Ano 1 • Número 48
R$ 2,00 São Paulo • De 29 de janeiro a 4 de fevereiro de 2004
Nova rodada continental contra a Alca A
mobilização dos movimentos sociais contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) vai continuar até que todas as negociações do acordo sejam interrompidas. Essa é a resolução do 3º Encontro Hemisférico de Luta contra a Alca, iniciado dia 26, em Havana, Cuba. No evento, de quatro dias, 1.042 representantes de organizações de trabalhadores, indígenas, mulheres, estudantes e religiosos, de 32 países das Américas, alertaram para o perigo da chamada Alca light e traçaram estratégias de ação conjunta, com protestos e campanhas de conscientização da população sobre os perigos do livre comércio. Uma das propostas é colocar cem mil pessoas nas ruas em repúdio à próxima reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), prevista para ser realizada em julho, no Brasil. Pág. 9
Celso Junior/AE
Em Cuba, mais de mil lideranças populares, de 32 países das Américas, ampliam campanha contra o livre comércio
Povo guarani, do Mato Grosso do Sul, resiste às agressões e ameaças de fazendeiros e do governo para exigir demarcação de suas terras
Economia começa mal em 2004
Lula completa reforma que põe PMDB no poder O governo retribuiu ao PMDB o apoio recebido na aprovação das reformas de 2003, e cedeu ao partido os ministérios das Comunicações e da Previdência. Assim, a base aliada na Câmara já se aproxima dos 80%. A atitude preocupa, apesar de refletir uma tendência observada em toda a gestão petista. O novo ministro das Comunicações é dono de rádios e a Seguridade Social é um dos setores da União com maior fluxo de recursos. Para abrir espaço aos peemedebistas, o governo teve de alterar várias outras pastas. Págs. 2 e 7
Trabalhadores anunciam greve na Bolívia Pág. 10
Sociólogo quer globalização humanista Pág. 12
Parmalat, mais uma crise típica do capitalismo Pág. 12
e sinalizou que a penúria continua. Em 2003, segundo o IBGE, a taxa de desemprego atingiu, em média, 12,3%, nas seis principais regiões metropolitanas do país. E mesmo com todo o arrocho feito pelo governo, o Brasil fechou 2003 mais endividado:
a dívida pública interna federal cresceu 13%. Com o corte de gastos para pagar uma dívida impagável, R$ 70 bilhões deixaram de ser investidos – recursos suficientes para construir 2,8 milhões de casas populares. Pág. 5
Os Guarani estão determinados a lutar “até a morte” para conseguir do governo a demarcação de suas terras no município de Japorã, no Mato Grosso do Sul. Mesmo diante da ameaça
de serem retirados “na marra”, os índios pretendem manter as retomadas das fazendas identificadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) como áreas indígenas. Pág. 4
Rodrigo Petterson/ Greenpeace
Se esperança havia na retomada do crescimento neste ano, o Banco Central (BC) tratou de desfazer a ilusão, ao manter o altíssimo nível da taxa básica de juros em 16,5%. Assim, jogou um balde de água gelada no já deprimido mercado de trabalho
Sob ameaças, índios resistem em suas terras
Manifestantes do Greenpeace protestam em Brasília. Pesquisa do Ibope revela que maioria dos brasileiros é contra os transgênicos – Pág. 3
Tráfico humano vitima mulheres pobres e negras A campanha nacional contra o tráfico humano, que inclui o esclarecimento público, não consegue alterar o alarmante número de mulheres brasileiras comercializadas para fins de exploração sexual. Um diagnóstico a ser divulgado em fevereiro, realizado em quatro Estados, visa traçar um perfil do crime, um meganegócio que no mundo todo faz até 4 milhões de vítimas e movimenta 12 bilhões de dólares anuais. Segundo dados do Centro de Estudos de Referência da Criança e do Adolescente (Cecria), uma mulher brasileira chega a valer até 15 mil dólares. As vítimas são jovens entre 12 e 25 anos, negras, sem acesso à educação e mães precoces. Pág. 8
E mais: REFORMA AGRÁRIA – Na comemoração dos 20 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o ministro do Desenvolvimento Agrário assegurou que a reforma agrária é uma das prioridades do governo para 2004. O presidente do Incra legitimou as ações do MST: “Sem movimento social organizado, o Estado não atua”. Pág. 4 LIVRE COMÉRCIO - Em entrevista ao Brasil de Fato, o senador Eduardo Suplicy explica projeto de sua autoria que limita a autonomia do Executivo na adesão a qualquer acordo internacional. Pág. 9 CULTURA - Há dez anos, o AfroReggae ensina aos jovens de Vigário Geral (RJ) que a música é um dos caminhos de resistência e de resgate da cidadania. Pág. 16