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Ano 2 • Número 84

R$ 2,00 São Paulo • De 7 a 13 de outubro de 2004

PT moderado sai vitorioso das urnas Hazem Bader/AFP

Com campanha despolitizada e muito dinheiro, partido foi o mais votado e fortaleceu seus setores mais conservadores

Palestina – Protesto contra muro de separação na Cisjordânia, em Hebron: ofensiva israelense já causa a morte de mais de 67 pessoas

Na Venezuela, serviço de saúde vai às favelas

Um grupo de motociclistas atirou contra dois jovens Xavante na terra Marãiwatsedé, no Mato Grosso, dia 4. Os indígenas ficaram gravemente feridos mas sobreviveram ao ataque. A Fundação Nacional do Índio (Funai) alerta que o conflito entre indígenas e fazendeiros pode se acirrar. Em 1957, os Xavante foram expulsos de suas terras. Em agosto deste ano, reconquistaram na Justiça o direito de retornar, mas os fazendeiros da região não aceitam a decisão. Pág. 4

O programa Bairro Adentro, que tem apoio de 11 mil médicos cubanos, atua nas favelas, usando métodos preventivos e evitando execesso de remédios convencionais. Segundo dados do Ministério da Saúde, de abril de 2003 a julho de 2004, 43 milhões de pessoas passaram por consultas e mais de 16 mil foram curadas. Entretanto, a falta de infra-estrutura hospitalar e de médicos ainda são problemas em um país onde 70% da população não tem atendimento básico. Pág. 10

Aborto, questão de saúde pública Comandada por movimentos feministas, a luta pela legalização do aborto comemora, em 2004, liminar do STF sobre casos de anencefalia e norma do Ministério da Saúde que garante atendimento humanizado às mulheres

em abortamento nos casos de estupro e/ou risco de vida. Além disso, a norma estimula os profissionais de saúde, independentemente de seus preceitos morais e religiosos, a preservar uma postura ética, garantindo o respeito aos

direitos das mulheres. Apesar dos avanços, as mulheres exigem que o governo revise as leis punitivas sobre o tema, conforme compromisso assumido em conferências da ONU. Pág. 5

Roberto Barroso/Abr

Indígenas são alvejados no Mato Grosso

C

om crescimento de 40% em relação às eleições municipais anteriores, o Partido dos Trabalhadores (PT) levou, já no primeiro turno, 400 prefeituras – mais que o dobro das conquistadas no ano 2000. O apoio de 16,314 milhões de eleitores lhe rendeu a marca da legenda mais votada – o PSDB ficou em segundo lugar, com 15,726 milhões. Na opinião do sociólogo Theotônio dos Santos, é preciso analisar com cuidado se, de fato, a vitória corresponde a um avanço da esquerda brasileira: “Esse crescimento demonstra o deslocamento do partido, da esquerda rumo ao centro, pois o grupo que mais se fortaleceu foi exatamente o mais conservador dentro do PT”. Segundo o filósofo Roberto Romano, essas eleições consolidaram uma polarização entre as tendências de centro-esquerda – PT e PSDB –, o que determina também o cenário das eleições para presidente e governador, em 2006. Págs. 2 e 3

Brasil 1993-2003, país de desigualdades sociais do IBGE. O ano de 2003 foi o sétimo seguido de queda no rendimento do trabalhador e a maior delas, desde 1997. Mas a renda desconcentrou: os 10% mais ricos, que detinham 49% da renda total em 1993, diminuiram sua participação para 45,3%, e os 10% mais pobres, que detinham 0,7%, passaram a 1%. Porém, o rendimento médio mensal do trabalhador diminuiu 18,8% desde 1996. Pág. 6

Na nova safra, Líder operário o agronegócio é rememora fatos mais beneficiado do sindicalismo A força do lobby empresarial e o interesse do governo em produzir dólares a qualquer custo distorcem a política de crédito rural, que destina a maior fatia dos recursos ao custeio das safras para a produção de grãos e fibras destinados ao mercado internacional. Assim, as lavouras de exportação concentram mais da metade dos recursos (52% dos créditos de custeio), 60% dos quais emprestados a juros fixos de 8,75% ao ano, bem abaixo do custo do dinheiro no mercado. Pág. 7

Aos 83 anos, Clodesmidt Riani, ex-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria (CNTI) e da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), conta fatos inéditos do governo de João Goulart e fala do sindicalismo na época do golpe militar. Riani revela ainda que o ministro do Trabalho de Jango, João Pinheiro Neto, foi demitido pelo primeiro-ministro Hermes Lima, a pedido do embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Roberto Campos. Pág. 8

Greve dos bancários já dura 15 dias, sem acordo de reposição salarial; petroleiros também reivindicam reajuste – Pág. 4

Powell quer Movimentos Sem bibliotecas, apoio de Lula ao rejeitam acordo brasileiro não Plano Colômbia com europeus entende o que lê Pág. 9 Marcio Baraldi

Nos últimos dez anos, a renda do brasileiro caiu, o desemprego subiu, a concentração de renda recuou, o trabalho infantil continuou preocupante, as condições de habitação melhoram, o acesso aos serviços básicos persistiu deficitário, aumentou a presença de mulheres no mercado de trabalho, mas elas continuam ganhando menos do que os homens. Eis o retrato do país feito pela Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD),

Pág. 11

Pág. 16

E mais: ÁFRICA – Encontro no Dacar, capital do Senegal, tenta mobilizar intelectuais africanos para a integração do continente. Evento pretende discutir questão da dispersão dos povos africanos no mundo na condição de escravos. Pág. 12 DEBATE – Reinaldo Gonçalves, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), avalia que apesar do miniciclo de otimismo da economia, governo Lula promove transferência de renda dos trabalhadores para os bancos. Pág. 14


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