivos. Não foi fácil, porque a maior parte dos babaçuais pertence a grandes fazendas, cujos donos cobravam para permitir a coleta, ou barravam a entrada das quebradeiras. Hoje, a lei garante acesso ao coco em várias localidades, e proíbe derrubadas, cortes de cachos e uso de herbicidas. Pág. 13
Maringoni
Com a morte de Arafat, os palestinos se sentiram órfãos, mas provaram que estão prontos para assumir a responsabilidade política para construir um Estado. É o que assegura o ativista israelense Michael Warschawski. Ele condena a política de extermínio dos
dores”, diz. Segundo Boff, Lula, na eleição, representava essa mística da solidariedade, mas, “se houve esperança no presidente, faltou-lhe ousadia para o novo”. O teólogo condena a política econômica do governo, que mantém a lógica perversa do capital. Para que ocorram as mudanças, salienta, é preciso que Lula valorize a luta do povo. “Embora dominado e humilhado, há no povo espaços de sonho, de liberdade, de práticas solidárias, que permitem vislumbrar uma forma diferente de organizar a vida”, conclui. Pág. 8
Continua o desmatamento na Amazônia
Bush espalha Vietnãs pelo mundo
Quase 24 mil quilômetros quadrados da floresta foram desmatados, de agosto de 2002 a agosto de 2003. A devastação ocorre nas áreas de maior destruição. O geógrafo Aziz Ab’Saber, da USP, alerta para as conseqüências ambientais e sociais do desmatamento. E defende um desenvolvimento baseado em projetos auto-sustentáveis dos povos da floresta. Pág. 7
O que esperar de um segundo mandato de George W. Bush? Mais quatro anos de Vietnãs pelo mundo, afirma a médica Aleida Guevara. Em análise sobre o panorama econômico e político mundial, Aleida ressalta a importância das mobilizações sociais e de governos como o cubano e o venezuelano para combater a política de guerra imposta pelo presidente estadunidense. Pág. 10
Muhammed Muheisen/AP/AE
Menino em situação de rua, deitado em frente à decoração natalina do BankBoston, na Avenida Paulista, em São Paulo
uperar a lógica dominante, que se apóia no mercado e na acumulação do capital, substituindo-a por um sistema mais participativo e solidário, no qual predominem a paz e a democracia. Utopia? Sim, pois são anseios que nunca vão se realizar plenamente, embora fundamentais, assegura o teólogo Leonardo Boff, ensinando que os sonhos libertam o homem, obrigam-no a caminhar e a buscar novas formas de democracia e de paz. “São como as estrelas. Nunca podemos alcançá-las, mas elas iluminam as noites e orientam os navega-
Para socióloga, superavit gera violência Pág. 6
Governo sem política indigenista Pág. 14
Educar para conviver com o semi-árido
Palestina participa das eleições municipais na cidade de Jericó, Cisjordânia, em 23 de dezembro de 2004
E mais: PEDAGOGIA DO OPRIMIDO – O professor Moacir Gadotti defende um resgate das idéias de Paulo Freire de modo a fornecer um caráter transformador ao ensino. Pág. 3 TRABALHO – João José Sady, advogado, denuncia a extinção dos dissídios coletivos. Com a mudança, a Justiça não pode auxiliar o trabalhador nas negociações com o patrão. Pág. 12
O problema do semi-árido é a indústria da seca, que mantém a miséria da região e um tipo de ensino incompatível com a realidade local. Há alternativas para oferecer desenvolvimento sustentável, mas a escola deve parar de fabricar pessoas para a indústria da seca. Pág. 3
Agronegócio amplia exclusão no campo Em vez de seguir as recomendações do Plano Nacional da Reforma Agrária, o governo está dando prioridade a um modelo concentrador de renda e de terra. A avaliação é do economista Guilherme Delgado, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Um estudo da Universidade Estadual Paulista comprova essa tese. Em Ribeirão Preto, a monocultura da cana empobrece o trabalhador e expulsa o pequeno agricultor do campo. Págs. 4 e 5