Ano 2 • Número 91
R$ 2,00 São Paulo • De 25 de novembro a 1º de dezembro de 2004
Estado poderia ter evitado massacre P
istoleiros contratados pelo fazendeiro Adriano Chafik Luedy executaram cinco trabalhadores sem-terra e deixaram 20 feridos no acampamento Terra Prometida, dia 20 de novembro, em Felisburgo (MG). “Os trabalhadores foram mortos por omissão do poder público”, denuncia o procurador de Justiça Afonso Henrique de Miranda, que considera omisso o inquérito aberto pela Polícia Militar do Estado em 2003 para investigar as ameaças de Luedy aos acampados. Hoje, em Minas Gerais, 15 mil famílias sem-terra vivem em acampamentos. Ao mesmo tempo, um estudo recente mostrou que há 11 milhões de hectares de terras devolutas (pertencentes ao poder público), como a área do Terra Prometida. “O Estado não tem compromisso com a reforma agrária e coloca em risco a vida dos camponeses”, avalia Marcilene Ferreira, da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Págs. 2 e 3
Renato Lopes/Estado de Minas
Procurador da Justiça denuncia: governo mineiro ignorou alertas sobre a atuação de milícias armadas na região
Conferência da Terra pede mais ação do governo Dez mil militantes de movimentos sociais se reuniram com integrantes do governo, em Brasília, de 22 a 25 de novembro, durante a Conferência Nacional de Terra e Água. Prometendo punição “exemplar” aos assassinos dos sem-terra de Felisburgo (MG), o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto defendeu a reforma agrária: “É necessário transformar a terra improdutiva em terra produtiva”. Porém, Rolf Hackbart, presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), avisou que a meta prevista deste ano não será cumprida e apenas 95 mil famílias serão assentadas. Representantes dos povos indígenas e dos atingidos por barragens exigiram do governo medidas eficazes para as demandas sociais. Pág. 5
Aumentam as prestações da dívida externa
Nova gestão de Bush fortalece extrema-direita
O Brasil levou anos para conseguir dos credores redução das prestações da dívida, para recuperar a capacidade de financiamento da economia. Mas a política econômica adotada a partir de 1994, ainda vigente, pode pôr tudo a perder, face a rombos gigantescos nas contas externas, e mais endividamento. Resultado: entre o segundo semestre de 2004 e o final de 2008, o país terá de torrar quase 140 bilhões de dólares para quitar as prestações. Pág. 7
O presidente estadunidense, George W. Bush, trocou seis dos quinze secretários de seu gabinete. Fortaleceu, assim, o núcleo da extrema-direita, chamado neoconservador, que defende a intensificação de intervenções militares em países estrangeiros e a violação a direitos humanos de pessoas suspeitas de ações contra os interesses do governo. Desde a reeleição, Bush intensificou os bombardeios a Faluja, centro da luta contra a ocupação do Iraque. Pág. 9
Reunidos em Teresina (PI), entre os dias 16 e 19 de novembro, cerca de 500 agricultores e integrantes de entidades não-governamentais defenderam uma revolução cultural para alterar o quadro de pobreza da população do semi-árido. Sem esquecer da reforma agrária, os participantes do 5º Enconasa acreditam que a concepção de estiagem como um problema é o pilar da indústria da seca. No encontro, foram apresentadas dezenas de tecnologias alternativas para a convivência com o clima da região. Pág. 13
Morre Furtado, defensor de um Brasil mais justo Dia 20 de novembro, mais uma grande perda para o país. Aos 84 anos, no Rio, morreu Celso Furtado, o maior economista brasileiro, que nunca separou produção intelectual e ação. Batalhou a vida inteira por um projeto de nação soberana que atendesse às necessidades da maioria da sociedade. Não morreu feliz com a situação de quase indigência do Brasil e da América Latina. Pág. 8
Protesto reúne 70 mil chilenos Na passeata de abertura do Fórum Social Chileno, dia 19 de novembro, 70 mil pessoas foram às ruas de Santiago, capital do Chile, protestar contra a presença de George W. Bush. O presidente dos Estados Unidos foi
participar do Fórum Econômico de Cooperação Ásia-Pacífico (Apec), organização da qual o Chile faz parte desde 1994 e que tem como objetivo impulsionar processos de liberalização do comércio e a circulação de capi-
tais entre os 21 países membros. Os manifestantes, recebidos com violência pela polícia ao final da marcha, repudiaram “a falta de transparência” da Apec e dos acordos econômicos em curso. Pág. 11
João Yanes
A seca não é um problema no semi-árido
Mil pessoas participaram do enterro dos cinco integrantes do MST, assassinados a tiros em Felisburgo (MG)
Espanha ajudou o golpe na Venezuela
Venezuelanos protestam contra ato terrorista da direita que matou o promotor Danilo Anderson
E mais: MANIFESTO – Como a política econômica não muda, mais uma vez economistas lançam manifesto por mudanças e apontam alternativas. Pág. 6 PLEBISCITO – A OAB encabeça abaixo-assinado pela aprovação do anteprojeto de lei que regulamenta consultas populares no Brasil. Pág. 4 DEBATE – O juiz Marcelo Semer e o professor Andrei Koerner analisam a reforma do Judiciário, aprovada, dia 18, no Senado. Pág. 14
Durante visita à Espanha, dia 23 de novembro, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, obteve a confirmação de que o ex-primeiro-ministro espanhol José María Aznar apoiou o golpe de Estado que tentou tirá-lo do poder, em abril de 2002. O ministro espanhol das Relações Exteriores, Miguel Ángel Moratinos, prometeu “que o fato não vai se repetir”. A revelação reacende o debate na Venezuela, onde, dia 19 de novembro, um atentado matou o promotor que investigava os envolvidos no golpe. Pág. 11
Lessa cai. Ganha força a política de juros altos Pág. 6
Festival de canções e lutas do campo Pág. 16